quinta-feira, janeiro 31, 2013

11 anos de absurdo...

A notícia faz dupla página no Correio da Manhã de hoje e obrigou-me a comprar o jornal. Não é coisa de somenos no panorama da nossa Justiça, porque foi possível investigar crimes de corrupção, mesmo em arqueologia investigatória mas com grande ajuda de conversas gravadas em tempo real e foi possível deduzir uma acusação penal contra um político apanhado em flagrante a vender favores e a pedir batatinhas a empreiteiros, em troca sabe-se lá de quê, mas facilmente se adivinha.
Lendo as passagens transcritas das tais conversas é um Portugal profundo e real que sobressai. O Portugal que todos pressentem embora poucos o tenham testemunhado. O Portugal das pequenas empresas e empreiteiros que para sobreviver ou viver melhor são obrigados a uma espécie de "pizzo" que estes políticos cobram geralmente com a maior das impunidades.
É pena que tenha sido apenas este político e mais três companheiros de infortúnio a pagarem pelo que o sistema político os condicionou a fazer: sacar dinheiro a quem o tem, geralmente empreiteiros que depois cobram pelo favor em obras e empreitadas.
Um sistema de corrupção que suponho seja generalizado neste país, com corruptos deste género em todos, mas mesmo todos os partidos, sendo as respectivas responsabilidades uma questão de grau. O caso dos submarinos ou do Freeport ou de outros que se conhecem e nem sequer tiveram seguimento judicial devia fazer-nos pensar que Portugal é um país de corruptos, ao contrário do que o inenarrável Pinto Monteiro dizia ou mesmo Cândida de Almeida, numa atitude que admito ser ingénua e incrível.

O mérito deste caso porventura vai para os investigadores e magistrados de Coimbra ou da zona Centro e não é coisa pequena.
Leiam que é raro aparecerem coisas destas.

Como escreve o jornal , o arguido é defendido pelo "conhecido advogado Magalhães e Silva, que classificou a sentença como absurda e anunciou que vai recorrer."
Magalhães e Silva classifica como "absurdo" o que não entende e percebe-se porquê. O caso, de facto, tem algo de absurdo: condenar um político, enquanto deputado e autarca, em pena de prisão durante 11 anos, por factos que sendo tão corriqueiros na vida comum da política até chocam pela singeleza na actuação, é de facto absurdo para quem está habituado à mais completa impunidade neste tipo de casos ( generalizados no meu entender) e que se serve da lei processual para a garantir sempre que é preciso.
Magalhães e Silva, advogado de Lisboa, da firma Jardim, Sampaio, Magalhães e Silva e Associados, é  advogado desde 1973 e fez um grande percurso da vida profissional em Macau, precisamente, desde 1988 a 1996. Conhece bem, certamente, o caso do fax e o caso das malas e outros casos que não se conhecem.
Como é que não podia considerar este caso que envolve um correlegionário, um absurdo? Não serão todos estes assuntos, "absurdos", desde pelo menos o caso da Casa Pia e da cabala peregrina ou então o caso de Abílio Curto que também foi condenado por coisas parecidas a estas e declarou no momento em que ingressou na pildra que "o dinheiro foi todo para o PS" ?
Tudo isto é um absurdo de facto. Principalmente a circunstância de estas pessoas não terem ainda entendido que o tempo mudou e os absurdos deste género vão disparar em flecha...

9 comentários:

Ercília e Carlos Ribeiro da Silva disse...

Boa tarde.
Dr. José para compreender isto tem de se ir às origens e ler o livro do Rui Mateus. Ele explica lá de onde vieram os dinheiros e apoios no crescimento do PS.

Manuel Pereira disse...

Será que vão? Ele agora recorre, etc. e o filme é o mesmo...

Isaltino de Morais, diz-lhe alguma coisa? de recurso em recurso até à absolvição final...

José, desculpe dizer, mas mantenho (para já) o meu slogan :

"ninguém vai preso!!"

josé disse...

O Curto foi...

Floribundus disse...

Curto foi 'boi de piranha'.

'se' houvesse interesse politico em fazer uma democracia desta ditadura não havia tantos corruptos a quem se atribui a frase
«e a mim quanto é que me toca? »

miguel disse...

Esta foi hoje a capa do CM.
No noticiário TVI,a notícia foi o escândalo de corrupção no PP espanhol.
Fez bem o José Alberto Carvalho,Bobby do PS na TV.Em Espanha isso é notícia.Por cá,não é.

Aladdin Sane disse...

Quase ficamos embevecidos a ler a transcrição das conversas, e o deputado a curvar-se e a "pedinchar" ao empreiteiros. É absurdo, é. Essa suposição que faz da generalização da corrupção confirma-se; multiplique-se este caso por milhares de outros. Aqui na freguesia a Junta compra 10 m3 de brita para compor um passeio. Um dia depois da entrega, e quando há que começar a obra, dos 10 restam 5.

"Ai que estão a abater as freguesias!"

Manuel Pereira disse...

José :

Eu por acaso lembrei-me do Curto, mas esse deve ter caído em desgraça dentro do partido...cá para mim, abotoou-se à massa toda, e os tipos deixaram-no cair para dar o exemplo...porque senão não ia dentro, de certeza...

mas isto é só um "palpite"...

Kaiser Soze disse...

O garrote foi apertando devagarinho e digo "foi" porque tenho o infeliz pressentimento de que quando a troika se for embora e os mercado se abrirem (ainda que não totalmente) este garrote alivia porque os empréstimos recomeçam e os controladores desaparecem...até ao próximo resgate.

O que me deixou aturdido, José, é que admita que a Cândida Almeida tenha dito que Portugal não é corrupto por ingenuidade.
Alba desta maneira e à frente do DCIAP? Hmmm....

josé disse...

Conhece a Cândida de Almeida? Quer dizer. pessoalmente?

O Público activista e relapso