sábado, julho 01, 2017

Os fogos famintos convectivos não queimam "boys", apenas pessoas comuns.

O Expresso de hoje explora- e muito bem- a famosa "linha do tempo" para reportar a "tragédia épica" ( reconhecida como tal pela Protecção Civil às 3:45 de Domingo, dia 18 de Junho).

Estas tragédias épicas, como se sabe, são do domínio da ficção antiga grega e shakespeareana. Os culpados são os "deuses" e os "boys" ficam a rir-se na plateia ou a chorar lágrimas de crocodilo.

Os "boys", no caso, são estes, escolhidos de fresco: o do meio, o coronel Leitão é marido de uma girl  e o da esquerda é o "big boy", para usar a língua de trapo destes "resilientes".


Ontem na RTP3 o do meio fez uma figura triste mas como tem Costas quentes não teme porque lhe devem. O espectáculo indecoroso que encenou pareceu mesmo obsceno.

O artigo do Expresso que mostra a incompetência criminosa dos "boys" chega a pouca gente e não fará mossa na reputação estudada nos "focus groups".



O Sol de hoje retrata melhor o coronel "boy":




 Por outro lado, o jornal entrevista um especialista em fogos que passa o tempo todo a contextualizar desculpas convenientes para "boys" e "girls". Percebe-se mas não se aceita que possa dizer, de modo implícito que a culpa das mortes foi dos moradores das aldeias e dos fugitivos da EN236-1. Quem assim fala pouco percebe do essencial, neste caso.

Quando lhe perguntam se perante a extrema perigosidade do tempo, nesse dia, não deveria ter existido alerta mais intenso das autoridades responde que em Portugal os centros de decisão são difusos e desconcentrados. Desconversa porque quem tinha que fazer essa alerta eram as autoridades locais que conhecem o terreno, as pessoas e as circunstâncias e receberam da Protecção Civil indicações concretas nesse sentido, escritas e detalhadas, a tempo e horas e aparentemente nada fizeram.

Por outro lado quando lhe falam na EN 236-1 que deveria ter sido cortada explica que o local era de risco, tal como os aglomerados populacionais mas como o "cenário era de guerra não sabemos onde a bomba vai cair".  Cairia certamente nesses locais...como caiu. Explica ainda que o confinamento nas casas é melhor que a fuga e que as pessoas mais idosas sabem disso. Sabem? Quem lhes disse? Foi a experiência? E na EN 236 só morreram jovens? E porque é que nos dias seguintes num fenómeno típico de gatos escaldados,  retiraram os idosos das casas, aos magotes e a algumas nem deixaram recolher os pertences mais urgentes ( telemóveis, por exemplo?)  Enfim, mais um especialista das generalidades desculpantes.


10 comentários:

FMS disse...

olá josé,

http://estadosentido.blogs.sapo.pt/tanatologia-social-001-3829082

meus dois cêntimos de hoje.

abraço.

joserui disse...

Aqui o FMS mostra uma realidade entre cemitérios anglo-saxónicos, bonitos, arborizados, realmente lugares onde se repousa — e os nossos, locais feios, de granito e mármores de gosto duvidoso, que (ainda) algumas familiares esforçadas esfregam com uma valente concentração de lixívia. As árvores sujam as campas.
Tal como sujam as ruas, pátios, bueiros e caleiras… basta nas mesmas séries observar as ruas ladeadas por árvores centenárias, os jardins sem muros, cuidados… cá, os muros e vedações são cada vez mais altas e fechados (ainda a semana passada observei um vizinho a instalar arame farpado no portão da frente) e as árvores no Porto têm uma média de idade de 20 anos, segundo estudo de há poucos anos.
O constantes bota abaixo e replanta (em pleno Verão para morrer e replantar outra vez)é mais uma frente de corrupção das cãmaras, não tenho qualquer dúvida, mas não há quem mostre isso cabalmente.

hajapachorra disse...

tragédia épica?! mas que merda é essa? Isso rebenta com dois mil e quatrocentos anos de teoria literária.

Pacheco-Torgal disse...

https://www.publico.pt/2017/07/01/politica/noticia/o-fim-do-sorriso-de-antonio-costa-1777492

Agora, Costa vai ter de fechar o seu sorriso. Não tem mais condições para o manter. Vai ter de deixar de exibir a sua autoconfiança. Vai ter de cercear a sua capacidade de propaganda. Vai ter de começar a provar ser capaz de gerir o Estado de uma forma dirigida à optimização da máquina pública na prestação de serviços aos cidadãos.

A nova atitude governativa de Costa terá de passar por acções concretas que não se fiquem pelo diálogo ou pela gestão orçamental. Terá de passar pela reestruturação em profundidade da política florestal em coordenação com a política de prevenção e de combate a incêndios. Criar uma arquitectura de comando coordenada e em pirâmide com uma orientação de acção comum. Uma política sustentável e com lógica interna, que assente na política florestal e na prevenção, a qual nunca foi assumida por nenhum Governo — nem o seu, nem os anteriores, incluindo aqueles de que foi ministro —, que se limitaram a passajar uma manta de retalhos sobre o assunto e a deixar arder e morrer. Talvez agora o poder possa finalmente acatar as recomendações dos especialistas, nomeadamente o relatório final a ser feito pela comissão técnica independente criada esta semana pela Assembleia da República.

Mas a nova atitude também terá de passar por acções concretas e reais como a de criar uma estrutura de Protecção Civil que de facto proteja os civis e não sirva para arranjar empregos partidários. E como a substituição da famigerada PPP do SIRESP, que só tem servido para canalizar o dinheiro do Orçamento do Estado para “os negociantes do costume” (neste caso SLN, GES, PT) engordarem as suas contas bancárias, enquanto o país arde, as pessoas morrem, ficam feridas e/ou sem nada. Desta vez, morreram 64.

lusitânea disse...

Entretanto a classe política alcançou um feito notável.E estatístico.Deslocalizou os agricultores de sobrevivência do interior para as bermas de estrada e hortas urbanas das grandes cidades...numa economia que dizem eles nunca mais volta!Onde havia um modo de vida com os actuais e mais modernos níveis ecológicos desapareceram os agricultores e encanaram-se para as ribeiras os antigos fertilizantes dos campos.Agora só falta lá meter pretos...

André Miguel disse...

http://rr.sapo.pt/especial/86670/escalos_fundeiros_descida_ao_principio_do_inferno

O testemunho das avionetas na sext-feira deixou-me a pensar... já nem comento o desfasamento entre o início do fogo e a trovoada. Isto começa a cheirar muito mal...

lusitânea disse...

Fui ver o currículo do coronel de infª que bebi num qualquer despacho governamental.Foi cmdt dos sapadores bombeiros de Lisboa, tem cursos extra militares nomeadamente de protecção civil.Claro que não teve o agreement dos estrelados só porque o lugar é de estrelado.
Ainda a missa vai no adro mas o cor estando ao mais alto nível da hierarquia do combate aos incêndios não pode alombar pelos erros dos escalões mais baixos no terreno.Esses é que andaram a ver navios sem saber o que se passava nas suas barbas...

Maria disse...

Ouvi há algumas horas o Sec. de Estado Jorge Gomes a dizer que "o SIRESP funciona muito bem"!!! Ah sim? E isso só se passa agora, é? Depois de terem morrido queimadas 64 pessoas em consequência das falhas clamorosas havidas numa altura em que esse serviço devia ter efectivamente "funcionado muito bem", não tendo acontecido à total inoperância dos vários sectores com ele interligados? Este senhor, Jorge Gomes, anda a propalar a mesma mentira com a maior das desvergonhas desde o início dos fogos e continuou a fazê-lo à medida que o incêndio foi progredindo desmesuradamente! Não há dúvida de que ao pessoal governativo, este farsante incluído, lá lata não lhe falta. Somos governados por uma cambada de mentirosos cuja incompetência, incúria, desleixo, ignorância e impreparação estiveram patentes na tragédia ocorrida em 17 e 18 de Junho. Os mesmos governantes corruptos que na ânsia de se locupletarem com centenas de milhões de euros (485 milhões foi o custo oficial do SIRESP, tendo na realidade custado apenas(?) 80 milhões; os restantes 405 foram divididos entre os políticos-ladrões que fecharam o negócio sujo) provenientes da compra de um Sistema electrónico com fama de 'sofisticadíssimo' para acudir a emergências em tempo útil, designadamente no socorro às populações em perigo evidente, como o foi o caso de Pedrogão Grande e escândalo dos escândalos, para vexame de todos os governantes, o dito sistema 'sofisticadíssimo' não funcionou e justamente por isso 64 pessoas morreram queimadas por não terem sido socorridas a tempo por quem tinha a estrita obrigação de o ter feito.

Este e todos os contratos bilionários celebrados pelo Estado desde que vivemos em 'democracia', mais não foram do que negociatas secretas (e sujas) altamente lesivas do povo e do Estado e em benefício exclusivo de uns tantos gatunos de colarinho branco, os mesmos que têm vindo a viver que nem sobas à custa de assaltos sucessivos ao erário público e a fraudes bilionárias que têm vindo a praticar quase ininteruptamente desde há quarenta e três anos bem contados. Assaltos esses perpetrados por políticos infames (a somar aos apaniguados que os secundam ajudando-os nas fraudes monumentais e que no seu todo não passarão de dois milhares) e que incrível e paradoxalmente um povo de dez milhões+cinco nada tem podido fazer para lhes travar os ímpetos malvados. Foi este povo crente e bom que confiou cegamente num bando de pulhas do pior, colocando-lhes ingènuamente todo o poder nas mãos, gesto que como é sabido veio a tornar-se fatal.

Sobre o estado do clima nos dias e horas que precederam o início do incêndio de Pedrogão Grande, o único serviço público que falou verdade e foi impecável nas previsões atmosféricas, aliás sempre acertadíssimas em todas as ocasiões (honra lhes seja feita), foi o IPMA. Os responsáveis por todos os outros serviços dependentes do Estado no combate aos fogos, mentiram com todos os dentes que têm na boca. Até os pobres e denodados bombeiros foram induzidos em erro.

Maria disse...

Leia-se "ininterruptamente".

Maria disse...

Leia-se "... devido à total inoperância..."

E "... e que no seu todo, eles, os políticos infames, não passarão de dois milhares"

A obscenidade do jornalismo televisivo