segunda-feira, maio 30, 2022

Guerra na Ucrânia vista por anti-americanos

 Revista francesa Éléments, de Junho-Julho 2022. Perspectiva de Alain de Benoist, oposta à veiculada pelos media "ocidentais", particularmente os de influência americana. Os argumentos estão aqui quase todos, mas falta um: os ucranianos em geral queriam o quê? Ser invadidos pelos russos, como foram? E não têm direito a uma independência de facto, separada da Rússia e portanto alheia aos jogos de poder político e geoestratógico na região? E se tiverem tal direito e agirem em conformidade, deverão ser automaticamente catalogados como partidários do jogo imperialista americano? Ou seja e resumindo: a sorte dos ucranianos tem de ser forçosamente a de serem paus-mandados de alguém? É essa a questão que não vejo aqui respondida:





domingo, maio 29, 2022

O nacional-jornalismo de matriz de esquerda

 Hoje no Público a jornalista Ana Sá Lopes faz o obituário de Mário Mesquita que foi fundador do PS, jornalista, professor de jornalismo, (seja lá isso o que for) e cronista avulso de jornais, por essa ordem.


Esta Ana Sá Lopes é bem o exemplo e epítome do jornalismo que temos: medíocre, enviesado ideologicamente e incapaz de se reformar porque se sustenta a si mesmo num auto-convencimento inacreditável que só a estupidez alimenta.

Esta Ana Sá Lopes é uma das responsáveis pelo estado do jornalismo nacional, pelos papéis que desempenhou em vários orgãos informativos e sempre incapaz de captar mais um leitor que fosse, antes pelo contrário contribuindo para a falência generalizada desse tipo de jornalismo que é o autêntico nacional-jornalismo, parafraseando a expressão de um outro da mesma estirpe ( João Paulo Guerra, outro socialista democrático que inventou a expressão "nacional-cançonetismo"). 

Aparece neste obituário a homenagear o seu mestre-escola, Mário Mesquita, um fundador do PS e portanto jornalista e depois professor dos ditos, ensinando eventualmente o que sabia e aprendeu na escola da vida jornalística, até 1989, altura em que se licenciou em Lovaina, na especialidade e assim adquiriu diploma para ensinar em escolas públicas. E com tal "impulso" replicou o primeiro curso de licenciatura em jornalismo, em Portugal, aparecido em Coimbra, em 1993. Cegos a guiar outros cegos? Não sou capaz de dizer. Porém, a actual miséria intelectual do jornalismo nacional vem daí. E já tem os seus doutores e mestres e sei lá que mais!

Mário Mesquita veio dos Açores na fornada que também trouxe os Medeiros Ferreiras e Paz Ferreiras, todos do mesmo clube ideológico e político e que superintenderam no PS do tempo de Mário Soares.  Todos unidos no republicanismo jacobino e de recendência maçónica. Podia ser pior ( se fosse o PCP a tomar as rédeas que dominou por alguns meses em 1975, por exemplo) mas foi isto que nos moldou o panorama jornalístico desde esses tempos em que a política de esquerda ferreteou o jornalismo, aviltando-o sem fim à vista. 

A operação foi de tal envergadura e amplidão que praticamente dominou todo o panorama existente nos media nacionais, de há quase 50 anos a esta parte, tendo em conta que já se notava tal fenómeno muito antes de 25 de Abril de 1974.

Quanto a mim, dei por Mário Mesquita no longínquo ano de 1985, ainda o licenciado em Lovaina o não o era e apenas dirigia o Diário de Notícias, célebre matutino exemplo vivo do jornalismo nacional no que tem de melhor na isenção, rigor, profissionalismo e competência. Até lá teve um Saramago, imagine-se!, um prémio nóbel! Foi assim, por ocasião de umas célebres eleições:


Desde então nunca mais esqueci este Mário Mesquita, tão isento e perfumado de rigor profissional que estou certo depois ensinou aos seus alunos e futuros doutores e que até impressionava.

Aliás , em 2014 publiquei estes postal em que escrevi que o jornalismo que tínhamos (e continuamos a ter, cada vez mais, com esta catrefa de licenciados e doutorados a preceito nestas escolas de excelência supina) teve origem na esquerda. 

E isso escrito por espanhóis...e como se mantém actual vou republicar o postal:

"Neste ano em que decorre a efeméride redonda dos 40 anos de 25 de Abril de 1974 já se deram aqui várias amostragens do ar do tempo que passou.

