Observador:
O Governo escrutinou currículos em vários ministérios e detectou mais uma falsa licenciatura, que deu em exoneração nos Assuntos Parlamentares. Ainda houve outra saída por causa de uma nota curricular.
E já vão quatro...se fosse com o Passos tínhamos governo em questão, por causa das aldrabices em série. Neste caso nem o inenarrável e intocável Pedro Nuno Santos sai nem alguém o convida a sair.
quarta-feira, novembro 30, 2016
Um tartufo na pele de humorista à força
Por causa desta entrevista que a revista Visão de hoje dá à capa...
...fui comprar este livrinho que custa um pouco mais de uma dúzia de euros e tem 118 páginas incluindo um índice remissivo das citações cotadas de autores célèbres.
Depois de ler o índice, em folheio avulso das páginas ocorreu-me uma ideia abducente e que revigorou a curiosidade após ter lido umas passagens esparsas do Falsfaff do bardo do "ser ou não ser" colocadas em quatro páginas do opúsculo pensado em citações.
Então fui refolhear uma obra antiga que tenho há precisamente 40 anos: Le mot d´esprit et ses rapports avec l´inconscient, de 1905 e da autoria de um reputado judeu de Viena que se dedicou ao estudo da psicanálise. A edição original da Gallimard ( aqui em edição de bolso nrf) é de 1930 e foi revista pelo autor, então ainda vivo.
O índice batia certo com o contexto...e volteei as folhas com afã de descoberta da careca a este tartufo.
Passada meia hora de pesquisa...nada de careca, até agora.
A páginas 18-19 até traz a referência à obra...para dizer em resumo muito resumido de tal forma que lhe capa o resumo todo que "Freud vê no riso uma forma de descarga de energia psíquica, aquela energia que, não sendo libertada, anda entretida a reprimir as emoções".
O que leio na obra de Freud sobre o assunto é um pouco mais complexo e deixa-me a pensar se as demais citações estão no contexto certo ou se o pedantismo já chegou à Madeira...
Portanto, apesar de tudo recomendo o opúsculo que até traz citações de Miguel Esteves Cardoso, num micro ensaio sobre a "merda" e que o psicanalista de Viena não conheceu...
...fui comprar este livrinho que custa um pouco mais de uma dúzia de euros e tem 118 páginas incluindo um índice remissivo das citações cotadas de autores célèbres.
Depois de ler o índice, em folheio avulso das páginas ocorreu-me uma ideia abducente e que revigorou a curiosidade após ter lido umas passagens esparsas do Falsfaff do bardo do "ser ou não ser" colocadas em quatro páginas do opúsculo pensado em citações.
Então fui refolhear uma obra antiga que tenho há precisamente 40 anos: Le mot d´esprit et ses rapports avec l´inconscient, de 1905 e da autoria de um reputado judeu de Viena que se dedicou ao estudo da psicanálise. A edição original da Gallimard ( aqui em edição de bolso nrf) é de 1930 e foi revista pelo autor, então ainda vivo.
O índice batia certo com o contexto...e volteei as folhas com afã de descoberta da careca a este tartufo.
Passada meia hora de pesquisa...nada de careca, até agora.
A páginas 18-19 até traz a referência à obra...para dizer em resumo muito resumido de tal forma que lhe capa o resumo todo que "Freud vê no riso uma forma de descarga de energia psíquica, aquela energia que, não sendo libertada, anda entretida a reprimir as emoções".
O que leio na obra de Freud sobre o assunto é um pouco mais complexo e deixa-me a pensar se as demais citações estão no contexto certo ou se o pedantismo já chegou à Madeira...
Portanto, apesar de tudo recomendo o opúsculo que até traz citações de Miguel Esteves Cardoso, num micro ensaio sobre a "merda" e que o psicanalista de Viena não conheceu...
terça-feira, novembro 29, 2016
A triste realidade: Portugal falido pelo socialismo
RR:
É preciso pôr os pés na realidade e deixar de ter ilusões. O crescimento económico de 1,5% previsto pelo Governo de António Costa para 2017 está longe de ser suficiente, dizem dois economistas alemães.
Portugal está “falido”, diz Thomas Mayer. Segundo o ex-economista chefe do Deutsche Bank, é preciso chamar os “bois pelos nomes”. Basta olhar para a dívida pública portuguesa, superior a 130% do Produto Interno Bruto (PIB).
Se não fosse o rating acima de “lixo” de uma agência de notação financeira, a DBRS, Portugal estaria em maus lençóis, constata Mayer.
“Assim que a DBRS reduzir o rating, Portugal deixa de se conseguir financiar no mercado”, sublinha.
