As revistas de "sociedade" mostram hoje a pindérica ausência de um povo que se presumia presente em contraste com a maciça presença numérica dos notáveis que homenagearam um dos seus.
Torna-se por isso interessante ver quem foi ao enterro para se perceber a nossa sociedade actual e a sua nomenklatura de interesses e referências.
Mário Soares, através de um partido que liderou ideologicamente durante décadas e do poder que alcançou através dele, agregou os militantes, apaniguados, simpatizantes e aboletados de vária espécie no regime que ajudou a criar.
O enterro de Mário Soares é também um retrato de um certo país em que o povo não está representado, mas apenas os que o regime adoptou.
Nestas imagens que seguem não estão todos, claro. Mas estão os que dominam os media. Aliás, o enterro foi isso: mediático.
Lux com data de 16.1.2017
Nova Gente com a mesma data:
Agora compare-se com o que sucedeu em 30 de Julho de 1970, em alguns dos mesmos locais de Lisboa. A reportagem é do Século Ilustrado de 1.8.1970, assinada entre outros por Maria Antónia Palla, mãe do babush que foi à Índia e é actual primeiro-ministro de Portugal.
Da comparação resulta uma evidência: a democracia prescinde de povo no funeral do seu pai putativo...mas não suporta a ausência dos seus apaniguados, filhos bastardos de um regime que se perverteu
Pelo contrário, o regime odiado pela democracia e vilipendiado como fassista teve povo a rodos no funeral do seu máximo representante e poucos apaniguados visíveis.
A História já não é o que era.
Só uma nota mais: consta que um dos militares que acompanharam o féretro e ajudaram a transportar o caixão, teria sido, nem mais nem menos que...Otelo Saraiva de Carvalho. A fonte é de boa cepa e si non e vero e ben trovato. Mas carece de confirmação. Do próprio, se calhar. Ou talvez não porque sempre teve propensão para actor...