Araújo tem sido alvo de comentários pelo que diz ou escreve, neste blog. Devo confessar que me irrita, o que este indivíduo diz ou escreve. Não devia, mas é assim. A razão para tal é a importância que lhe vão dando como oráculo dos tempos modernos, do mesmo modo que há 40 anos davam a um Eduardo Lourenço e a estirpe intelectual parece-me ser a mesma.
Enquanto Lourenço é da geração anterior, a do antifassismo militante e relapso, mesmo depois dos anos 50 e 60 e dos fenómenos que ocorreram no Leste europeu que vieram dar razão a Salazar e Caetano depois dele.
Araújo é da geração seguinte, nascida nos anos sessenta e que não viveu esse período final do século XX como devia ser vivido para se poder contar com toda propriedade. Araújo escreve de cor e por ler muito e não me parece que apreenda uma certa essência da alma de muitos portugueses que viveram nesse tempo e davam o corpo e o manifesto por um regime que permaneceu durante décadas em Portugal, sintonizado com o que era o povo real, analfabeto e inculto e ao mesmo tempo a elite que então se formara para transformar o país.
As conversas com Araújo descambam sempre para o lado da análise sociológica e política, com a História contemporânea de permeio. Não sei qual o conhecimento de História de Araújo para poder perorar sobre os assuntos avulsos que retoma nas entrevistas, particularmente sobre o período salazarista e pós-marcelista. Sendo doutorado em História Contemporânea que significa tal coisa? Que leu muitos livros sobre este período que nos afectou a actual existência? E leu o quê? E percebeu o quê? E aprendeu o quê? Quem o examinou no doutoramento certamente lhe deu o summa cum laude, mas...e daí? Quantos doutorados em História Contemporânea temos em Portugal que estudaram o que Araújo estudou, leram o que Araújo leu e foram examinados pelos professores que doutoraram Araújo? Dezenas? Centenas? E um tal Rosas e uma tal Flunser não terão o mesmo género de qualificações académicas e afinal escrevem asneiras como quem debita um rosário de amarguras? E que dizem as teses daqueles todos que parece que nem se publicam como diz agora Araújo na entrevista ao DN de hoje?
Araújo, publicamente vale pelo que escreve em artigos ou livros que se lêem. Confesso que leio e compro para descobrir algo que nunca li ou uma ideia original que me dê alento para ver se alguém assim tão intelectualizado academicamente mostra algo que seja revelador do que nós, enquanto povo deste rectângulo, somos e principalmente fomos, o que me parece ser a tarefa fundamental de um historiador.
Em tudo o que Araújo escreveu a propósito e que tenha lido, até hoje, não descortino nada de novo, nada de revelador e pelo contrário leio o que me parecem aleivosias e opiniões idiossincráticas com que não simpatizo por me parecerem enviezadas pela insuficiência analítica e distorção da inteligência.
Esta entrevista que fica e que mais tarde comentarei, continua nessa linha, com algumas observações que me merecem reparo que farei mais tarde.
Araújo parece-me uma síntese de Eduardo Lourenço e Eduarda Dionísio dos tempos da modernidade, do pós-esquerdismo militante. Um desperdício.