sexta-feira, setembro 19, 2014

A sociedade aberta e os seus inimigos...

Esta fotografia que segue apareceu nas "redes sociais" e veio parar aqui. Por isso aqui fica com legenda.


A figura central é o novo director do Diário de Notícias, André Macedo, na redacção do dito a perorar aos jornalistas, na presença dos actuais patrões. Um deles, que anda sempre na sombra, é o velho e revelho conhecido da democracia portuguesa que já nos prendou com três bancarrotas, Proença de Carvalho. Esteve em todas, até nesta. Por isso mesmo devemos saber o que esperar do jornal dirigido pelo tal André Macedo: continuar a ser a fiel voz do dono, como se comprovou na recente "entrevista" à senhora dona Lurdes Rodrigues, do "sistema", com perguntas endereçadas por um tal Pedro Sousa Tavares, filho de quem é. O pai "dá" uma entrevista hoje à revista do mesmo jornal. Fala de tudo em várias páginas, menos de uma coisa: do BES e do compadre. Nem lhe perguntaram...

Este artigo deste "Chiquinho"  Proença de Carvalho, no Económico, está chique a valer e denota a arrogância típica de quem se considera ainda um dos donos disto tudo.


Vai por aí um grande entusiasmo com recentes decisões judiciais que, finalmente, metem na ordem os ditos "poderosos" e vão de encontro aos anseios da população e da ministra da Justiça que há muito reclamam o fim da impunidade (o que quer que isso signifique).

Convém esclarecer algumas coisas. Em primeiro lugar, a ideia de que os "poderosos" são privilegiados na Justiça é um mito. Verdadeiros poderosos são os juízes e procuradores. Estes sim têm a capacidade de condicionar a vida das pessoas, de decidir se estas têm que ficar amarradas a um processo durante vários anos e se podem ser livres ou não. Haverá poucos poderes superiores a estes. Nunca vi nenhum juiz ou procurador sentir-se minimamente intimidado por ter à sua frente um dito "poderoso". Pelo contrário, já os vi bastante mais empenhados e motivados. Como é óbvio, os processos contra os "poderosos" têm sempre popularidade na opinião pública e os magistrados são vistos como heróis contra os vilões.

Em segundo lugar, a ideia de que o exercício da Justiça deve ir ao encontro dos anseios do povo, não é só perversa. É trágica para a existência de um sistema de Justiça livre e justo, verdadeiramente igual para todos os cidadãos, sejam eles ricos, pobres, políticos, gestores ou operários. A vencer este pensamento judicial (que, nas entrelinhas ou com maior clareza, começa a transparecer em algumas decisões), os Tribunais deixariam de aplicar a Lei, com objectividade e imparcialidade, para punir em função do julgamento da opinião pública. A história está cheia de erros judiciários em decisões que foram ao encontro dos anseios da opinião pública.

Em terceiro lugar, é preciso ter cuidado com a vaidade na Justiça. Este endeusamento dos homens e mulheres da justiça que, finalmente, começaram a meter na ordem os pseudo poderosos é perigoso. Isto porque só eles têm sido valorizados. Só eles são super. Só eles têm direito a reportagens sobre o quão fantástico e humilde é o seu percurso. Só eles são incansáveis trabalhadores e corajosos representantes do povo que metem o país na ordem. Então e os outros que tiveram a coragem de absolver? Nos dias de hoje, a coragem judicial não está em quem condena. Isso é considerado incriticável e merecedor de júbilo público. Como é evidente, a coragem está em absolver, está em enfrentar os julgamentos sumários mediáticos. Não mereceriam estes juízes ver também as suas sentenças devidamente citadas e elogiadas nos meios de comunicação social? Não mereceriam estes juízes ter o mesmo tratamento mediático que outros?

Condenando ou absolvendo, é fundamental que o sistema de Justiça mantenha um percurso sereno e alheio aos circos mediáticos e ao contexto de crise que assola a sociedade portuguesa. A Justiça deve sempre tomar apenas e só em conta o caso concreto, os factos, as provas e o Direito. E deve evitar cair na tentação de entrar no campo da moral, da opinião e das sentenças "exemplares".


Esta gente ainda não se deu conta que é preciso ouvir a canção de Bob Dylan, The times they are a changing...
Assim que os portugueses perceberem bem o quanto devem a esta gente, vão certamente fazer-lhes uma estátua no campo das cebolas, de frente para a casa dos bicos. Ai vão, vão. E já demorou mais tempo.


Questuber! Mais um escândalo!