quarta-feira, agosto 16, 2017

Araújo e os intelectuais da paróquia

O intelectual A. Araújo na entrevista abaixo publicada teceu algumas considerações genéricas e particulares sobre aspectos da nossa vida contemporânea. Uma opinião, mesmo fundamentada ( o que não é o caso de Araújo) é sempre uma opinião, revestida do subjectivismo próprio e por isso relativamente insindicável no âmago do entendimento.

Porém, há afirmações de Araújo que suscitam reparos por denotarem entendimentos peregrinos cuja origem é desconhecida.

Quando afirma que o disco de Rui Veloso, Ar de Rock, tem a grande novidade de ser cantado em português, exemplificando assim o paroquialismo, não percebo o paralelismo.
O disco de Rui Veloso é um dos que se seguiram a outros publicados nos anos sessenta, pela Filarmónica Fraude ou pelos "conjuntos" que vieram depois, como a Banda do Casaco ou ainda o autor Júlio Pereira ou mesmo José Afonso em certos temas ou Fausto ou Sérgio Godinho, todos cantantes na língua materna e que nada tinham de paroquial ou provinciano. Paroquial e provinciano, no bom sentido, era um Artur Garcia ou um António Mourão  que depois deram em Marcos Paulos e outros Antónios Calvários. E o celebrado poeta-barbeiro de Braga, Variações, copiador de estilo Sparks e glitter variado não deixava por isso de o ser também.
 Ar de Rock só é novidade por misturar géneros musicais estrangeiros, como o blues ou o rock n´roll, já abastardado, com palavras ditas em português. Antes disso, o português já tinha sido muito usado no Brasil, por compositores como Rita Lee ou Raul Seixas, no mesmo estilo de adaptação sonora de géneros anglo-saxónicos. E esses brasileiros não eram paroquiais.
Quando o Salvador Sobral canta em português no festival da Eurovisão segue a tradição de décadas porque normalmente os países cantam nesses festivais na sua língua materna. A novidade de Salvador Sobral não reside nisso mas na habilidade e arte em cantar as palavras e conjugar uma melodia notável numa pequena cançoneta muito bem feita. Tudo menos paroquialismo  porque a música é universal.
Torna-se por isso pedante citar um tal Sudhir Hazareesing para comprovar um ponto inútil e esta mania das citações é típica destes intelectuais enlivrados em leituras avulsas.

Depois toma por assente a afirmação do entrevistador de que no tempo de Salazar nunca houve a preocupação com a elevação da cultura nacional".  Elevação da cultura nacional?! Mas o que é isso, exactamente? Elevação para onde e a partir de quê?
Araújo não explica e cita Eduardo Lourenço ( et pour cause) que teria dito ( se o disse não foi o primeiro nem foi original, porque já Augusto Abelaira o tinha dito na Vida Mundial) que depois de 25 de Abril a produção intelectual e literária estiolou quando havia liberdade para se desabrochar nos entusiasmos proclamados por um Ary dos Santos e outros pândegos.
 A verdade, verdadinha é que os autores que Abril abriu eram medíocres, simplesmente.  Mas havia alguns que o não eram, por exemplo um Alexandre O´Neill ou um Cardoso Pires que já vinham de antes e eram de esquerda liberal. Depois disso, nicles e a culpa não era do Salazar, mas eventualmente da nossa pobreza intelectual de que A. Araújo é agora um exemplo bem concreto.
 Ao dizer que se "produzem muitos livros sobre Salazar, a sua governanta e as criadas, coisas mais de voyeurismo em vez de análises sérias ao regime" está precisamente a situar-se nesse limbo de patetice porque não compreende que a análise de um regime faz-se também pela análise concreta e o entendimento concreto dos actos, pensamentos, palavras e omissões dos seus protagonistas directos. O que era a Dona Maria, enquanto governanta de Salazar, na casa que este ocupava, de função e repartida entre andares que serviam a função pública e outros que estavam reservados à vida privada? Araújo compreende?  Saber que Dona Maria criava galinhas no quintal não é apenas uma anedota ou se se entender como tal,  a atitude será semelhante à do tolo que olha o dedo que aponta a lua...

