domingo, setembro 28, 2014

28 de Setembro de 1974: o PREC em marcha acelerada

No dia 26 de Setembro de 1974 , uma quinta-feira, houve uma tourada no Campo Pequeno em seguimento a um concurso hípico, durante a tarde. No Sábado, 28, haveria uma manifestação em Lisboa, de apoio ao general Spínola, presidente da República que aliás estivera presente na tourada, acompanhado de Vasco Gonçalves, primeiro-ministro. A manifestação era convocada por representantes de uma "maioria silenciosa", ou seja as pessoas que não gostavam do rumo que Portugal tomava. Estava em curso o predomínio das ideias de uma esquerda comunista, em autêntico processo revolucionário e com a linguagem normalizada para tal em jornais como o Expresso.  Otelo prestar-se-ia,  dali a uns meses, a garantir a respectiva inserção do jornal nesse processo revolucionário, o que era contestado por aquele Vasco Gonçalves que o apelidara de "pasquim reaccionário".

A manifestação tinha sido convocada através de cartazes como este, espalhados por diversas localidades, ao longo do mês de Setembro desse ano:


A manifestação foi então denunciada, peloas forças da "aliança povo-MFA", ou seja a esquerda comunista e socialista mais os militares que mandavam particularmente o COPCON de Otelo, como uma conspiração fascista para abater a "democracia" e restaurar a ditadura. A mensagem passou rápida pelos jornais e rádios ( Adelino Gomes, por exemplo) e o "plano" de que a manifestação fazia parte incluía a introdução de milhares de armas, em Lisboa, para derrubar o poder que estava em PREC larvar.

O Expresso de Balsemão e Marcelo Rebelo de Sousa contou tudo, logo nesse Sábado...




E o Diário de Lisboa contou na Segunda-Feira, a mesma lenda tenebrosa da conspiração fascista.

No Domingo já raiava outra vez o sol dos amanhãs a cantar, mas foram três dias que "nem te conto"..." porque ameaçaram um povo"!


E como é que o "nosso povo" aliançado com o MFA reagiu a tamanha conspiração fascista?
Logo no dia 27, a "vigilância popular" aliançada com o MFA formou barricadas à entrada de Lisboa para impedir a chegada das armas que iriam destruir o exército, marinha e aviação nacionais que o MFA dominava mas seria impotente para deter, perante a ameaça reaccionária vinda do Norte.

"Piquetes populares" apareceram do nada e segundo o Diário de Lisboa a "iniciativa desta atitude deveu-se à Intersindical, ao MDP/CDE, PCP e Partido Socialista". Sim, o PS...



Durante a noite, "o povo-MFA" , animado por aquelas organizações político-sindicais, fez isto contra a fantasmática "avançada silenciosa" do fascismo:


O bravo Otelo, palerma habitual, teve a ideia fulgurante de pôr em prática o plano contra a conspiração, mandando prender "numerosos fascistas", logo na noite de Sexta-Feira, 27, para prevenir o sucesso da "tenebrosa conspiração". Os fascistas eram estes. Alguns já morreram, levando para a cova o labéu infame e outros ainda andam por aí, carregando a pesada cruz fascista enquanto este mesmo Otelo anda todos os anos pelas escolas a explicar como aconteceram estas coisas. Há uns tempos parece que disse que precisávamos de outro Salazar,  o "fascista" por antonomásia. Não foi assim? Pois não, porque a inteligência do indivíduo não deu para mais...


Portanto, como se podia ler nos dias seguintes, o povo dominou a reacção, falhou o golpe das direitas e ficamos com...o golpe das esquerdas, todos contentes e felizes até à bancarrota, dali a dois anos.




O Expresso de Balsemão/MRS também explicou a conspiração fascista. Assim:


E até com um editorial ( MRS?)


E qual o contexto económico-social que se vivia em Setembro de 1974. Ficam as imagens do Diário de Lisboa de 30 de Setembro, para mostrar um ideia.

Começando por um artigo de Mário Ventura Henriques  um "intlectual multifacetado" fruto da época. O artigo glosava a ideia de uns tantos capitalistas portugueses ( os que tínhamos e agora não temos...) em investir 120 milhões de contos ( cerca de 20 500 milhões de euros, segundo Pedro Jorge Castro no livro O Ataque aos milionários, já por aqui citado)  na economia portuguesa, projecto que foi abandonado porque era "ambiguo"...e os respectivos capitalistas, os melhores que tivemos desde sempre na nossa História recente, escorraçados para os brasis e outras paragens, onde se reequilibraram como puderam. O caso BES/GES tem naturalmente a sua origem remota neste período em que a Esquerda comunista e socialista mandaram no país. Em poucos meses, destruíram décadas de organização económica produtiva, para grande gáudio dos joões martins pereira, vítores constâncios e cravinhos diversos.


No âmbito cultural vivia-se o período das revistas pós-modernas das quais a primeira foi a celebérrima "Pides na Grelha", com o habitual elenco de luxo, sempre adaptado a todos as correntes de ar político.


