Este artigo de José Vítor Malheiros no Público de hoje concentra em si um panorama ideológico da Esquerda que domina o pensamento político e económico mediaticamente expresso, com algumas e raras excepções, veiculadas em jornais tipo Jornal de Negócios, mas pouco significativas de alguma corrente que JVM assume como avassaladora e de "extrema-direita", porque vinculada a realidades como os "mercados", "juros e obrigações", "bolsas de valores", "marketing", bancos e seguros, "multinacionais" ( termo já caído em desuso pela "globalização"), "monopólios" ( termo pejorativo e comunista ainda em vigor), etc etc.
O que subjaz a este tipo de escritos é, evidentemente, uma ideologia de esquerda, já intelectualmente mastigada há décadas e depurada de elementos julgados, pelo tempo e só pelo tempo, fossilizados mas sempre presentes nas análises deste tipo.
O articulista e milhares de pessoas que assim pensam, abominam o chamado liberalismo que é a reincarnação de um diabo laico em que nunca acreditaram mas que las hay las hay.
Esta ideologia reciclada do comunismo primitivo dos anos setenta, transmutada em socialismo democrático por obra e graça das evidências de muros a cair de podres, ressuma sempre ao mesmo: a aversão ao capitalismo entendido como modo básico e essencial de acumulação de capital.
É esta acumulação de capital que estas pessoas, aos magotes e aos milhares e que votam PS e esquerda em geral, não aceitam de bom grado se estiver nas mãos de entidades privadas, sejam cidadãos ou empresas.
Essencial e fundamentalmente parece-me ser este o problema principal. Porém, se for o Estado a assim proceder, acumulando tal capital do mesmo modo e com os mesmos métodos, isso já é aceite plenamente e até se fazem "dias de trabalho para a Nação" se preciso for, lutando colectivamente na "batalha da produção".
Parece-me ser esta a dicotomia fundamental que divide economicamente a Esquerda de uma Direita inexistente em Portugal enquanto força política.
Tenho pensado e escrito que a personalidade política que melhor enquadrou essa Direita inexistente seria Marcello Caetano, porque o sistema económico existente à data do 25 de Abril de 1974 me parecia o mais aperfeiçoado possível do ideal capitalista temperado pelas preocupações sociais dos regimes mais de esquerda. Uma síntese assim foi coisa que durou o tempo de alguns anos, na década de sessenta e setenta, em Portugal e acabou em 1974, com a Revolução e o PREC. O que veio a seguir, com as reprivatizações e a entrega de empresas e capital aos antigos donos daquelas que existiam em 1974, é apenas um sucedâneo de gosto duvidoso, tal como o chocolate de fraca qualidade em relação ao suíço ou belga. Por isso tenho pensado na tragédia nacional que significou o que aconteceu em 1974-75.
Nessa altura e depois disso, a esquerda, incluindo a comunista, tomou as rédeas do discurso político, em primeiro lugar e depois as do sistema económico, a partir de 11 de Março de 1975. Até hoje e não vejo nem leio ninguém a debater ideias deste tipo sem recurso aos chavões liberalóides que se assimilam perigosamente ao sectarismo esquerdista porque provenientes da mesma base ideológica.
São os filhos pródigos desta esquerda que escrevem como JVM, saudosos do tempo em que o capital deixou de estar nas mãos dos maléficos privados e passou a ser controlado e produzido "por todos", em benefício "de todos", nas mãos de gestores que o Estado de esquerda nomeava e que nos presenteou a todos, como Nação, com duas bancarrotas iminentes, em 1976 e 1983 e contribuiu decisivamente para a última em 2011, continuando apostados em repetir a dose, se lhe derem oportunidade.
Em 1975 Portugal viveu esse tempo único de esperança socialista e comunista que os nostálgicos da ideologia ainda não abandonaram e muitos revelam a cada escrita sobre o tema.
Para melhor caracterizar e sumarizar o problema, basta meia dúzia de páginas do livro dos próceres do BE, Louçã, Lopes e Costa, Os Burgueses ( Bertrand, 2014) .
Nelas podemos ler em breves linhas de pensamento esquerdista típico o que eram os nossos grupos económicos até 1974 e como evoluiram para uma acumulação de capital que os enraivece por se terem assim tornados "donos de Portugal", como se a riqueza acumulada fosse de proveniência rapinante e desprovida de qualquer esforço individual e empresarial dos beneficiários. Para o negar, têm sempre as armas marxistas típicas e explicadoras da "luta de classes" e assim ficam ao abrigo de acusações de imbecilidade e estupidez.
Vale a pena recapitular tais páginas para em seguida tentar compreender como são estúpidos. A ideia que estes industriais portugueses das décadas que precederam o 25 de Abril foram uns meros exploradores impiedosos dos trabalhadores e que forjaram as fortunas por mera obra do acaso em se encontrarem donos de meios de produção, roça a estupidez mais solerte, porque aplaina toda e qualquer qualidade intrínseca aos mesmos, retirando todo o valor individual do esforço do trabalho, invenção e iniciativa de risco elevado para si e para os seus.
As privatizações dos anos oitenta e noventa, para estas pessoas, representa um supremo mal que forças obscuras e servos"do capital" fizeram ao país, contribuindo para recomposição da "burguesia" que indentificam com nomes e tudo.
Toda a linguagem deste livro comunga desses preconceitos imbecis e resultantes de um qualquer problema psicológico grave dos seus autores. Não entendo outro modo de explicar tamanha burrice.
Próximo postal : a origem do mal.
12 comentários:
"O que subjaz a este tipo de escritos é, evidentemente, uma ideologia de esquerda, já intelectualmente mastigada há décadas e depurada de elementos julgados, pelo tempo e só pelo tempo, fossilizados mas sempre presentes nas análises deste tipo."
Realmente é como diz, José. São escritos do eterno retorno.
Lembram as crianças pequenas quando exibem o sintoma do 'mastiganço' às refeições.
Mastigam, mastigam, mastigam...
No caso destes comunas, com ou sem foice e martelo, o mecanismo é o mesmo.
"Até à vitória final"
José,
eu penso que equivaler as privatizações à situação pré-25 é cair no mesmo erro desses esquerdistas de alto coturno.
Antes de mais, convém dizer que eles próprios são todos, ou quase todos, burgueses em qualquer acepção da palavra. Indiquem-me um que seja pobre ou mesmo remediado, dentro do panorama sócio-económico do país de hoje ou ontem, como contra-exemplo.
Depois, é sabido - e o facto de ser denunciado pelos esquerdistas não o torna menos verdadeiro - que uma das condições para actuação dos FMIs e coisas semelhantes é, e sempre foi, a alienação de capitais e participações em empresas e recursos nacionais a "investimento" estrangeiro - frequentemente, os mesmos "investidores" são os próprios "credores" da dívida, sempre colossal, que dá origem à dita intervenção FMIana.
Ainda mais, é desses próprios "investidores" ou "credores" - que vão de especuladores a bancos/banqueiros internacionais, se é que há diferença - que vem muito do dinheiro que financia a esquerda de todos os matizes e a direita dita liberal, hoje neotonta. É com o dinheiro desses banqueiros internacionais que essa esquerdalha alegremente implanta o mundo às avessas e de caminho abala as fundações morais da sociedade e destrói a economia nacional, tornando os países presas fáceis para esse capitalismo internacional, esse sim verdadeiramente selvagem, e das garras do qual depois, não há esquerdismo que o resgate curiosamente (ou evidentemente).
É fácil perceber a simbiose: uns querem o poder para implantar, à força se preciso for, a sua demência, o seu mundo retorcido do faz de conta no qual apenas um "burguês" se pode dar ao luxo de viver; os outros reconhecem nos primeiros o potencial para desintegrar moral, económica e culturalmente sociedades, estados, países, nações - que são, e sempre foram, os maiores obstáculos à expansão voraz desses nómadas do dinheiro. Assim os segundos financiam discretamente os primeiros, fornecendo-lhes a voz e os meios que de outra forma nunca teriam, e/ou procuram silenciar ou neutralizar quem lhes queira oferecer oposição eficaz (normalmente classificada como extrema-direita; fascista se o caso for bicudo), e aguardam; mais tarde ou mais cedo, a economia estará de rastos.
É chegado o momento da colheita: fazem avançar os seus outros bonecos - a dita direita, liberal, neotonta, como se queira - que vem anunciar a boa nova: a solução está nos mercados livres, no Estado mínimo, nas privatizações e na austeridade (sempre para o contribuinte, claro), na entrega de tudo quanto ainda há de rentável ao "investidor".
Evidentemente, o descontentamento cresce, as pessoas sentem e sentem-se. Terreno fértil para os dementes do faz de conta - para esses e a sua propaganda nunca há crise, claro. Mais uma temporada de desintegração até à altura da próxima colheita. Uma, duas, três vezes - "rinse and repeat" - até não sobrar nada.
Ou seja, o capitalismo industrialista que tínhamos antes, dos Champalimauds, dos Feteiras, etc não era a mesma coisa que o que temos agora, que nem nomes tem. Um, melhor ou pior, fazia fábricas, coisas, criava sob o olho atento do Estado.
O outro compra serviços, esgueira-se por entre os pingos da chuva da regulação e extorque o cidadão sob o olho complacente, quando não cúmplice, do Estado.
Essa é a falácia desses esquerdistas-caviar.
E a prova está em que conseguiram acabar com os primeiros, mas com os segundos bem podemos esperar deitados. No dia em que tentem - dia de S. Nunca à tarde, mas mesmo assim - desparecem ao cabo de uma semana.
O capital estrangeiro era mau, o capital nacional também era mau, bom bom era quando era tudo de todos e para todos. A construção naval é sintomática do sucesso do modelo social-comunista, foi toda de vela, terá sido por não ter o apoio do estado? ou por esta malta não fazer a mínima ideia do que estava a fazer, ao contrário dos burgueses que a fundaram???
A seguir, a minha resposta a esse problema, com apoio de "recortes" que narram factos.
Contra esses não há argumentos...
O Malheiros deve ter como alternativa enriquecedora a importação e nacionalização dos africanos ex-independentistas que se deram também mal com a situação do socialismo...
O Malheiros deve ter como alternativa enriquecedora a importação e nacionalização dos africanos ex-independentistas que se deram também mal com a situação do socialismo...
Até porque eles só nos têm afectos se esquecermos o pequeníssimo pormenor das expulsões em massa e o confisco dos bens dos brancos ...
Até o ISCTE se prepara para a fase de servir o Estado com o seu empreendedorismo nas sociologias e psicologias...
"No dia em que tentem... - ... desparecem ao cabo de uma semana".
Deus o ouça, Mujahedin! 'Isto' não só fede como tresanda insuportàvelmente e há tempo demais.
Maria
preparem-se para pagar a dívida actual
e ainda a futura que a rataria já tem preparada a 28.ix votem com segurança
que 'o seguro morreu de velho
e d. prudência foi ao funeral'
cuidado José que anda por aí muita ANAMNESE
a transumânca da 'carneirada' começou a 25.iv
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