O Diabo de hoje:
Álvaro Amaro, várias vezes Secretário de Estado da Agricultura diz agora o óbvio que na altura não viu melhor...
No Público de 18 de Junho deste ano, ainda durante o grande incêndio de Pedrógão, um antigo administrador florestal ( carreira democrática), Fernando Santos Pessoa, escrevia assim:
Nos momentos em que escrevo estas linhas está a desenrolar-se uma das
maiores tragédias florestais em Portugal, senão mesmo a maior. E estas
notas não terão a ver directamente com o caos dos incêndios que nesta
altura atacam o centro do nosso país mas têm indirectamente. E a
resposta está no telefonema que me foi feito, a meio da manhã, pelo
Prof. Jorge Paiva da Universidade de Coimbra, que me dizia desesperado:
“Estás a ver no que dá terem acabado com os Serviços Florestais.
Numa primeira abordagem, esta tragédia de hoje deveu-se a um conjunto
de situações atmosféricas que seriam imprevisíveis, e sobretudo porque,
ao acontecerem perto da noite, inviabilizaram a intervenção dos meios
aéreos de combate aos incêndios.
Mas alguém garante que na grande
extensão e propagação do fogo não estavam como causa também as más
condições de limpeza das matas? Alguém garante que não foi o barril de
pólvora que está contido nas falta de limpeza do sub-bosque das matas? O
Comandante Jaime Soares em poucas palavras, numa entrevista a Victor
Gonçalves da RTP, disse o que muitos de nós andamos a dizer há décadas: a
montante destas tragédias está a falta de uma politica florestal
correcta, de ordenamento, limpeza e vigilância das matas.
Chamemos as coisas pelos seus nomes: foi num Governo PS que foi
extinto o Corpo de Guardas Florestais que existia nos Serviços
Florestais e os seus efectivos foram integrados na GNR. Erro crasso,
naquela perspectiva neo-liberal de “menos Estado para melhor Estado”.
Está-se mesmo a ver, não está ?
Os
guardas florestais não eram polícias, eram actores fundamentais da
vigilância das matas, integrados numa cadeia de comando especializada
que ia dos velhos Mestres Florestais aos Administradores Florestais e
ate aos Chefes de Circunscrição. Eles não têm que ser comandados por
sargentos ou tenentes. têm de ser comandados por quem sabe dos problemas
das florestas,
Depois desta asneira socialista, o Governo PSD/CDS
pela mão do sábio e secretário de Estado do queijo limiano, e perante a
apatia da ministra do CDS e dos sociais-democratas (que tinham
obrigação, pelo seu historial , de serem mais competentes em matéria
ambiental) acabou de vez com os serviços florestais e integrou-os no
Instituto da Conservação da Natureza. Cereja em cima do bolo da
asneira!!
É preciso ter bom senso e acabar de vez com esta
situação anómala de sermos talvez o único país do mundo com tanta área
florestal e não termos Serviços Florestais nem um Corpo de Guardas
Florestais.
Perdeu-se a grande sabedoria do velhos Mestres
Florestais, senhores das serras e das matas que eles conheciam como as
suas próprias mãos; mas ainda há na GNR umas centenas de antigos guardas
florestais que podem ser o embrião de um novo corpo especializado.
Tenham
vergonha de dar a mão a palmatória e façam aquilo que desfizeram,
reponham os Serviços Florestais no Ministério da Agricultura e Florestas
(chamem-lhe Instituto, chamem-lhe o que quiserem), com a dignidade que
eles nunca deviam ter perdido, reponham a funcionar a quadrícula de
casas e postos florestais que são quem pode assegurar a vigilância
permanente das serras do país, dêem a esses postos as novas tecnologias e
os novos meios de comunicação e dêem de novo aos guardas florestais a
capacidade legal de continuarem a vigiar as matas, de obrigarem os
proprietários a limpar e a ordenar as matas.
Também acabaram com os guarda-rios e nunca mais as
margens e leitos da maior parte das ribeiras foram limpas, como
eram quando esses agentes obrigavam os proprietários marginais das
linhas de água a limparem as margens dos seus terrenos.
A terrível
tragédia que nos aflige, que ao menos sirva de aviso para o que pode
acontecer este Verão, com tanta área de pastos secos debaixo de
temperaturas cada vez mais quentes, já que ninguém liga aos avisos dos
cientistas, portugueses e internacionais, sobre as alterações climáticas
graves que estão em curso e que afectarão muito em especial o
Mediterrâneo e a nossa Península. Lá que o Trump não acredite nisso, é
lamentável mas para quem é poucochinho não se pode exigir mais. Mas a
governos responsáveis temos de exigir muito mais.
A minha voz não
tem peso político nem público, mas tem a experiência de muitos anos
embrenhados nestes problemas. Ouras vozes com maior ressonância
certamente me darão razão.
Os antigos guarda-florestais moravam em sítios estrategicamente escolhidos, nos montes e serras e vigiavam a área envolvente. Tinham casas construídas de propósito para o efeito, no tempo de Salazar e algumas eram deste tipo ( na Peneda e Gerês, estas):
Como se diz acima, o socialismo democrático e a social-democracia ( a criada de quarto da burguesia, para os comunistas...) acabaram com esta organização de defesa da floresta fassista e não a substituíram por outra mais moderna ou sequer mais eficiente. Antes pelo contrário, criaram estruturas burocráticas sobre estruturas burocráticas e o resultado está à vista de todos: ano após ano, os incêndios são mais devastadores e os deste ano mataram dezenas de pessoas e destruíram bens de muitos milhões de euros. Responsabilidade? Do vento e dos downbursts.
Este primeiro-ministro já foi ministro em governos anteriores e parece nada ter aprendido, nem sequer o sentido da responsabilidade política. É um bluff político, como governante. Fraco líder, não assume responsabilidades quando devia, descarta para outros, hierarquicamente inferiores no Estado, toda a carga de responsabilidade e pretende apenas manter o poder. Veremos até quando conseguirá enganar o povo que vota.
Foi António Costa, enquanto ministro da Administração Interna que acabou com o corpo autónomo dos guardas florestais e os integrou na GNR:
Os guardas florestais, que anteriormente pertenciam ao Instituto da
Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), estão há dez anos
integrados no Serviço de Protecção da Natureza e do Ambiente (SEPNA) da
GNR e, na altura, ficou decidido que a carreira ficava extinta, quando
todos os seus elementos se aposentassem.
“Se não for emendada esta
decisão de a carreira extinguir-se quando vagar, quando o último
guarda-florestal se aposentar a carreira desaparece e será possivelmente
a GNR que irá desenvolver as actividades que são dos
guardas-florestais”, disse à agência Lusa Luís Pesca, dirigente da
(FNSTFPS).
Luís Pesca considerou “um erro” a decisão de há dez anos, quando António Costa era ministro da Administração Interna
“Não
está bem entendido na cabeça dos nossos governantes a importância dos
guardas-florestais, na prevenção e fiscalização dos fogos florestais, no
cálculo das áreas ardidas, na fiscalização da caça e pesca”, disse,
adiantando que estes profissionais querem também ser equiparados a
outras forças policiais, recebendo suplementos idênticos.
O que é que se fazia no tempo do "fassismo" relativamente a esta matéria? Muito mais que hoje, como mostram passagens de dois livros de informação do antigo regime ( Quarto e Quinto anos do governo de Marcello Caetano): havia cursos de formação específica para resineiros e guarda-florestais...
E hoje? Há os boys tipo Leitão e afins.