O ambiente social era de cortar o fascismo à faca, nas empresas, repartições e associações.


sábado, setembro 27, 2014

A evocação de 28 de Setembro de 1974, começo do PREC



 Observador, um relato em primeira pessoa de um-- Miguel Freitas da Costa-  dos que viveram o 28 de Setembro de 1974, altura em que o PCP e a extrema-esquerda tomaram as rédeas do poder político em Portugal, com o apoio do MFA. Estes relatos são raros na imprensa tradicional porque toda ela é tributária da Esquerda. O artigo é extenso mas vale a pena ler. Amanhã, imagens de imprensa da época, particularmente desse reduto do politicamente correcto cor de esquerda e de burro a fugir- o Expresso. 

O sol resplandecia sobre Lisboa, aquecendo-a e doirando-a. São palavras roubadas a um trecho das memórias de Raul Brandão – mas é assim exactamente que me lembro desse verão de 1974. Não tenho memória de um único dia de chuva nesses meses de Julho a Outubro em que estive de passagem pelo ‘rectângulo’ num caminho que levava de Nampula a Madrid.



Terminara em Maio a minha comissão militar na Pérola do Indico. O dia 25 de Abril, para mim e para muita gente em Moçambique, foi no dia 26. Na noite desse dia ouvi muito à puridade, num botequim de Montepuez, chamado à parte por um oficial do corpo de Comandos, a proclamação da Junta de Salvação Nacional, como se fosse um segredo militar.



    A notícia era talvez fragorosa demais para uns delicados ouvidos estrangeiros: o ‘nosso’ General Spínola tinha tomado o poder em Lisboa. Aleluia!



Estava connosco C. F. Spence, um homem de negócios inglês, veterano conhecedor da África Austral que viveu muito tempo em Lourenço Marques (tenho aqui o exemplar que me ofereceu do seu Moçambique, East African Province of Portugal, com a sua dedicatória ao Alferes de então, numa caligrafia muito legível e em português correcto.) A notícia era talvez fragorosa demais para uns delicados ouvidos estrangeiros: o ‘nosso’ General Spínola tinha tomado o poder em Lisboa. Aleluia! Mas ainda não se sabia bem o que se passava.

O discurso de Marco António



Desembarquei em Lisboa a 22 ou 23 de Junho, com a chegada do verão desse Outono português. Durante as semanas que se seguiram não falei com muita gente. Passei-a maior parte desses dias na companhia do meu amigo Manuel Maria Múrias, dedicados ambos a uma única conspiração: a de publicar um jornal de ‘intervenção’, que só começou a sair em Setembro, o Bandarra, a que pusemos com mais fé do que excessiva esperança o subtítulo ambicioso de ‘o combate do futuro’.

A batalha contra a ‘descolonização exemplar’ já estava nesse verão quase definitivamente perdida e a luta contra a sovietização do que restava de Portugal talvez pareça hoje uma curiosidade supérflua.

Foi na salinha pequena de uma casa alugada em Cascais para passar o mês de Agosto que o Manuel Maria nos leu ainda escrito à mão na sua letra redonda e regular o artigo ‘O discurso de Marco António’, que daria brado. Comoveu-nos. (Éramos assim em 1974.) Foi pretexto depois para um dos mais caricatos episódios da tragicomédia do 28 de Setembro.

Começava desta maneira: ‘Frontaria da Assembleia Nacional. Manhã cinzenta e triste. A multidão sussurrante transborda do grande largo. Trazendo nos braços um corpo exangue, Marco António surge no topo das escadarias. Arenga ao povo. – Amigos, portugueses, compatriotas: Trago-vos Portugal nos braços. Venho para os seus funerais – e não para o louvar. O mal das pátrias sustenta-se além da morte. O bem enterra-se com elas.(…) Seja assim com Portugal. Os drs. Mário Soares, Álvaro Cunhal e Sá-Carneiro (três honradíssimos cidadãos) permitiram que vos falasse. Disseram eles que a nossa Pátria, em oito séculos de história, quase só se portou mal. Reconheçamo-lo contritamente sem discutir: – os drs. Mário Soares, Álvaro Cunhal e Sá-Carneiro são três grandes personalidades que nos restituíram a liberdade. Quem somos nós para os contestar?’



A batalha contra a ‘descolonização exemplar’ já estava nesse verão quase definitivamente perdida e a luta contra a sovietização do que restava de Portugal talvez pareça hoje uma curiosidade supérflua.



Naquela altura já tinha havido o caso Palma Carlos, primeiro-ministro do primeiro Governo Provisório, que se demitiu depois de declarar perante o Conselho de Estado: ‘Não quero morrer como traidor à Pátria.’ Spínola era Presidente da República. Por sua vontade expressa, Álvaro Cunhal fizera parte desse primeiro governo provisório. Contra a sua vontade, o Coronel Vasco Gonçalves, a quem toda a gente atribuía simpatias comunistas (havia mesmo quem jurasse a pés juntos que tinha visto o seu cartão de membro do Partido… ) foi nomeado para o lugar de Palma Carlos.

