sábado, fevereiro 08, 2014

O jornalismo desportivo de Marcelino e "a verdade a que temos direito"

 Daqui, editora Aletheia:

José Saramago pretendia que o DN fosse “um instrumento nas mãos do povo português, para a construção do socialismo” e que quem não estivesse “empenhado neste projecto” seria melhor “abandonar o Diário de Notícias”. Clarificava-se, então, a linha editorial que o jornal passaria a ter.

A nova direcção do diário com maior circulação nacional durante o “Verão Quente” de 1975 – com tiragens diárias superiores a 100 mil exemplares – prometia, num artigo publicado em primeira página logo a seguir à tomada de posse, “servir o Povo Português e a verdade, contra os inimigos do Povo Português e a mentira”, recusando, por isso, subjugar-se a “interesses particulares”.


 A 15 de Agosto de 1975 o Diário de Notícias avisava os seus leitores de que tinha tomado conhecimento de um documento, elaborado por um grupo de trinta jornalistas, no qual era questionada a orientação do jornal. Iniciava-se um duro conflito, que rapidamente ultrapassa as portas do velho diário da Avenida da Liberdade, coincidindo com um dos momentos mais “quentes” do período revolucionário português, caracterizado por profundas lutas entre defensores de diferentes projectos políticos para o futuro do país, mas também por diversas tentativas de controlo político-ideológico dos meios de comunicação social.

Esta é a introdução ao livro lançado pela editora Aletheia e apresentado publicamente na passada Quinta-Feira. 


 Este livro é da autoria de um jovem historiador da Nova, Pedro Marques Gomes  que espero faça o que tem de ser feito: esquecer a novilíngua dos Rosas&Pereira e equalizar a perspectiva histórica dos últimos 40 anos a fim de que quem não sabe fique a saber melhor e quem quer esquecer "não deixe apagar a memória"...

Ainda não vi o livro mas prometo dar conta do que vir, se valer a pena.

Por enquanto o que vi foram as duas edições do jornal Diário de Notícias, de ontem e hoje. Nem uma palavra sobre o lançamento do livro que trata um assunto daquela casa. Nem uma referência, mesmo em editorial do seu director desportivo ou dos seus adjuntos. Hoje, a adjunta Filomena Martins escreve sobre "É a cultura, estúpidos!" numa alusão mais que estafada ao ditto e sem reparar que o problema do jornal é mesmo esse. E do adjunto Pedro Tadeu, director do suplemento Qº ? Pois, que esperar de alguém que aprendeu as regras do jornalismo num órgão oficioso do PCP e da "verdade a que temos direito"?
Qualquer jornalista de meia-tijela, feito director de malga, saberia que o caso do livro que põe em causa o jornal nos idos de 1975, era notícia. Qualquer jornalista sem mentalidade de censor a publicaria. Qualquer jornalista sério e culto o faria sem rebuço e aproveitaria a oportunidade para um "debate".
O Diário de Notícias é dirigido por um jornalista desportivo que se ocupa do seu clube e como tal segue o fluxo natural do sectarismo intrínseco, censurando despudoramente tudo o que exceda o seu estreito conceito de "all the news that fit to print", no dizer americano.
Se lhe falarem no "fassismo"...ai jesus!-foi coisa horrenda, a censura, a pide, a repressão...agora isto é diferente porque não se deve fazer o "jogo da reacção".  E Marcelino, de jogos percebe.

Portanto, aqui fica o que o Diário de Notícias do desportista Marcelino, neste caso vergonha do jornalismo ( ao contrário de outras ocasiões que o tem dignificado) , não quer que se saiba.

Nos primeiros meses de 1975, a luta política estava acirrada como nunca, no desenvolvimento de um processo de cariz revolucionário que se  pretendia em curso.  A nacionalização dos mais importantes sectores de actividade económica, a partir de 11 de Março de 1975, conduziu à nacionalização do Diário de Notícias.
Tal como aqui se escreve:

 A nacionalização do DN, na sequência do 11 de Março de 1975, trouxe uma nova administração a este matutino, composta pelo coronel Marcelino Marques, o arquitecto Francisco Solano de Almeida e o crítico Correia da Fonseca. Luís de Barros, (ex-jornalista do Expresso e hoje editor-geral do Diário Económico) foi então designado director, tendo Saramago como adjunto. 

