No mesmo número da Rock&Folk que trazia a recensão crítica ao disco dos Zeppelin, também aparecia este anúncio:
Este anúncio em Fevereiro de 1975 de uma nova revista de banda desenhada francesa, com os nomes indicados, particularmente Moebius, foi uma lufada de ar fresco e uma novidade completa.
O nome Moebius, como desenhador, já o conhecia de outras imagens mais antigas e sabia que era um heterónomo de Jean Giraud, aliás Gir que eu apreciava como desenhador da série Blueberry, publicada no Tintin português ( que nesse ano já tinha deixado de comprar) e originalmente da revista francesa Pilote.
Em Fevereiro de 1974 apareceu pela primeira vez nas montras da livraria Bertrand este número da revista Pilote, francesa e de cuja existência sabia por via do Tintin. Era aí que se publicava originalmente o Astérix e o Lucky Luke e muitas outras séries que o Tintin português publicava desde 1 de Junho de 1968 a que se juntavam outras originalmente publicadas no Tintin belga, cuja publicação semanal, pelas edições du Lombard, já vinha de Setembro de 1946.
A surpresa de ver tal revista levou-me a esportular os 27$50, mais caro que o Tintin belga, que então custava 15$00. Aliás, por pouco tempo: depois do 25 de Abril passou logo para 22$50 e daí a subir, sempre.
A revista nesse número foi uma pequena frustração. Nada de Moebius ou de autores consagrados que conhecia do Tintin, vindos dessa revista. Ainda por cima, o tema, sobre as lixeiras, era tudo menos estimulante. Escapava esta página de um ilustrador, Gourmelin:
Número seguinte, de 7.3.1974: mesma coisa, um número que deixava algo a desejar embora tivesse esta imagem de Druillet que afinal me fez comprar a revista e dar mais 27$00.
Druillet, já tinha ouvido falar. Em Dezembro de 1971 a revista brasileira Realidade publicou um pequeno ensaio sobre os "quadrinhos". Foi aí também que vi as primeiras imagens a cores de Corto Maltese, de Hugo Pratt, na história sobre um "Rendez-vous à Bahia".
Nessa altura Druillet já era conhecido por Lone Sloane.
Assim dei mais uma oportunidade ao número seguinte da Pilote, de 14.3.1974, o qual versava a ficção científica. E...bingo, com estas imagens, assinadas Gir e sumariadas como sendo de Giraud.
Além disso trazia quatro páginas de um autor desconhecido: Bilal que copiava o estilo tracejado de Giraud que eventualmente o foi buscar a artistas como este: o flamengo Rembrandt, nesta ilustração tirada de uma edição especial da revista Dossiers de l´art de 1999.
Confiado na surpresa comprei o número seguinte, de 21.3.1974. Nada mais de Moebius, mas um bónus: uma caricatura em dupla página de Georges Brassens, desenhada por Morchoisne. A este já o conhecia, também da Realidade brasileira, de Junho de 1973, que consagrou um artigo profusamente ilustrado sobre os novos caricaturistas franceses, Mulatier, Ricor e Morchoisne. Esta é uma célebre caricatura deste último. Aquele brilho no branco dos olhos de Brigitte Bardot cativou-me a atenção:
Continuei de frustração em frustração até ao número 753 de 11.4.1974 quando desisti de dar os 27$50. As temáticas tinham pouco interesse e os desenhos eram de qualidade inferior ao desejado.
E de resto adveio o 25 de Abril de 1974 e o interesse voltou-se para outros assuntos, de jornais e revistas já por aqui explanados.
Em Junho de 1974 fui a Lisboa e descobri na Bertrand do Chiado, coisa de que sempre me lembro quando lá passo, um álbum de recolha das revistas Pilote do ano anterior, com o nº 65.
Ainda guardo a factura da compra, escrita, se calhar, pelo empregado sabedor que lá havia, no sector das revistas, de aspecto um pouco desconjuntado e voz nasalada:
Ao folhear o número de 11.1.1973, deparo com isto: a primeira historieta de Moebius, ainda assinada como Gir:
Na revista, havia sete páginas como estas de uma pequena história completa e mirabolante.
Para além disso havia esta que não conhecia, de um desenhador chamado Tardi e que fiquei logo agarrado à beleza criativa:
E também trazia Fred que ainda não tinha visto:
De repente acabou a frustração e a leitura dos dez números deu até Agosto desse ano, em que comprei outro álbum de recolha, o seguinte que abrangia o período de 22.3.1973 a 24.5.1973 e que trazia outra série de maravilhas gráficas, como esta que se começou a publicar no número de 5.4.1973: seis páginas de uma nova história, que ainda não conhecia, da série Blueberry e assinada por Gir.
Entretanto, como numa verdadeira máquina do tempo, enquanto eu lia números saídos no ano anterior, em Junho de 1974 a revista Pilote alterou o formato e passou a mensal. Quando este número apareceu afixado no escaparate da Bertrand soube logo que tinha do o comprar, apesar do preço ( 45$00).
A nova fórmula trazia o anúncio do futuro, que iria surgir no início do ano seguinte, assim: Moebius em toda a dimensão.
La boucle était bouclée.
Apesar disso, em Abril de 1975 ao ler o álbum de recolha da Pilote, nº 70, deparei com estas imagens, na revista de 7.2.1974,anterior àquele que vira pela primeira vez na montra da Bertrand e me levou a comprar a revista.
É uma das melhores histórias de Moebius: O homem é bom? A resposta, no fim das dez páginas de quadradinhos, mostra uma alimária a cuspir a orelha arrancada ao astronauta e a afastar-se. Não prestava...
Em Abril de 75, a Rock&Folk avisava assim e eu estava atento. Mas a revista anunciada não aparecia por cá. Só no Verão de 1976 lhe pus a vista em cima pela primeira vez e vinda de França. Por cá nunca a vi à venda. A frustração continuava...
E isto é outra história que evidentemente continua na próxima publicação sobre o aparecimento do Metal Uivante que me fascinou desde o primeiro número saído no primeiro trimestre de 1975.