O PREC – o Processo Revolucionário ainda não fora oficialmente declarado mas era bom de ver que estava Em Curso. Em Agosto, a Guiné já fora entregue ao PAIGC, preparava-se a iminente entrega de Moçambique à Frelimo. A ‘criação das condições para um debate franco e aberto a nivel nacional do problema ultramarino’ tinha sido um dos primeiros pontos do Programa do Movimento das Forças Armadas a ser lançado borda fora, como era de prever.



Chorosamente embora, esperneando embora, o Presidente da República ia assinando.

O jornal Bandarra



Foi neste contexto que se preparou a saída do Bandarra – e que o General Spínola e os seus amigos começaram a preparar uma manifestação da chamada ‘maioria silenciosa’, a famosa expressão inventada por Nixon. Ao abrigo das leis “fascistas” que se mantinham em vigor eu ia ficar como director do jornal: exigia-se um diploma universitário e eu era licenciado; o Manuel Múrias, embora mais velho, mais conhecido e mais experiente nas lides da informação (trabalhava em jornais desde miúdo, fora director de Informação da RTP), só tinha, como costumava gabar-se, a quarta classe adiantada. A necessária empresa editora era a Editorial Restauração, de António Cruz Rodrigues, ligada ao grupo da revista católica ‘integrista’ Resistência. António Maria Pinheiro Torres era o nosso Administrador.





Publicar um jornal requeria dinheiro (o que sempre foi e continua a ser preciso) e, naquela época, uma tipografia que aceitasse a publicação; fora abolida a odienta Comissão de Censura ou de Exame Prévio, mas os tipógrafos e outro pessoal das oficinas gráficas decidiam soberanamente o que se havia ou não de imprimir. A inofensiva folha informativa e doutrinária da Causa Monárquica, por exemplo, tivera de cessar a publicação por diktat dos impressores. Era uma censura que tinha a vantagem de ser anónima, feita pelas chamadas classes trabalhadores e destinada a assegurar, como então se dizia, as mais amplas liberdades.



O dinheiro para as primeiras impressões arranjou-se mediante umas letras de favor e umas poucas receitas publicitárias em que só uma página inteira paga pelo Banco Pinto e Sotto Mayor de António Champalimaud tinha algum relevo – económico e gráfico: “O encanto discreto de certos momentos” era o que lá prometia o cartão Sottomayor num anúncio que ainda hoje é bonito, fabricado pela Agência Leo Burnett. (Naqueles momentos de grande excitação que não eram propriamente encantadores nem discretos, António Champalimaud chegou a desafiar Manuel Múrias para Director do Diário de Lisboa, ideia um tanto rocambolesca que nunca chegou a ter seguimento).



A tipografia, depois de várias tentativas, lá se arranjou também, na Amadora. Para evitar possíveis dissabores futuros, comparecemos, acompanhados pelo proprietário, perante uma assembleia geral dos empregados da Gratelo para explicar ao que vínhamos e obter – ou não – a garantia de que não haveria intervenções censórias do pessoal. Predominavam na tipografia os elementos do MRPP: talvez por uma antipatia comum pelos sociais fascistas do PCP e pelos partidos burgueses do ‘arco da governação’ da época, todos acederam em nome da liberdade de expressão e de umas receitas que lhes faziam falta – e cumpriram escrupulosamente o acordado. Só tenho boas recordações dessa breve colaboração.



A Causa Monárquica emprestou-nos umas sumárias instalações da Travessa de S. Pedro, no Bairro Alto. Avisadamente, o Pedro Câmara Leme retirou de lá e pôs a bom recato alguns modestos pertences de maior valor estimativo. Rimo-nos. Mas ele tinha vivido mais do que nós.

O assalto à redação



Na madrugada de 28 de Setembro as instalações vazias seriam valorosamente assaltadas e arrombadas por um destacamento militar, que partiu o que pode, se apropriou do que lhe apeteceu e levou em triunfo a definitiva prova da tremebunda conspiração que ali se gizava: um telegrama, encontrado em cima de uma das mesas da redacção, e que dizia – numa linguagem que foi apresentada como ominosamente cifrada: “Marco António Stop Meu General Stop Acorrentado neste grande largo agradeço publicamente ter feito palavras suas meus pensamentos Stop Comungando maioria silenciosa aguardo restituição pátria usurpada por triunvirato e seus centuriões Stop Chorando raivosamente Viriato”. Na altura demos tratos à imaginação para tentar adivinhar quem seria o maduro. Passados mais de trinta anos um velho conhecido declarou-me que fora ele a enviá-lo, por pura chalaça.



Com todas as devidas autorizações legais saíu o número zero do Bandarra. Houve mais dois. No dia 28, sábado, devia sair o terceiro. Tal era a nossa confiança nos dotes e na determinação do Presidente Spínola que a primeira página ia ter uma fotografia do General, pequenino e sozinho, ao fundo de uma parada da Guarda Republicana, e um título ‘O Presidente da República está cercado’. (A gente da tipografia, contando com razão que ia ser incomodada, destruíu prudentemente todo o material que lá tinha para esse número que nunca foi publicado.)



