A Cofina ( Correio da Manhã e Sábado, entre outras publicações) começou hoje a publicar uma colecção de oito livros de ensaios sobre "os anos de Abril". O volume de hoje versa "o fim do marcelismo" e vale a pena ler o sumário:
Trata-se de um compêndio de História "meme", mais do mesmo de sempre. Não vale a pena ler muito porque a História é contada sempre do mesmo modo de há quarenta anos a esta parte. É o "fascismo" e o "colonialismo" e a "guerra colonial" e ainda "o imperialismo" e o "capital monopolista".
A História dos últimos anos de Caetano é deixada por conta de Fernando Rosas ( está tudo dito) e também de João Bosco Mota-Amaral, o natural candidato a PR que só o não é por causa de sabe Deus porquê...
Ainda assim o artigo de Mota Amaral destoa apenas um poucochinho da habitual lenga-lenga antifassista dos Rosas&Pereira.
Este tipo de História gannhava muito mais em objectividade se fosse contada por historiadores comunistas, fossilizados, que ainda os haverá por aí a escrevinhar no O Militante.
No fim de contas, a versão histórica que nos é contada sobre o que ocorria antes de 25 de Abril de 1974 e o que se passou depois, já foi contada no Avante. Até antes de 1974. E se o fosse ficaríamos todos mais esclarecidos sobre a perspectiva histórica de quem conta o quê.
A imagem que segue, retirada do primeiro volume, tem uma imagem inserida do Avante, na sua última edição "clandestina". A linguagem, como se pode ler, é a de sempre. "Não dar tréguas ao fascismo". É o motto que pegou de estaca.
Agora outra coisa mais pessoalizada: há por aí algumas almas sensíveis que fazem o favor de ser das minhas amizades pessoais e que aparentemente se chocam ao ler isto ( a última deve ter a ver com a comparação que faço entre o antigo regime e o actual da democracia que temos e que alguém achou que "era demais").
Pois será mesmo demais, mas explico sempre porque escrevo o que escrevo e neste caso, a comparação é com o nível de corrupção geral entre sistemas- o antes e o depois de 25 de Abril. E parece-me consensual, indiscutível e pacífico que o regime de Salazar e Caetano não tinham uma fracção mínima dos índices de corrupção que agora temos, com os exemplos que por aqui tenho deixado e que só não vê quem não quer.
Por outro lado, a minha perspectiva política, sempre frontalmente contra o comunismo, abertamente primária e fundamentalista ( isto é dar armas a quem não tem argumentos, mas vai assim mesmo) tem uma explicação e passo a expor, para quem ainda não percebeu e se interessa por isso:
Sou abertamente anti-comunista como os comunistas o são contra o dito fascismo que não é nada fascismo, mas uma construção conceptual que arranjaram para liquidar de uma palavra só o inimigo ideológico.
A palavra "comunismo" devia ter entre nós, como tem em alguns países, uma conotação idêntica a nazismo ou mesmo fascismo, o verdadeiro, italiano. Não tem. E não tem porque os comunistas se precaveram em devido tempo contra tal perigo que sabem muito bem estar presente por causa dos horrores que historicamente aconteceram nos países de Leste, superiores provavelmente e em escala aos dos nazis. Só isso deveria bastar para relegar a palavra "comunismo" para o caixote de lixo mais hediondo da História.
E não acredito que haja alguém com coragem, sabendo isto que é um facto histórico, e não pense que deveria ser de outro modo, seguindo a sua própria lógica.
Apesar disto tudo, separo evidentemente as pessoas da ideologia em que acreditam. Assim como não hostilizo pessoalmente um ateu, também não gosto de o fazer a um comunista. Creio sempre que as pessoas podem enganar-se nas suas opções e por isso não são merecedoras de desprezo pessoal que voto à ideologia. E isto que é uma coisa tão simples de entender é por vezes muito difícil de aceitar.
Mais ainda: tendo amigos comunistas "empedernidos" não me parece que os deva distinguir por tal facto e deixar de os ter como amigos. Desde que as discussões não passem de certo nível, até são saudáveis porque obrigam a raciocinar e pensar com lógica, a fim de ultrapassar os dogmas das crenças.
Deste modo a minha insistência em mostrar o que foi o regime de Caetano e Salazar e a minha simpatia pelas personagens e até certo ponto valores, não implica que seja saudosista desse tempo e que não tenha ficado satisfeito com o advento de uma maior Liberdade em 25 de Abril de 1974. O regime de Caetano estava de facto a finar-se e o único modo de se salvar teria sido acabar com a guerra no Ultramar. Esta é a minha visão da História e julgo que todos ficariam a ganhar se rebobinassem as memórias do tempo e passassem a raciocinar como acontecia antes do 25 de Abril em relação a vários problemas com que nos defrontamos: Educação, Família, Iniciativa Privada, Valores de Honra e Dignidade do país que temos e somos e que as Forças Armadas então representavam. Ironicamente veio daí a raiz do Mal...e é para entender tal coisa que me dedico a estes "recortes" que por aqui aparecem. Mais nada.