quarta-feira, maio 04, 2016

A desinformação e a propaganda, uma marca PS

Jornal i de hoje, já repenicado aqui:



Está bom de ver: o PS que governa em geringonça não quer desvios ao discurso oficioso que passa quotidianamente nas tv´s. Em todas as tv´s, através dos redactores das notícias, dos comentadores avençados ou não.
Ontem, Pacheco Pereira, convidado da Lourença, agora na tv do Estado, RTP3,  disse coisas inacreditáveis e insuportáveis para uma inteligência mediana ouvir, sobre a situação política e económica do país. A culpa é do Passos e da Europa que agora nos quer obrigar a mais austeridade quando este PS do Costa já tinha prometido o contrário...

Para desgraça dessa estratégia de sempre parece que o jornalista José Rodrigues dos Santos não faz coro com esta propaganda descarada e pretende falar como tal, ou seja como jornalista, contando os factos e tentando interpretá-los do modo como os observa. Terá dito alguma asneira? Terá errado na análise? Não sou economista e os galambas e magalhães já malham no indivíduo como em centeio verde.
Não me lembro de haver uma reacção destas quando Passos governava, aos inúmeros comentadores das quadraturas de círculo do PS e quejandos. E a hegemonia do discurso era evidente nas tv´s. Nem assim tiraram a vitória eleitoral ao Passos...mas enfim.

Este modo de proceder é o habitual no PS e José Rodrigues dos Santos tem o tempo contado a apresentar telejornais. Se fosse no tempo de Mário Soares  ou de Proença de Carvalho (e para o caso tanto faz porque são mistela ideológica da mesmíssima pipa)  já nem lá estava.

Assim, talvez seja interessante ler este resumo do que é a nossa desgraça, da autoria de um indivíduo que no Domingo tive o prazer de cumprimentar na Tema, dando-lhe os parabéns pelo que escreve:

Rui Ramos, no Observador:

A “geringonça” funciona, diz o primeiro-ministro. Talvez. Mas a que custo? Começámos a descobrir ontem: segundo a Comissão Europeia, o Estado português não vai, este ano, conseguir dar aos seus credores provas de que está a evoluir na direcção de finanças sustentáveis, isto é, de que não precisará de continuar a abusar do crédito para pagar salários, pensões e serviços. Há quem esteja convencido de que este caminho de previsões formidáveis, derrapagem na despesa e medidas adicionais só pode culminar num desastre, sob a forma apocalíptica de um novo resgate, como em 2011.

Talvez convenha admitir que não. O governo parece esperar que a União Europeia, carregando mais ou menos na “austeridade”, nunca deixará cair Portugal, como ainda não deixou cair a Grécia. Tudo seria, portanto, uma questão de malabarismo. E há condições para esse malabarismo. Na última sexta-feira, na Assembleia da República, com cinco anos de atraso, o PCP e o BE aprovaram finalmente o PEC 4 – através do expediente de impedir que houvesse votação. Em Março de 2011, comunistas e bloquistas abraçaram-se com a direita para derrubar o PS; agora, escolheram o governo e os seus PEC. António Costa pode assim reatar com o tipo de governação que José Sócrates iniciou em 2010: uma escalada de Programas de Estabilidade (entre 2010 e 2011, foram quatro em pouco mais de um ano), enquanto ao mesmo tempo anuncia “qualificações” e “investimentos”. Vai ser o socratismo sem Sócrates, mas com Jerónimo de Sousa e Catarina Martins.

Em 2011, com os mercados à solta, a maré dos juros subiu e houve que deitar mão à boia da Troika. Mas este ano, com os mercados a dormir o sono do BCE, o ambiente é mais propício. Agora, quando as obrigações a 10 anos sobem “vertiginosamente”, andam nos 3%; em 2011, a média foi de 13%. Nestes números, está tudo o que é preciso saber sobre o funcionamento da geringonça: há a folga que faltou em 2011 para maquilhar a austeridade.

As facturas vão aparecendo, como a do imposto sobre os produtos petrolíferos. Mas por enquanto, chega a cuidadosa separação entre o que se diz em público em Portugal e o que se diz em segredo na Europa. Já foi a estratégia de Sócrates em 2010-2011. E quando se tornar óbvio que o crescimento económico nunca será mais do que uma previsão estival e for necessário largar as repartições de finanças às canelas do país? Que se faz então? Faz-se o que tem feito o Syriza: um confronto arrastado com a Europa, sem rupturas mas com muita atitude, de modo a trespassar as responsabilidades para Bruxelas e a empurrar todos os críticos para a esquina vergonhosa da traição à pátria. A certa altura, a população cansar-se-á. Mas cansar-se-á com todos, e não apenas com o governo, o que dará à geringonça margem para persistir, como o Syriza na Grécia.

O que é pior? Em 2011, o plano da Troika tinha muitas asperezas, mas prometia a redenção, uma vez cumpridas certas metas (que andaram sempre a ser revistas). Era suposto ser um tormento com prazo definido. O plano do Syriza tem mais a ver com o mito de Sísifo: é a crise como nova normalidade, e a luta como modo de vida. Tal como a Grécia, teremos Portugal oficialmente declarado um caso perdido, um país onde um europeu do norte poderá passar férias de praia ou um fundo de risco americano realizar algum lucro desesperado, mas que de resto servirá apenas para o PCP e o BE nunca mais acabarem de ter razão sobre a perversidade do “imperialismo europeu”. Já o disse: os portugueses estão destinados a descobrir que há destinos piores do que o do resgate de 2011.

6 comentários:

JReis disse...

Pacheco ontem a comentar com a Lourença foi totalmente degradante.O povo sai da escola e é necessário continuar a sua educação esquerdalha e Pacheco é um autêntico especialista na educação de adultos.

Floribundus disse...

pacheco não perdoa
não ter sido ministro

diz-se que na aliança entertainer-monhé um escorpião anda com outro às cavalitas

já estamos a pagar a factura será mais pesada depois da greve da estiva

semanalmente pelos mesmos alimentos pago mais 10% desde o início do ano

Merridale and Ward disse...

O José Rodrigues dos Santos tem razão, mas esqueceu-se de Cavaco Silva, pois foi ele que deixou o Sócrates fazer o que fez:

http://historiamaximus.blogspot.pt/2016/03/cavaco-silva-trinta-anos-de-snobismo.html

Unabomber disse...

O brutal aumento da divida publica não nasceu com o 44 em 2005, mas sim em 2009 com a crise financeira internacional.
A divida publica cresceu brutalmente em Portugal, mas também cresceu brutalmente nos EUA e no RU, que não são propriamente socialistas.

josé disse...

O JRS não disse tal coisa e explica bem isso numa entrevista ao i de hoje.

lidiasantos almeida sousa disse...

Senhor José, uma fonte inesgotável de conhecimento, e ainda por cima é francofono como eu. Coisa rara no Portugal actual. Vou enviar-lhe um estudo sobre o estudo das mãos. Penso que goste da ciência da quirologia. É apenas a introdução. Se gostar mando mais, no caso não conhecer. Por favor pode esclarecer-me se correcto dizer FRANCÓFONO OU FRANCÓFILO. Obrigada e bom fim de semana.

Não poso enviar pois está registado no scanner. Vou ver se tem e-mail.

O Público activista e relapso