quinta-feira, dezembro 10, 2015

O Estado e a corrupção segundo o Correio da Manhã


Ontem realizou-se em Lisboa uma conferência sobre a Corrupção, sob a égide da Polícia Judiciária.
Estiveram presentes algumas pessoas ligadas ao sistema judiciário e tal foi notícia de telejornal.
À noite,  a RTP3 com o jornalista José Rodrigues dos Santos ( devia ir para a direcção do Público...) convidou três pessoas que supostamente sabem do que falam, uma delas o director do DCIAP, Amadeu Guerra. Não disse nada de especialmente importante porque padece do mesmo problema que afecta os magistrados: um medo atávico em falar demais e sempre com a preocupação em demarcar-se de perguntas sobre "processos em concreto".  Deviam aprender com os brasileiros e não vale a desculpa do segredo de justiça...

Ora o que se passou na conferência é de alguma forma mostrado pelo Correio da Manhã de hoje que faz em duas páginas uma resenha que outros não sabem ( Público e i) ou não podem ( DN e JN) fazer.

Um dos destaques é dado ao inspector da PJ Teófilo Santiago, já reformado e que se indignou, justamente, por causa da presença de um figurão do actual governo- Vieira da Silva- ao lado da actual ministra da Justiça, Francisca Van Dunem, assim em muito má companhia. Tal figurão sobre corrupção poderia dizer mais do que muitos, mas o que disse há uns anos foi que a investigação criminal da PJ, do caso Face Oculta, fez espionagem política ao escutar alguns socialistas como José Sócrates e Armando Vara. Será que a ministra subscreveu tais afirmações, na altura em que era PGD de Lisboa?

Euclides Dâmaso, um magistrado do MºPº que tem dedicado muita atenção ao fenómeno disse que "temos uma cultura judiciária de timidez perante a corrupção".  Não referiu o caso concreto, recente, da absolvição de Lurdes Rodrigues mas podia tê-lo feito, não fosse a tal timidez...
Eduardo Dâmaso fá-lo hoje numa pequena crónica na revista Sábado.

O que está aqui nestas duas páginas dava para escrever muitas mais. Principalmente sobre conexões pessoais entre as pessoas mostradas, o exemplo que nos vem do Brasil e a necessidade de vencer aquela timidez que não deve constituir obstáculo para entrar na porta dos que têm poder efectivo, mesmo no interior do Judiciário. E há alguns, como Euclides Dâmaso saberá e que tem escapado entre os pingos da chuva por causa dessa timidez que eu chamaria outra coisa: temor reverencial...


4 comentários:

JReis disse...

Excelente dica, JRS para o Público.

josé disse...

Não iria porque se calhar quer tempo livre para escrever best-sellers...

JReis disse...

Já está muito escaldado pelo PS e agora com aquela cretinice parlamentar com o Costa primeiro ministro em titulo é que não vai mesmo.
No postal anterior esqueci de mencionar que Eduardo Dâmaso está ao nível de VPV e JMT , aquela crónica sobre o conluio de Jornalistas, magistrados, Etc. foi de antologia.

Maria disse...

Excelentes artigos e pequenos apontamentos do C. da M. que o José reproduziu hoje (sem esquecer todos os que tem vindo a reproduzir ao longo dos meses, para não dizer anos). Li-os agora mesmo. Não fora este jornal e nada saberíamos do que realmente interessa aos portugueses polìticamente descomprometidos, no que à corrupção política diz respeito. Eu, que deixei de comprar jornais já vai para muitos anos (com a excepção d'O Diabo) aprecio-os francamente.

Obs.: Secundando o comentador JReis, também acho que VPV e JMT seriam duas boas aquisições jornalísticas em que o C.da M. deveria pensar sèriamente, contratando-os como cronistas ou articulistas, pois iriam enriquecer bastante o seu naipe de colaboradores e òbviamente elevar o prestígio que o próprio jornal já grangeou sobretudo (e refiro-me especìficamente a esta temática que é a única que me interessa) pelas importantes investigações que tem vindo a fazer ao longo dos anos com especialíssimo destaque para o Processo Casa Pia, sem descurar estes últimos e não menos importantes casos de mega-corrupção em que Sócrates (e muitos socialistas de topo a ele chegados) esteve envolvido.

Parabéns ainda ao seu Director (Director-adjunto?), que vi aqui há uns meses no Prós e Contras, pela sua criteriosa e inteligente contra-arguentação, especialmente em relação aos argumentos falhos de razoabilidade e de credibilidade de Miguel Sousa Tavares, deixando este sem resposta. Pena não lhe ter sido dado mais tempo de antena, como soe dizer-se.

A obscenidade do jornalismo televisivo