“A esquerda é uma ideia”. Assim define Baptista Bastos a
Esquerda. E complementa: “ De igualdade,
de fraternidade, de equidade. De trabalho.”
É este o vademecum que lhe permite posicionar alguém à esquerda ou à
direita.
Será isto suficiente para definir uma ideologia? Não é e
nunca foi, mas é assim que esta Esquerda
entende que deve ser. Um conceito que
prescinde de factos que o contradigam.
O entrevistador pergunta-lhe qual a prática dessa esquerda e
a resposta é que “não existe”.
Será talvez por causa desse desinteresse pelos factos que as
experiências socialistas reais, nos países que se proclamaram como tal os não
afectam muito.Falar da Coreia do Norte ou de Cuba, ou da antiga RDA ( e da terrível STASI) ou dos demais países ditos socialistas é música de Cage para os ouvidos de um comunista fossilizado. Não entra.
Baptista Bastos visitou a URSS três vezes e nunca descobriu
a raiz do mal comunista. E até proclama agora que “tenho pena que a União
Soviética tenha implodido. Agora percebeu-se que era um travão a muitas das
coisas que estão a acontecer”.
As tais muitas coisas que estão a acontecer não são
enunciadas por BB mas é fácil de perceber porque redundam sempre no mesmo: no modo como se produz riqueza e se
distribui e no capitalismo, imperialismo, globalização etc etc..
BB acredita no comunismo, ainda hoje porque sim: “revejo-me no
PC”.
Portanto, há um “mundo” em BB e pessoas semelhantes que são
muitas e se revêem num sistema de ditadura em que uns tantos
iluminados do Partido único, com tendência para se perpetuarem no exercício do
poder, mandam politicamente nos demais cidadãos.
N o exercício desse poder, de partido único, há uma
necessidade imperiosa de cercearem liberdades que os sistemas democráticos
ocidentais consideram fundamentais. A
liberdade de expressão de pensamento não conta como valor, porque é cerceada
pela censura efectiva e real, permanente e actuante. A liberdade de circulação,
reunião e associação é igualmente cerceada de modo grave e claro, uma vez que
não se admitem partidos que professem ideologias “fascistas” nem partidos que
simplesmente tenham por missão assegurar uma alternância das pessoas que estão
a excecer o poder.
A liberdade de confissão religiosa fica limitadíssima quando
a doutrina oficial do Estado é o ateísmo.
A liberdade individual de iniciativa privada fica desde logo reduzida ao
mínimo na medida em que toda a propriedade é do Estado. A produção de bens
passa a ser função do Estado, com toda a lógica daí decorrente.
Este sistema político, com muitas mais características, como
por exemplo uma ferocíssima repressão policial sobre qualquer dissidente da
linha justa do Partido foi a realidade vivida por milhões de cidadãos durante
décadas na antiga URSS e nos países do bloco de Leste.
Baptista Bastos a estes factos responde com os conceitos
aludidos porque ainda acredita na eficácia de tal sistema, para impedir “as
muitas coisas que estão a acontecer”.
Há porém várias contradições que atentam contra a lógica
mais elementar.
Quem defende um sistema político deste jaez que autoridade
moral tem para condenar um sistema político como o que existia antes de 25 de
Abril de 1974 em Portugal? Nenhuma, claro.No entanto, paradoxalmente são eles quem se acha no direito moral de vituperar o "fascismo" e de tornar tal luta a bandeira para os que " não apaguem a memória". Neste caso, das prisões fascistas, da repressão fascista e da ditadura fascista, como proclamam, sem qualquer pejo ou vergonha.
A admiração por um sistema em tudo semelhante ao verdadeiro
fascismo não deveria alertar qualquer consciência inteligente para a
incongruência e monstruosidade da contradição?
A própria vituperação do “fascismo”, apontado como sendo o
sistema político do Estado Novo não deveria fazer corar de vergonha sempre que
tal ideia é expressa, como o faz BB ao referir-se ao “fascismo”? Estas ideias e argumentos, tipicamente comunistas vêm já dos anos 50 ( no tempo da II Guerra, Estaline fez um pacto de não agressão com Hitler, coisa que não gostam de lembrar...) e são agora replicadas nos mesmíssimos termos de então pelos comunistas que conseguiram que outros não comunistas as adoptassem de igual maneira.
E então porque continuam a mostrar aquela fé inabalável na
crença contraditória? Porque são estúpidos e maus? Nem tanto. São apenas sonhadores da utopia
que se contentam com “ a ideia” e desprezam os factos que lhes destruiria a
ideia sonhadora.
Enquanto desprezam o “fascismo”, idolatram o comunismo que partilha com aquela
ideologia os métodos de exercício de poder. Tudo se passa como se o fascismo,
ao qual associam regimes como o de Salazar e Caetano que pouco tiveram a ver
com o verdadeiro fascismo, fosse o Mal absoluto e indiscutível perante o qual
ou aparência do mesmo, tudo fica explicado
e injustificável.
O fascismo é a palavra mágica para se encontrarem no lugar
imaginário que ocupam e com ela argumentam para delimitar fronteiras.
