domingo, janeiro 24, 2016

O carrossel mágico dos últimos 40 anos

No outro dia morreu Nuno Teotónio Pereira e os jornais fizeram um obituário. NTP era arquitecto de profissão, tal como muitos outros. Foi prémio Valmor antes de 1974 e isso já o distingue de uma grande maioria. Os prédios mais assinaláveis da sua autoria podem ver-se na rua Braancamp, (em frente ao prédio que tem o apartamento que foi de José Sócrates) conhecido por "franjinhas" em referência a uma figura de animação da tv infantil, do "carrossel mágico".

O jornal Sol, dirigido por um arquitecto,  fez este obituário:



Contudo, a importância que agora se confere a NTP será por outros motivos que não esses estritamente ligados à arte arquitectónica.
Logo após o 25 de Abril de 1974, essa e outras figuras, como Pereira de Moura, começaram a aparecer nas revistas de então, como figuras públicas cuja notoriedade derivava apenas de uma fenómeno: o de terem sido resistentes ao "fascismo".

Logo em 28 de Junho de 1974 apareceu uma entrevista de fundo como tal figura, na Vida Mundial. Qual a principal característica, então, de NTP? A de ser arquitecto? Não. A de ter sido opositor do regime, preso político e ter fundado o MES, viveiro de muitos dos esquerdistas que por aí andam, neste momento a governar Portugal.

A homenagem que se faz a Nuno Teotónio Pereira tem esse e apenas esse significado, o que diz muito acerca da nossa inteligentsia colectiva e que permanece ligada ao passado "antifassista" que surgiu quase do nada, após o golpe de 25 de Abril de 1974.




Nuno Teotónio Pereira é familiar directo de um fascista, na designação corrente dessa esquerda e que o próprio usava como se pode ler na entrevista.
Na entrevista e perfil da Vida Mundial oculta-se esse facto, conhecido entre os seus. Porém, o Sol refere a ligação.
O Século Ilustrado de 21 de Setembro de 1968 atesta em fotos que Pedro Teotónio Pereira, o tal familiar directo de Nuno Teotónio Pereira,  era membro do conselho de Estado de então e perante a doença de Salazar, substituído por Marcello Caetano dali a dias, pelo presidente da República, era uma das figuras essenciais dessa época, porque prócere do regime.  Segundo o autor Manuel de Lucena num livro recente, era mesmo um dos "lugares-tenentes de Salazar" ( título do livro editado pela Aletheia).


Pedro Teotónio Pereira em 1968 sustentou que Salazar deveria permanecer no poder , na titularidade do cargo, enquanto fosse vivo. E defendeu sempre o Ultramar português, apoiando a Censura por ser adversário da "literatura subversiva".
Saberia o que então fazia o sobrinho Nuno?  Certamente, porque este fora preso pela PIDE/DGS em 1967, por "actividades subversivas".
Esta correlação entre figuras gradas ao antigo regime e sustentáculos do mesmo e seus familiares directos como filhos ou outros não tem sido devidamente esclarecida perante a opinião pública nacional nos últimos 40 anos e tal faz parte de uma espécie de tabu, de coisas que se escondem por vergonha. O desaparecimento dos arquivos da PIDE/DGS, levados em parte para Moscovo pelo PCP ( facto denunciado e apesar de desmentido, com imensas probabilidades de ser mais uma Mentida do PCP) poderia ter esclarecido algumas destas histórias por contar, da sociedade portuguesa de então.

Por exemplo, Francisco Loução, o esquerdista critpo-comunista, trotskista e o que mais de ista preciso seja para defender os pobrezinhos que lhe interessam,  era filho de um almirante que no dia 25 de Abril de 1974 poderia ter alterado o rumo dos acontecimentos no Terreiro do Paço.
A história de tal desfeito ainda hoje está mal contada mas parece que ninguém quer saber disso...

Nuno Teotónio Pereira teve uma educação católica e fez parte de movimentos dos chamados católicos progressistas que se opunham ao regime de Salazar/Caetano, com episódios rocambolescos como o da "capela do Rato".
Outro que aparece nessas vestes de católico progressista é o frade Bento Domingues que escreve ou escrevia no Público crónicas sempre a puxar a brasa à esquerda.  Este tem um irmão, também frade, com quem aliás se dá muito bem, um pouco mais velho e que seria digno de escrever crónicas em jornais, tal como ele. Mas não escreve...porque é politicamente oposto.

Portugal tem ainda muito que recordar, integrar e compreender para se ter uma imagem do pais em que nos tornamos após 40 anos e com estas pessoas.
Parece-me que para compreender certos fenómenos da nossa idiossincrasia colectiva é mesmo necessário revisitar esses lugares e esse tempo, porque é mesmo um carrossel mágico.


3 comentários:

zazie disse...

O maluco do Bento Domingues tem um irmão que não é idiota?

josé disse...

Tem e é muito interessante falar com ele. Aliás com os dois, quando estão juntos porque se dão muito bem e o irmão mais velho é muito engraçado e espirituoso e um poço de sabedoria antiga.

Ambos frades, mas de ordens diferentes.

josé disse...

O Bento Domingues ao vivo é uma pessoa muito mais interessante do que no que escreve.

Megaprocessos...quem os quer?