Estive a ver a reportagem do CMTV a propósito da apresentação do livro Carisma, cujo autor de capa, José Sócrates, foi acompanhado por repórteres de tv no percurso de entada na FIL.
Um dos repórteres da CMTV perguntou de chofre e microfone em riste se "já teve tempo de ler o livro escrito em seu nome"? E ainda sobre o que dizer da quantia de 100 mil euros, paga muito acima dos custos de mercado.
O visado, estoicamente, ignorou tais questões e prosseguiu a marcha patética.
Será difícil encontrar exemplo semelhante de alguém, suposto autor de um livro, ser confrontado assim, directamente e com os rodeios dos media, acerca da falsidade da obra.
Apesar das suspeitas e dos factos conhecidos, o suposto autor remete tudo para a falsidade das imputações e a vontade de alguns o denegrirem.
Neste ponto, o mais relevante acaba por ser esse aspecto paralelo e escandaloso ficando para trás qualquer apreciação crítica da obra.
A um dos circunstantes vindos em excursão de Vila Real foi-lhe perguntado se já comprara o livrito. Hesitou e disse que ainda não e era coisa para se ver depois. Obviamente nunca irá comprar tal livro e muito menos lê-lo. A viagem foi turística e alguém pagou...e o método já tinha dado provas aquando do ajuntamento arrebanhado de alguns indianos do Martim Moniz numa campanha eleitoral passada.
Mas se o livro não será para ler, há quem o tenha lido. Vasco Pulido Valente escreveu no Domingo:
"Que dizer da coisa, senão que o próprio autor chega ao fim de 152
páginas (letra grande, mancha larga) sem, confessadamente, saber ao
certo, ao certo, do que está a falar? Aparte isso, Sócrates, como era de
esperar, usa a técnica do aluno cábula e sem ideias. “O Dom” dele é de
parafrasear e comentar meia dúzia de cavalheiros respeitáveis (Weber,
Cassirer, Kojève e por aí fora) e citar dezenas de outros por
empréstimo, ou seja, porque já vinham citados no pouco que ele leu. Este
método iria inevitavelmente acabar por produzir uma enormíssima
trapalhada: repetições, contradições, despropósitos e vacuidades, com
muito erro pelo meio e algumas sentenças de Sócrates, que roçam o
vexatório. Apesar dos recados políticos e de um ou outro disfarçado
aceno a um público imaginário, não se percebe por que razão o indivíduo
escreveu este livro. Sonhará ele ainda vir a ser o “líder carismático”
do futuro? Suspeito que sim."
Hoje no Correio da Manhã, Francisco José Viegas tem esta crónica:
Não li o livro e não tenciono dar para o peditório político de recuperação de imagem de um político morto ( mas não enterrado).
Porém, fico com curiosidade em saber que teólogo brasileiro é citado do francês, numa parolice digna de um Farinho distraído...( será Boff?)
Sobre as licenciaturas a preceito de estatística e dos doutoramentos que se preparam à pressão para se ascender à categoria de professor doutor a parolice é ultrapassada pela tragédia do nosso ensino, montada e encenada pelos mesmos de sempre, verdadeiros catedráticos da sabedoria sustentada em diplomas.