Hoje, publicam-se quatro páginas da revista espanhola Triunfo de 31 de Agosto de 1974, altura em que o país vizinho ainda vivia sob a sombra do franquismo que, ao contrário de cá, os espanhóis não apelidam de "fascismo". A não ser os comunistas, claro está. Por cá, os comunistas conseguiram  implantar na linguagem corrente uma metonímia esforçada e passaram a designar o período do regime constitucional de Salazar/Caetano como "o fascismo". Praticamente toda a gente percebe, sempre que há referências ao "fascismo" que tal equivale a dizer regime de Salazar e Caetano.

O feito foi notável e único na Europa Ocidental e provavelmente a maior "conquista de Abril" dos comunistas e também socialistas que apadrinharam logo a designação, apesar de terem alguns "fascistas", vindos desse período,  nas suas fileiras militantes.

Portugal teria muito a ganhar na desconstrução desta linguagem nefasta e celerada mas enfim.

As páginas da Triunfo de Agosto de 1974 ajudam a perceber a razão do fenómeno: os jornais, antes de 25 de Abril pertenciam quase todos a entidades  capitalistas ( como agora, aliás), designadamente bancos. No entanto, as suas redacções compunham-se na generalidade de comunistas, cripto-comunistas e gente de "esquerda" tipo Baptista-Bastos ou Ferreira Fernandes, Maria Antónia Palla e uma miríade de outros que ainda emitem opinião na mesma frequência de onda.
Foram estes que moldaram o jornalismo nacional tal como o conhecemos e tal panorama já perdura há quase cinquenta anos. É obra.
As actuais escolas de "comunicação social" o que ensinam e quem são os seus professores? Gente de esquerda, antigos jornalistas que aprenderam com gente de esquerda e que mantém os traços ideológicos que lhe moldaram o espírito. Todos os dias em todos os meios de informação se vêem estas manifestações, desde as televisões do "militante nº1 do PSD" até aos jornais onde a dança de cadeiras só admite ideias cordatas com a ideologia dominante e o pensamento único prevalecente. 
Basta ver as principais personagens que redigem notícias nas tv´s e as apresentam para confirmar o fenómeno. Basta ver os programas de tv mais consentâneos. O  "5 para a meia-noite"  é um bom exemplo do que mudou no tempo e nada se alterou de essencial na ideologia. O seus protagonistas de valor estão já a ser aproveitados para continuar o "regime" ideológico, com o sucesso que surge dos contratos de publicidade ( gatos fedorentos e quejandos) e outros exemplo se poderiam enunciar.

Toda a idiossincrasia dos media nacionais actuais já se encontrava em gestação há mais de quarenta anos, como escreve o repórter espanhol. Logo a seguir ao golpe de Estado de 25 de Abril de 1974 houve  muito poucos "saneamentos" na imprensa, rádio ou tv que não era considerada porta-voz do regime,  por uma razão prosaica e pouco referida:  " a imprensa portuguesa era conservadora mas feita por jornalistas progressistas", segundo o resumo do esquerdista Fernando Cascais, à revista espanhola. Magnífica síntese de uma perfeição tradicional: pensar progressista dentro de um quadro tradicional que não se abandona é o ideal, porque permite a "evolução na continuidade". 
Hoje em dia tal paradigma não existe e o que se vê é muito pior que naquele tempo. Ou não é?





No ano passado publicou-se um extenso laudatório em livro, de homenagem ao professor licenciado em jornalismo em Lovaina.


O índice dá-nos o panorama deste nacional-jornalismo:





Dos inúmeros artigos respigo um que me parece interessante pelo que revela. É de uma tal Ana Teresa Peixinho, uma das doutoradas na nova especialidade, de Coimbra que nestas coisas é sempre uma lição...e basta ler o texto para perceber de que tipo é: daquele que apresenta abstracts, citações em barda e bibliografia extensa de outros que se leram para debitar em name-dropping pour empater le bourgeois. 

A essência disto? Descubra quem souber...a começar pela deliciosa caracterização da "personagem jornalística", a meu ver um achado. 

A autora, doutorada em Comunicação Social explica-nos que "personagem" deriva etimologicamente de persona, palavra latina que significava máscara ou actor". E como não, se até a wiki diz que vem do etrusco, deixando de lado a magia das máscaras gregas?!