O que diriam A. Araújo e outros intelectuais semelhantes desta pequena foto de um pequeno quarto de dormir e do que ela representa?


A foto foi publicada no O Diabo de ontem, num artigo sobre "os veraneios de Salazar no Forte de Santo António", de Fernando de Castro Brandão e é de um livro do jornalista Miguel Pinheiro.
Como é que A. Araújo interpretaria o que tem esta foto e o contexto da mesma,  na época dos anos sessenta? Nesta cama dormiu Salazar que ficou neste quarto com um crucifixo a encimar, uma pequena mesa de cabeceira e eventualmente um "bacio" que não se mostra mas que era usual...

Outra foto a merecer comentário destes intelectuais é esta, do cemitério do Vimieiro, na actualidade. Bastaria que se pronunciassem sobre o estilo das campas, como foram feitas e qual o significado...comparando-as com o magnífico exemplar, ao fundo, da arte contemporânea nos cemitérios. Ou mesmo da lápide encostada à parede, junto à campa de Salazar, já agora.



Gostava de ler uma análise intelectual deste cenário, mas não terei sorte porque afinal seria um exercício de puro voyeurismo. Felizes aqueles que sabem ver...nos sinais que sendo visíveis estão ocultos a muitos.

Um sinal desse oculto que não se percepciona é a afirmação já recorrente de A. Araújo no sentido de o regime de Salazar ser intrinsecamente corrupto no tráfico de influências como agora se diz, nas "cunhas, compadrios e colocação em cargos" . Por muito que estudem sinais aparentes só conseguem ver a superfície da realidade que lhes é mostrada e não descobrem mais porque nem sequer procuram.

Por muito que leiam histórias reais sobre empreendimentos, obras públicas, realizações do tempo de Salazar, conseguem sempre enquadrar tais feitos, num período relativamente curto de 40 anos, num ambiente de corrupção por causa das "cunhas, compadrios e influencias na colocação em cargos".
Estas pessoas que assim pensam são as mesmas que depois desvalorizam a corrupção autêntica em que se vive, no regime democrático e recusam analisar e comparar tais fenómenos com o que era antes.

Bastaria ler pequenos apontamentos sobre o que foi a vida pública de Salazar, compilados por alguns dos seus próximos como Franco Nogueira e outros.




Em jeito de anedota e porque Vasco Pulido Valente anda ausente de lides de escrita no Observador, gostaria de ler um comentário seu à palermice de o citar como usando a palavra "indígenas" com o sentido que Araújo lhe atribui...

Por outro lado ao dizer que há "dezenas de livros sobre a PIDE, a censura e as torturas" não me parece que o exagero possa justificar-se na hipérbole de estilo. Conheço muito poucos livros sobre a PIDE e duvido que passam a dezena.
Estes dois foram publicados logo nos meses a seguir ao 25 de Abril de 1974 e são catarses dos protagonistas que estiveram intramuros a expiar crimes de subversão ao regime, ou seja comunistas que fariam aos então fassistas, se tivessem o poder o mesmo que fizeram nos gulags e das prisões da STASI. Alguém duvida desta moralidade dúplice? Então o melhor é falar nisso, também, para se entender a objectividade dessa gente.



De resto, Araújo repete outra vez a citação de Milton Nascimento sobre "todo o artista tem de ir aonde o povo está" e fica-lhe mal. Porque o que diz sobre Salazar e o seu tempo não inclui o povo que esteve lá, nessa época que Araújo resolutamente não compreende e por isso nem pergunta, apenas afirma.

Sobre a "nova Direita" que segundo a tese peregrina de Araújo surgiu nas páginas do Independente de Miguel Esteves Cardoso, bastaria dizer que MEC não é de direita alguma e nunca o foi. MEC é um indivíduo que se formou numa cultura urbana e sem raízes de fundo. Com mãe inglesa e pai embarcado formou-se, como suspeito que Araújo se formou, a ler coisas e loisas. Enfim, dá no que dá, esta formação. Saberá o que é um caniço? Ou o que é mondar? E chegou a cheirar alguma vez a bosta das vacas nos currais de antanho que ficavam por baixo dos quartos de dormir dos donos? Conhecer o imaginário rural de antanho é essencial para se entender o povo português que não se reduz aos habitantes das cidades. Conhecer os hábitos e costumes de sempre e de séculos que se desvaneceram em décadas também. Sem isso, chapéu! Podem saber muito bem o percurso do 28 ou do 15 mas não conhecem os trilhos da memória desta pátria.

