Já caiu o carmo por causa disso e agora está prestes a cair-lhe em cima a trindade santa da intelectualidade lusa, o nacional-intelectualismo no seu esplendor.
Um dos actuais báculos ambulantes de tal intelligentsia escreveu hoje no Público um artigo que procura acima de tudo desfeitear o autor da tirada bombástica. Chama-se António Araújo e tem um blog-Malomil.
Não gosto do tom da lição algo pedante e que esportula citações em vez de humildade discursiva para mostrar o eventual erro.
De resto não rebate com suficiente lucidez a ideia básica daquele: as ideias marxistas precederam os fascismos e foram o seu berço.
E qual o ponto de apoio principal do argumento daquele jornalista que escreve livros de grande sucesso? Georges Sorel e o escrito Réflexions sur la violence, de 1908. Fui ver à wiki, o que deve ser um pecado grave segundo o nacional-intelectualismo vigente e li que o Sorel, marxista terá sido um dos mentores ideológico de Mussolini. Estará errado? Só a o nacional-intelectualismo poderá dizer, através da consulta em slow reading no recato das bibliotecas.
Num exercício notável ( porque relativamente raro) de contraditório oportuno, o citado autor também responde a perguntas sobre o tema, reafirmando a tese dos seus livros: o fascismo é filho do marxismo.
Independentemente da razão ou não que lhe possa assistir ( e tendo a entender que não) a verdade é que o tema introduzido por José Rodrigues dos Santos deveria ser melhor explicado pelos próceres do nacional-intelectualismo em vez de lhe desfazerem o canastro recheado de best sellers e dinheiro no banco ( será uma ponta de inveja, o tal mal nacional?).
Para melhor esclarecimento ainda no ano corrente saiu em França em Abril-Maio de 2016, a GEOHistoire que trazia um estudo alargado sobre o tema do nazismo e das suas raízes. Começa com uma entrevista a um professor da Sorbonne, Jean Chapoutot que dedicou muito do seu tempo a estudar o nazismo e a sua história.
E terá interesse em ver-se uma evolução diacrónica do fenómeno nazi em gestação já durante o tempo do Kaiser, ou seja muito antes de Hitler aparecer com o seu Mein Kampf.
E terá eventualmente interesse saber quem poderá ter sido o inspirador directo de tal livro maldito e das suas ideias que peregrinavam há séculos na Alemanha. Eckart, que morreu em 1923, é o mentor das ideias extremistas e anti-semitas que vão inundar o livro de Hitler.
Porém, o Partido dos Trabalhadores Alemães ( Deutsche arbeiterpartei) que originou o NDSAP ( não surgiu com Hitler, mas com Anton Drexler. E um dos direigentes do NDSAP, Otto Strasser até se gabaria de nunca ter lido o Mein Kampf. E que pretendia este mais o irmão Gregor, no NDSAP? Precisamente aproximar o nazismo do socialismo, ou pelo menos das preocupações sociais a fim de seduzir o operariado...
Aliás, aquele tentou mesmo meter no símbolo fascista o martelo comunista...para cativar os trabalhadores. Será por isso que surgem os equívocos?
Seja como for, o nazismo é ideologia mais complexa e profunda. E assenta em bases mais antigas em que o racismo era um dos fundamentos supostamente científicos. Como o comunismo...
Finalmente: quem pretende ensinar História num artigo de jornal, em vez de usar o báculo deveria apresentar recortes. Sempre se lêem melhor.
Sobre José Rodrigues dos Santos deve dizer-se que a OBS desta semana lhe dá quatro páginas e duas são assim:
Estas coisas provocam efeitos. Espero que não seja o caso...