quinta-feira, janeiro 17, 2013

Os jornais de papel vão desaparecer?

A ERC parece que avisou a populaça que os jornais de papel, em Portugal, correm o risco de desaparecer.
Vistas as coisas pelo lado economicista,  a maioria já devia ter desaparecido, porque dão prejuízo a fazer. Quem os paga perde dinheiro e só continua a perder porque julga ganhar outra vantagem qualquer, seja ela qual for que não se descortina facilmente.
 A lógica que  levou à criação de jornais está a desaparecer. Os jornais já não informam como dantes. Os seus directores e redactores principais, escolhidos de modo misterioso pelos donos ou seus capatazes, por critérios que só provocam perplexidade em quem dedicar uns momentos a pensar no assunto,  deixaram seduzir-se pela opinião e transformaram os periódicos em veículos de propaganda ideológica.
Com uma agravante: o pensamento dominante é único. Ou antes, o pensamento único é o dominante na maior parte dos assuntos, designadamente políticos.
O Público, o Diário de Noticias, o Jornal de Notícias, o i, o Expresso, a Sábado e a Visão, veiculam sempre o mesmo pensamento político de base. As televisões e as emissoras de rádio, aliás, também  não fogem  à corrente panúrgica. 
Um exemplo: até ao dia em que o Governo decidiu alterar a taxa social única, o pensamento político dominante e único era a perplexidade pelo facto de os portugueses não se manifestarem nas ruas como os gregos. Não se indignarem do mesmo modo. Houve até alguns políticos de feição hipocritamente indignada que incentivaram a indignação.
Depois desse dia, porém, tudo mudou. A manifestação gigantesca que ultrapassou as melhores perspectivas políticas dos sindicatos satisfez a opinião única e moldou o mote político a partir daí.
Será que as circunstâncias se alteraram a partir daí? Será que o memorando da troika passou a ser outro, a partir daí? Será que a previsão de dificuldades se agravou a partir daí e em modo descontrolado?  Não. Nada disto é verdadeiro. O que mudou foi a atitude geral incentivada pela opinião unificada.
O que verdadeiramente mudou em Portugal foi a onda mediática empolada pelos mesmos de sempre e em muitos casos responsáveis directos pelo descalabro que eles mesmos anunciam, como se nada tivessem a ver com o assunto.
Vivemos por isso uma onda mediática esquizofrénica, com um Bloco de Esquerda surrealista e um partido Comunista atávico e fossilizado nos slogans dos anos setenta.
Os media seguem atrás destes panurgos de circunstância.  Directamente para o abismo.
Hoje o PS pediu uma maioria absoluta em eleições. Lembra o Sombra Almeida Santos que também a pediu em meados dos anos oitenta, quando o FMI estava cá, pela segunda vez, chamado pelos mesmos.
Nenhum jornal citado faz este tipo de discurso dissonante. Nenhum jornal citado informa as pessoas que o lêem como deve ser ou pelo menos com um mínimo de equidistância relativamente às opiniões políticas adversas. Quando muito publicam umas entrevistas avulsas com alguns artures baptistas da silva. Os jornalistas em geral são serventuários desta opinião unificada por incapacidade em descolarem e se tornarem verdadeiramente independentes. Não conseguem sê-lo porque nunca o foram.
Os jornais em papel vão acabar em Portugal por culpa dos seus jornalistas e directores. As pessoas não os compram porque os jornais não informam em geral e desinformam em particular, na política.
Os jornalistas não devem ser actores políticos. Devem ser apenas mediadores entre os factos e o público a quem os dão a conhecer. Por isso mesmo se os manipulam das mais diversas formas e feitios que aliás conhecem muito bem e nisso são eficazes, perdem todo o interesse, apesar de julgarem que o ganham.
Perdem leitores e perdem a razão de existir.
Por mim, folheio diariamente os ditos jornais e não compro nenhum, senão esporadicamente,  porque nenhum me interessa naquilo que informa.
Enjoei dos jornais portugueses, é o que é. Estou farto da manipulação, da desinformação, da incompetência e da unicidade opinativa dos seus redactores.
Se acabarem não lhes sentirei a falta e apenas lamentarei a sorte dos seus jornalistas que não têm culpa alguma desta gente que os desgraçou. São exactamente os mesmos que desgraçaram este país e já vêm de longe, de muito longe. Andaram muito para aqui chegar...

Aditamento:
O padrinho deste estado de coisas que já foi jornalista e dono no Diário Popular, um jornal exemplar, vendendo a comparticipação  para fundar o Expresso em 1973 anda agora aos papéis outra vez. Já descobriu que sendo ele a pagar as contas, os prejuízos saem-lhe do bolso e em vez de ser o citizen kane português ainda acaba na sarjeta da irrelevância mediática.
No entanto é ele um dos principais responsáveis por este estado de coisas. O actual Expresso é tido como um jornal de "referência". Da indigência intelectual, ressalvando raras excepções ( Jorge Calado, por exemplo). Politicamente afunda-se no pensamento único e é o farol desse universo surreal que nos rodeia. Com os actuais directores, o jornal afundar-se-á mesmo, sem remédio, tal um costa concordia à deriva e com o timoneiro a abandonar o barco.

Questuber! Mais um escândalo!