No número 1, a primeira página era ocupada por uma fotografia de um soldado estendido a dormir num catre, uma selecção de citações de Spínola e a toda a largura da página a pergunta ‘E agora?’. Por baixo, escrevia-se: ‘O Presidente da República pôs claramente a questão. Portugal inteiro sentiu-se aliviado. Os factos porém contradizem as palavras. O assalto às estruturas da Nação continua. Que vamos fazer agora?’

Na posse do Alto-Comissário para Moçambique, a seguir ao Acordo de Lusaka, o general tinha dito: ‘O Presidente da República tem plena consciência do que é e do que não é democracia, do que é e do que não é descolonização. E, como tal, não consentirá que, em nome da liberdade e da democracia, o povo português volte a ser escravizado, ou que, em nome desses mesmos princípios, se abandonem milhões de seres humanos a uma escravidão semelhante àquela de que nos libertámos. Doutro modo não cumpriríamos o Programa do Movimento das Forças Armadas.’ E assim por diante. O clima era esse quando o General, acossado, se decidiu a mais um contra-ataque e começou a preparar a armadilha em que ia cair.



Não obstante as mirabolantes alegações sobre os pormenores de um golpe de Estado para o qual Spínola esperaria da manifestação o pretexto e uma suposta legitimação popular, a sua estratégia e preparativos caracterizaram-se pela fantasia, pela desorganização, pela inoperância e pela estupidez, a começar por uma petulante e temerária provocação ao primeiro-ministro e ao MFA na famosa corrida de touros do Campo Pequeno, dias antes.



Nas vésperas do dia marcado para a manifestação, o Comandante Chefe das Forças Armadas mandava recados a quem pudesse interessar: a situação é muito grave, os civis que se armem. Na luta política, o brioso poeta de Portugal e o Futuro e autor, nem passaria um ano, do Portugal sem Rumo, fez juz ao título de mimoso militar.

‘Partir os dentes à reacção’



No dia 28 eu não estava em Lisboa. Estava na Covilhã. Tinha apanhado o avião de sexta-feira (havia uma carreira aérea regular entre Lisboa e a Covilhã), como me acostumara a fazer desde o princípio do mês para lá passar o fim de semana. Nessa noite de 27 quem desse uma volta pela cidade veria as façanhudas barricadas montadas por civis armados de paus e de pedras nas saídas para Lisboa.



A palavra de ordem era ‘partir os dentes à reacção’, na cordata expressão de Cunhal. Por todo o país, o MDP/CDE-Partido Comunista e outros grupos de esquerda, destacamentos militares e gente do Partido Socialista montaram nas estradas e nas entradas de Lisboa essas barreiras. Com maior ou menor brutalidade – houve em Coimbra, na Ponte sobre o Tejo, noutros locais, tiros, espancamentos e vítimas mais ou menos graves entre os manifestantes que se dirigiam a Lisboa – mas com notável eficácia, cortaram a passagem a um suposto e poderoso exército contra-revolucionário que ao raiar do dia se esfumara e cujo copioso armamento nunca ninguém encontrou.



A versão heróica e revolucionária dessa jornada política está bem condensada em A negra madrugada, um relato em prosa escarlate de Amadeu José de Freitas em que abundam os adjectivos e as laudas ao Povo mas brilham pela ausência quaisquer evidências da tremebunda conspiração.



Na madrugada de 28, o COPCON sob o comando de Otelo Saraiva de Carvalho engavetou em Caxias umas centenas de ‘fascistas’, muitos dos quais só foram libertados depois do 25 de Novembro do ano seguinte. Após um fim de semana de notícias e boatos desencontrados sobre o que se passara e passava em Belém (e hoje são tristes cenas razoavelmente conhecidas), de lágrimas nos olhos uma vez mais, Spínola retirou-se pelo seu pé, despedindo-se com o célebre discurso de renúncia do dia 30 de Setembro. Uns dias depois ainda foi corajosamente almoçar com o seu sucessor, o General Costa Gomes.

Um dos presos do 28 de Setembro foi Manuel Maria Múrias. Em dias mais frenéticos tinha dito muitas vezes, por graça, ‘se me vejo preso nem acredito’. Fizeram-lhe a vontade. Um grupo de militares foi buscá-lo a casa nessa madrugada. Só o tornei a ver quase dois anos depois. Saíu como entrou, acusado de nada, ilibado de nada. A justiça revolucionária, como explicou, antes de ter de fugir dela, Victor Serge, profissional da revolução comunista, tem uma enorme superioridade sobre a justiça burguesa: não se ocupa de ‘inculpações ou acusações precisas’, aplica-se às pessoas pelo que elas são e não necessariamente pelo que tenham feito.



Na Covilhã, depois de falsos alarmes, de notícias mais ou menos fidedignas sobre um mandato de captura em meu nome, acabei por passar para Espanha. Aquele fugaz ‘combate do futuro’ tinha acabado de vez. O resto é outra história.