É isto que temos e teremos porque agora...o que vem de trás, toca-se para a frente. 
Há uma pequena frase, escrita por Maria Emília Brederode dos Santos, viúva de José Medeiros Ferreira que resume de algum modo o universo mental e imaginário de algumas destas pessoas, caracterizadas por leituras e que procura definir aquele Mário Mesquita:

 Cita uma frase de George Steiner para dizer que se aplica igualmente a Mário Mesquita que segundo a mesma, "desde muito cedo se tornou um leitor voraz de jornais e estou certa que se lhe aplica a definição de paraíso de George Steiner que ele gosta de citar: "Estou ali sentado a tomar um cappuccino. Tenho sobre a mesa Le Monde, La Stampa, El Mundo...e uma entrada para o La Scala. Isso para mim é o paraíso." 
Que paraíso perdido, balha-nos santa Ingrácia!

sábado, maio 28, 2022

A democracia do establishment é esta

 Artigo de Fátima Bonifácio no Sol de hoje, em que descreve claramente o estado democrático a que chegamos, no que aos partidos diz respeito: uma perversão completa, em que o PCP é louvado como força democrática e o CHEGA é ostracizado como fassista ou pior que isso.

Esta situação perdura desde 1974, o que pode ser demonstrado através de inúmeros postais aqui colocados ao longo dos anos. É algo inacreditável, mas é assim. Resta dizer porquê e a meu ver tudo tem a ver com o partido socialista que tomou conta, desde as primeiras eleições de 1975, do discurso político dominante em Portugal. 

Ninguém, até hoje, que me lembre e tenho acompanhado tais fenómenos ao longo dos anos, foi capaz de desmontar este sofisma monstruoso que nos afecta: a democracia que se apregoa mediaticamente é um ersatz, um simulacro e a diferença mais importante que apresenta com o regime anterior a 1974, tem a ver com a força do sinal politicamente correcto. Antes era o combate ao comunismo, sem rodeios. Actualmente é o combate ao fassismo, tal como definido pelos comunistas, desde sempre. É essa uma das razões pelas quais o PCP ( e a extrema-esquerda, por arrasto democrático) continua a ser um partido respeitado como pretensamente democrático quando o não é, de todo. Serve para emoldurar uma democracia que afinal rejeita o lado direito, et pour cause, impondo mediaticamente uma autêntica  ilegitimidade a tal lado do espectro político.  A rejeição mediática do CHEGA tem essa explicação, a meu ver.  

O facto de um candidato a líder do PSD ter assumido a rejeição de qualquer aliança a uma direita representada pelo CHEGA é sinal de outra coisa: esse candidato é apoiado e tem como bandeira referencial , Francisco Balsemão, o representante simbólico desta democracia coxa que nos assiste e que é dominada mediaticamente por discípulos atentos e veneradores dessa linha politicamente correcta. 

As escolas jornalísticas, medíocres e inacreditáveis, são o que se espelha nos jornais e no jornalismo televisivo das claras de sousa e quejandos teixeirinhas, pés de microfones alheios. No caso concreto de Balsemão, porém,  nem sequer por razões ideológicas, mas apenas por dinheiro, lucro, sucesso mediático da sua empresa jornalística. Tal como outro, é o actual dono disto tudo, leia-se influencer,  nos media nacionais e tem o mesmíssimo perfil, eventualmente psicológico, que o outro que dominou o dinheiro bancário nos anos noventa e dois mil e que agora está afectado de Alzheimer, o que não deixa de ser sintomático.

Balsemão é o Soros nacional e tal como este, uma perversão da democracia. É triste viver numa época em que Portugal chegou a este estado de sítio mal frequentado por esta gente que domina tudo e todos, sem que alguém lhes faça frente, claramente e sem medo. No antigo regime apareceu um tolo, Humberto Delgado, capaz de afrontar o mesmo. Agora, nem isso. Nem um tolo aparece, sequer. 

A tragédia disto tudo? A ausência de pessoas com brio, inteligência, capacidade e vontade de mudar este estado de coisas, podre e malsão a que gostam de chamar democracia mas que cada vez mais se assemelha a uma...oligarquia. E pior que a do antigo regime, que essa ao menos tinha valores e pudor que estes nem sonham nem quereriam alguma vez ter. Por uma razão: tirava-lhes o sustento e acabava-se a vidinha que gozam, com desprezo objectivo e manifesto ao povo que os elege. 

O CHEGA é apenas uma tentativa de remediar algo que se sente podre e por isso é atacado mediaticamente, uma vez que lhes toca no ponto fraco. Não chega, o CHEGA, para remediar seja o que for, porque o estrago é tanto e tamanho que só mesmo um grupo de pessoas mais capacitadas que os insuficientes do CHEGA, alguma vez poderia mudar fosse o que fosse. 

