domingo, abril 07, 2013

A tristeza televisiva nacional

Eduardo Cintra Torres, no Correio da Manhã de hoje,  escreve sobre um assunto que outros comentadores ( VPV por exemplo, num Público com alguns dias) já mencionaram, na imprensa: o excesso de comentadores políticos nas tv´s, recrutados nos partidos e ilhas adjacentes.
"Temos a televisão mais politizada da Europa", escreve ECT. Embora não veja televisão da Europa, também suspeito que sim porque a quantidade de personagens do panorama político, activos no comentário televisivo, é avassaladora. Com uma particularidade que ECT não refere mas é sintomática do mesmo mal de raiz e profundo: os comentadores avulsos de telejornal são frequentemente de Esquerda radical, syriza e comunista estalinista.
Com a crise económica bem instalada não há dia nenhum que não vejamos os próceres dessa esquerda radical a darem a sua opinião sobre o modo de sairmos do impasse, sem qualquer contraditório imediato.  As propostas são sempre as mesmas, repetidas ad nauseam e portanto conhecidas de antemão e sem novidade alguma seja para quem for, mormente os responsáveis da informação televisiva. De modo que temos uma conclusão: essa gente colocada nas tv´s por partidos ( no caso da RTP é de tal modo evidente que até dói) e forças adjacentes mormente económicas não actua por critérios estritamente jornalísticos mas de outro formato.
Têm interesse directo em certa política agora muito chegada à esquerda e que tem no Estado o seu domínio de eleição.É esse o caso da Impresa de Balsemão que conta evidentemente com o Estado para indirectamente lhe salvar a pele em maus lençóis económicos. Tal como as grandes firmas de advogados se serviram do Estado por interpostos apaniguados que lá colocaram, no seio do próprio Estado ( é o caso de Morais Sarmento, sintomaticamente um dos comentadores televisivos da RTP) também a Impresa de Balsemão tem a mesma táctica ártica: sacar a quem tem e quem pode sem o crivo da barganha. Nunca poderia fazer o mesmo aos privados, por motivos óbvios e por isso fazem-no ao Estado, sem qualquer vergonha.  O Estado, com os apaniguados lá dentro, sacam o que podem para dar a quem devem. De diversas formas: em legislação propícia; em regulamentação adequada; em contratos "à maneira" e tudo com o mais refinado aspecto legal em forma de assinatura reconhecida e juridicamente inatacável.
A táctica privada é de tal modo subtil e sinuosa que se torna difícil perceber onde tem havido mãozinha leve no dinheiro público saído por portas travessas. Se na RTP a evidência choca com a pouco-vergonha, nas privadas tal exercício carece de sherlockholmeana atenção. Mas parece claro que se não fosse o Estado a subsidiar directa ou indirectamente a Impresa já esta tinha ido ao charco há muito. E será essa a razão para que se mantenha o status quo do comentadorismo interessado feito pelos interesses do costume. Não é por acaso que aparecem as anas lourenços sempre do costume a convidar os mesmos de sempre. Ela e outros, com honrosas excepções ( José Gomes Ferreira) sabem o que devem fazer para tornar o útil agradável. Não é por acaso que temos um "tudista" feito Sousa Tavares a comentar em modo inane acontecimentos avulsos. Nunca comentou, porém, os casos do BES, por exemplo. Et pour cause: é compadre do patrão.
E por isso mesmo, quanto à TVI, "maria vai com as outras" ou não tivesse por lá outra maria feita judite e outro experimentado nessa adulteração, feito carvalho. É uma tristeza ver toda esta propaganda encapotada que faz a RTP do tempo de Marcello Caetano um modelo de independência.
No rádio, aliás, o modelo é o mesmo. Na Antena 1 até incomoda ouvir as síncopes aliteradas da noticiarista Maria de São José. A tendência sectária é tão explícita que só falta anunciar os noticiários como tempo de antena da Esquerda.
O comentador João Paulo Guerra, nas manhãs da Antena Um, animadas por outro antigo esquerdista que apesar de tudo gosto de ouvir, António Macedo, diz todos dias de sua justiça quanto às manchetes dos jornais do dia ( que emprego porreiro, comentar manchetes...). E escolhe-as a dedo esquerdo, como sempre foi o caso.
João Paulo Guerra é o putativo autor da expressão prè-abrileira do  "nacional-cançonetismo" que acompanhava uma caricatura de João Abel Manta ( um extraordinário artista gráfico que tem tanto de excelência como de comunismo empedernido). Pois bem: João Paulo Guerra é um dos próceres mais notáveis do actual "nacional-mediatismo". Triste ironia. Resta comentar: como é que o país pode progredir com estes reaccionários da actualidade mediática cujos modelos tudo falharam e nos conduziram a três bancarrotas? Porque é que nada aprenderam e nada esqueceram? Teremos que os aturar até quando?


4 comentários:

Vivendi disse...

Recomendo ao portugueses que desliguem a tv e leiam mais blogues.

Zé Luís disse...

sintomática do mesmo mal de raiz e profundo
sem novidade alguma seja para quem for, mormente os responsáveis da informação televisiva.
não actua por critérios estritamente jornalísticos mas de outro formato.

jose, para mim o problema é este, juntando as 3 asserções: há preguiça mental, os responsáveis enchem chouriços com comentadores, preenchem espaço, têm menos trabalho e, afinal, responsadilidade.

É o mesmo nos jornais. Só tenho dúvidas onde começou primeiro.

De resto, para complementar, veja-se que um director de jornal vai a uma tv cujo director tem uma coluna nesse jornal.

É só verificar, à vontade. Dá certo. Uns para os outros, tudo igual e que se fodam.

Unknown disse...

Não esquecer que existe TV por cabo, graças a Deus.
Quanto às folhas-de-couve em circulação, é preferir-lhes sempre,mas mesmo sempre, as folhas, muito mais dignas e íntegras, da Fábrica de Ppael Renova ( passe a publicidade )...

Unknown disse...

É verdade, José, em Portugal é de facto normal que tantos comentadores sejam também políticos. O comentário engajado ao serviço de uma agenda política a exercer a sua influência, é visto como algo um pouco exótico e impensável em certas sociedades, digamos, mais evoluídas.

Na verdade trata-se da contaminação da isenção que deve pautar o interesse jornalístico, pelo interesse pessoal ou de grupo – além de ser uma sabotagem ao interesse do leitor, do espectador que vê assim defraudado o seu direito ao comentário livre.

O Público activista e relapso