No Expresso desta semana o articulista de obituários, António Araújo, destaca este perfil de um indivíduo relativamente desconhecido mas que ajudou muitíssimas pessoas a aprender rudimentos musicais em instrumentos variados, por exemplo guitarra, ou viola acústica.
Segundo o articulista, a obra-prima de Eurico Augusto Cebolo será esta ( embora sem a palavra "portuguesa") editada em 1976:
Foi precisamente no Outono de 1976 que comprei este "método" de aprender viola porque foi nessa altura que comprei a minha guitarra acústica e não havia outro modo de aprender os acordes em modo sistemático senão por aqui. Estava muito longe ainda, a época dos livros didáticos ou dos videos no You tube, actualmente uma mina imprescindível para quem quiser aprender.
Desde 1974 que ansiava por ter uma viola acústica, idêntica às que via nos jornais e revistas musicais e sonhava com um modelo próximo da americana Martin que conhecia das publicidades nas revistas de música, estrangeiras e nas imagens dos artistas, particularmente os CSN&Y.
Para além do som que ouvia nos discos daquele grupo, particularmente o disco ao vivo 4 way street que saiu em 1970, com as composições acústicas Right between the eyes e Cowgirl in the sand , a sonoridade típica das cordas metálicas dessas guitarras encantavam-me particularmente, até hoje e sem intervalos.
A publicidade que saiu no Verão de 1974 nas revistas americanas, como a National Lampoon deram asas à imaginação.
No caso, uma imitação das guitarras mais caras, como a Martin, a Gibson ou a Guild, tornavam o sonho de ter uma alcançável.
A cor da madeira clara e a protecção dos dedos logo abaixo da abertura central, eram o sinal do tipo de guitarra que queria, porque eram as que os músicos que admirava também tocavam.
E algumas imagens publicadas nessa altura na imprensa musical aguçavam o desejo. No primeiro número da Rolling Stone que comprei, em Outubro de 1975 aparecia esta imagem da perfeição estética de uma guitarra acústica como eu queria. O objecto passou a ser um culto, até hoje, pela perfeição estética do artefacto e do som que produz que é mágico, para mim:
Em Julho de 1975 o Melody Maker britânico consagrou várias páginas a publicitar modelos de guitarras acústicas e respectivos preços. Alguns deles inatingíveis...mas havia uma que era aceitável, o da Yamaha 200FG, aliás distribuída em Portugal pela Ruvina do Porto.
Esta imagem ( tirada da revista Best desse tempo), de Jimmy Page a dedilhar uma dessas guitarras até me fazia sentir o som acústico de Stairway to heaven, na introdução antes do desenvolvimento eléctrico:
E esta de um músico francês do grupo Ange, tirada de uma Rock&Folk ( seria da Best?) também da época, mostrava qual era o modelo que queria:
Logo em 1976 a imagem de dois dos elementos dos CSN&Y a tocar o instrumento do som mágico fascinou-me. Porém, o modelo era dos mais caros, porque era uma Martin, inatingível e julgo que nem sequer estava à venda em Portugal nessa altura. E durante muitos anos assim foi.
Aquela imagem de Neil Young com a Martin em palco era absolutamente maravilhosa e de apelo urgente para encontrar algo semelhante.
Mas...como, se em Portugal na altura vivíamos tempo de bancarrota, patrocinada pelos iluminados da esquerda que ainda temos e que impedia importações avulsas por carência de divisas suficientes para tal?
Solução: procurar em Espanha, nessa altura já com a peseta a 4 tostões ( e dali a pouco a subir para níveis incomportáveis) e foi assim que encontrei a minha guitarra mágica, uma grande guitarra que pude comprar em vez da que não podia ter.
A que gostaria de ter seria esta:
A que acabei por arranjar, em Vigo e com peripécias alfandegárias dignas de registo, mas particular, foi uma imitação da Martin, de fabrico japonês, da Kiso-Suzuki. Este modelo que ainda cá canta, sempre afinada e com o som mágico de sempre, nas cordas de bronze e aço:
Ao ver esta imagem deste tipo de guitarra acústica até parece que o som se liberta das cordas tensas a ressoarem na madeira exótica escolhida a preceito...
Para mim é este o mais belo instrumento musical que conheço. E para ver e ouvir alguém a falar de tal instrumento nada melhor que David Crosby.
Aqui:
https://www.youtube.com/watch?v=rDlA1FnuN1U
Na mesma altura- meados dos anos setenta- apareceu outra guitarra, acústica e com amplificação eléctrica incorporada que começou a aparecer nos espectáculos ao vivo de alguns artistas e cuja sonoridade é imediatamente reconhecível pelo timbre das cordas de nylon em vez de aço ou bronze ( fósforo).
A Ovation foi uma sensação nessa altura como se mostra nesta imagem tirada do s
ítio da marca:
Paul McCartney usou-a durante os espectáculos que vieram a ser gravados para o triplo álbum Wings Over America, de 1976, cuja capa interior mostra em ilustração o que era o modelo de 12 cordas:
A Ovation passou entretanto de moda e agora até se vende relativamente barato no ebay, com a sua imagem inconfundível de caixa sintética e formato arredondado...