Não chegará por isso uma geração que ultrapasse esta, desgraçada e que nos calhou em rifa: estes costas e estes videirinhos medíocres e analfabetos que nos governam. Porventura virá daqui a uns anos, pois é assim que o devir acontece. Já não será para mim e só espero que ainda seja para os meus. Mas tenho dúvidas. 


No mesmo Sol de hoje há um pequeno exemplo do que pretendo significar:



quarta-feira, maio 25, 2022

Jorge Calado, o professor, sociólogo malgré lui

 O professor Jorge Calado é um professor emérito do IST, nascido em 6.1.1938, de mérito indiscutível e conhecido de todos os que alguma vez estudaram Termodinâmica e de outros que se interessam por cultura geral.  

Para além das actividades académicas tornou-se "crítico cultural" no Expresso, onde escreveu sobre várias manifestações artísticas, como a fotografia ou a ópera.

Há alguns anos tinha publicado um livro magnífico, com um título achado: Haja Luz!  

Agora publicou uma biografia recheada de memórias do seu tempo, desde os anos quarenta do século passado, com o título de Mocidade Portuguesa

Vou nas páginas 100 das cerca de 560 do livro e recomendo vivamente. Por vários motivos:

Jorge Calado é filho de dois professores de ensino primário e secundário dos anos de antanho, do tempo em que Portugal vivia em "ditadura". Jorge Calado não pronuncia abertamente a palavra "fascismo" à maneira comunista, apenas por algum pudor, uma vez que é esquerdista, mas conservador de costumes do seu tempo. E lembra-se tão bem deles que merece ser lido nesses contos anti-maldoror. 

Do mesmo modo que intercala interjeições esparsas contra a "ditadura" conta episódios que a desmentem ipso facto, para quem quiser e souber ler. 

Por isso aqui ficam algumas páginas que retratam o seu tempo dos anos quarenta, auge do neo-realismo nacional à maneira comunista. 

O Portugal que Jorge Calado conta não é o mesmo que nos mostra essa gente intelectualmente empobrecida pelo marxismo mais atávico. É outra coisa e por isso merece leitura e serve de exemplo para a falta de pudor de quem retrata um Portugal para além da realidade vivida, circunscrevendo-o  aos desejos políticos frustrados. 

Jorge Calado, malgré lui, é o testemunho vivo, pelos exemplos que apresenta, contra ( assim é que é)  a  falsidade e a farsa neo-realista e comunista. Como se pode ler:


























O livro lembra-me a obra de Umberto Eco, também auto-biográfica, A Estranha Chama da Rainha Loana, mas só por causa das referências iconográficas a que não faltam as personagens de banda desenhada, neste caso a franco-belga. Mas é tudo porque o estilo de Calado é superior ao de Eco e torna-se muito agradável de ler, com as precisões históricas das datas e nomes e pequenos apontamentos sobre acontecimentos, factos e referências. Em dado passo ( fls.113) cita um amigo que dizia "Portugal é um país bom para quem quer ser importante". Isso por causa da hierarquia nos "tratamentos"...
Uma delícia auto-biográfica! Que se vai lendo de um fôlego e só tenho pena que chegue ao fim.

Por exemplo, com  esta prosa desconcertante: 


E já agora para um mergulho mais profundo no espírito da época e fazendo jus ao título do livro e ao conteúdo, estes recortes do Século Ilustrado de 8 de Dezembro de 1945 mostram bem o que era.
Como Jorge Calado fez parte da Mocidade Portuguesa poderia muito bem estar aqui retratado. Afinal teria quase oito anos quando este desfile ocorreu...


E o ambiente de Lisboa urbana que relata também se espelha neste pequeno conto:





segunda-feira, maio 23, 2022

Fausto: o disco mais raro é o primeiro

 Fausto, o autor-cantor e artista da música popular portuguesa que publicou vários discos de música de protesto e de intervenção durante as décadas que se seguiram a 1970, tem o seu primeiro disco, em formato LP, completamente esquecido e para muitos totalmente desconhecido. 

O disco é este e saiu na primeira metade do ano de 1970, tendo sido publicado na Holanda ( terra da Philips). Até hoje nunca foi reeditado, seja em que formato for e por isso é uma perfeita raridade discográfica. Aliás, nunca vi sequer em publicações portuguesas da época imagem da capa ou publicidade ao mesmo. 

Até há pouco tempo, só um ou outro blog tinham fotos da capa do disco e sempre em resolução fraca que nem sequer dava para observar em pormenor os detalhes das cores vivas, do vermelho-verde e as indicações da contra-capa. 