O tal Luís de Barros que hoje dirige um jornal "neo-liberal-social-assim-assim- conforme o vento sopra" não mandava no jornal apesar de ser o director, designado pelas "forças de esquerda", comunistas e com os trabalhadores do jornal organizados em soviete. Quem mandava era o nosso Nóbél, comunista encartado e que na época apostava na jangada de pedra do socialismo revolucionário. Quem o diz é outro esquerdista que sabe do que fala: Mário Zambujal que viveu esse tempo.

Em 16 de Julho de 1975 o Expresso ( com quem o PCP andava sempre às turras) noticiava um plano de ingenuidade geral da tutela que na época nem se sabia bem que era. O jornal ainda acreditava nessa altura no pai natal do MFA e seu Conselho da Revolução em permanente evolução esquerdista. 



Em 23 de Agosto de 1975, o mesmo Expresso dava um panorama geral do "movimento sindical nacional", em particular na imprensa. O panorama era absolutamente claro: o Sindicato dos Jornalistas era uma pedra no sapato do PREC do PCP. Em Assembleia Geral na Casa da Imprensa, os jornalistas do sindicato lograram aprovar moção contra a decisão da direcção do DN ( Luís de Barros/Saramago) de suspender 30 jornalistas que se tinham manifestado em plenário e " elaborado um documento público contra o controlo social-fascista naquele jornal".



 .  Está-se mesmo a ver quem eram os "social-fascistas", quem eram os fascistas e quem eram os opositores...não está? Este Luís de Barros podia esclarecer...

Em   Setembro de 1975 a luta agudizava-se entre os social-fascistas, os fascistas, os doentes infantis do comunismo e ...os demais, do socialismo democrático. Assim, como relata o Expresso de 6 dessse mês.


E para pôr água na fervura, PCP e PS assinaram então uma espécie de pacto de não agressão, muito esquecido...e tal como se relata no Expresso de 20 de Setembro de 1975


Para entender todo este complexo mundo pequeno das definições e novilínguia revolucionárias, nada melhor que um pequeno artigo de uma jornalista que depois foi alguém na RTP durante mais de dez anos a seguir a 1978. Diana Andringa era uma antifassista encartada por uma prisão pela "PIDE" ( na realidade DGS) por causa de uma actividade patriótica: manifestação contra a "guerra colonial" em Angola, onde o pai era funcionário da DIAMANG.
Para se ver o que este pequeno génio do jornalismo nacional pensava na altura sobre o caso do jornalismo nacional, nada melhor que ler o Expresso de 27 de Setembro de 1975 e este artigo verdadeiramente fascista.


Depois de ler este escrito indigente só me custa perceber como é que Portugal suportou estas inteligências tantos anos a mandar em lugares-chave da informação e propaganda, podendo por outro lado explicar-se assim porque nos transformamos num país em que se cultiva o jornalismo "meme" e em que esta gente conseguiu um feito notável: mudar a linguagem corrente. Estes pequenos janízaros da ideologia comunista conseguiram impor-se à generalidade dos cidadãos deste país e caparam-lhe a linguagem, Notável feito!

Toda esta situação se alterou após a queda do muro da pouca-vergonha comunista em 25 de Novembro de 1975. O PS tomou o poder e dali a um mês, fazia igual, mas "democraticamente", ou seja, complacentemente com aqueles que queriam destruir a Liberdade em nome de uma liberdade para os janízaros e seus príncipes. O Expresso de 17 de Dezembro de 1975 contava como Saramago e sus muchachos foram arredados do jornal, em nome da democracia. O jornal nunca mais se libertou do estigma, como o comprova o actual director e sus adjuntos.


Quanto á menção da indignada indigente sobre O Jornal que publicara algo inadmissível, no seu subido entender,  a mesma referia-se a esta edição do Jornal, de 19 de Setembro de 1975. Alpoim Calvão era "O fascista", sem tirar nem pôr. E a tal Andringa, se pudesse, na altura tirava-lhe o pio.



