quinta-feira, setembro 25, 2014

Ranhetas às facadas no cocó



Em Março de 2011 o Governo de José Sócrates caiu e temeu-se que Portugal entrasse em bancarrota dali a pouco.  Em Junho  houve eleições que o PSD de  Passos Coelho ganhou e tomou conta do Governo. 
O que se passou a seguir parece consensual: o governo e a maioria legislativa impuseram um regime de austeridade ao país, seguindo os ditames de uma troika que o PS  também  foi obrigado a sufragar.
Os métodos, seguindo o guião alemão, foram esses. Poderiam ser outros? Ninguém verdadeiramente sabe dizer que se o fossem poderíamos estar melhor do que estamos. Mas há quem diga, claro. Um deles é o desmemoriado Soares, um pária do bom senso que já teve. Uma coisa é certa: escapamos mais uma vez da bancarrota iminente, com as consequências catastróficas previsíveis.  Foi a terceira vez em 40 anos que tal sucedeu e das duas anteriores ( 1977 e 1984) a responsabilidade foi inteirinha de uma Esquerda que de que o PS é tributário e Mário Soares liderou. 

Quando Passos Coelho  escolheu governo era uma incógnita o que iria suceder nos ministérios, após os anos de José Sócrates, um inenarrável da política nacional.  Passos em vez de limpar o aparelho de Estado dos submarinos que por lá ficaram,  arranjou-lhes contrapartidas e manteve-os à tona. Agora mergulharam e lançam-lhe os torpedos.  Quase apetece dizer que é bem feito  porque  foi avisado para o não fazer e achou avisado que deveria assim fazer. Ainda vai a tempo de perceber o que sucedeu.
Por diversas ocasiões, durante aqueles  governos que escaqueiraram as finanças públicas, José Sócrates esteve na berlinda de escândalos judiciais e políticos e alguns de âmbito criminal, como o Freeport e o Face Oculta de que escapou porque “confiou na justiça”, não dando as explicações que poderia ter dado, como agora se exige a este primeiro-ministro. Escapou sempre, apesar dos factos serem incomensuravelmente mais graves do que aqueles de que é acusado, ainda sem provas, Passos Coelho.  Toda a gente percebe, mesmo os apaniguados ( et pour cause) que José Sócrates e Passos Coelho são vinhos de pipas diferentes e um deles está irremediavelmente estragado. Isso faz toda a diferença destes casos.
Este é o contexto desta história em que entram os habituais personagens das comédias de costumes, Cocó, Ranheta e Facada.
Para perceber o entrecho desta peça, podemos ler o que escreve João Miguel Tavares no Público de hoje e a notícia que surge ao lado, dando conta do que Mário Soares disse, do seu retiro na praia algarvia.  



 O que JMT diz sobre a Passos, como figura de modéstia sonsa, podia ter sido escrito antes de ser primeiro-ministro e de facto foi-o, por muita gente. A ilação que retira não vale um chavo. Passos é sonso mas não é chico-esperto. E se todos "fizeram aquilo" nos anos festivos de 1990, devemos assumir colectivamente as despesas desta festa. Não sendo aceitável em 2014 o que se fazia colectivamente em 1999, ninguém deve ser punido por tal, porque para isso funciona a amnistia do tempo e é isso que o jornalista Cerejo não entende, confundindo tudo e embarcando num jornalismo que só olha para estas árvores não ligando à floresta de enganos que se passa à sua volta. Isto se for verdade o que se diz, porque ainda o não é e parece que se está a forçar uma nota presuntiva que pode sair furada. Por isso mesmo Passos não deve dizer mais nada e remeter-se ao silêncio das investigações a cargo "das entidades". Para cínicos, sonso e meio basta.

Por seu lado, o cônsul honorário do reino hashemita, em vez de estar calado, já esfaqueia também o antigo “colaborador”, no seu estilo habitual. Se calhar porque deixou de colaborar. A pergunta a fazer a este cônsul honorário de muitas honras perdidas ( foi amigo de Duarte Lima e esfaqueou-o em directo na tv, aquando do caso da quinta de Nafarros) é muito simples: que tal uma investigação em forma aos seus rendimentos fiscalizáveis?