No Discogs, no dia de hoje, há dois exemplares disponíveis para venda, qualquer um com preço acima das duas centenas de euros:


Para mim é sem dúvida um dos grandes discos da música popular portuguesa, dos anos setenta e de sempre. É um disco algo melancólico, como o primeiro de Jackson Browne, para ir um bocado longe, mas de uma beleza segura e intemporal. 

É uma pena que esteja assim esquecido, porque tem pelo menos duas canções que merecem figurar entre as melhores de sempre, na música popular portuguesa: Chora, Amigo, Chora e Ó Pastor que choras. E tem o tema Denúncia involuntária da atracção, da autora de A. Pinho/L. Linhares, os responsáveis pela Filarmónica Fraude e no caso de A. Pinho, também da Banda do Casaco. 

O tema Ó Pastor que choras, juntamente com África,  foram  aliás publicados em single, no ano de 1970, em "mono", o que destoa da versão em lp que é em "stereo":



Quanto ao som destes temas, na versão em Lp e single, as diferenças são notórias, devido ao registo mono/stereo, com vantagem para a versão em LP, mais definido e espacial, talvez resultante da prensagem ser estrangeira, no caso holandesa ( a matriz impressa no disco, no lado 1, tem a referência AA 6330 001 1 Y 1 P 1970).  Melhor, em suma, se bem que o tema África tenha a mesma percussão bem batida e arejada, em mono e prensagem nacional, no single. 
O som do LP é excelente, segundo o meu critério com exigência qb. Bem gravado e produzido de modo satisfatório e com audição sonora muito agradável, nada ficando atrás dos melhores discos da Island, da mesma altura ( Jethro Tull, de Stand Up, por exemplo), com aquele "ar" de som que paira no estúdio e é transportado para o suporte em vinil, particularmente nas percussões, o que o cd ou gravações digitais mesmo em alta resolução ( DVD-Audio ou SACD)  não conseguem transmitir do mesmo modo.  

Para além desta versão de dois temas do Lp, em Março de 1970 ainda foi publicada no LP " Disco Comemorativo da Inauguração do Novo Edifício Philips" ( Nas Amoreiras, onde ainda funciona nos dias de hoje) o tema "Chora, Amigo Chora". Porém, esta versão não é a do primeiro LP; é sim a do primeiro EP de Fausto, do ano anterior, ainda incipiente. É uma versão em balada, menos ritmada do que a do LP, que tem percussão em barda para animar o tema choroso.


É muito difícil encontrar informação sobre a música de Fausto desse tempo, não havendo registos que sejam do meu conhecimento, impressos em jornais ou revistas da época que dêem conta da saída do primeiro LP.
Apenas do single, na revista  Mundo Moderno de 1 de Maio de 1970:


E a Mundo da Canção de Junho e Julho de 1970 publicou as letras do single, nunca tendo feito nesse ano ( e seguintes) menção a esse primeiro Lp ou sequer ao seu autor, Fausto, o que é no mínimo estranho. 



Dá a impressão que a música de Fausto, com aquelas excepções, foi simplesmente "cancelada", omitida, censurada na imprensa portuguesa da época. 
Tal mistério nunca foi devidamente esclarecido e há uns tempos a apresentadora de tv, Fátima Campos Ferreira entrevistou Fausto na primeira pessoa e organizou um programa televisivo sobre a vida do mesmo, no qual este refere ter sido censurado, atribuindo ao "lápis azul" tal responsabilidade. 
Falta saber é a quem pertencia tal lápis azul ( ver desde os minutos 14 a 17) . Ou vermelho...porque diz que a Antena Um é que lhe ofereceu esse primeiro disco, com riscos azuis. 
Aliás, a intelectualidade jovem da época que produzia o Em Órbita e os que o escutavam ligaram nada de nada ao disco. Em 1967 tinham escolhido o disco A Lenda d´El rei d. Sebastião do Quarteto 1111 como algo importante e fundamental na música popular portuguesa. Três anos depois, este disco mereceu-lhes...nenhuma referência. Zero. 

De resto, na internet, há quem tenha escrito sobre Fausto, mas são poucos e parca é a informação. Sobre este primeiro disco quase nada...




Assim, resta dizer que este primeiro disco de Fausto, de longa duração, é efectivamente um grande disco e que ouvido em vinil revela toda a sua beleza intrínseca, inclusivé sonora e própria do vinil. 
Quem quiser ouvir um sucedânio pode sempre procurar no You Tube porque há pelo menos um aficionado que se deu ao trabalho de transpor o som do vinil para a resolução ( baixa) do digital do youtube. Mas a procura de todos os temas carece de trabalho de pesquisa aturada. 
Vale a pena, no entanto. 

O Público activista e relapso