Na sequência da "rebelião" dos 30 jornalistas do DN, passados depois a "grupo dos 24" porque alguns se arrependeram, houve cobras e lagartos vermelhos na direcção do PC., perdão, DN, com o futuro Nóbél a assegurar a ortodoxia das orientações correctas. Em "plenário" de trabalhadores da empresa ENP ( Empresa Nacional de Publicidade) com uma representatividade duvidosa ficou deliberada a suspensão dos dissidentes da linha justa do DN. Ficaram à espera de um processo disciplinar que os colocaria na rua do desemprego, porque o PCP não brinca em serviço político.
No livro de Pedro Marques Gomes, conta-se assim, a manobra política orquestrada pelo PCP:
Contudo este episódio do DN foi mais um a juntar a outros, como o chamado "caso República", já versado em ensaios, mas nunca inteiramente esclarecido nos seus contornos precisos, com o PCP por trás, sempre por tràs, a aproveitar a situação política, em 1975.
Contextualizando:
Em 13 de Janeiro o República dava páginas ao problemas sindical da unicidade versus unidade, ou seja à tentativa do PCP organizar em torno da sua central sindical, a CGTP-Intersindical, correia de transmissão política ( em 74-75 passaram a existir greves contra-revolucionárias...), todo o controlo dos sindicatos portugueses. Nem o Salazar sonhou com tal feito... O PS queria um sindicalismo democrático, ou seja, em que tivesse também a sua central sindical de infuência ( que era e é a UGT, agora com o Silva empregado do BES que não corta o bigode nem que a vaca tussa) e o PCP queria totalizar o assunto numa espécie de nova confraria corporativa, sem margem para dissensões e sujeita ao respeitinho partidário e às ordens do Partido. Foi este problema que se espelhou nos vários conflitos laborais e políticos, com destaque para os dos jornalistas, maioritariamente de Esquerda e provavelmente de extrema que apelidavam os comunistas de "social-fascistas".
Quando estalou o caso República, o PCP pôs-se logo de lado e a sacudir a água do capote. No caso, em concreto, punha-se o problema de os trabalhadores da parte gráfica quererem mandar efectivamente na orientação redactorial do jornal que era dirgido pelo velho maçónico anticlericalista atávico, Raul Rego, de boina sempre em riste. Ou seja, era um jornal do PS e assim queria continuar a ser pela banda do velho maçónico e dos camaradas do largo do Rato. O problema é que os tipógrafos e outros trabalhadores, não eram e muitos eram comunistas e alguns afectados pela terrível doença infantil do comunismo extremista ( que seria curada a seu devido tempo com o remédio estalinista de comprovado efeito, mas já fora de prazo). Assim gerou-se o conflito tratado aqui e lá fora. Aqui o Jornal Novo de 22 de Maio de 1975 dava uma imagem.
Soares, coitado, queixava-se amargamente. Cunhal, defendia-se...como sucedia no Expresso dessa altura. "O PCP nada tem a ver com o caso República". Cunhal valia-se de uma entrevista em França de um dirigente do PS português. Sobre uma célebre entrevista, um ano antes, à jornalista italiana Oriana Falacci em que dizia que Portugal nunca seria uma democracia de tipo ocidental e europeu ou coisa que o valha, desmentiu-a. Por isso mesmo... Cunhal dizer que não tinha mesmo nada a ver, valia o que valia. E por isso o comunista José Jorge Letria ( depois passado para o PS e eventualmente Maçonaria) saiu do jornal e passou...para onde? Diário de Notícias, voilà. Onde já estava o futuro Nóbél.
É preciso dizer que nesta altura já tinha havido eleições para " a Constituinte" e o PS tinha-as ganho com quase 40% dos votos. seguido do PPD e depois o PCP com quase 11%. Estes 11% porém, eram apenas um sinal. O Partido julgava-se então o maior da cantareira nacional e o PREC iria acelerar até Novembro. Jornal Novo de 28 de Abril de 1975, em que se dá conta do aparecimento de um novo jornal: O Jornal, com letra graficamente pequena e jornalistas agremiados numa espécie de cooperativa, dirigidos por Joaquim Letria, irmão do José Jorge comunista. Um jornal que se pretendia independente, de esquerda e que comprei desde o número um porque era graficamente um mimo, desde o primeiro número. Era o nosso Le Nouvel Observateur em papel de jornal.
No âmbito jornalístico disputaram-se eleições para a direcção do Sindicato, em pleno momento de crise do DN, com o Nóbél a dirigir de facto ( O director de direito, Luís de Barros, agora no Diário Económico e que parece que não se lembra disto porque é assunto tabu, se calhar) estava de férias, no Algarve e os comunistas não têm férias para estas coisas...).
O Expresso de 9 de Agosto de 1975 mostrava que havia duas listas em "confronto". O confronto era entre o PCP e os demais, e entre os demais estavam "fascistas" e socialistas "democráticos" e ainda, principalmente, os afectados irremediavelmente pela doença infantil de que muitos só se curaram muito tarde e a más horas. Alguns ficaram com sequelas ( Pacheco Pereira, por exemplo). A lista dos "outros" ganhou e Mário Contumélias, um "peesse" hesitante, lá liderou as hostes. Foram tomar "posse", à casa de Mário Castrim, um dos comunistas mais retintos da época. Estava doente e por isso deu-lhes "posse" com a assinatura da acta de reunião, no corredor do seu sexto andar ( a foto está no outro postal abaixo).
O Jornal de 15 de Agosto de 1975 dizia que a nova direcção era "contra as censuras".
Estas "censuras" afinal vinham de onde menos se esperaria: do próprio MFA, ou melho do seu Conselho da Revolução já completamente dominado pelo esquerdismo afecto ao PCP. Por isso, a Censura era já de rigor conjecturado que isso de Liberdade é coisa muito séria para ser deixada a doentes infantis.
O Jornal de 12 de Setembro de 1975 mostra como essa Liberdade era um caso sério entre estes democratas de pacotilha comunista. O jornal Tempo que era naturalmente "fascista", "reaccionário" e sério candidato a proibição futura, foi simplesmente boicotado na "luta" dos revolucionários contra o CR . O jornal não tinha direito a solidarizar-se nessa luta porque nessa reunião de representantes de trabalhadores de vários órgãos de informação foi recusada a adesão daquele jornal "dada a disposição de não se permitir que reaccionários se tentem aproveitar da sua luta para fins contra-revolucionários". Era isto a Liberdade, em 1975. Em 1973 era maior, provavelmente, mesmo com Censura.
E como é que disto dá conta um dos protagonistas desta tentativa de assalto do PCP ao poder total, de seu nome José Jorge Letria, agora muito manso e quedo, num PS ledo e cego que o alcandorou a lugares de prestígio tipo Sociedade Portuguesa de Autores?
No seu livro de memórias confessa que "e tudo era possível". Porém, sobre o assunto é como gato por cima de brasas, a correr e sem muitas memórias concretas. Porém ,estas memórias é que também não se deviam apagar tão depressa...