O dia 25 de Abril de 1974 foi contado dez anos depois pelo O Jornal, na edição de 27 de Abril de 1984. Torna-se interessante ler o que pensava a esquerda de então, praticamente a equivalente à união de esquerda que hoje em dia governa sob a batuta do PS.
O Jornal era o mais fiel representante dessa linha ideológica e como tal o 25 de Abril já era um mito. Sobre as duas bancarrotas entretanto sobrevindas, moita carrasco, como se tivessem sido um castigo do destino. E se calhar foi mesmo.
Interessante também é ler uma entrevista de Mário Soares a propósito da efeméride e do modo ultra complacente como explica o que sucedeu nesse dia, o que motivou e o que adveio.
No balanço desses dez anos uma realidade avulta: Portugal regrediu económica, cultural e até civilizacionalmente quando comparado às restantes nações europeias de quem nos íamos aproximando lentamente.
O balanço desses dez anos, no O Jornal, porém é diverso: a mitificação é bem evidente na opinião do cantor José Afonso que ainda sonhava com mundos paralelos em que a riqueza aparecia do nada e a pobreza desapareceria como por encanto, se fosse liquidada a burguesia do poder económico. Ainda hoje é assim para os seus seguidores que se juntaram à União de Esquerda.
Na realidade o que se ganhou mesmo com o 25 de Abril foi uma liberdade para a esquerda comunista se manifestar e concorrer a eleições e sapar o regime pró-ocidental que tínhamos, principalmente na vertente económica. Enquanto povo ganhamos alguma coisa com isso? Absolutamente nada, só perdemos e muito. Décadas de maior bem-estar para todos, incluindo os próprios.
Será isso que ainda celebram? Parece que sim porque nada mais haverá a celebrar, para além da abolição de uma estúpida censura e o fim de uma guerra no Ultramar que estava por um fio, de qualquer modo.
O que me parece no entanto que celebram, principalmente a classe jornalística maioritariamente subsidiária dessa esquerda, será o mito da liberdade de se poder dizer e escrever o que bem entendem. Ora nem tal acontece hoje em dia porque os donos dos media é que orientam as linhas de discurso oficializado que tacitamente é aceite pelos jornalistas que hoje são menos livres do que eram dantes, com censura prévia, paradoxalmente.
O patrão Balsemão pode agora dizer mal do fassismo antigo mas se disser mal do comunismo do mesmo modo, fica marcado com um ferrete ainda mais visível do que o do lápis azul da censura dos coronéis reformados que não deixavam ver o Último Tango em Paris ou a Laranja Mecânica, entre outros.
É essa a liberdade celebrada? Duvidosa liberdade... que afinal lhes aproveitou sempre a esses que contestavam o regime anterior mas não permitem agora que se possa dizer com a mesma liberdade que defendiam, tudo o que seja prejudicial a essa união de esquerda hegemónica e censória.
Nos canais de tv a formatação editorial é de tal ordem que até os programas ditos culturais têm que se apresentar como antifassistas primitivos. Caso contrário, a nova censura clamará contra o regresso desse hediondo fassismo...e os seus autores relegados para a inexistência mediática.
Quem não afinar pelo diapasão da vituperação do fassismo do regime anteriror está condenado a desaparecer do espaço público, em qualquer programa ou coluna de jornal...
É esta a liberdade conquistada? Não me parece muito diferente da anterior, de há 45 anos...e sendo assim, liberdade por liberdade ainda prefiro a antiga.
E para terminar uma ilustração de um comunista-artista de grande valia: João Abel Manta.
O que era então a televisão única pode dar uma ajuda a compreender o panorama cultural da época...como mostra o Diário de Notícias de 22 de Abril de 1984: