terça-feira, agosto 01, 2017

Quem acabou com a guarda florestal? António Costa, no tempo do governo Sócrates.

O Diabo de hoje:

Álvaro Amaro, várias vezes Secretário de Estado da Agricultura diz agora o óbvio que na altura não viu melhor...

No Público de 18 de Junho deste ano, ainda durante o grande incêndio de Pedrógão, um antigo administrador florestal ( carreira democrática), Fernando Santos Pessoa, escrevia assim:
 
Nos momentos em que escrevo estas linhas está a desenrolar-se uma das maiores tragédias florestais em Portugal, senão mesmo a maior. E estas notas não terão a ver directamente com o caos dos incêndios que nesta altura atacam o centro do nosso país mas têm indirectamente. E a resposta está no telefonema que me foi feito, a meio da manhã, pelo Prof. Jorge Paiva da Universidade de Coimbra, que me dizia desesperado: “Estás a ver no que dá terem acabado com os Serviços Florestais.

Numa primeira abordagem, esta tragédia de hoje deveu-se a um conjunto de situações atmosféricas que seriam imprevisíveis, e sobretudo porque, ao acontecerem perto da noite, inviabilizaram a intervenção dos meios aéreos de combate aos incêndios.
Mas alguém garante que na grande extensão e propagação do fogo não estavam como causa também as más condições de limpeza das matas? Alguém garante que não foi o barril de pólvora que está contido nas falta de limpeza do sub-bosque das matas? O Comandante Jaime Soares em poucas palavras, numa entrevista a Victor Gonçalves da RTP, disse o que muitos de nós andamos a dizer há décadas: a montante destas tragédias está a falta de uma politica florestal correcta, de ordenamento, limpeza e vigilância das matas.
Chamemos as coisas pelos seus nomes: foi num Governo PS que foi extinto o Corpo de Guardas Florestais que existia nos Serviços Florestais e os seus efectivos foram integrados na GNR. Erro crasso, naquela perspectiva neo-liberal de “menos Estado para melhor Estado”.
Está-se mesmo a ver, não está ?
Os guardas florestais não eram polícias, eram actores fundamentais da vigilância das matas, integrados numa cadeia de comando especializada que ia dos velhos Mestres Florestais aos Administradores Florestais e ate aos Chefes de Circunscrição. Eles não têm que ser comandados por sargentos ou tenentes. têm de ser comandados por quem sabe dos problemas das florestas,
Depois desta asneira socialista, o Governo PSD/CDS pela mão do sábio e secretário de Estado do queijo limiano, e perante a apatia da ministra do CDS e dos sociais-democratas (que tinham obrigação, pelo seu historial , de serem mais competentes em matéria ambiental) acabou de vez com os serviços florestais e integrou-os no Instituto da Conservação da Natureza. Cereja em cima do bolo da asneira!!
É preciso ter bom senso e acabar de vez com esta situação anómala de sermos talvez o único país do mundo com tanta área florestal e não termos Serviços Florestais nem um Corpo de Guardas Florestais.
Perdeu-se a grande sabedoria do velhos Mestres Florestais, senhores das serras e das matas que eles conheciam como as suas próprias mãos; mas ainda há na GNR umas centenas de antigos guardas florestais que podem ser o embrião de um novo corpo especializado.
Tenham vergonha de dar a mão a palmatória e façam aquilo que desfizeram, reponham os Serviços Florestais no Ministério da Agricultura e Florestas (chamem-lhe Instituto, chamem-lhe o que quiserem), com a dignidade que eles nunca deviam ter perdido, reponham a funcionar a quadrícula de casas e postos florestais que são quem pode assegurar a vigilância permanente das serras do país, dêem a esses postos as novas tecnologias e os novos meios de comunicação e dêem de novo aos guardas florestais a capacidade legal de continuarem a vigiar as matas, de obrigarem os proprietários a limpar e a ordenar as matas.


Também acabaram com os guarda-rios e nunca mais as margens e leitos da maior parte das ribeiras foram limpas, como eram quando esses agentes obrigavam os proprietários marginais das linhas de água a limparem as margens dos seus terrenos.
A terrível tragédia que nos aflige, que ao menos sirva de aviso para o que pode acontecer este Verão, com tanta área de pastos secos debaixo de temperaturas cada vez mais quentes, já que ninguém liga aos avisos dos cientistas, portugueses e internacionais, sobre as alterações climáticas graves que estão em curso e que afectarão muito em especial o Mediterrâneo e a nossa Península. Lá que o Trump não acredite nisso, é lamentável mas para quem é poucochinho não se pode exigir mais. Mas a governos responsáveis temos de exigir muito mais.
A minha voz não tem peso político nem público, mas tem a experiência de muitos anos embrenhados nestes problemas. Ouras vozes com maior ressonância certamente me darão razão.

