domingo, junho 28, 2009

Filarmónica Fraude em concerto


Fotos copiadas do blog do ié-ié.

Sobre o grupo de música popular portuguesa Filarmónica Fraude já está quase tudo dito, por aqui e ali.

Na passada Sexta-Feira, 26 de Junho, a banda de Tomar e arredores comemorou os seus 40 anos de canções de música popular, com um concerto no Cine-Teatro Paraíso, no centro de Tomar, com vista para o castelo e convento dos Templários, onde se pode admirar a célebre janela manuelina e uma charola de espanto na capela que foi da Ordem e que pretende imitar a do templo de Jerusalém. Mesmo em obras, merece a visita.

O concerto de Tomar, da Filarmónica, não foi uma fraude, passados 40 anos sobre os seus êxitos originais que lhes garantiram nessa época, encómios e lugares cimeiros na crítica musical de cá e além-mar ( por exemplo, na Onda Pop, uma publicação de Moçambique que o seu autor mostrou e entregou no final do concerto aos elementos da banda).

A música da Filarmónica, tal como depois aconteceu com a Banda do Casaco que aliás tem de comum com aquela, o facto de ter o mesmo letrista e compositor de versos das canções que se contam entre as melhores da nossa música popular: António Avelar Pinho é o nome que comunga do génio da composição versejadora de tradição portuguesa e que coloca em palavras simples, em alusões semióticas de grande gabarito e também no uso de palavras raras da língua portuguesa, alguns problemas atávicos deste nosso país que perduram há décadas e que já eram modernos há 40 anos atrás.
As letras de António Pinho para a Filarmónica Fraude, em temas como Animais de Estimação que a banda tocou quase no início, congregam os males sociológicos deste Portugal, país falhado e de futuro hipotecado a um presente sem ambição ou previsão de mudança. Uma das novas canções da banda, tocada no final do concerto, com letra de António Pinho ( Tó Pinho para os elementos do grupo), intitula-se "País aprendiz". Que pouco ou nada aprende...

O concerto, com os elementos originais da banda, permitiu ouvir o compositor musical da mesma, nas teclas do Petrof e dos restantes instrumentos de sintetização sonora. António Luís Linhares, músico acabado e de feição erudita, teve na banda o seu campo de eleição para a cançoneta de qualidade assegurada em vários êxitos: O Milhões, Flor de Laranjeira, Orícia, etc.
Em 1969, a música da Filarmónica Fraude era uma lufada de ar fresco, no tipo de canção que então passava nos rádios da época, com os expoentes máximos na ligeireza de um certo fado e cançonetismo de festival radiofónico.

A habilidade musical e bom gosto de composição da Filarmónica Fraude, destoavam no meio ambiente de cançonetistas, tal como destoavam outros como José ALmada ( com o primeiro disco em 1970) e Quarteto 1111, e poucos mais.

Em 2009, permanece o tom mordaz das letras e a musicalidade de raiz popular, folclórica por vezes, dos temas antigos e ainda os novos.

A Filarmónica, em Tomar, na passada Sexta-feira, reinventou-se para novos voos na música popular portuguesa.

Apesar disto que ficou escrito, não vi em nenhum jornal de referência, para não falar em rádios ou mesmo tv´s, qualquer referência ao concerto, à banda em si, à efeméride e à importãncia ddo grupo na música popular portuguesa.

A Filarmónica Fraude não faz parte dos grupos conhecidos dos media portugueses. Os animadores culturais também não topam o grupo. Nada lhes diz.

Portugal, um "país de aprendizes"? Pior que isso. Bem pior.

4 comentários:

zazie disse...

E eles continuam assim, excelentes como eram?

Pena que tenho de perder estas coisas.

Já com o José Almada foi o mesmo.

josé disse...

Uma surpresa, com uma casa cheia. As minhas fotos são de um camarote lá em cima que nem deixava ver o teclista, precisamente o compositor da banda: Luís Linhares.

Um concerto memorável, seguido de uma confraternização com os músicos no palco e alguns admiradores de sempre.

Tive o prazer de cumprimentar e falar com António Pinho e dizer-lhe o quanto admiro o seu trabalho desde sempre.

MARIA disse...

Foi uma pena para mim não poder estar presente, já que até me encontrava relativamente perto de Tomar e fazia muito gosto em assistir.
Talvez em Espinho, quem sabe ...
Que bom que o concerto correu bem.
Estou certa que, querendo o grupo, volta a editar com sucesso.

Obrigada pela partilha neste espaço.

Karocha disse...

Também gostava de ter ido :-)

O Público activista e relapso