O coleccionador de jornais, papéis velhos e parafernália política, Pacheco Pereira, apresentou um livro sobre Álvaro Cunhal, essa figura do nosso comunismo embalsamado. O fascínio daquele coleccionador para com a figura esquiva de Cunhal assume feição patológica e já vai no quarto volume.
O mais preocupante, porém, é a atracção fatal que este ersatz esquerdista assume para outras figuras da intelligentsia nacional.
No lançamento da nova opus, segundo se conta no sítio do Expresso estiveram figuras como Marcelo Rebelo de Sousa, Vasco Lourenço e Irene Pimentel.
A Esquerda, em Portugal está de pedra e cal. Por dentro está podre. A defesa da invasão soviética da Checoslováquia, por Cunhal, em 1968, é apresentada como uma mera opção política de natureza aceitável e até, quiçà, recomendável.
A Liberdade, nisto tudo? Mero pormenor. Com Cunhal todo o respeito é devido e por isso "isso agora não interessa para nada". O que interessa é a "cultura" do nome, da figura do fenómeno. A essência do assunto, essa, é coisa de somenos.
Marcelo Rebelo de Sousa, no seu afã de conquistar esta Esquerda e os votos futuros, nem hesita em dar-lhe toda a cobertura.
Porca miseria!
Expresso online:
Cunhal defendeu a invasão soviética da Checoslováquia em 1968, não porque não simpatizasse com as tentativas de renovação dos comunistas checos mas por mero pragmatismo.
Mais importante para ele que experiências de renovação do socialismo era que a União Soviética prevalecesse, porque sem a força desta o movimento comunista internacional passaria por enormes dificuldades. Mais que algum seguidismo, relativamente a Moscovo, foi um raciocínio geoestratégico que prevaleceu. Imagine-se, portanto, o choque que terá sido para ele a queda do muro de Berlim e a derrocada da URSS.
Esta foi uma das ideias focadas por Pacheco Pereira na apresentação do quarto volume da biografia de Álvaro Cunhal. O local escolhido pelo seu simbolismo, o Forte de Peniche, prisão política do salazarismo, de onde Cunhal e outros dirigentes do PCP fugiram em 1961.
Dificilmente se conseguiria reunir um grupo tão numeroso e heterogéneo como este, disse Pacheco Pereira, aludindo à presença na sala do candidato presidencial Marcelo Rebelo de Sousa, do ministro da Cultura João Soares, do militar de Abril Vasco Lourenço, da historiadora Irene Pimentel, o filósofo Eduardo Lourenço e de muitas outras dezenas de figuras da vida política intelectual portuguesa.