"Enquanto mais de milhão e meio de metropolitanos ( com especial incidência na última década) saiu da Metrópole para fixar-se no resto da Europa e nas restantes partidas do mundo, provocando grave escassez no mercado interno de trabalho, uma corrente de mão-de-obra ultramarina está a suprir falhas da maior importância do nosso desenvolvimento industrial e económico. Não devem ainda chegar aos 15 000 todos esses cabo-verdianos, guinienses ( sic), angolanos, moçambicanos e são-tomenses fixados na Metrópole."
Era assim que começava o texto introdutório da reportagem da revista Flama de 26 de Março de 1971 sobre o tema "África trabalha na Europa portuguesa", assinada por Simeão Ramires, Joaquim Lobo, António Xavier e Carlos Gil. Nem uma vez se usa a palavra emigrante ou a palavra imigrante, embora se fale em migração e emigração. Eram todos portugueses. Uns da Metrópole e outros das Províncias Ultramarinas.
As fotos, essas permitem uma leitura sociológica interessante: o modo de vestir ocidentalizado e a integração na Metrópole das "gentes de Cabo-Verde" essencialmente ( mais de 10 mil segundo cálculos da época) que veio trabalhar nas obras, incluindo as do metropolitano de Lisboa.Reuniam na "Ágora do Camões", aos Domingos, segundo se depreende, porque trabalhavam 10 horas por dia a 10$00 à hora. Na construção civil, 2 a 3000$00 por mês. Na reportagem escreve-se que "aqui ( nas obras) não há discriminação racial, pois temos brancos a dar serventia a pedreiros negros. Eles é que têm, por vezes, os seus complexos e não gostam de misturar-se. Desenraizados, unem-se mais uns aos outros. Mas isto é muito mais de sua própria iniciativa do que por causa da segregação dos brancos."
8 comentários:
Mais outra preciosidade.
Isto era Portugal. Era mais ontem do que é hoje.
a revista Flama estava ligada à Igreja. nos anos 50 o capuchinho Frei Diogo Crespo do convento da Luz organizou-a com carácter regular.
promovia espectáculos com artista de variedades.
foi um período interessante porque tinha uma posição intermédia entre 2 extremismos políticos.
está subjacente a acção missionária.
dez anos antes estava em Lisboa com residência fixa o então Pe Alexandre Nascimento.
todos iguais na prática, mas diferentes na política.
nos últimos anos o ágora dos Africanos era junto ao D. Maria, por razões gregárias e de nostoi.
Como o Eusébio valia por muitos talvez.Eu nessa altura andava muito de combóio na linha de Sintra e nem um via...
Nem mesmo com os estudantes...
Mas o que passou, passou.Agora quererem isso outra vez é que não.
Houve escolhas.Houve expulsões e confiscos.Agora deve ser o intercâmbio entre países independentes com cada a a defender os seus interesses.Coisa que os traidores caseiros não andam a fazer.E não estão autorizados por ninguém face ao que fizeram antes...
Os "afectos" invocados teriam que ter reciprocidades.Mas onde é que elas existem?
Portugal tem um problema de identidade entre mãos.E é bom que o resolvam depressa porque a indústria do passaporte com o exemplo do Sousa Mendes dá oportunidade a um verdadeiro comércio com salvamento de africanos por nossa conta...
Daquilo que vou vendo pelo mundo fora parece-me que Portugal é um exemplo no que concerne à integração do imigrante; não é perfeito mas, excluindo um ou outro mentecapto, não somos um país racista.
Pensando, por exemplo, em França e nos confrontos de etnias que aí encontramos podemos colocar a questão do ovo e da galinha:
Serão os imigrantes nas suas comunidades em gheto que se recusam a integrar ou é a mentalidade milenar francesa inflada (vamos evitar chamar-lhes xenófobos ou chauvinistas) a causa primeira desta animosidade?
Pois pois 74% dos franceses "xenófobos" é coisa que nem os engenheiros sociais mais avançados ainda vomitaram...
eugenia rules!
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