Finalmente, embora a entrevista tenha muito mais que se lhe diga: a revista Olá, do jornal Semanário, surgido no início dos anos oitenta ( 1983) é apresentado por Araújo, em obra anterior e agora como o sinal do "renascimento da direita", por mostrar o ambiente social do país que "era impensável no imediato do 25 de Abril, quando as elites tinham fugido para Espanha".  A Olá do Semanário era uma revista que "mimetizava a Hola espanhola".
Em primeiro lugar a Hola espanhola não era representante ou sinal da "direita". Não era então e não o é hoje em dia. Era sim, representante de um estilo de vida de festas e de burguesia decandente e não só, num ambiente fustigado pelo turismo de várias costas del sol. Como a Espanha ainda é uma monarquia torna-se de algum modo compreensível que apareçam condes e viscondes de lá quando por cá tínhamos a da Asseca e pouco mais. Ou seja, Portugal nunca teve matéria-prima para Holas, nem antes nem depois de 25 de Abril, apesar da dinastia de Bragança ter feito um casamento e arromba, subsidiado de vários modos na época áurea da Olá.

Porém, afirmar como Araújo o faz que em Portugal era impensável no imediato 25 de Abril ter uma revista de feição socialite é manifestamente exagerado e esquece um fenómeno que apareceu ainda antes de 25 de Abril e continuou por muitos e bons anos: a Gente da editora Sepura, na praça de Alvalade em Lisboa.

Reduzir a a imprensa "social" à Olá e acantoná-la ao seu aparecimento nos anos oitenta é sinal de pouco estudo da contemporaneidade portuguesa. Um sinal preocupante para quem se doutorou na matéria...
Esta Gente deu origem, em 1976 à Nova Gente do empresário do social Jacques Rodrigues, fundador de outras publicações pindéricas e destinadas à populaça.

Esta Gente que aqui se mostra é de 8 de Outubro de 1974 e já ia no 48 número semanal. Ou seja, muito antes de 25 de Abril de 1974 e basta dar uma rápida olhadela aos sítios de venda de coisas usadas para ver fotos de números anteriores que atestam a qualidade pró-Hola da mesma revista que continuou muito depois do 25 de Abril de 1974, até aos dias de hoje em que se multiplicam tais títulos.



 A Gente de Outubro de 1974 acompanhava o ar do tempo e dos nos personagens aparecidos na ribalta política e mediática.

Começaram a aparecer os Barrosos do clã Soares a que seguiram depois os de outros clãs da nova nomenklatura, os empresários de sucesso no futebol regional, os artistas que estiveram sempre, sempre ao lado do povo a cantar 25 de Abril, sempre, fascismo nunca mais! e outros que tais que não vestiam apenas chita. Do mundo exterior sempre chegaram novidades da socialite, mas com uma explicação necessária: só a partir de meados dos anos setenta se começou  a dar importância mediática e alargada às notícias sobre "celebridades". 



Quando vejo e leio estas coisas tenho pena do A. Araújo e modero a minha irritação inicial.

31 comentários:

joserui disse...

"mas eventualmente da nossa pobreza intelectual de que A. Araújo é agora um exemplo bem concreto."
Ahahah, está tudo dito :) .

joserui disse...

Mondar sei… mas o que é um caniço?
O cheiro a bosta do campo é uma coisa que comecei a apreciar com o tempo e é mil vezes preferível que o fedor da vida política nacional.

joserui disse...

Diz no pasquim que era o Costa o primeiro ministro em exercício quando o país ardeu em 2005 o o 44 estava a banhos no Quénia.
A história não se repete, mas incompetência rima com incompetência, aldrabão com aldrabão e costa com costa.

Ricciardi disse...

Na verdade no tempo do estado novo a corrupção era mesmo gigantesca. O suborno era pedra de toque. Os subornados não recebiam apenas dinheiro. Como a máfia, eram sócios sombra em diversas empresas que precisavam do estado para lhes conceder licenças disto e para aquilo.
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Mas a corrupção não se ficava a esse nível. Era mais profundo. Os médicos por exemplo salvavam algumas pessoas de ir para a guerra ultramarina forjando atestados médicos. Não era um expediente acessível a todos, mas milhares de pessoas nao ficaram inaptas por obra e graça do Espírito Santo.
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Também com as forcas policiais. A notinha no meio da carta era aceite com naturalidade.
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Enfim, naqueles tempos, como agora em Angola, a corrupção estava democratizada. Existia nas diversas camadas sociais e já nem se considerava um crime. Era apenas uma forma de viver ou sobreviver. Viver sem besuntar as mãos a algum funcionário era tarefa impossível.
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Ao nível governamental untava-se doutra forma. O exclusivo nos negócios tinha um preço. A fidelidade ao chefe que dispunha da força das fortunas feitas em oligopólios bem organizados para financiar os apetites do estado. Fossem eles quais fossem.
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Rb

zazie disse...

E já está. O palerma achava que tudo começou com o Chico Fininho e o Independente.

A colcha de chita de Alcobaça e o tapete de Arraiolos dizem tudo.

zazie disse...

Ah, quanto à dita cultura, já nem falo dos festivais de cinema ou dos ciclos de concertos.
Bastaria lembrar que o Coliseu dos recreios em Lisboa tinha a geral baratíssima para a ópera e quem lá ia era o povo que agora é educado com os reality shows.

João disse...

Essa da "grande novidade de ser cantado em português" é boa. Até no punk se cantava em português. Os Aqui d'el Rock lançam o primeiro álbum de punk português em 1977 ou 1978 e cantam em português.
Mas esta ignorância dos bons espíritos é norma. Há uns dois anos saiu aquele livro do dr. ministro Santos Silva sobre o fenómeno punk nacional e há uma série de bandas fundamentais que não aparecem lá. É a chamada investigação exaustiva.

João disse...

E é verdade, no Estado Novo havia imensa corrupção e miséria. E os filhos dos ricos é que estudavam. Eu que o diga, que o meu pai era empregado de mesa, a minha mãe doméstica, cinco filhos e todos estudaram. Quando foi a abrilada já os meus irmãos e irmãs mais velhos estavam a acabar o liceu ou andavam lá. E nunca faltou nada em casa, apesar de haver pouco dinheiro. Mas havia trabalho, juízo e a certeza de que não era preciso estar à espera do subsídio ou da dependência do Estado.

Ricciardi disse...

Na minha casa juntavam pobres às paletes. Todas as semanas ficavam à porta umas dezenas de pessoas a rezar a ver se caíam cabazes que o meu pai tratava de providenciar.
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As mulheres ficavam depois de distribuidos os cabazes a ver se a minha mãe podia ficar com as filhas para empregadas domésticas. Algumas com 11 anos.
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A miséria era coisa real, quem disser o contrário é tolo.
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Por assim ser, os rapazes e os homens fugiam como o diabo foge da cruz deste país rumo à França. Aos magotes. A salto. Às escondidas porque o regime não gostava que o povo visse no estrangeiro paraísos diferentes do paraíso da propaganda.
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Foi constatando isto na realidade que o meu pai antecipou a revolução em muitos anos. Ele intuiu bem a coisa e até perdeu pouco comparado com alguns outros que tudo perderam. Com tempo desfez-se de algum património e as massas foram metidas no estrangeiro com a preciosa ajuda de elementos do regime.
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O povo que tinha emprego na verdade lá ia vivendo. Não conheciam outra realidade. Isto faz-me lembrar os miúdos pobres de Angola. Todos extremamente felizes. Quem não conhece outra realidade não ambiciona nada.
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O problema foi quando começaram a chegar relatos vindos de emigrantes. Afinal na França é que era bom. Foi nesse período que o povo acordou da letargia. É bem. Graças a Deus nosso senhor.
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Rb


João disse...