De António Costa o putativo sucessor que conta já com favas do seu lado, ainda sem ter o bolo-rei, e que já comenta o assunto, as perguntas ainda são mais simples e basta trocar de personagens para lhe solicitar as respostas às perguntas que coloca. Em vez de Passos Coelho basta dizer “José Sócrates”.

O católico mefistofélico  Bagão , também esportula opinião de demissão porque lhe convém. A pergunta a este é simples também: por que no te callas?

E quanto ao padrinho Mário Soares basta uma, aparentemente anódina: quanto recebe a enfermeira que anda a tratar dos seus achaques? E outra, muito pertinente: de onde lhe veio tanto dinheiro para tantas despesas?

23 comentários:

Floribundus disse...

boxexas é o Lucky Luke da esquerda folclórica
dispara em todos os azimutes

agora a culpa é de NGM. porque está a dividir o partido que fundou.

o rectângulo não conta para esta gentalha.

estava tudo programado

eu também sou sonso como o PPC. foi assim que me safei dos ataques da escumalha familiar e profissional.

Floribundus disse...

ando há anos à espera de ver cerejo a entrevistar Rui Mateus

josé disse...

Julgo que JA Cerejo faz o que pode e a mais não é obrigado.

Desta vez, parece-me que se usa napalm para tentar eliminar toupeiras: só fica terra queimada.

zazie disse...

AHAHAHAHAHAHA O último parágrafo está o máximo

whatever disse...

"E se todos "fizeram aquilo" nos anos festivos de 1990, devemos assumir colectivamente as despesas desta festa. Não sendo aceitável em 2014 o que se fazia colectivamente em 1999, ninguém deve ser punido por tal, porque para isso funciona a amnistia"

Eu gostava de saber o que fizeram as medíocres criaturas que nos governam para merecer tamanha benevolência e comiseração.
E mais, de alguém com tanto apreço pela História e pelas histórias nunca vou compreender o porquê de se auto-infligir tal curteza de memória.

josé disse...

"Eu gostava de saber o que fizeram as medíocres criaturas que nos governam para merecer tamanha benevolência e comiseração."

Quem votou nesta gente é que merece a punição. E explicarei porquê:

Em 2011 já se sabia quem era Passos Coelho e a sua "sonsice" não era desconhecida de ninguém, tal como a desonestidade do anterior primeiro ministro não era desconhecida em 2009 e ganhou as eleições.

Julgar um primeiro-ministro actual, com base em factos que eram virtualmente conhecidos quando foi eleito é cinismo do mais nefando.

Pegar em factos de há 14 ou 15 anos relativos a uma eventual infracção fiscal que a própria lei considera criminalmente prescritos para lhe assacar responsabilidade política é conduzir as coisas para além do razoável.

É assim que penso e tal se aplica ao Sócrates. No caso deste, porem, é bastante diferente: os factos eram mais recentes, de quando era primeiro-ministro e mostram um padrão de comportamento pessoal e político inadmissível em democracia.

josé disse...

Haja bom senso!

josé disse...

Não se trata aqui de defender o Passos, embora isso seja uma defesa, mas apenas um alerta para este jornalismo populista de demagógico que perdeu a bússola.

Floribundus disse...

Jose

penso que deveria ter escrito que cerejo faz o que lhe pedem

conheço este jornalismo de encomenda
já o vi na reportagem das casas com a arquitectura de sócrates

o boxexas , o almeida, o sócrates
mereciam uma campanha, mas não teriam onde pudesse ser vista

nos jornais do final do séc. xix até explicavam como se fazia uma campanha.

lembro-me de uma contra as Irmãs da Caridade
'as I da C
têm um buraco no cu,
que lhes fez o Gungunhana
com a chave do baú'

Bic Laranja disse...