Notícias do "cônsul honorário do reino hashemita"

Ionline: 

"Pedro Passos Coelho fez comigo o que todos os partidos fazem com os mais velhos: afastou-me", diz Ângelo Correia, para quem Mário Soares e Sá Carneiro foram visionários

"A democracia como a conhecemos está a morrer".


Estas duas frases resumem a entrevista de alguém que é convidado habitual  da Lourenço, na SIC-N, como comentador da actualidade.

Porém, quem mistura a visão de Sá Carneiro, para quem o nome Fomentinvest seria sinónimo de fomento duvidoso, com a visão de Mário Soares que nos conduziu a duas bancarrotas, fica diminuído como comentador de cenários.

sexta-feira, setembro 26, 2014

O PCP e a verdade: um problema com barbas de molho

Há 40 anos foi criado o salário mínimo nacional. Grande conquista dos trabalhadores portugueses? Depende do ponto de vista. Actualmente, segundo os analistas, o salário mínimo é inferior ao que foi estabelecido em 1974, no valor de 3 300$00.

Em 1975, por obra e graça do governo de Vasco Gonçalves esse salário mínimo foi elevado para 4 000$00.

Com esta justificação:

A caminho de um socialismo português, há que repensar e reestruturar a dinâmica das relações de trabalho. Em ordem, antes de mais, à valorização do próprio trabalho, como factor político de crescente projecção e influência.
Está na ordem do dia a batalha da produção, que passa pela mobilização dos trabalhadores para as grandes tarefas da reconstrução do País.
Medidas de justiça laboral dirigidas nomeadamente à correcção das distorções salariais próprias da economia capitalista e à disciplina da contratação individual e colectiva, passando por um esquema de regalias sociais não discriminatórias, para além do seu valor intrínseco, constituem o melhor estímulo ao empenhamento dos trabalhadores na melhoria do rendimento nacional e na equidade da sua distribuição.
Com metas já definidas pelo Conselho Superior da Revolução, há que tentar uma aproximação delas sem recuo, ainda que contemporizando transitoriamente com situação e dificuldades de conjuntura.
Nesse contexto se insere o presente diploma, que, sendo um passo em frente, não é ainda a caminhada. Mas não seria razoável que se adiassem medidas, que podem ser tomadas desde já, com base na consideração de que constituem apenas a parte de um todo que seria impossível accionar neste momento.
Entretanto, vai-se atendendo à situação em que se encontram as camadas mais desfavorecidas da classe trabalhadora, quanto a salários e férias, corrigindo distorções e eliminando disparidades. Estabelece-se o congelamento, necessariamente temporário em tempo de inflação, dos ordenados superiores a 12 000$00. Eleva-se para 4 000$00 o salário mínimo nacional. Fixa-se um tecto salarial à remuneração do trabalho, em termos que hão-de ser regulamentados. Optou-se pelo valor da ordem do que ganham os Ministros do Governo, assim se estendendo a todas as empresas um limite que já vigora para as empresas públicas. O leque salarial herdado do fascismo, de amplitude sem limite, fica assim, e desde já, reduzido a um ângulo que começa a não envergonhar.
Com ser relativamente mais limitado, não deixa, contudo, de continuar a possibilitar desvios chocantes do princípio de que a trabalho igual deve, tanto quanto possível, corresponder salário igual. Reconhecem-se sem esforço manchas degradadas e sectores privilegiados que há que reconduzir a termos de mais equilibrada justiça salarial. Lá chegaremos.



No final dos anos setenta, numa entrevista na RTP, o comunista Álvaro Cunhal, perguntado a propósito de quanto ganhava respondeu candidamente que era...o salário mínimo nacional. Ou seja, cerca de 7 500$00, salvo o erro. E disse que nem precisava de mais...

Tal declaração, agora muito esquecida e de que não é fácil  encontrar referências na internet, suscitou risos colectivos. Ninguém acreditava que Cunhal para fazer a vida que devia fazer só ganhasse o salário mínimo nacional.
Nem os comunistas acreditavam nessa balela, como o denota o arrependido Raimundo Narciso, aqui.

Vem isto a propósito do denodado Jerónimo que anda no Parlamento há décadas a lutar pelos amanhãs que nunca mais cantam e que exige sempre o impossível para ter o previsível lote de deputados que lhe asseguram a manutenção da renda.

Antes do 25 de Abril, o PCP lançou nos meios metalúrgicos a ideia de que o salário mínimo nacional deveria ser da ordem dos 6000$00.
Depois da Revolução e ainda antes do PREC , naturalmente, lembraram-lhe tal coisa. E que disse então Cunhal na entrevista à Vida Mundial de14 de Junho de 1974?  Achava tal montante "incomportável para a economia nacional"...


Cunhal viveu em Moscovo antes de vir para Portugal. E como é que vivia por lá? Com o salário mínimo?  Pois sim...