Pobreza sempre houve, aqui e na Europa. O racionamento em Inglaterra durou até 1954. Nós não entrámos na guerra mas sofremos com ela. A França tinha pobreza, a Itália tinha pobreza. Qualquer pessoa que leia a história do século XX sabe isso. Como era o alojamento de um operário na Inglaterra ou na França nos anos 30 ou 40? não era pobre? o relato que Orwell faz da miséria em Paris e Londres é o quê? se isso não é miséria... portanto, há que contextualizar. E ver a que décadas nos referimos. O grande salto da França começa na década de cinquenta, por exemplo. Tal como aqui. Sem esquecer que o nosso atraso vem de antes. Quando entramos no século XX quais são as taxas de alfabetização nos diferentes países da Europa Ocidental? a esquerda gosta muito de falar na "herança do analfabetismo" de Salazar, o facto é que se a tendência se mantivesse hoje não haveria analfabetismo em Portugal. Há 5%, fora os que funcionais que nem sabem usar um mapa, por exemplo e têm o 12º outorgado pelo Cavaleiro de Lagardère.
Idem para a economia. Continuássemos a crescer como nas décadas de 50, 60 e 70 e onde estaríamos hoje? a diferença para a Europa Ocidental diminuía progressivamente na altura. Já para não falar do que faria alguém como Salazar com os rios de dinheiro vindos da UE.
E muita da pobreza que havia era como a de hoje, pobreza de espírito. Quantos casos de famílias há que não estão na miséria por causa da ajuda social que recebem? quantos há que estouram os 200 e tal euros ou 300 de RSI nos cafés, mandam bollycaos como lanche para os filhos para não terem trabalho de arranjar um lanche decente? (quando o dinheiro acaba a escola que se desenrasque). Casos desses conheci bastantes. Ou outros, como o de uma senhora que recebia roupa a dar com pau para ela e os filhos por ser pobre. Até ao dia em que alguém foi a casa dela e deparou-se com uma pilha brutal de roupa num quarto porque ela não se dava ao trabalho de a lavar - usava-se uma vez e siga, que a vizinhança logo dá mais. Casos destes é o que mais para aí há.
Pobreza no Estado Novo? claro. E hoje, não? e volto a dizer: cabecinha. Cabecinha é fundamental. Os meus pais nunca ligaram a política, os meus irmãos nunca foram nostálgicos do Estado Novo, mas todos concordam numa coisa: nunca faltou nada em casa - e falam da despensa sempre composta. Porque era possível fazê-lo, mesmo com um ordenado fraco desde que houvesse tino. Coisa que sempre faltou a muitos, ontem e hoje. Tirassem os apoios estatais, das misericórdias, etc, a muita gente que aí anda e logo víamos como é que era a pobreza - mas a culpa seria sempre de Salazar e do Estado Novo, claro. E talvez do Trump.

josé disse...

João: faça como quiser mas o meu conselho é não ler o que este palerma escreve e menos ainda comentar.

Só vem para aqui provocar.

Portuga disse...

Continua a haver gente vacinada com a vacina comunista. Na URSS e na RDA é que era bom. Mas por que não continuaram? Já sei que esse tal vem dizer que quem se opunha ao estado novo era comunista. Mas se não eram; eram aliados e o objectivo era o mesmo. São os mesmos que continuam a comparar o nível de vida de há quarenta anos com os dias de hoje, como se não houvesse evolução do tempo antigo. É a técnica de enganar quem não sabe. Naquele tempo eram tudos analfabetos e tinham parado no tempo com certeza. Já agora por que não fazem a comparação entre a segurança dos pessoas e dos seus bens desse tempo e os de hoje. Basta ver quantos reclusos havia em 1974 e quantos existem hoje nas cadeias portuguesas. Estão a abarrotar. Com certeza que não foi por darem milho aos pombos. E assaltos à mão armada? Quantos havia e quantos há anualmente. E mortes por dá-cá-aquela palha. E assaltos aos bancos por explosão. E droga. Jovens intoxicados sem rumo de vida. Pais a sofrerem às mãos de filhos drogados. E assaltos a ourivesarias. E a pacatos cidadãos na via pública. E os bairros problemáticos às portas de Lisboa. E a divida pública que não pára de crescer. Que se lixe. Os nossos filhos e os nossos netos que paguem a crise. Onde é que eu já ouvi isto? Também podemos falar de liberdade porque esse é o grande filão dos democratas oportunistas. A falta de liberdade de expressão é um mito. A corrente comunista meteu esse medo na cabeça das pessoas e eram as próprias que se retraiam a fazer comentários políticos com medo de represálias. Mas ao contrário as pessoas andavam nas ruas com toda a liberdade a que horas fossem inclusivamente a altas horas da noite. As pessoas idosas podiam passear à vontade nos jardins de noite, nas ruas, enfim, por toda a parte. E hoje? A velhice passa-se em casa e nos "depósitos de velhos" morrem abandonados como baratas nos esgotos. Ah, mas tudo isso é moderno...

