Jean-François Kahn é um jornalista francês como por cá não temos. Costumo ler o que escreve nas revistas francesas, como a Marianne que J-FK ajudou a fundar em 1997 e foi o seu primeiro director.
Um dos temas recorrentes nas análises de J-FK é a opinião unificada no jornalismo, ou seja, o jornalismo "meme", ou "même", em francês.
Em 23 de Abril de 2001 a revista chamava a esse fenómeno "o clan dos clones", sendo este um tema recorrente ( em 24 de Novembro de 1997 escrevia mesmo sobre " a ditadura mediática" de 30 jornalistas que controlavam o pensamento mediático).
Esta semana a revista de que já não faz parte como director, entrevistou-o a propósito de um livro sobre os "media", "L´horreur médiatique" onde mais uma vez denuncia o pensamento único do discuros uniforme. A entrevista aproveitou o tema do presidente François Hollande ter aparentemente alterado o rumo político inicial, para o questionar sobre esse fenómeno.
J-FK acha que os jornalistas franceses na generalidade até melhoraram a qualidade individual, mas o sistema em que se encotram inseridos é implacável. " Há uma espécie de peso opressivo e oprimente que se abate colectivamente sobre os juízos particulares. Vive-se entre si, na mesma cidade, sociologicamente homogeneizada, frequentemente com a mesma evolução, da esquerda da esquerda até à aceitação da orotodoxia neoliberal embrulhada no papel kraft de um neo-sessenta-e-oitismo social de conforto. Pouco a pouco elaborou-se uma "doxa" da qual se tem a impressão de nunca mais ser possível o afastamento".
Esta análise assente que nem luva na sociedade mediática portuguesa do jornalismo "meme".
Nada melhor para aferir este estado de coisas que a escrita jornalistica sobre Cunhal e o "anti-fascismo".
Em 30 de Junho de 1988, Jean-François Kahn, então director do semanário L´´Evenement du jeudi, um lançamento também da sua responsabilidade, alguns anos antes ( nessa altura ia no n´º 191), escreveu um pequeno ensaio de vinte e quatro páginas sobre Estaline, numa altura em que Gorbatchov encaminhava a sua perestroika para o derrube do muro e a queda dos regimes comunistas de Leste.
Em Portugal houve quem escrevesse sobre Estaline, mas duvido que tenha feito do mesmo modo e com a qualidade jornalística ali demonstrada. Aquando da queda do Muro talvez alguém o tenha feito mas depois disso...nicles.
Por cá, nessa altura, ainda havia o "respeitinho" ao líder do PCP que ideologicamente nunca saiu de cena. Cunhal foi um dos maiores estalinistas de que há memória no movimento comunista internacional e o PCP um dos partido que se manteve fiel ao espírito original do comunismo. Pode dizer-se que assim resistiu ao tempo e não desapareceu, como outros; mas pode igualmente dizer-se que este fóssil civilizacional é um quisto na democracia, apesar de se declarar fiel ao regime. Não é adepto da democracia burguesa e apenas a tolera por uma questão táctica, tendo aprendido com o "pai dos povos" que fez alianças despudoradas com o nazismo e o fascismo italiano.
Em 1950, aquando do discurso ideológico de Álvaro Cunhal no tribunal Plenário que o condenou, Estaline ainda era vivo e cada vez mais paranóico, segundo consta. São estas memórias que os que não querem apagar a memória esquecem...
Cunhal então via o argueiro do "fassismo" mas não se dava conta da trave que se lhe atravancava defronte do bestunto. Tal como os antifassistas de agora.
Ora então relembre-se quem foi Estaline e o que representou.