domingo, janeiro 25, 2015

As margens da violência entre casais

Este artigo de Carlos Anjos na revista do CM de hoje mostra um problema cujo entendimento correcto não me parece ser fácil: a morte de mulheres às mãos de maridos, namorados e companheiros e quase sempre com a mesma causa: desamor. 





Segundo Carlos Anjos, estatisticamente, na última década estas mortes foram constantes, cerca de 40 por ano em média.
Nos últimos oito dias ocorreram quatro destas mortes, em Portugal e hoje as notícias são assim:


Carlos Anjos aponta que " Temos que concluir que apesar das alterações legais que ocorreram nesta última década, da maior especialização e formação de todos os actores, nomeadamente das ONG, associações de apoio à vítima, forças de segurança, tribunais, entidades oficiais, da maior visibilidade do fenómenom das diversas campanhas de informação, de todas as campanhas de prevenção, dos diversos planos de combate à violência doméstica- não fomos ainda capazes de diminuir nem o elevado número de participações ou queixas do crime de violência doméstica, nem sequer o número de mortes."

Pois bem, o diagnóstico está feito: não se sabe como é que isto sucede porque as medidas que se tomaram para que não sucedesse não estão a resultar.

Para não fazer figura de imbecil tipo Ana Gomes que parece ter atribuído os atentados terroristas em Paris à austeridade na zona euro, resta-me perguntar em modo retórico:

Para além do lado subjectivo e de personalidade que leva alguém a matar em circunstâncias destas, que outras razões objectivas poderemos descortinar neste fenómeno?

Será correcto pensar ou afirmar que todas estas medidas enunciadas, se não existissem teriam pouca relevância neste fenómeno, ou, pelo contrário, são, paradoxalmente, criminógenas? Explico: quem mata não esta a pensar na pena de cadeia que vai apanhar e se estiver ser-lhe-á indiferente ficar preso 5, 10 ou mesmo 20 anos. Em temos de prevenção geral, estamos conversados, parece-me.
Por outro lado, quem mata fá-lo num estado de espírito desesperado, mesmo actuando a frio e com premeditação. Porquê? O que terá conduzido alguém a uma situação tão extrema e radical?
Encontro uma pista para uma resposta: impotência em reverter a situação aparente. O homicida caseiro não consegue lidar com a situação que vive. Porquê, se sempre houve casos de desentendimento conjugal, traições, afastamentos, separações, divórcios e partilhas de bens?  E porquê ainda se algumas causas actuais- alcoolismo, droga, perturbações mentais- são as de sempre também?

Julgo que será necessário indagar em modo de ficção policial porque a realidade ainda é mais estranha. Será preciso um detective particularmente empenhado e talentoso para entender o contorno essencial da causa principal que conduz um homem a matar uma mulher, no seio de um casal desavindo. E as aparências podem mesmo ser enganadoras, suspeitando que são essas aparências que conduziram à panóplia legislativa e jacobina a que temos assistido ao longo dos últimos anos.

Será que é isso mesmo, ou seja, essa força intangível da sociedade organizada em burocracia  que cerca em modo irredutível o potencial homicida, forçando-o de algum modo a passar da intenção ao acto? Será que é essa violência marginal da sociedade organizada sobre o indivíduo encurralado que o conduz à resposta sobre o elo mais fraco, ou seja, a mulher?
As medidas de protecção à vítima são agora mais visíveis, mais eficazes até certo ponto, mas não ao ponto de evitar a violência maior que é o homicidio. E porquê? Porque o homicida sabe disso e perante a frustração de se ver isolado e remetido a um gueto social em que tudo se conjuga, com apoio institucional oficial e de Estado,  para o abater e separar  desse convívio em que apesar de tudo permanece, passando a agressor institucional, perde as estribeiras mais facilmente.
Será isso, ou este raciocínio mais uma imbecilidade como outras que tenho lido?

A violência doméstica terá várias causas e a principal é o desamor, transformado em ódio travestido,  entre o casal. 
A violência homicida é um acto de desespero maior e que carece de melhor compreensão. Talvez os psicólogos desempoeirados, se falarem com os homicidas, apanhem um padrão de motivações e comportament. Talvez, não sei e duvido que alguém saiba, apesar das Anas Gomes e Isabéis Moreira.

Porém, pensando melhor, talvez fosse boa ideia perguntar aos padres com mais de 50 anos e que paroquiaram aldeias, o que pensam disto. A sério. Os padres também estudaram psicologia. E confessaram muita gente...

Talvez seja de pensar nisso...mas não perguntem ao frade Bento Domingues, porque a resposta dele já a sabemos de há mais de 40 anos a esta parte: é a sociedade capitalista, a culpada.

Questuber! Mais um escândalo!