A crónica afinal está aqui:
Quando sobre o Dia de Portugal, de Camões e
das Comunidades Portuguesas, Catarina Martins escreve que "virá o dia
em que os discursos oficiais serão capazes de reconhecer a enorme
violência da expansão portuguesa, a nossa história esclavagista, e a
responsabilidade no tráfico transatlântico de escravos", só repete a
ligeireza irresponsável com que a propósito dos incêndios que devastaram
o país em 2017 comentou, no Twitter, "que venha a chuva, bom dia". Não
tem noção.
Apoucando nove séculos da
história extraordinária de Portugal, que a partir dos Descobrimentos no
século XV nos levou a todos os cantos do Mundo e deu corpo à primeira
globalização, resumindo-a a uma única realidade, que por acaso os
compêndios já registam, mas avalia desenraizada do tempo e das
circunstâncias - a escravatura, obviamente hedionda, era prática à
escala global, mesmo em África, entre africanos -, o BE mostra-se
disposto a reduzir o que seja à minudência dos seus preconceitos
ideológicos. Vale para o absurdo com que querem chamar de "viagem" ao
museu dos descobrimentos, como se a semântica alterasse os factos. E nem
o padre António Vieira escapa, acusado em manifestações ridículas de
ser um símbolo do racismo, apesar de mestiço pelo lado materno, ter
defendido os direitos dos índios e ter criticado a Inquisição, quando a
temeridade poderia custar a vida.
Se
Catarina Martins quer exibir complexos de culpa póstumos, achando que
assim se mostrará maior aos olhos dos outros, comece por assumir os
crimes abomináveis dos regimes comunistas, que ponderada a paternidade
marxista-leninista da UDP e trotskista do PSR, defenderam e ainda nos
anos 70 quiseram para Portugal. Da URSS à República Popular da China,
passando pelo Camboja, Coreia do Norte e Cuba, não lhe faltarão exemplos
de homicídios em massa, detenções por delitos de opinião, tortura,
campos de trabalho forçados e lavagens ao cérebro. Sem surpresa, a
esquerda-net guarda o texto laudatório de Hugo Chávez, digno de quem
gravita num universo paralelo, que diz que "enquanto na Europa a
democracia está a falhar, na Venezuela a democracia participativa
tornou-se num sinal de identidade".
Se o
velho do Restelo simboliza os que antecipavam o fracasso da epopeia dos
descobrimentos, com o espírito da extrema-esquerda nos primórdios da
nacionalidade não teria havido S. Mamede, ou Aljubarrota e nenhuma nau
ou caravela teria zarpado do Porto, Lisboa ou Sagres. Camões não teria
escrito Os Lusíadas. E com Pessoa, seguramente não diríamos que "a minha
Pátria é a língua portuguesa".
Esta burra não tem vergonha nenhuma, é claro. Mas haja, ao menos, quem lhe mostre a ignorância.