Foi esta uma das facetas da  notória tentativa de tomada do poder em Portugal, pela Esquerda comunista  de que o PCP se aproveitaria com toda a certeza, acompanhado por um MFA à maneira, se tal tivesse ocorrido, eliminando com toda a legitimidade revolucionária os filhos desgraçados e caídos na fatal doença infantil de que o mesmo partido e sua direcção cunhalística trataria com o remédio adequado, tal como fez Estaline. O método seguiria a cartilha: mudar a linguagem mais uma vez e os reaccionários passariam a ser os doentes infantis do MRPP, do PCP-(ml), da FEC (m-l) e outros ml tipo UDP que seriam triturados com a velha justificação da Revolução gostar de comer os seus filhos...ainda criancinhas. Ao pequeno-almoço, almoço, jantar e ceia.

Como é que o salvador da Pátria, das garras do comunismo reagiu a este fenómeno. depois de ter estado na Fonte Luminosa com discursos inflamados contra o PCP? 

Ora, ora. Só mesmo quem o não conheça é que ficaria admirado com isto, publicado no O Jornal de 5 de Dezembro de 1975, escassa semaninha depois da derrota dos comunistas...e aqui fica registado também o papel salvífico e essencial para que Portugal continuasse a ser durante muitos anos a coutada culturalmente esquerdista que ainda é. Melo Antunes é o nome que garantiu   ao PCP a ilusão sobre os amanhãs a cantar. No ano seguinte, tal ficou consagrado na Constituição.



Portugal precisava de passar por isto?

10 comentários:

Zé Luís disse...

Não se admite do Marcelino pão e vinho, jose.

Há uns 2 ou 3 anos, o DN ia dar uma cacha sobre a TMN do indiano Bava. Não era simpática, eram manigâncias. A notícia foi abafada, não saiu e o editor da coisa, David Diniz, questionou a Direcção e demitiu-se. Por lá ficou uns tempos até mudar e andar por aí, entre bitaitas na tv e editor no Sol.

Há semanas, no anúncio de um jornal digital, Observador, David Diniz foi apresentado como editor ou director. O DN deu a notícia do lançamento em breve do Observador, mas sem uma referência ao editor/director David Diniz, apesar de lá estarem nomes como JM Fernandes "publisher", Rui Ramos responsável editorial e a componente administrativa. Estavam lá todos os nomes de registo, menos um.

Há maneira estalinista, Marcelino silencia como quer e pode. Uma vez queixou-se que um jornalista então da TSF, hoje na RTP/A1, lhe chamara Hitler.

Só para ver o rasto perfumado e as referências históricas do personagem.

Mas sobre silenciar/eliminar notícias, uma vez foi uma página inteira do JN que punha em causa uma figura política de relevo mas por coisas relacionadas com o futebol e a Liga de Clubes.

Marcelino não estava lá, no JN, embora fosse já o responsável-mor das publicações da Controlinveste, hoje Notícias Global.

O político-"desportista" visado, hoje edil na sua terra e que "anda por aí" na Imprensa, mais magro sem o ar de taberneiro que tinha a satisfazer os clubes de Lisboa, já foi sec. Estado do Desporto - e foi tão encoberto como o indiano Bava no DN.

O "amigo Joaquim" é para as ocasiões. O "império de comunicação" ou cãomunicação fielmente canina, ajuda a moldar o novo espírito empreendedor.

Nem se imagina como será com os amigos d'Angola.

lusitânea disse...

Ai os neoliberais que querem promover a passagem do capitalismo directamente ao comunismo...
A rapaziada democrata socialista aprendeu com os da "superioridade moral" que lhes permitiu dizimar milhões em nome da causa, coisa que por cá não tiveram ainda possibilidade de fazer.Alguns claro com muita vontade como pelos vistas essa Andringa famosa por fazer desaparecer "arrastões"...de africanos que nos vieram enriquecer embora recebam à chegada logo o RSI...como aperitivo claro!

Floribundus disse...

kerenski deve ter colocado fralda de incontinente anal nos dias que antecederam
a ida à fonte pela verdura da relva

conseguiu ter as costas quentes por parte do embaixador dos EUA

em tempo de crise comiam uma erva que crescia nas valetas

nacionalizaram-na quando da reforma agrária

'estes não foram paridos, foram cagados'

PQP

JReis disse...

José,
Não, Portugal não merecia de todo passar por isto. Os personagens mencionados no seu postal são repugnantes, a eles devemos o (triste) país que hoje somos. No caso do salvador da pátria, acho que já lhe disse isto,esse personagem faz náuseas e foi sem dúvida o responsável número um da vergonha em que nos tornamos como País. Qualquer cidadão, apenas com a antiga quarta classe, sabe da responsabilidade desse personagem. Condenar o anticomunismo do PPD, desculpe José mas agora não posso escrever mais. Vou vomitar !!