Os antigos guarda-florestais moravam em sítios estrategicamente escolhidos, nos montes e serras e vigiavam a área envolvente. Tinham casas construídas de propósito para o efeito, no tempo de Salazar e algumas eram deste tipo ( na Peneda e Gerês, estas):


Como se diz acima, o socialismo democrático e a social-democracia ( a criada de quarto da burguesia, para os comunistas...) acabaram com esta organização de defesa da floresta fassista  e não a substituíram por outra mais moderna ou sequer mais eficiente. Antes pelo contrário, criaram estruturas burocráticas sobre estruturas burocráticas e o resultado está à vista de todos: ano após ano, os incêndios são mais devastadores e os deste ano mataram dezenas de pessoas e destruíram bens de muitos milhões de euros. Responsabilidade? Do vento e dos downbursts.

Este primeiro-ministro já foi ministro em governos anteriores e parece nada ter aprendido, nem sequer o sentido da responsabilidade política. É um bluff político, como governante. Fraco líder, não assume responsabilidades quando devia, descarta para outros, hierarquicamente inferiores no Estado, toda a carga de responsabilidade e pretende apenas manter o poder. Veremos até quando conseguirá enganar o povo que vota.
Foi António Costa, enquanto ministro da Administração Interna que acabou com o corpo autónomo dos guardas florestais e os integrou na GNR:

 Os guardas florestais, que anteriormente pertenciam ao Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), estão há dez anos integrados no Serviço de Protecção da Natureza e do Ambiente (SEPNA) da GNR e, na altura, ficou decidido que a carreira ficava extinta, quando todos os seus elementos se aposentassem.
“Se não for emendada esta decisão de a carreira extinguir-se quando vagar, quando o último guarda-florestal se aposentar a carreira desaparece e será possivelmente a GNR que irá desenvolver as actividades que são dos guardas-florestais”, disse à agência Lusa Luís Pesca, dirigente da (FNSTFPS).
Luís Pesca considerou “um erro” a decisão de há dez anos, quando António Costa era ministro da Administração Interna
“Não está bem entendido na cabeça dos nossos governantes a importância dos guardas-florestais, na prevenção e fiscalização dos fogos florestais, no cálculo das áreas ardidas, na fiscalização da caça e pesca”, disse, adiantando que estes profissionais querem também ser equiparados a outras forças policiais, recebendo suplementos idênticos.

O que é que se fazia no tempo do "fassismo" relativamente a esta matéria? Muito mais que hoje, como mostram passagens de dois livros de informação do antigo regime ( Quarto e Quinto anos do governo de Marcello Caetano): havia cursos de formação específica para resineiros e guarda-florestais...

E hoje? Há os boys tipo Leitão e afins.



22 comentários:

zazie disse...

Essas casas dos Guardas Florestais eram lindas. Consta que agora servem para turismo.

joserui disse...

Chamem-lhe "instituto" não está mal :) … também podem chamar "autoridade"… tipo Autoridade Florestal Nacional. Que bando que palhaços os políticos…

joserui disse...

Zazie, parece que o próprio país também para o turismo é para o que serve :) .

joserui disse...

Achei lamentável ter de vir o exército espanhol, bem equipado, incluindo comunicações próprias e por satélite, ajudar a apagar os incêndios. Bombeiros e meios aéreos, ok, mas exército? Isto já nem país é, não tem as estruturas mínimas. É um protectorado de Espanha e da Europa. Graças a PSD e PS principalmente. Os comunas preferiam um protectorado da URSS.

Keytas disse...

vou pegar, espero que não se importe. Obrigado

Floribundus disse...

o ps foi e será sempre um partido totalitário com raras excepções

guardas-florestais e guarda-rios
não pertencem, ao vocabulário de
antónio das mortes

o fogo da Sertã tomou a direcção da raia devido ao vento do quadrante noroeste
se houvesse vento suão acabava em Lisboa

pediram auxílio à Espanha porque não parava na Salavessa e passava o rio fronteiriço

fiquei admirado da referência ao prof dr Jorge
cada vez mais parecido no facies com o irmão mais velho

os tudólogos sabem tudo

Floribundus disse...

guarda-rios é uma ave que deixei de ver há 65 anos, mas sempre de longe

hoje vende-se um bom vinho alentejano com este nome

pouca acidez volátil no tinto

Floribundus disse...

ribatejano de
Vila Chã d'Ourique

erros meus ...

Unknown disse...

Algum dos caneiros de esgoto televisivo/governamental mencionou o assunto?
Compreende-se que, leve e gracioso como o pássaro chamado boi, o bardamerdas que passa por primeiro-ministro passe igualmente "entre os pingos da chuva".
Qualquer prostituta tem mais dignidade que esses vendidos psitacídeos do telelixo.

Floribundus disse...

formidável
aumento de
25 cêntimos
de subsídio de refeição

minha mulher já pode almoçar melhor

'arrota pelintra,
faz-te lorde'

Floribundus disse...

Gregório de Matos

Rubi, concha de perlas peregrina, Animado cristal, viva escarlata, Duas safiras sobre lisa prata, Ouro encrespado sobre prata fina. Este o rostinho é de Caterina; E porque docemente obriga e mata, Não livra o ser divina em ser ingrata E raio a raio os corações fulmina. Viu Fábio uma tarde transportado Bebendo admirações, e galhardias A quem já tanto amor levantou aras: Disse igualmente amante e magoado: Ah muchacha gentil, que tal serias Se sendo tão formosa não cagaras!

foca disse...

