domingo, fevereiro 24, 2013

Os cantos e as armas

Em 25 de Abril de 1974 havia uma série de cantores-baladeiros e outros menos que isso, mais alguns que foram muito mais do que tal, em Portugal. Alguns, poucos, estavam lá fora, em Paris ( é o local dos refugiados) por causa da tropa que os obrigaria a bater com os costados em África e a lutar contra os "terroristas" que alguns achavam ser os patriotas e quem os combatia, ou seja nós, os verdadeiros terroristas, fascistas e ainda mais istas que o papa que os pariu.

Logo que dealbou o dia da liberdade, regressaram para o "canto livre" que não tiveram durante anos. Queriam, nessa altura de trevas fassistas, lutar contra o regime através das cantigas revolucionárias que proclamavam a iniquidade do sistema, em prol de outro sistema que os aniquilaria num instantinho de  campo de concentração. A idiotia útil nunca os atingiu de relâmpago porque era um fogo lento que os consumia.
O regime não os deixava cantar livremente esses desejos recônditos e de revolução instantânea e portanto os baladeiros escondiam as palavras reais nas poesias, passando-as num filtro de semântica artisticamente elíptica. O resultado, por vezes, eram obras-primas que nunca mais conseguiram reproduzir em "canto livre". Faltava-lhes o motivo e a ocasião era já de panfleto na mão e arma imaginária na outra, para depor a "burguesia" que comandava o "regime".  Alguns ainda hoje subscrevem o panfleto e quanto às armas, venha a ocasião que nunca esqueceram o gatilho de pederneira.

Assim, a revista Flama que foi da Igreja Católica, deu-lhes logo guarida nas páginas organizadas pela redacção que elegeu logo um "conselho de redacção" nos dias a seguir ao 25 de Abril. Um dos elementos desse conselho era...Alexandre Manuel, o entrevistador de Cerejeira virado então para o progressismo de casaca comunista travestido de democracia.
Em 17 de Maio (re) faziam a História. Assim:


 Um dos desaparecidos do combate patriótico, Luis Cília, veio no mesmo comboio que os novos pais da pátria. Um desembarcado em Santa Apolónia num dia nebuloso e outro na Portela, ainda de maior nevoeiro. A mesma Flama uma semana depois do 25 de Abril de 74 dava-lhe as páginas necessárias para o mesmo explicar porque fugiu à tropa:


Desgraçadamente, o maior de todos eles, José Afonso, um génio a sério, deu uma entrevista politicamente incorrecta à mesma revista, em 7 de Junho de 1974 com a capa, uma foto e um título: "uma posição de coerência". Indeed! Leia-se:




José Afonso, o coerente, dizia na entrevista onde explicava a génese da Grândola, a mesma cantiga que agora os farsantes da indignação cantam em coro organizado, que "do ponto de vista profissional até posso adiantar que a situação de interdição a que o fascismo me votou me foi de certo modo benéfica. "
José Afonso não era politicamente correcto, é certo. Mas esta afirmação é a ruína de muitas reputações...

Resta dizer, por fim, que todos estes "cantores de intervenção" numa ou noutra altura do PREC afirmaram a sua fé inabalável nos princípios revolucionários do comunismo e na luta armada para o conquistar como destino inefável de amanhãs a cantar...as cantigas deles, se porventura ainda fossem vivos.

Questuber! Mais um escândalo!