Maria disse...

Comentário cinco estrelas, o do do João das 22.15. Mil por cento d'acordo. Melhor do que o meu - que por distracção enviei para a caixa abaixo da que lhe correspondia - que abordando o mesmo tema está bastante mais completo. Resume brilhantemente o que distinguiu o Regime do Estado Novo, salientando as inegáveis qualidades do seu Governante máximo em contraponto com este regime/sistema podre que somos obrigados a suportar, assim como os indignos valdevinos que o tutelam, os mesmos que, contràriamente a Salazar e aos seus ministros que sempre exerceram os seus mandatos com absoluta honestidade e total entrega ao País e aos portugueses sendo esta a sua primeiríssima obrigação e inquestionável dever, fingem cìnicamente que nos governam aproveitando para se irem locupletando criminosamente com os dinheiros públicos, governando-se escandalosamente e de que maneira.

Os meus parabéns pelos seus vários comentários.

joserui disse...

O João comenta bem e faz-me lembrar uma artista que passava em minha casa a pedir. Levava roupa, até ao dia que vimos a nossa roupa no lixo um pouco mais à frente.
Já a incompreensível referencia ao Trump é triste. Salazar se tivesse o azar de estar vivo, não sentiria mais do que desprezo por esse indivíduo. Mas é uma verdade que anda para aí muita orfandade de referências. Confunde-se um bronco inqualificável com um estadista. Enfim, é mais um sinal dos tempos:

José Luís disse...

Joserui hello!! A referência que o João faz ao Trump é irónica, pelo menos é assim que eu entendo.

joserui disse...

É irónica no seguimento da ironia de a culpa ser do Estado Novo, que também utilizo bastante. O Trump é escumalha da Terra, não cabe na frase seguinte nem em lado nenhum como ironia, porque é maioritariamente verdade. Ainda agora li que no Alaska volta a poder abater-se crias de urso e ursos em hibernação, consequência de mais uma desregulação desse bronco. Confunde-me que pessoas decentes lhe dêem o beneficio da dúvida, isto pode estar tudo muito mau, mas não fica melhor com um indivíduo sem moral, princípios e mentiroso compulsivo.
Se é mais uma rábula, peço imensa desculpa!

adelinoferreira disse...

ahahahah o povo no Coliseu a assistir aos concertos de ópera ahahahah
Ainda há disto....

zazie disse...

Ris-te de quê, palhaço?

Se calhar só ias à Revista e nem sabias o que a geral do Coliseu era baratíssima e ia povão ouvir música que hoje se considera para elites.

zazie disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
zazie disse...

Aqui, imbecil.

A tradição popular do Coliseu vem do séc. XIX e já nessa altura com Ópera a que iam trabalhadores. Daí a Geral com preços especiais

zazie disse...

Estão aí os bilhetes e o preço e um com a ópera italiana de 1946

E continuou assim em plenos anos 60 e 70.

zazie disse...

mais aqui- Verdi, em Portugal, entre 1843-2001.

E com parceria entre o S. Carlos e o Coliseu (que ficava sempre superlotado. Estas tretas é que os Araujos e sabujos desconhecem.

zazie disse...

E mais, pascácio. O Círculo Católico dos Operários do Porto, que tem longa tradição

zazie disse...

e o de Vila do Conde criado em 1905!

Deve ser esta a falta de elevação cultural que só as brigadas do MFA conseguiram suprir.

Maria disse...

Zazie, belos linques ou ligações que deixou. Uma delícia de se ler. Parabéns.