Por decisão do Secretariado do Comité Central do PCUS, Álvaro Cunhal já recebia mensalidades de 500 rublos em 1961, o equivalente, na altura, a pelo menos quatro salários médios. Na mesma época, Francisco Miguel e Margarida Tengarrinha, também membros do Comité Central do PCP, e seus camaradas de exílio, auferiam 180 e 130 rublos, respectivamente.
Num protocolo datado de 14 de Setembro daquele ano, o vice-chefe da Secção Internacional do Comité Central do PCUS, V. Terechkin, comunica ao Comité Central o pedido de Álvaro Cunhal no sentido de se instalar na URSS com a sua mulher e a filha, Ana.
Dois dias depois, outro documento autoriza o líder comunista português a frequentar o refeitório do Kremlin — cuja entrada estava reservada a membros do Bureau Político do-Comité Central do PCUS. Neste restaurante era servida, sobretudo, alimentação dietética, o que não desagradava à frugalidade do secretário-geral do PCP.
Todos estes documentos constam do já referido arquivo do Centro de Conservação de Documentação Histórica do PCUS relativo ao período entre 1953 e 1991. A sua progressiva abertura está, ainda que lentamente, a permitir uma melhor compreensão de alguns dos factos mais relevantes do século XX, em que está a trabalhar o investigador português José Muhazes, residente em Moscovo há 17 anos.



 A verdade para estes comunistas é sempre relativa, como também disse Cunhal. A mentira, essa, é permanente. E são eles quem vende moral e ética na AR. O deputado António Filipe sabe que é assim não sabe? Sabe, claro que sabe. E então porque colabora nesta mentira e nesta farsa? Porque não pode fazer mais nada...


Frei Bento Domingues, o frade sempre fixe

Visão:

Frei Bento Domingues: "Que mundo é este que queremos fazer?"

Há 40 anos este frade cripto-comunista queria um mundo de amanhãs a cantar ..e parece que continua a acreditar na história da carochinha e do capuchinho vermelho. Por isso é que tem sempre voz activa nos media. Para cultivar as ideias de sempre pelos pobrezinhos e oprimidos contra os ricos e poderosos. 



 Aditamento para mostrar a "cela" do franciscano, segundo a Sábado. As ideias estarão assim, também?


Isto é que verdadeiramente interessa dizer e Passos disse-o. O Coelho saiu da cartola.

Económico:

Passos afirmou que todo este caso é uma "mistificação". Poer isso, o primeiro-ministro sentiu-se na necessidade de falar do património que detém: "Não possuo outro património se não o que está declarado e não me pertence na totalidade, na medida em que tenho empréstimos". "Não disponho de poupanças", continuou o primeiro-ministro, acrescentado que "com certeza não atingem limites das poupanças que devem ser declarados".

Passos Coelho adiantou que não tem "riqueza acumulada" e não tem "em nome de filhas, primos ou outra família" qualquer outro tipo de bens, declaração que levantou grandes aplausos das bancadas da maioria.
"Espero que os que sustentam as suas acusações o possam publicamente comprovar", diz Passos, garantindo que não tem elementos físicos que lhe permitam falar de "rendimentos fantasma". Por isso diz que as acusações de "compadrio" e de ter recebido "150 mil contos" possam ser "comprovadas por quem as faz".


Agora o jornalismo de investigação-melão que pergunte a Mário Soares, Almeida Santos, Vitorino, José Sócrates e outros do PS ( porque é disto que se trata, de uma luta política pelo poder e nada mais) se podem dizer o mesmo.

Se não puderem, investiguem na mesma. E concluam o óbivo...

O Coelho e a Lebre

 Uma fábula, tirada daqui:

A lebre perguntou à raposa:
- Que é que levas no teu saco, ouro ou mais uma peça? Pois teu nome significa lucro muito mais do que astúcia?
- Se queres saber - disse a raposa -, vem até minha casa, convido-te para jantar.
A Lebre acompanhou a raposa até sua toca: lá, não havia nada para jantar a não ser a lebre. Esta declarou:
- Como aprendi com minha própria desgraça, sei agora de onde vem teu nome: de tua astúcia e não de teus lucros.
Curiosidade além da conta é fonte de grandes desgraças.
(ESOPO - Século VI a. C.)

 
Notícia do Público de 1 de Fevereiro de 2008, já depois do escândalo da licenciatura ter sido revelado, quase um ano antes:

 O ex-deputado José Sócrates recebeu indevidamente um subsídio de exclusividade da Assembleia da República, entre finais de 1988 e princípios de 1992, por acumular as suas funções parlamentares com a actividade profissional de engenheiro técnico, enquanto projectista e como responsável pelo alvará de uma empresa de construção civil. Sócrates nega que tal tenha acontecido, mas diversos documentos por ele assinados confirmam a violação do regime legal de dedicação exclusiva.(...)

 Qual a diferença entre Passos Coelho, agora acusado pelo mesmo Público do mesmíssimo Cerejo, de recebimento de algo "indevido" e o José Sócrates de então?

É isso que fica à consideração de quem lê. A minha opinião é a de que a condescendência pública e do Público e  demais meios de informação,  para com José Sócrates permitiu que não só permanecesse no poder como fosse reeleito, dali a um ano. Isso num caso que não tem qualquer comparação com o actual, devido não só à gravidade e consistência das imputações públicas e notórias como à circunstância de revelar uma personalidade inadmissível num primeiro-ministo.  Não há qualquer relativismo nesta análise uma vez que estas comparações têm mesmo que ser feitas.