É preciso pôr os pés na realidade e deixar de ter ilusões. O crescimento económico de 1,5% previsto pelo Governo de António Costa para 2017 está longe de ser suficiente, dizem dois economistas alemães.
Portugal está “falido”, diz Thomas Mayer. Segundo o ex-economista chefe do Deutsche Bank, é preciso chamar os “bois pelos nomes”. Basta olhar para a dívida pública portuguesa, superior a 130% do Produto Interno Bruto (PIB).
Se não fosse o rating acima de “lixo” de uma agência de notação financeira, a DBRS, Portugal estaria em maus lençóis, constata Mayer.
“Assim que a DBRS reduzir o rating, Portugal deixa de se conseguir financiar no mercado”, sublinha.
segunda-feira, novembro 28, 2016
Cuba livre e outros cocktails
A "pedido de várias famílias" aqui ficam uns recortes do Diário de Lisboa de 2 de Dezembro de 1973 acerca da Cuba de Fidel Castro e o que a oposição no exílio, em Miami , fazia na época para reverter a situação na ilha.
A reportagem é de Joaquim Letria, o futuro ( dali a ano e meio) fundador de O Jornal, também um dos jornalistas que julgaram ser tudo possível depois do 25 de Abril de 1974.
O Diário de Lisboa dessa época prè-revolucionária já tinha como director o revolucionário do PREC, A. Ruella Ramos, um sectário comunista que também dirigiu o Sempre Fixe então relançado e um dos bastiões da extrema-esquerda ortodoxa e não alinhada em partidos.
O jornal desse dia, um Domingo, tinha capa e suplemento a cores o que era notável para a época e o nosso meio de imprensa, relativamente pobre mas em franca evolução. Depois disso foi sempre a descer em qualidade gráfica até à época das vacas gordas da CEE.
O Diário Popular também já tinha suplementos a cores e por isso a concorrência sentia-se, embora a impressão do DL fosse bem melhor.
Quanto ao teor informativo é o que se pode ler. A reportagem poderia ter sido realizada hoje...o que é dizer muito do nosso género jornalístico de artefactos criados para entreter o público leitor e no fim de contas desinformar objectiva e regularmente.
Julgo que este Joaquim Letria foi o mesmo que depois disse do seu O Jornal ser um periódico que não metia notícias na gaveta. Nem precisava porque as tinha guardadas no sótão ideológico do politicamente correcto que nunca abandonou.
A última página era isto, exemplo máximo do politicamente correcto com travo artsy ao estilo do Público:
Como jornalista do género "enviado especial" a diversos locais, também lá estava Nuno Rocha, o futuro fundador do Tempo e que nesta edição assina uma reportagem de uma viagem à...Roménia .
Na altura e até 1989 a Roménia foi um dos países comunistas mais típicos, mais pobres e mais atrasados do Leste e que tinha como dirigentes o casal Ceausescu, ogres do seu próprio povo e que foram lapidados no decurso da revolução contra o comunismo.
Nuno Rocha reportou especialmente, além do mais que até dói ao ler que a Roménia era "um país sem polícias", o que antecipava o que sempre pensei do seu jornalismo e que me levou a comprar muito poucas vezes o produto que depois lançou, O Tempo, logo em 1975.
Curiosamente era este jornalismo que a Censura deixava estupidamente passar, sendo absoluta propaganda cripto-comunista enroupada em crónica de viagens que mistificava completamente a realidade de um país como a Roménia comunista era. A propaganda ideal, pois então, escrita por Nuno Rocha que dali a tempos estava supostamente a combater o comunismo no Tempo...
A reportagem é de Joaquim Letria, o futuro ( dali a ano e meio) fundador de O Jornal, também um dos jornalistas que julgaram ser tudo possível depois do 25 de Abril de 1974.
O Diário de Lisboa dessa época prè-revolucionária já tinha como director o revolucionário do PREC, A. Ruella Ramos, um sectário comunista que também dirigiu o Sempre Fixe então relançado e um dos bastiões da extrema-esquerda ortodoxa e não alinhada em partidos.
O jornal desse dia, um Domingo, tinha capa e suplemento a cores o que era notável para a época e o nosso meio de imprensa, relativamente pobre mas em franca evolução. Depois disso foi sempre a descer em qualidade gráfica até à época das vacas gordas da CEE.
O Diário Popular também já tinha suplementos a cores e por isso a concorrência sentia-se, embora a impressão do DL fosse bem melhor.
Quanto ao teor informativo é o que se pode ler. A reportagem poderia ter sido realizada hoje...o que é dizer muito do nosso género jornalístico de artefactos criados para entreter o público leitor e no fim de contas desinformar objectiva e regularmente.
