A notícia faz dupla página no Correio da Manhã de hoje e obrigou-me a comprar o jornal. Não é coisa de somenos no panorama da nossa Justiça, porque foi possível investigar crimes de corrupção, mesmo em arqueologia investigatória mas com grande ajuda de conversas gravadas em tempo real e foi possível deduzir uma acusação penal contra um político apanhado em flagrante a vender favores e a pedir batatinhas a empreiteiros, em troca sabe-se lá de quê, mas facilmente se adivinha.
Lendo as passagens transcritas das tais conversas é um Portugal profundo e real que sobressai. O Portugal que todos pressentem embora poucos o tenham testemunhado. O Portugal das pequenas empresas e empreiteiros que para sobreviver ou viver melhor são obrigados a uma espécie de "pizzo" que estes políticos cobram geralmente com a maior das impunidades.
É pena que tenha sido apenas este político e mais três companheiros de infortúnio a pagarem pelo que o sistema político os condicionou a fazer: sacar dinheiro a quem o tem, geralmente empreiteiros que depois cobram pelo favor em obras e empreitadas.
Um sistema de corrupção que suponho seja generalizado neste país, com corruptos deste género em todos, mas mesmo todos os partidos, sendo as respectivas responsabilidades uma questão de grau. O caso dos submarinos ou do Freeport ou de outros que se conhecem e nem sequer tiveram seguimento judicial devia fazer-nos pensar que Portugal é um país de corruptos, ao contrário do que o inenarrável Pinto Monteiro dizia ou mesmo Cândida de Almeida, numa atitude que admito ser ingénua e incrível.
O mérito deste caso porventura vai para os investigadores e magistrados de Coimbra ou da zona Centro e não é coisa pequena.
Leiam que é raro aparecerem coisas destas.
Como escreve o jornal , o arguido é defendido pelo "conhecido advogado Magalhães e Silva, que classificou a sentença como absurda e anunciou que vai recorrer."
Magalhães e Silva classifica como "absurdo" o que não entende e percebe-se porquê. O caso, de facto, tem algo de absurdo: condenar um político, enquanto deputado e autarca, em pena de prisão durante 11 anos, por factos que sendo tão corriqueiros na vida comum da política até chocam pela singeleza na actuação, é de facto absurdo para quem está habituado à mais completa impunidade neste tipo de casos ( generalizados no meu entender) e que se serve da lei processual para a garantir sempre que é preciso.
Magalhães e Silva, advogado de Lisboa, da firma Jardim, Sampaio, Magalhães e Silva e Associados, é advogado desde 1973 e fez um grande percurso da vida profissional em Macau, precisamente, desde 1988 a 1996. Conhece bem, certamente, o caso do fax e o caso das malas e outros casos que não se conhecem.
Como é que não podia considerar este caso que envolve um correlegionário, um absurdo? Não serão todos estes assuntos, "absurdos", desde pelo menos o caso da Casa Pia e da cabala peregrina ou então o caso de Abílio Curto que também foi condenado por coisas parecidas a estas e declarou no momento em que ingressou na pildra que "o dinheiro foi todo para o PS" ?
Tudo isto é um absurdo de facto. Principalmente a circunstância de estas pessoas não terem ainda entendido que o tempo mudou e os absurdos deste género vão disparar em flecha...