Sol, José Fragoso:
Há falta de imaginação na televisão?
Muita, na televisão, na rádio e também na imprensa. Diz-se que hoje
em dia as pessoas lêem menos, mas não é verdade. As pessoas lêem é
outras coisas. O jornalismo hoje em dia tem muitas cumplicidades, não se
percebe porque há pessoas ligadas a determinados eventos perniciosos
que estão à solta em Portugal. É que passámos por um período de crise em
que as pessoas foram obrigadas a fazer um esforço tremendo com reduções
de ordenados, trabalhos precários, e depois assistimos a bancos que
foram à falência porque emprestaram milhares de milhões não se sabe bem a
quem e com que garantias, quem emprestou o dinheiro, e ninguém vê essas
caras. A verdade é que a imprensa não deu o devido relevo a essas
coisas. Parece um passador de milhares de milhões de euros como se isso
fosse uma coisa normal. Uma ponte Vasco da Gama custou dois mil milhões
de euros. Nós hoje falamos de sete mil milhões, quatro mil milhões… O
público que nos vê, ouve ou lê, tem essa consciência. E quem tem de
fazer sacrifícios para voltarmos a ter alguma estabilidade não vê esse
sacrifício em quem gastou milhares de milhões. É certo que há uns casos
em julgamento, mas é muito pouco. Continuamos sem saber para onde foram
esses milhares de milhões. É uma ofensa mesmo no campo moral e de
Justiça. Acho que a imprensa não dedica tempo e espaço a esses casos,
até porque alguns grupos de comunicação social vivem em cumplicidade com
essas pessoas. O leitor não é burro e penaliza. Os jornalistas se
querem ter credibilidade têm de perceber se estão a trabalhar para o
público ou para super potências económicas ou para os lóbis políticos.
Isto é válido para todos os meios.
Mas acha que os jornalistas trabalham para esses lóbis?
Em muitos casos, sim. Nalguns casos de forma inconsciente, noutros de
forma consciente, acabam por cobrir esse jogo. Por exemplo, os
jornalistas de economia andaram a dormir muitos anos. Isso é óbvio. Se o
que se passou em Portugal, com a dimensão que teve, em que um conjunto
de bancos foram ao tapete e os jornalistas não viram é porque estavam
distraídos com outras coisas. Podia-se dizer que apanharam uma situação,
e falharam outras. Mas não é verdade. Não apanharam nenhuma.
E por que acha que não apanharam?
Porque estavam distraídos com outras coisas ou estavam a trabalhar
noutras áreas, a dar espaço a outros projectos que não tiveram
viabilidade. Era importante que fizessem um reset e se perguntassem onde
é que andaram durante esse tempo todo.
Comentário:
Uma mesmice e uma corrupção moral generalizada.