Agora, é isto que se pode ver hoje no Público, com uma capa a concorrer com o sensacionalismo do Correio da Manhã:


Este mesmo Público, embora dirigido por outrém, na Páscoa de 2007 levantou a Lebre que fugia à frente do caçador em saltos rápidos, protegida pelos apaniguados que eram aos milhares, incluindo os jornais quase todos que não viam a corrida celerada.
Nesta altura, trata-se de um Coelho que salta daqui para ali, prontinho a levar o tiro de misericórdia. É essa a diferença e Pacheco Pereira, em 7 de Abril de 2007 lembrava o que o Público onde escrevia nunca assumira em letra de forma:


E as semelhanças da Lebre da fábula com este Coelho não ficam por aqui. Em 21 de Abril desse mês, o Público dava conta que na A.R. havia dois registos biográficos do então deputado José Sócrates. Um deles era apócrifo e o original desaparecera. Quando? Nunca se descobriu. Quem teve acesso ao tal original? Obviamente quem tinha interesse imediato nisso. Quem era? O Público nunca quis saber. O que foi cometido lá, na AR, nessa altura? Um crime de falsificação? Alguma vez foi investigado devidamente? Nunca.



São estas algumas das diferenças entre este caso do Coelho e o da Lebre que não ficou por ali na corrida. Como é sabido trasmudou-se em Carapau e anda por aí a gozar  a astúcia destes papalvos que se julgam arautos de uma moralidade infecta e pensam que a investigação jornalística são estes fait-divers que eregem em crimes de lesa-majestade da sua alta concepção moral e ética que apesar disso não pode ser vista ao espelho.

Quem os topa bem é Vasco Pulido Valente no Público de hoje, em crónica que subscrevo e vai contra a corrente mediática do sensacionalismo ambiente.

Portugal é a choldra que é por causa deste tipo de investigação do jornalismo-melão que só se avalia ao sair. 


quinta-feira, setembro 25, 2014

O jornalismo de investigação tipo melão




A investigação jornalística ao percurso de Passos Coelho encetada pelo Público tem toda a lógica do jornalismo que descobriu que José Sócrates tirara o curso a um Domingo.  Ou seja, não descobriu porque foram outros a fazê-lo. Porém, a lógica retoma-se porque foi o Público a mostrar nos quiosques as coisas de tal licenciatura na Independente. 

Agora, na questão de Passos Coelho, o Público replica o método. Tendo sido esse jornal a mostrar em diagramas de dúvida e suspeita o que era a empresa Tecnoforma, logo em Outubro de 2012, não constra que tenha dado o mesmo relevo de forma e conteúdo ao arquivamento dessas suspeitas, ocorrido recentemente no DIAP de Coimbra. E era essa a principal suspeita da campanha jornalística nesta investigação ou vice-versa, porque era disso que se tratava.
Porém, como o jornalismo neste caso é como as cerejas, veio agora a lume outro facto relevante, inserido na mesma campanha para saber o que foi a tal Tecnoforma que envolveu o antigo ministro Relvas e o actual primeiro-ministro Passos, que esteve logo em foco , a propósito deste assunto, desde que tomou posse como governante.
Jornalisticamente, o resumo dos factos pode ser este, faltando apenas os que  envolvem o jornalismo destas causas sempre interessantes e que funcionam por meios que nunca saberemos ao certo. Uma coisa é certa: há factos e factos. Uns servem; os outros não servem para nada.

Querem um exemplo deste jornalismo casuístico sem causas conhecidas? Já foi aqui notado, logo em 2010 que o antigo primeiro-ministro fora a Los Angeles em visita e deixou por lá uma marca de relevo: o seu nome como "prime minister" na montra de uma loja de roupa. Estranho?
 
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Absolutamente. A TVI, por acaso e condição da altura, noticiou. E o assunto ficou por ali, morto por ser descoberto pelo jornalismo nacional das causas dignas de serem investigadas. Nunca o foi. Porquê?
Porque este tipo de jornalismo não é bem como as cerejas. É mais como os melões...é o sair.

Mário Soares perdeu o bom senso e nada há a fazer

Expresso online:

Soares: Governantes "são todos uns ignorantes e idiotas" Mário Soares diz que se vive atualmente numa "falsa democracia", que os "ministros não sabem nada do que se passa no país" e que o Governo se deve demitir em sequência das recentes revelações sobre o primeiro-ministro.
  

Mário Soares anda outra vez a falar pelos cotovelos do senso que já perdeu. Para relembrar o desmemoriado até se podem usar as suas historietas, como esta que contou no DN de 24 de Março deste ano ( sim, deste ano...) em que Soares conta as figuras que fez na Alemanha no auge de mais uma crise financeira grave que o país atravessou nos anos setenta da sua excelente governação de bancarrota. 