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Que engraçado, uma foto numa das revistas que o José aqui trouxe, com o Mário Pereira e a Fernanda Montemor. Moravam perto de nós, num prédio mesmo em frente à Praceta João do Rio onde primeiro morámos e depois passámos para um prédio um pouco mais abaixo, já na Avenida e antes da Alameda. Penso que eles se terão mudado para essa casa não muito tempo antes de eu começar a ver a Fernanda a passar em frente à nossa casa. A ele nunca o vi passar nem os dois juntos (talvez porque já estivesse doente e saísse pouco) mas a ela, sim, sempre elegante no vestir (o que era raro nas actrizes daquele tempo, as que são vivas me desculpem) vi-a várias vezes a descer a Avenida e suponho que até à Alameda D. Afonso Henriques onde apanharia o autocarro a caminho de um dos Teatros da Baixa onde estaria a representar.

O Mário Pereira morreu relativamente novo.

Numa altura em que era ainda bastante novita e ainda a estudar mas pensando vir um dia a ser jornalista ou locutora de rádio (também neste campo dei um ar da minha graça e parece que bastante benzinho, segundo as críticas recebidas tinha bom tom de voz e boa dicção) ou televisão, resolvi começar a entrevistar gente famosa cá do sítio... e o Mário Pereira foi o meu primeiro entrevistado. E calhou sê-lo, não porque eu o conhecesse (eu mal o conhecia e o mesmo quanto aos restantes artistas portugueses de cinema e teatro, conhecia mais e melhor os e as ingleses e norte-americanos) mas porque a revista para a qual era destinada a entrevista assim mo sugeriu. Ele recebeu-me com simpatia mas educadamente pediu-me para lhe deixar as perguntas porque não tinha tempo disponível para o fazer e para um dia ou dois depois ir buscar as respostas. E foi o que fiz. Achei o seu pedido um pouco estranho, mas deduzo que já não se sentisse bem de saúde.

Depois desta entrevista e pouco tempo depois fiz dezenas de outras, a maioria das quais a actores e actrizes ingleses e americanos, de que já aqui falei. Lembranças maravilhosas.

adelinoferreira disse...

Com as "fontes" fiquei desarmado. No país que vivi antes de Abril o povo nem sabia o que era a ópera, os mais bem instalados(do povo trabalhador)iam à segunda feira ao cinema-que era mais barato- ver filmes em
segunda mão ao Central-Cine, Carlos Alberto e Olympia; estreias era uma vez por ano.
Nesse tempo na minha cidade havia casas de prostituição de porta aberta. As prostitutas tinham uma caderneta que tinha registado a última ida à "exemina" que ficava mesmo em Frente ao Comando da PSP. Os preços começavam em 25 tostões no Bem-me-queres na Rua do Bomjardim e iam até 20 escudos no 90 na Rua da Madeira. Sabes minha idiota, trabalhei numa empresa têxtil que era a maior no País dos artigos que produzia e até chegou a construir uma unidade em Nova Lisboa/Angola; 90% do pessoal fabril ganhava no máximo 61 escudos por dia de 48 horas de trabalho por semana no dia 24/4 e recebiam só os dias que trabalhavam; estas eram as mais categorizadas, quer dizer não eram ajudantes nem aprendizes; as apêndizes só passavam a ajudantes ao fim de 4 anos e a seguir eram ajudantes até que uma "maquinista" morresse.
As aprêndizes como se está logo a ver começavam a trabalhar logo que acabaram a primária e algumas ficavam pela 3 classe.
Na minha cidade existia dentro dela uma parte significativa que era rural, onde não faltavam campos de milho, trigo,centeio e bouças, numa parte da freguesia as ruas eram em terra batida, saneamento e águas pluviais nem falar. Uma parte substantiva da polulação não tinha água potável, abastecia-se de águas dos poços, paredes meias com as centinas que davam apoio a dez ou mais famílias, eram as famosas ilhas. Os agricultores tinha bois para puxar o arado e as noras para regar essencialmente o milho.Tinham vacas e das quais tiravam o leite para venda naqueles recipientes de alumínio a que chamavam leiteiras. Havia campos com hortaliças, cenouras e nabos, e até os caçadores davam o gostinho ao dedo matando galispos, codornizes, narcejas e até galinholas. Os homens faziam armadilhas para apanhar pintassilgos que tinham por hábito fazer a passagem junto à costa a caminho da zona centro onde clima era mais ameno; também armavam esparrelas ainda era noite para apanharem os pardais ao raiar do dia. Alguns iam vender
à tasca do Owvaldo "Cambalacho ex jogador da equipa principal do FC PORTO que era especializado na confecção dos passarinhos fritos e que tinha uma tasca ao lado do cinema Águia D'Ouro, na Batalha.
Não idiota, Não! no meu país os trabalhadores não iam à ópera