José Sócrates e Passos Coelho são uva da mesma casta. De há mais de 40 anos que só produz zurrapa. Cada vez pior. E não há filoxera que lhe acabe com a raça.
Cumpts.

josé disse...

Pois são, com uma diferença: uma dessas zurrapas está completamente estragada.

Adivinhe qual...

Floribundus disse...

'todos iguais, todos deferentes'
têm boxexas no trazeiro

hajapachorra disse...

Há 15 anos era perfeitamente aceite o não pagamento de sisa e todos colaboravam nisso. Não era e nunca foi aceite que se criasse uma empresa partidária para desvio de dinheiros da Europa e do Estado, não era nem nem foi aceite que alguém recebesse sem trabalhar, não era nem nunca foi aceite que alguém acumulasse rendimentos de origem diversa mais subsídio de exclusividade. Sócrates e Passos são iguais como duas gotas de água. Um tem vara, outro tem relvas, um recebe dos bancos do regime o outro das empresas do ti angelo, um nunca trabalhou o outro também não, um nunca estudou o outro igualmente, um raspou um canudo na farinha amparo da independente o outro foi à lusíada. Até na vida privada são de moralidade mais que duvidosa, ambos. Sim, há uma diferença, um é burro como um porta e ao fim de trinta anos de politicazinha nem uma porcaria de um discurso sabe fazer, o outro é um chico-esperto, tão óbvio que podia ser o relvas do anterior.

hajapachorra disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
joshua disse...

Bravo, josé. Farei eco porque concordo em absoluto. Não compreendo, neste ponto, o meu querido amigo ABC.

T disse...

Como? Como se o assalto aos media nacionais e ao BCP de Sócrates fosse igual a este caso da típica tugalidade? Adiante. Por outro lado acho extremamente perigoso que se levantem estes tapetes, pois destes casos está a nossa política cheia - é que se de facto se confirma que há troca de casos entre o poder, este foi uma má jogada... Não estamos propriamente a falar da Moderna..
..porém continuo a achar que isto foi uma prenda dos nossos amigos camaradas da foice.

hajapachorra disse...

A cegueira e do caraças. Não querem ver o que é a tecnoforma e o que dúzias de tecnoformas? Todo o lixo do psd estava metido nisso, como nas empresas do lixo, literalmente, estava todo o lixo do ps. Juntem relvas, pereira coelho, armando vieira e o administrador passos só pode sair de la limpinho, não é? Como. É que passos se aguentou durante três anos em campanha contra Ferreira leite? Da mesma forma que socrates se aguenta anos sem ter emprego e a gastar à tripa forra.

zazie disse...

Nossa, que biolência.

Conheço comuna que também já tinha vindo com a cena da "biolência doméstica-doce".

Engraçado que não se lembram da outra doce queimada com pontas de cigarro pelo comuna gay do Paulo de Carvalho e com outras cenas mais hard pelo preto da bola.

zazie disse...

Sim, bora, hajapachorra- junte tudo no mesmo saco, por igual, inspeccione tudo, por iual, de todos os políticos e depois diga-me qual o absolutamente impoluto desde nascença que encontrou.

E não vale dizer que tinha de recuar ao famigerado fássismo. tem de ser na boa da democracia que tanta igualdade a granel nos trouxe.

zazie disse...

Ah, e não vale dizer-me que é democrata ferrenho e nem admite mais nada mas que não vota por causa destas impossibilidades de detectar roupa branca com Omo.

zazie disse...

É que isso da democracia partidária ser o ex-libris do progresso humano mas os outros que votem é muito engraçado.

josé disse...

Hipócritazinhos...é apenas isso. Fariseus que pretendem apenas liquidar alguém politicamente. Querem lá saber da moralidade ou ética em geral! Querem é entalar em nome disso, isso sim!

zazie disse...

Completamente.
Até me lembrei do Ambrose Bierce

Hypocrisy: prejudice with a halo

O Público activista e relapso