quarta-feira, janeiro 07, 2015

Terrorismo contra o humor francês de esquerda libertária

O ataque terrorista de hoje contra o jornal francês Charlie Hebdo é um rude golpe,  duplamente mortal: contra os que morreram efectivamente, entre os quais se encontram o director do jornal e ainda os caricaturistas Georges Wolinski e Jean Cabu e ainda contra o humor francês praticado pelo Charlie Hebdo. Pode dizer-se que o jornal acabou hoje porque nunca mais será o que foi, com a morte daqueles dois caricaturistas.

O terrorismo islâmico atingiu o coração desse tipo de humor bem francês e que sendo de esquerda, libertário, fazia bem saber que existia. A iconoclastia sem barreiras encontrou agora um muro: o terrorismo fanático do Islão.

O jornal descende de uma tradição bem francesa e sem comparação na Europa. Lá a banda desenhada é uma indústria sólida e os desenhadores e caricaturistas trabalham em jornais e revistas como em lado algum se pode ver. Nem na América.

Nos anos setenta do século que passou, este tipo de humor, traçado a desenho rápido tornou-se uma imagem de marca da banda desenhada franco-belga que já tinha visto nascer o Tintin, Blake & Mortimer, Lucky Luke e Astérix, para citar alguns dos mais notáveis.
Ultrapassou estes género para crianças e adolescentes, pela esquerda baixa ainda antes de Maio de 1968,sendo eventualmente um dos sinais percursores e tornou-se endémica nos quiosques franceses.

A revista literária Magazine Littéraire de Dezembro de 1974 publicou um número especial dedicado ao fenómeno nascente.


Jean Cabu e Georges Wolinski , agora assassinados, foram dois dos mais importantes pilares  desta forma de expressão artística. Tanto um como outro foram os grandes impulsionadores e fundadores  do jornal satírico Hara.Kiri em 1960, juntamente com Topor, Reiser, Gébé e Fred, todos fora de série, como desenhadores e caricaturistas. Mais tarde apareceriam Gir, Willem, Fourmier e Hopf.
Como conta a Magazine Littéraire, depois de várias proibições criaram Charlie e Charlie-Hebdo, na mesma altura e agora morta.
Este atentado terrorista é um acto de loucura contra a cultura, mesmo de esquerda e mesmo libertária. É um crime cujo castigo vai ser muito difícil de configurar e provavelmente vai cavar muito fundo uma fronteira que ainda está por definir os contornos mas já se torna visível, incluindo na Alemanha. Basta o que basta. E isto já basta mesmo.

Em 1974 essas revistas, particularmente Charlie vendiam-se por cá. E por isso aqui ficam estes exemplares. O primeiro que comprei foi em Agosto de 1974. O estilo de bd era pró pesado, erótico qb e a roçar o mau gosto de vez em quando, quase sempre. Comprei poucos números por causa disso, mas os desenhos eram fantásticos e tinha muitao bd americana dos "comix" ou seja da bd chamada underground.

 Um dos rebentos artísticos  dessa bd foi a Actuel, uma espécie de ersatz da Mad e da National Lampoon americanas.
Este é o número de Março de 1974.




 E este sumário é do número de Outubro de 1971



E também a Mormoil, de Dezembro desse ano de 1974 com uma fantástica caricatura de Morchoisne:


Em 2 de janeiro de 1978 o semanário francês B.D. publicava este anúncio à Charlie-Hebdo:

E por cá? O que tivemos mais próximo disso foi O Lobo Mau, aqui no primeiro número de 31 de Maio de 1979. Nada mau, mas não teve seguidores.
Em Portugal o humor, mesmo desenhado anda pelas ruas da amargura, com os Inimigos Públicos cada vez mais idiotas e os gatos fedorentes cada vez mais pt´s.



Questuber! Mais um escândalo!