Julgo que este Joaquim Letria foi o mesmo que depois disse do seu O Jornal ser um periódico que não metia notícias na gaveta. Nem precisava porque as tinha guardadas no sótão ideológico do politicamente correcto que nunca abandonou.
A última página era isto, exemplo máximo do politicamente correcto com travo artsy ao estilo do Público:
Como jornalista do género "enviado especial" a diversos locais, também lá estava Nuno Rocha, o futuro fundador do Tempo e que nesta edição assina uma reportagem de uma viagem à...Roménia .
Na altura e até 1989 a Roménia foi um dos países comunistas mais típicos, mais pobres e mais atrasados do Leste e que tinha como dirigentes o casal Ceausescu, ogres do seu próprio povo e que foram lapidados no decurso da revolução contra o comunismo.
Nuno Rocha reportou especialmente, além do mais que até dói ao ler que a Roménia era "um país sem polícias", o que antecipava o que sempre pensei do seu jornalismo e que me levou a comprar muito poucas vezes o produto que depois lançou, O Tempo, logo em 1975.
Curiosamente era este jornalismo que a Censura deixava estupidamente passar, sendo absoluta propaganda cripto-comunista enroupada em crónica de viagens que mistificava completamente a realidade de um país como a Roménia comunista era. A propaganda ideal, pois então, escrita por Nuno Rocha que dali a tempos estava supostamente a combater o comunismo no Tempo...
domingo, novembro 27, 2016
O jornalismo português impresso, televisivo e radiofónico é um ESCÂNDALO!
Ou uma grande porcaria, como demonstram os obituários e articulo mortis sobre Fidel Castro.
Nem um jornalista de imprensa, rádio e televisão se atreveu a mencionar o óbvio ululante, como diria o brasileiro Nelson Rodrigues: um ditador é um ditador e um ditador sanguinário é isso mesmo e não um herói do povo. Quem chacina milhares dos seus concidadãos, por mor de uma ideia política importada e já com provas dadas na altura de ser totalitária não merece o título de herói a não ser por aqueles que ainda acreditam nessa ideia, nesses métodos e nessa política.
O jornalismo português aprendeu com aqueles que acreditavam nisso tudo e não tiveram tempo, ainda, de se reciclarem mentalmente e repensarem essas idiotices e começarem a pensar pela própria cabeça.
O resultado é o que vemos com os adelinos farias e tutti quanti.
Nem um jornalista de imprensa, rádio e televisão se atreveu a mencionar o óbvio ululante, como diria o brasileiro Nelson Rodrigues: um ditador é um ditador e um ditador sanguinário é isso mesmo e não um herói do povo. Quem chacina milhares dos seus concidadãos, por mor de uma ideia política importada e já com provas dadas na altura de ser totalitária não merece o título de herói a não ser por aqueles que ainda acreditam nessa ideia, nesses métodos e nessa política.
O jornalismo português aprendeu com aqueles que acreditavam nisso tudo e não tiveram tempo, ainda, de se reciclarem mentalmente e repensarem essas idiotices e começarem a pensar pela própria cabeça.
O resultado é o que vemos com os adelinos farias e tutti quanti.
Fidel? Não tenho pachorra...
Sobre a morte de Fidel Castro, Jerónimo de Sousa do PCP disse em nome dos "camaradas portugueses" que o Comité Central sentia um "profundo pesar". O cripto-líder Arménio Carlos disse mais: "foi o líder histórico de uma revolução que prossegue um caminho próprio".
Catarina Martins do BE afinou pelo mesmo diapasão: "Um grande homem da revolução cubana, uma revolução vitoriosa"
Os socialistas não saíram do seu registo e pela voz do governante Santos Silva disseram que "é uma personalidade histórica de Cuba cuja morte devemos lamentar".
José Manuel Fernandes colocou os pontos nos iii, sem mastigar frases de circunstância:
"Há muito que Fidel Castro não era uma figura deste tempo. Não por estar doente e afastado do poder, que passara ao irmão, mas por representar uma utopia há muito desacreditada, a utopia marxista-leninista, e a mais trágica das ilusões do século passado, a ilusão comunista."
(...)
"Esta duplicidade moral da esquerda pode ser ilustrada com uma provocação simples, mas verdadeira: o regime de Castro matou muito mais opositores do que o regime de Pinochet; Castro, ao contrário de Pinochet, nunca permitiu uma consulta livre sobre o seu destino político, nem abandonou o poder respeitando a vontade popular; Castro encontrou uma Cuba corrupta mas economicamente dinâmica e deixa-a empobrecida e corrompida pelos mesmos males que vituperou, como prostituição, enquanto Pinochet recuperou a economia chilena, ainda hoje a mais dinâmica de toda a América Latina. Castro não deveria por tudo isso merecer mais condescendência do que a tolerância zero que justamente dedicamos à ditadura chilena."