Designando o regime de Salazar como fascista não precisam de
nada mais para o desacreditarem e relegarem para os regimes hediondos da
História. Como Salazar de facto prendia quem fazia propaganda subversiva em
nome do comunismo, perseguindo nos terríveis Tribunais Plenários e condenando
quem a praticava de facto ( e não consta que houvesse erros judiciários nessa
matéria) tanto basta para a diabolização completa e sem remissão do regime.
Se lhes fizerem ver que os tribunais da antiga URSS e os
métodos de obtenção de confissões e as condenações em reclusão em campos de
concentração ( Gulag) ou em hospitais psiquiátricos para toda a vida, foram coisas que aconteceram, em modo muito mais terrível que por cá, mesmo com tarrafais, tais factos são relegados em primeiro
lugar para a propaganda fascista e em segundo, se as evidências se tornarem
indesmentíveis para os “exageros” revolucionários ou a relativização dos
encarceramentos vitalícios.Ou então se lhes fizerem notar os milhões de mortos estalinistas, a resposta aparece rápida com a comparação dos milhões de mortos à fome nos países capitalistas.
Há uns anos foi publicado um Livro Negro do Comunism. Pouco depois aparecia a resposta com um Livro Negro do Capitalismo, como se a lógica fosse a mesma.
A menção ao fascismo de Salazar serve para arredar qualquer discussão sobre o Estado Novo, mas a menção à repressão de cariz verdadeiramente fascista nos países de Leste é-lhes indiferente como tema de argumentação. E esta "ideia" fez caminho durante as últimas décadas em Portugal, tornando o partido Comunista uma força política "democrática" e consensual, relegando para o esquecimento o programa, as ideias escritas trimestralmente no O Militante, arrancadas das catacumbas do comunismo mais serôdio e fossilizado e que contradizem plenamente aquele ideário tacticamente exposto para a democracia ver e deixar passar.
Há uns anos foi publicado um Livro Negro do Comunism. Pouco depois aparecia a resposta com um Livro Negro do Capitalismo, como se a lógica fosse a mesma.
A menção ao fascismo de Salazar serve para arredar qualquer discussão sobre o Estado Novo, mas a menção à repressão de cariz verdadeiramente fascista nos países de Leste é-lhes indiferente como tema de argumentação. E esta "ideia" fez caminho durante as últimas décadas em Portugal, tornando o partido Comunista uma força política "democrática" e consensual, relegando para o esquecimento o programa, as ideias escritas trimestralmente no O Militante, arrancadas das catacumbas do comunismo mais serôdio e fossilizado e que contradizem plenamente aquele ideário tacticamente exposto para a democracia ver e deixar passar.
Estes factos não têm a menor consequência lógica no pensar
comunista, na “ideia” comunista que continua pura e bela como sempre a
entenderam: "De igualdade,
de fraternidade, de equidade. De trabalho". E os comunistas como Baptista Bastos são os detentores da patente ideológica desta ideia que não cedem a mais ninguém, e muto menos à horrenda Direita que é, naturalmente, o oposto.
Provavelmente, como acreditam piamente nesta patranha com décadas ideológicas em cima e já com a patine necessária para se tornar "ideia-feita", desdenham todos os factos e acontecimentos históricos que a desmentem. E arranjam argumentos sediciosos para conseguirem conviver com a contradição fatal: vão buscar as ditaduras da América latina ou o sistema económico e de saúde americano ( como se os pobres na antiga URSS tivessem a mínima hipótese...) e lá se acomodam às contradições porque subjaz sempre a bela ideia a raiar na imaginação dos amanhãs a cantar.
Será isto uma loucura? É. Só pode ser porque não tem explicação razoável e racional.
E é isto que se torna terrível. Porque pessoas como Baptista
Bastos há-as aos milhares em Portugal e a figura simbólica de tudo isso e do
terror comunista, Álvaro Cunhal anda a ser transformado em herói nacional por
essas escolas fora.
Na crónica que o jornal lhe publica, hoje, Baptista Bastos dá exactamente a ideia que se lhe atravancou definitivamente nas meninges que lhe protegem o pensamento fossilizado. Sá Carneiro visto por BB só poderia ser um...fascista. Aliás, como o PCP de Cunhal o classificava em 1979.
Será isto apenas terrível e patético? Não, é perigoso também porque deriva de um sectarismo sem remédio. Mais ainda: o PCP fartou-se de fazer destes "saneamentos" do partido e sempre teve os "controleiros" para zelarem pela ortodoxia dos comportamentos. Logo que saem do Partido, os apóstatas são considerados traidores ( Mário Soares é um deles) e nunca perdoados democraticamente. Que o diga Zita Seabra.
Baptista-Bastos não sabe disso? Então por que se indigna com a expulsão de um militante de um partido que acha de "direita"? Não foi isso, exactamente o que o Partido fez sempre aos seus militantes desalinhados da "linha justa"? E na URSS tal desalinho, nos anos estalinistas tinha que consequências? Um Tarrafal? Não: a morte. BB não sabe que era assim?
Baptista-Bastos não sabe disso? Então por que se indigna com a expulsão de um militante de um partido que acha de "direita"? Não foi isso, exactamente o que o Partido fez sempre aos seus militantes desalinhados da "linha justa"? E na URSS tal desalinho, nos anos estalinistas tinha que consequências? Um Tarrafal? Não: a morte. BB não sabe que era assim?