José
Terminar com o grupo guardas florestais e integrá-los na GNR até pode ter sido uma boa decisão de gestão.
A SEPNA funciona, e só não o faz melhor por falta de meios, que seriam ainda mais escassos para manter vários corpos independentes.

Não é por haver um guarda atrás de cada pinheiro que se evitam fogos.

Na era da tecnologia, das IoT, ter guardas florestais é coisa de terceiro mundo

josé disse...

"Na era da tecnologia, das IoT, ter guardas florestais é coisa de terceiro mundo"

Será mesmo? Os guardas florestais são ( eram) um corpo específico da "protecção civil" e que se organizava para a vigilância e cuidado da floresta existente em Portugal. As casas dos guardas florestais existiam nos sítios remotos porque era aí que os incêndios se iniciavam e propagavam e não é com drones que se resolve o problema ou com torres de vigia sem ninguém.

As casas foram feitas num tempo em que as comunicações eram difíceis ou inexistentes e a vigilância e combate aos fogos se fazia à distância da vista humana. Mas era mais eficaz do que hoje que se procura inventar uma roda.

Por outro lado os guardas florestais não tinham apenas a tarefa de combater fogos, mas outra ainda mais importante: a de cuidadores da floresta. Hoje não há disso, nem sequer os particulares que possuem os terrenos florestais.

Manter um corpo de guardas florestais modernos, equipados e se calhar com opção de viver nas casas de antanho, renovadas ou organizadas de modo mais adequado é ideia antiquada?

Não me parece porque a modernidade faz-se com mudança de linguagem designativa ( "protecção civil" soa muito bem mas não tem efeito prático eficaz e efectivo) e com organizações mais sofisticadas e menos adequadas, preenchidas por apaniguados dos partidos em que quem manda são ignorantes e arrogantes.

É este o modelo ideal?

josé disse...

Por outro lado, um incêndio como o de Pedrógão pouco tem a ver com a existência ou não de guardas florestais, acho. No entanto, a cultura que se instalou na "Protecção Civil" parece-me de tal modo burocratizada e tomada por incompetentes que dificilmente se compreende todo o quadro geral sem aquela cultura antiga em que os guardas florestais existiam com um fim específico e eficaz.

Floribundus disse...

José
penso o mesmo porque conheci os 2 sistemas
na qualidade de produtor florestal

com este governo social-fascista
vai desaparecer o que nos resta de floresta

basta olhar para o desleixo da floresta pública

'cagada em 3 actos'
como habitualmente

antónio das mortes anda desaparecido

ontem esteve em Belém a Associação dos familiares da parte conhecida das vítimas

podemos esperar deitados pelos resultados do relatório encomendado
assim como pelo de Tanços

zazie disse...

Em Espanha não existem guardas-florestais?

Ia jurar que sim.

zazie disse...

Existem, pois. Lembrei-me agora que conheci um rapaz galego que até disse que tentou ir para guarda-florestal mas aquilo é tão disputado que só entram por cunha partidária

eheheheh

foca disse...

É por aí Zazie

Esses guardas do ministério do ambiente era um grupo de cromos sem utilidade quase nenhuma, especializados em reclamar direitos e trabalhar das 9 às 17

zazie disse...

Os guarda-florestais que conheci viviam naquelas casas e não havia horário.

Fechavam partes da serra de Sintra com correntes e cadeado, ao fim do dia. Lembro-me que uma vez ficamos lá fechados e o meu pai teve de ir a pé até à Malveira da Serra para encontrar o guarda.
Estava lá num bailarico e voltou para abrir as correntes.

O galelo quis ser pelo mesmo motivo que em miúda também sonhei com isso. Pela natureza e por ter lido Kerouac.

Até acho que ainda deve ser uma profissão bem curiosa. Na Malveira havia a toca da raposa mesmo no caminho que ia dar à casa do guarda.

zazie disse...

Falámos nisto porque ele me mostrou fotografias das casas florstais do Buçaco. Lindas de morrer. Agora servem de turismo rural.

J H P disse...

As do PN Peneda-Gerês estão, na sua grande parte, ao abandono (como se pode confirmar pelo post do Rui Barbosa no blog Carris. Creio que uma ou outra estará a ser reabilitada (e.g. Pitões das Júnias).

É uma pena, passei lá muitos fins de semana em miúdo, nas décadas de 80 e 90. Muitas nem tinham luz elétrica (as que tinham era de um simples painel solar) e tinha-se que usar petromax e lanternaas para tudo.

Expatriado disse...

Descreve bem o pm (minúsculas) do recanto...

https://pbs.twimg.com/media/DGBcFFDXcAIBdST?format=jpg

"NÃO HÁ UMA ARMA MAIS LETAL QUE UM 'IMBECIL' COM PODER"

O Público activista e relapso