Unknown disse...

Claro que tinhamos de passar por isto para que gente odiosa de sinal contrario não tivessem tornado isto uma republica mexicana, ou salvadorenha em oposição aos que gostavam duma cubana.A intolerancia é uma vergonha que devia calar fundo nos espiritos,mas olhando para certos comentarios ainda anda muito na ponta da lingua.

josé disse...

Tolerância? E o que dirá de tal palavra o Rui Mateus?

Floribundus disse...

valha.-nos São Cristovão|

Maria disse...

Alpoim Calvão, um herói português, mais um que lutou como poucos contra a barbárie comunista/socialista que invadiu Portugal, destruíndo-o. Tomara ter havido na devida altura muitos mais Bravos com a sua fibra, tenacidade e vontade de lutar a favor da sua Pátria e o inimigo teria sido vencido. Tràgicamente para todos nós essa acção contra-revolucionária benfazeja, justa e patriota, não foi concretizada. Quem perdeu fomos todos nós e o nosso querido País.

A pulhice praticada contra o digníssimo jornal O Século, foi uma das maiores canalhices perpetrada pelos comunistas e sempre com o beneplácio dos socialistas seus primos direitos, com quem, negando-o, haviam estado mancomunados desde o primeiro dia pós-25/4, em tudo o que significasse traição à Pátria.

O Diário de Notícias, orgão oficioso de grande difusão e, este sim, de referência, bem organizado e melhor dirigido, vendia 280 milhões d'exemplares diàriamente, repito, 280 milhões!
E agora - uma vez destruída a sua linha d'orientação, o saneamento de jornalistas notáveis ùnicamente para se dar a integração de uns esquerdistas, revolucionários ou não, armados em jornalistas mas feitos à la minute (revolucionários que onde põem a pata, mesmo nos dias que correm, arrasam tudo à sua volta tal e qual a formiga marabunta à sua passagem) que de verdadeiro jornalismo sabiam peva - vendem provàvelmente menos de 100 milhões. E isto porque ainda há a habituação da população mais velha adquiri-lo e é por isso que o jornal ainda atinge essa tiragem e (mal)vai sobrevivendo.

Resumindo, países onde os marxistas-estalinistas-leninistas (sim, os esquerdistas ainda professam esta 'religião' dos três "istas" para eles sagrada, embora tudo façam para disfarçar) cheguem ao poder apoderam-se d'imediato de todos os sectores produtivos das sociedades, obliterando-os. Em Portugal e passados todos estes anos de degradação governativa e completa ausência de melhoria do modo de vida das populações (com a excepção da numenklatura, é claro, como sucede em todos os países onde este regime ainda subsiste, mas sòmente porque à força das armas) mostrou à saciedade o que realmente vale como regime e sistema. Independentemente do seu tempo de duração, em que é que se traduz a ordem social e política nestas sociedades? Deterioração, perversão e putrefacção.

A Mim Me Parece disse...

O DN vendia diariamente, em 1975, 280 MILHÕES de exemplares? E hoje vederá, diariamente, 100 MILHÕES? A velhinha está xéxé, certamente.

Maria disse...

Peço desculpa pelo lapso. Resultado de estar a escrever outro texto em simultâneo. Claro que quis dizer 280 mil e 100 mil, respectivamente e não milhões, como se imaginará. Qualquer pessoa com dois dedos de testa detectaria o lapso. E estas tiragens efectuavam-se não em 1975 mas antes deste fatídico ano e durante décadas. 1975 foi o ano a partir do qual se iniciou o princípio do fim da imprensa nacional, afinal a verdadeira imprensa com todos os seus defeitos e 'censuras' que lhe eram imputadas pela oposição hipócrita e cínica, a mesma que uma vez implementada/imposta a famigerada 'democracia' começou a fazer uma censura incomensuràvelmente mais perniciosa e mais destrutiva, porque maquiavèlicamente camuflada e não obstante apelidada pelos pretensos democratas de 'liberdade de imprensa', do que a que alguma vez foi praticada pelo regime do Estado Novo.