 






Por outro lado o "excepcional ministro das Finanças" que Portugal então tinha era o inefável, Vítor, o Constâncio que nessa altura tinha um pensamento metafórico e de inteligência rara, só medida em escalas estrangeiras. Assim:

 

 






Ranhetas às facadas no cocó



Em Março de 2011 o Governo de José Sócrates caiu e temeu-se que Portugal entrasse em bancarrota dali a pouco.  Em Junho  houve eleições que o PSD de  Passos Coelho ganhou e tomou conta do Governo. 
O que se passou a seguir parece consensual: o governo e a maioria legislativa impuseram um regime de austeridade ao país, seguindo os ditames de uma troika que o PS  também  foi obrigado a sufragar.
Os métodos, seguindo o guião alemão, foram esses. Poderiam ser outros? Ninguém verdadeiramente sabe dizer que se o fossem poderíamos estar melhor do que estamos. Mas há quem diga, claro. Um deles é o desmemoriado Soares, um pária do bom senso que já teve. Uma coisa é certa: escapamos mais uma vez da bancarrota iminente, com as consequências catastróficas previsíveis.  Foi a terceira vez em 40 anos que tal sucedeu e das duas anteriores ( 1977 e 1984) a responsabilidade foi inteirinha de uma Esquerda que de que o PS é tributário e Mário Soares liderou. 

Quando Passos Coelho  escolheu governo era uma incógnita o que iria suceder nos ministérios, após os anos de José Sócrates, um inenarrável da política nacional.  Passos em vez de limpar o aparelho de Estado dos submarinos que por lá ficaram,  arranjou-lhes contrapartidas e manteve-os à tona. Agora mergulharam e lançam-lhe os torpedos.  Quase apetece dizer que é bem feito  porque  foi avisado para o não fazer e achou avisado que deveria assim fazer. Ainda vai a tempo de perceber o que sucedeu.
Por diversas ocasiões, durante aqueles  governos que escaqueiraram as finanças públicas, José Sócrates esteve na berlinda de escândalos judiciais e políticos e alguns de âmbito criminal, como o Freeport e o Face Oculta de que escapou porque “confiou na justiça”, não dando as explicações que poderia ter dado, como agora se exige a este primeiro-ministro. Escapou sempre, apesar dos factos serem incomensuravelmente mais graves do que aqueles de que é acusado, ainda sem provas, Passos Coelho.  Toda a gente percebe, mesmo os apaniguados ( et pour cause) que José Sócrates e Passos Coelho são vinhos de pipas diferentes e um deles está irremediavelmente estragado. Isso faz toda a diferença destes casos.
Este é o contexto desta história em que entram os habituais personagens das comédias de costumes, Cocó, Ranheta e Facada.
Para perceber o entrecho desta peça, podemos ler o que escreve João Miguel Tavares no Público de hoje e a notícia que surge ao lado, dando conta do que Mário Soares disse, do seu retiro na praia algarvia.  



 O que JMT diz sobre a Passos, como figura de modéstia sonsa, podia ter sido escrito antes de ser primeiro-ministro e de facto foi-o, por muita gente. A ilação que retira não vale um chavo. Passos é sonso mas não é chico-esperto. E se todos "fizeram aquilo" nos anos festivos de 1990, devemos assumir colectivamente as despesas desta festa. Não sendo aceitável em 2014 o que se fazia colectivamente em 1999, ninguém deve ser punido por tal, porque para isso funciona a amnistia do tempo e é isso que o jornalista Cerejo não entende, confundindo tudo e embarcando num jornalismo que só olha para estas árvores não ligando à floresta de enganos que se passa à sua volta. Isto se for verdade o que se diz, porque ainda o não é e parece que se está a forçar uma nota presuntiva que pode sair furada. Por isso mesmo Passos não deve dizer mais nada e remeter-se ao silêncio das investigações a cargo "das entidades". Para cínicos, sonso e meio basta.

Por seu lado, o cônsul honorário do reino hashemita, em vez de estar calado, já esfaqueia também o antigo “colaborador”, no seu estilo habitual. Se calhar porque deixou de colaborar. A pergunta a fazer a este cônsul honorário de muitas honras perdidas ( foi amigo de Duarte Lima e esfaqueou-o em directo na tv, aquando do caso da quinta de Nafarros) é muito simples: que tal uma investigação em forma aos seus rendimentos fiscalizáveis?

De António Costa o putativo sucessor que conta já com favas do seu lado, ainda sem ter o bolo-rei, e que já comenta o assunto, as perguntas ainda são mais simples e basta trocar de personagens para lhe solicitar as respostas às perguntas que coloca. Em vez de Passos Coelho basta dizer “José Sócrates”.

O católico mefistofélico  Bagão , também esportula opinião de demissão porque lhe convém. A pergunta a este é simples também: por que no te callas?

E quanto ao padrinho Mário Soares basta uma, aparentemente anódina: quanto recebe a enfermeira que anda a tratar dos seus achaques? E outra, muito pertinente: de onde lhe veio tanto dinheiro para tantas despesas?

O Público activista e relapso