terça-feira, junho 02, 2009

Entomologistas


O presidente da Câmara do Porto, Rui Rio, sentiu-se na obrigação de mandar um palpite público sobre a “crise na Justiça”. Não é a primeira vez que lemos pérolas de sabedoria específica sobre o assunto, acolchoadas no raciocínio fulgurante de Rui Rio, mas desta vez fê-lo a propósito do caso Alexandra, para dizer de sua Justiça: “[a sentença do tribunal de Guimarães] mostra a incapacidade do sistema judicial português”, segundo Rui Rio que até acha que tal decisão configura “uma situação particularmente cruel”.

No jornal Público de hoje, onde li esta passagem simbólica da nossa inteligentsia política a propósito deste caso singular, também aparece um artigo de opinião, assinado pelo colunista José Vítor Malheiros, no mesmo sentido transversal: a Justiça está cheia de “ maçãs podres”, segundo o mesmo que as cheira à distância de um palpite de jornal. Este colunista, aliás, não se limita à entomologia dos bichos da fruta e vai ao caroço do “português canhestro que se usa nos tribunais” e até aos “visíveis preconceitos de quem o escreve”, para anunciar a sua descoberta factualmente subjectiva: “este arrogante e ignorante sistema de justiça”continua a produzir maçãs podres, “condenando crianças a cumprir penas que apenas os juizes deveriam cumprir”.

Estes dois cidadãos do comentário comum, comungam um mesmo propósito e atitude: sabem tudo sobre o caso Alexandra e outros e sabem ainda mais umas coisas: que é este sistema de justiça, “arrogante e ignorante”, que acalenta o bichame que acastanha as maçãs e que eles conhecem de ginjeira: o próprio seio do poder judicial.

Arrogância? Ignorância? Sim, dos bichos da fruta do sistema de Justiça. Deles, nunca. Eles são o DDT em pó de escrita, em aerosol ecológico ou em modo de fita caça moscas.

Questuber! Mais um escândalo!