E eu pergunto aos economistas, políticos, aos moralistas, se já calcularam o número de indivíduos que é forçoso condenar à miséria, ao trabalho desproporcionado, à desmoralização, à infâmia, à ignorância crapulosa, à desgraça invencível, à penúria absoluta, para produzir um rico?"

Almeida Garrett (a praça com a bela estação de comboios de S.Bento que marcará para sempre o seu nome na cidade.

zazie disse...

Claro que havia putas e quem se ficava pela 3ª classe. Isso deve ser a tua árvore genealógica, não é a minha.

O meu bisavô de um dos lados maternos nem andou na escola. Aprendeu a ler com o padre da ladeia. Não deixou memórias de putas mas uma boa biblioteca que ainda tenho.

Cada um é para o que se nasce. Os que nasceram para besta gostavam que todos fossem imbecis e ainda mais pobres.

Só que não é assim. E a mobilidade social sempre existiu para quem quer ir mais longe.

zazie disse...

Eu gostava era que gente besta e escardalha conseguisse responder como é que mais pobreza e nivelamento por baixo faz aumentar e melhorar o nível de vida de toda a gente.

E pobreza de espírito há-a a rodos. Aqui também aparecem dois mongos que militam por economias socialistas e que nem escrever sabem.

zazie disse...

A ópera era um espectáculo popular, desde a sua criação.

E eu lembro-me de ainda ser quando era miúda.

O que o Salazar fez foi mesmo muito pertinente- duplicar os espectáculos de música entre o S. Carlos e o Coliseu dos Recreios. Com preços acessíveis no Coliseu. E mesmo aí com lugares diferenciados para todas as classes sociais.

E a Igreja tinha essas associações, como a dos Operários Católicos onde os espectáculos em nada se comparam com a merda que hoje em dia todos vêm frente ao televisor.

adelinoferreira disse...

És uma infeliz. Retiras do contexto uma pequena fatia que que qualquer pasquim fazia alusão no tempo e generalizas no todo. Não estás só. O 25 tirou-te o estatuto social que gozavas no meio depravado(a avaliar pela tua linguagem) onde te fizestes gente. Nessa casa velha que a canalização de chumbo te há-de ensarilhar mais a cabeçorra. Com os canteiros como em tempos fizeste alusão duvido que não tenham pulgas
E assim terás que viver, pois aquilo com que se compra os melões está caro.

*ficas todo sujo, e ainda por cima o porco(a) gosta. Esta frase, do dramaturgo irlandês Bernard Shaw, encerra em si mais do que o sarcasmo em que ele era exímio: é uma lição de sabedoria política. Mas tem limitações, como todas. Às vezes somos mesmo forçados a lutar com porcos(as), quando algo muito importante depende disso, quando tem mesmo de ser. A questão é a de saber se chegou a altura de o fazer. Porque o risco é sempre enorme, e não tem nada que ver com coragem, ou falta dela: é que o porco(a) leva-nos uma incomensurável vantagem na porcaria, e é muito difícil terçar, com seriedade, argumentos com alguém apostado em sacar de todos os truques baixos do cardápio, de todas as cartadas do populismo, da demagogia e das falsidades mais abjetas, usar todos os maus sentimentos e toda a ignorância e ingenuidade dos que assistem à refrega no sentido de fazer valer a sua posição....
Fernanda

* antes do ficas deve ler-se: Nunca lutes com um porco(a)

Se tiver erros ortográficos ou de sintaxe, peço desculpa.Estou a teclar num telemóvel no Xopingue e o sinal de rede parece o SIRESP

zazie disse...

Vai bardamerda

És outro riscado do mapa. Podes ficar para aí a latir que não existes.

A obscenidade do jornalismo televisivo