Yves Chaland, desenhador de bd, viveu 33 anos, tendo nascido em Lyon, em Abril de 1957 e morrido em 18 de Julho de 1990, num acidente de carro em que também perdeu a vida uma filha, ainda pequena.
Foi uma tragédia maior para a arte da banda desenhada de expressão franco-belga porque é difícil de dizer onde poderia ter chegado no caso de ter feito mais desenhos e aumentado a obra que já era importante em 1990.
A história cronológica da arte de Yves Chaland conta-se em duas páginas de um livro dedicado ao artista pela editora belga Champaka, em 2019.
Yves Chaland começou a publicar os seus desenhos em 1978 na revista francesa Métal Hurlant que eu procurava febrilmente desde o seu aparecimento, em Fevereiro de 1975 e que nunca foi distribuída regularmente em Portugal ( porém, os álbuns- recueils chegaram a vender-se na livraria Leitura, do Porto).
Assim, dos poucos números que consegui arranjar, até Setembro de 1982, data em que a comecei a assinar e que durou até ao fim da revista no Verão de 1987, só a edição de Junho de 1980 me permitiu ver pela primeira vez os desenhos do artista.
A história já em continuação do número anterior é um dos clássicos do autor- intitulada Bob Fish, uma sequela aprimorada no estilo de outra história de uma dúzia de páginas- Bob Mémory- publicada na mesma revista em Janeiro de 1980 e que era uma homenagem a um grande autor belga de bd, dos anos cinquenta: Maurice Tillieux e das aventuras do detective Gil Jourdan, publicadas originalmente no Spirou belga, como neste número de Outubro de 1963:
Na versão de Yves Chaland a imitação do estilo resulta assim:
Este estilo já seguro e de mestre, mesmo copiado dos antigos, era fascinante e ainda mais com a história do Bob Fish, melhor organizada grafica e tematicamente.
Yves Chalando tinha adquirido em pouco tempo uma firmeza e rigor no traço e no uso do pincel verdadeiramente notáveis e que me fascinava.
Porém, quando assinei a revista Métal Hurlant, em Setembro de 1982 o que aparecia já não eram histórias deste género "em continuação" mas umas duas tiras na última página da revista com outra série igualmente notável e de inspiração na bd franco-belga, dos anos cinquenta, com a personagem Le Jeune Albert, a qual remete para aqueles desenhos acima mostrados de Bob Fish, na sala de aula.
A personagem é então destacada e passa a protagonizar pequenos episódios hilariantes inseridos nos costumes dos anos cinquenta, na cultura franco-belga.
A primeira vez que vi o Le Jeune Albert foi por isso em Setembro de 1982, nestas tiras:
A pequena saga tinha aparecido inicialmente no número de Janeiro desse ano e o estilo de humor, ácido e rasante, divertia-me na altura, pela caricatura e pela temática específica que excedia em subtileza outros estilos que se tornaram populares, apesar de não terem metade da potencialidade vitriólica deste:
A atenção ao estilo confundia-me porque via que tais desenhos poderiam ter sido da autoria de outros artistas da época, para além de Tillieux.
Via neles os traços de um Franquin e das pinceladas de um Jijé, ambos belgas e que tiveram o seu período de ouro nos anos cinquenta, na revista Spirou e também outros que desenhavam para o Tintin, igualmente de proveniência belga.
Uma escola, portanto e com este aluno virtuoso e para mim, genial, da minha idade e que fazia o que eu gostaria de fazer se tivesse talento e disciplina para tanto ou o engenho e a arte necessários que ali via nesses trabalhos gráficos.
Ultimamente, com a publicação em 2019 do livro Yves Chaland, une vie ( Champaka) li que afinal Yves Chaland tinha ficado fascinado com outro livrinho que eu também tinha comprado e me impressionara em 1974, da coleção belga, Marabout Service e originalmente publicado em 1969 sobre como se chegar a ser criador de bandas desenhadas, através de entrevistas e mostras do trabalho prático de dois artistas, precisamente Franquin e Joseph Gillain, dito Jijé:
Esse livro mostrara-me pela primeira vez como eram realizadas as bandas desenhadas que já apreciava e lera no Tintin desde 1972. Era uma autêntica descoberta, saber como os profissionais desenhavam e colocavam as cores no papel, para se imprimir depois em formato de revista.
Para além de Jerry Spring, Jijé assinava outros desenhos de outras histórias como a do detective Jean Valhardi, aqui em números da revista belga Spirou, de Outubro de 1963 e Junho de 1964:
Eram esses dois dos autores que Yves Chaland admirava e imitava. A tal ponto que na Métal Hurlant de Junho de 1981, Yves Chaland desenhou em algumas páginas...a vida de Jijé, imitando o seu estilo, tal como imitaria depois o estilo de Franquin, na personagem Spirou, copiando mesmo as histórias originais como se fossem palimpsestos da sua própria autoria:
Deste modo procurei conhecer toda a obra do artista que aliás não é muito extensa devido ao seu relativamente curto período de criação, cerca de uma dúzia de anos.
O livro sobre a sua vida é um volume com mais de trezentas páginas ilustradas com inéditos e esquissos de desenhos originais, como estes:
Estes exemplos mostram a direcção artística que Yves Chaland tomaria a seguir, misturando a caricatura com o desenho realista e sintetizando em modo virtuoso algo que não chegou a cumprir inteiramente por falta de tempo.
Se há indivíduos que me fazem falta que tivessem vivido mais tempo e produzido as obras virtuais que já prometiam um deles é este.
O resumo da sua vida e obra apareceu na revista francesa Bodói em Dezembro de 2000:
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