quinta-feira, junho 26, 2014

Opiniões de luxo e de lixo

Em Portugal há relativamente pouca gente que vale a pena ouvir. Muito menos ainda para seguir ou ajudar a reflectir.
Porém, há uma certa categoria de indivíduos que merece a pena perder alguns segundos a ouvir ou ler, mais não seja para perceber o que certas elites percebem.

Um deles é Alexandre Soares dos Santos, por uma razão, além do mais: é um dos mais ricos do país, se não mesmo o maior e fez fortuna em actividade privada e relativamente independente do Estado. É um dos que nos resta da antiga linhagem dos empresários portugueses que faziam parte da dúzia de famílias que o Esquerdismo militante considera como "os donos de Portugal", como se estes, caso não trabalhassem e fizessem como esses treteiros marxistas, continuassem donos do que quer que fosse...

Soares dos Santos mais uma vez falou e desta vez para anunciar a mudança da sede da empresa para a Suiça. A razão? Não temos banca capaz.

RR:

"A Jerónimo Martins, dentro de um ou dois anos, deve estar em Genebra. É lá que estão os mercados e a banca cá não dá a resposta" necessária, sublinhou Alexandre Soares dos Santos.    
Além de "não existir banca" em Portugal, o empresário criticou a actual política fiscal, afirmando que "os empresários devem exigir que o Estado devolva aquilo que cobra [em impostos] e que não está a utilizar", o que, do seu ponto de vista, significa que o Estado "não assume as suas responsabilidade sociais
". 

Outro dos intelectuais orgânicos do regime democrático é o inefável juiz Cunha Rodrigues, antigo PGR. 
Também merece leitura o que diz sobre o actual regime que ajudou a construir ( a orgânica judiciária e do MºPº a ele devem muito. A ele e Almeida Santos...).
Cunha Rodrigues também critica a "austeridade", como o PS o faz. Porém, acrescenta-lhe um ponto que virá das leituras da Marianne, de um Jacques Julliard ou do Le Nouvel Observateur.

RR:
O antigo procurador-geral da República Cunha Rodrigues diz que os portugueses já não sabem quem os governa. No Estado estão “agentes orçamentistas” e na banca “agentes criativos”, critica.

Num jantar no Grémio Literário, em Lisboa, Cunha Rodrigues fez um balanço crítico de três anos de intervenção da “troika” em Portugal.

“Os cenários jurídicos e políticos estão, literalmente, dominados pelas leis do mercado, a ponto de poder dizer-se que deixou de ser possível localizar com rigor os centros de produção das leis. Por outras palavras, desconhecemos, em rigor, quem nos governa. Assim como no interior do Estado foram criados agentes orçamentistas, eu diria que no sistema bancário e financeiro estão hoje a proliferar agentes a que eu chamaria de criativos”, acusa.
O antigo juiz do Tribunal de Justiça da União Europeia critica a austeridade aplicada em Portugal e alerta para os danos irreparáveis que causou.
“A austeridade encontrou terreno fértil para produzir danos irreparáveis no Direito. Agora tudo bascula, ninguém está seguro de nada. Avulta a suspensão de princípios, a adopção definitiva de regras transitórias, a retroactividade de leis não retroactivas e, nas opções políticas, a escolha de grupos”, assinala. 
“Amplia-se deste modo, aos olhos de todos, a diferença de espaço de experiência e horizonte de expectativas. Os velhos deixam de ser donos daquilo que acumularam e aos jovens aponta-se o caminho da emigração. Está pois em marcha, em alguns países da Europa, um processo de desconstrução do Direito”, reforça Cunha Rodrigues.
O antigo procurador-geral da República considera que manda quem tem o dinheiro, ou seja, os mercados, não poupa críticas aos comentadores que, mesmo sem conhecimentos suficientes, não se inibem de comentar as decisões do Tribunal Constitucional e lamenta a falta de uma mediação entendida.

O que dizer do que dizem estes líderes de opinião? Nada. Não lhes dêem ouvidos. Ambos  se esquecem de quem nos conduziu à servidão da "troika" e principalmente do caldo de cultura que nos trouxe três iminentes bancarrotas.

Um, Alexandre Soares dos Santos pensa pelas suas empresas privadas e que aproveitou a deixa deste regime para se enriquecer na distribuição de produtos, com importações em barda e também, valha a verdade, com incentivos e aproveitamento da produção nacional. Indirectamente, Soares dos Santos acaba por ser um mecenas da pequena indústria de pesca ou da agricultura que temos. E julga que isso lhe basta e se calhar basta mesmo.

O outro, Cunha Rodrigues fala do etéreo e do sistema que ajudou a construir.  Cunha Rodrigues fala de um regime celerado e deletério que deixou de cumprir princípios básicos de um Estado de Direito como deve ser.
Não fala, infelizmente, dos casos de polícia que passaram enquanto era PGR, designadamente o que atingia o presidente da República, Mário Soares, ligado a Macau e ao fax da Widleplan.
Se tal caso tivesse sido devidamente investigado segundo as denúncias de quem o conhecia melhor que ninguém- Rui Mateus- Mário Soares não continuaria como presidente da República e o regime tinha dado uma volta...e  provavelmente não teríamos a terceira bancarrota que nos trouxe a troika.

Por outro lado, o princípio constitucional da igualdade de todos perante as leis democráticas foi o que nessa altura acabou postergado. Daí à rectroatividade das leis fiscais vai a distância da natureza dos princípios.
O primeiro é de ordem moral. O segundo nem tanto...
Quem vê argueiros e não repara na trave que se lhe atravanca diante dos olhos não merece leitura atenta.

3 comentários:

JReis disse...

Cunha Rodrigues está setenta e tal anos atrasado na sua reflexão. Desde 1940 que a economia está divorciada da ciência politica e até mesmo do direito e da filosofia. A economia desde então ficou mais ligada às ciências exactas como a matemática e até a física. No inicio dos anos 70 essa metamorfose académica da economia confirmou-se em definitivo. Portanto, o discurso actual de Cunha Rodrigues é o expoente do atraso intelectual e estrutural do nosso País materializado em três bancarrotas. Com gente como esse senhor Portugal nunca se poderia ter desenvolvido (embora com as suas limitações próprias tais como dimensão, recursos naturais, etc.) para ser hoje um País ao nível dos mais desenvolvidos da Europa. Se Portugal algum dia se conseguir livrar de gente com esse tipo de pensamento, talvez seja possível melhorar e muito.

Anibal Duarte Corrécio disse...

Cunha Rodrigues e Mário Soares, uma dupla que esteve ao serviço do povo trabalhador, dos campos e das cidades, ao serviço do progresso do País, ao serviço da prosperidade de Portugal.Em suma ao serviço do socialismo em liberdade e da verdadeira democracia.

Uma dupla de sucesso que ajudou a clarificar de forma transparente casos nebulosos como, por exemplo, o célebre caso de Macau.

Tenho muitas saudades de Cunha Rodrigues. Um exemplo ímpar de dedicação à Causa Pública e à Justiça Portuguesa.

Viva Cunha Rodrigues! Viva!

O País está mais pobre sem Mário Soares e Cunha Rodrigues, retirados que estão da esfera governativa, por imperativos pessoais que todos conhecem e admiram.

Floribundus disse...

estas melancias são vermelhas por dentro e possuem muitas sementes

chateia-me que estes gajos me considerem ignorante e estúpido

O Público activista e relapso