domingo, dezembro 27, 2015

O obituário pela revista do Público




Estas duas páginas de prosa corrida, no Público de hoje,  acerca do fim da revista semanal do Público deixam-me indiferente porque não me convencem de nada que tenha interesse.

São da autoria de Alexandra Lucas Coelho que se diz jornalista e escreve como se fosse ensaísta de circunstância, uma especialidade de alguns jornalistas que deixaram de redigir notícias, para ensaiar em "colunas" de imprensa,  ideias sobre assuntos que julgam interessar   leitores do jornal.

Li o artigo do princípio ao fim, a fim de encontrar no mesmo uma razão plausível para a decadência do jornal que ao longo dos anos foi perdendo leitores e anunciantes respectivos. Não encontrei, porque as razões aduzidas são desculpas de quem não entende o essencial: o jornal Público e em particular a "coluna" da jornalista interessam cada vez menos gente que ainda se ocupa a comprar e ler jornais. Comprar, acima de tudo, como costumo fazer e fiz neste caso.

Um jornal não deve ser um sítio onde alguns jornalistas blasé(es) espalham a sua idiossincrasia particular sobre tudo e o habitual par de botas.
Esse desentendimento básico da profissão tem sido a cova de muitos projectos e vai ser mais uma para este Público, apesar da "jornalista" apontar como desejo  a alternativa do mecenato puro e simples para esse exercício solipsista, comparando-se aos projectos mirabolantes vindos de algures, num exercício de mendicidade ao grupo Sonae que incomoda.

Já o escrevi aqui: o actual jornalismo do Público não presta. O do Correio da Manhã é muito melhor e não arma ao pingarelho todos os dias, com artigos de fundo para ninguém ler.
Essa realidade comezinha não entra na cabecinha pensadora destas jornalistas que continuam a desejar um cantinho que lhes garanta a vida de todos os dias, com ordenado certo, escrevendo opiniões que ninguém lê porque não interessam a ninguém.

Os leitores de jornais estão fartos de opiniões avulsas de pretensiosos, pedantes e ignorantes, no fim de contas. Preferem a opinião muito contada de quem sabe mesmo escrever com distinção e que provaram ao longo dos anos saberem dizer alguma coisa que explique a realidade circundante.

Os circunlóquios  de conceitos vazios apenas se toleram em quem sabe escrever superiormente e se destaca dos demais, precisamente porque deixam de o ser devido a essa questão de forma. Um Baptista Bastos, por exemplo e para não referir um Ferreira Fernandes,  é um cicunloquial que tem um estilo legível e que aprendeu a escreve ao redigir notícias.  O que escreve geralmente pouco presta como conceito mas aproveita-se na forma e no estilo para lhe emprestar a dimensão de crónica interessante.
Nem todos podem ser assim, mesmo querendo e isso é um problema insolúvel para quem o não entenda. Um drama.

O Público, como está, pode acabar porque pouca falta faz à tal democracia que a escriba-jornalista entende associar em quase antonomásia.
A democracia parece que exige respeito por ideias diversas e controversas e o Público não respeita as ideias políticas que vigoravam por cá, antes de 1974. Essa marca de intolerância diminui a tal democracia e por isso o Público não é exemplo dela  e não se deve arvorar em bandeira da mesma.

O Público assumiu que a Esquerda é a democracia e fora dela só existe outra coisa a que chama "fascismo" ou algo que o valha. Ora isso nem chega a ser democracia alguma que se proclame nesses termos.

Só um exemplo, entre vários: no passado dia 25 de Novembro, os 40 anos da efeméride de 1975 foram silenciados em consonância com a conveniência da actual democracia parlamentar. Isso é censura mas o Público nem deu por ela.

Logo a seguir, sobre o caso Banif tenho procurado artigos que expliquem devidamente e o Público não os tem. É preciso ir a outros locais para ler alguma coisa que explique. Mas tem muitas coisas sobre "o Costa", sempre em tom de positivismo entusiástico. A questão do apartamento do dito na Avenida da Liberdade não lhe interessa. A questão dos direitos de autor e do IRS devido, idem aspas. Fosse outro o inquilino no lugar do poder e o galo a cantar até incomodaria os vizinhos.

É esse outro pecado original do Público: politizou-se como jornal e isso nota-se à légua. Sem necessidade alguma, mas com oportunidade de quem não sabe fazer jornalismo de outra forma.

É por isso que não presta e se acabar não se notará nada, porque quem escreve bem encontrará outro poiso para dizer o que pensa.
Os demais que aprendam com o Correio da Manhã que não precisa de Lucas Coelho para lhe explicarem o óbvio: quem sabe, faz; quem não sabe, ensina...

Questuber! Mais um escândalo!