Cuba não é exemplo de nada para ninguém, mas os mitos continuam a alimentar essa esquerda fóssil.
Aquela ilusão comunista ainda hoje é defendida e partilhada pelo PCP, pelo BE e amplamente ajudada pelo PS que apesar de a não defender continua a partilhar o cama com aqueles fósseis.
Isto é a nossa tragédia nacional que se representa há cerca de 40 anos no palco social e político. Agora já é uma farsa, mas com virtualidades de se tornar outra vez tragédia, se o permitissem as circunstâncias e o tempo.
De todos os escritos que hoje li sobre o assunto o que mais me enoja é o do Público. Pela pena de um tal Fernando Sousa o branqueamento de Fidel Castro é de tal ordem que até suja o papel. O máximo que chega na História negra desse tipo particular de comunismo é aos anos 2000 e aos casos mediáticos das prisões de dissidentes.
O resto é hagiografia pura e com uma tónica comum que é dada pelo comunista Domingos Lopes, assim:
Imagino o que seria o jornal se o obituário a fazer fosse o de Salazar.
sexta-feira, novembro 25, 2016
25 de Novembro de 1975: o fim da balbúrdia do PREC, apenas.
Hoje passa mais um aniversário do "25 de Novembro", celebrado como o dia da derrota dos comunistas e por isso mesmo completamente silenciado oficialmente pelas forças da Geringonça. Compreende-se porque é assim que contam a História: censurando e silenciando quando não obliterando.
Do outro lado do espectro político este dia é o símbolo do regresso aos "brandos costumes" uma vez que estava concluída a tarefa principal que era a entrega dos territórios ultramarinos.
Esta visão dos acontecimentos pretende provar demais, uma vez que o que aconteceu nesses dias, em Portugal, poderia ter desencadeado uma guerra civil de consequências imprevisíveis, atenta a correlação de forças já existente.
A Direita portuguesa tinha partido para o exílio mental, como ainda agora se pode confirmar e portanto os poucos que ficaram e não perderam a lucidez talvez não fossem suficientes para travar o avanço revolucionário da loucura do PREC. A Igreja não tinha tanques e meia dúzia de comandos não chegariam para várias dúzias de suv´s, em termos numéricos.
Se tais suv´s conseguissem convencer os moderados de que a revolução seria a favor dos pobres e desfavorecidos e contra os ricos de cartola e empresas exploradoras, torna-se muito duvidoso concluir que a meia dúzia suplantasse as grosas inteiras de loucura revolucionária em curso.
O que aconteceu foi por isso fruto da mais pura sensatez e ao mesmo tempo da sorte das ocasiões, como aliás aconteceu no dia 25 de Abril de 74: os moderados afastaram os radicais mas não expulsaram o veneno instilado no país e ainda toleraram a manutenção das raízes do mal, regando-as copiosamente nos anos a seguir. A Direita ausente nunca se recompôs porque já não existia. E foi esse o drama que ainda perdura.
Na altura essa Direita organizava-se informalmente à volta de uma fogueira na Rua e pouco mais que em 1977 vendia pouco mais de trinta mil exemplares na rua. Os seus acólitos debandaram para paragem incerta e muitos terão mesmo virado a casaca, traindo pacatamente os ideais.
Esta Direita envergonha o país que fomos mas não há volta a dar porque nem sequer tem meios para denunciar publicamente a História que depois nos passaram a impingir nos media em geral. Marcello Caetano queixou-se disso no Depoimento, Memórias e Confidências que contou no exílio e por isso é caso arrumado.
Esta Direita nem meios tem, sequer, para reeditar os Discursos de Salazar...em seis volumes. Quem os quiser ler terá de os comprar em alfarrabistas, o que é dizer quase tudo.
Assim, uma relembrança do passado nunca fez mal a ninguém, hoje que ninguém quer lembrar, oficialmente o que se passou, para não haver incómodo público. E assim todos se calam e nenhum jornal lembra a efeméride.
O mais caricatural deste relato sumário dos acontecimentos reside na circunstância de o VI Governo Provisório ter entrado em "greve", em 20 de Novembro de 1975, o que originou que um grupo de intelectuais esquerdistas que integravam o famigerado MUTI decidisse processar o Governo, apelando a uma lei "fassista" e afinal já revogada nessa altura: o cómico, o trágico e ridículo associados. No manifesto de lançamento do tal MUTI apareceram cerca de 400 personalidades. Algumas ainda andam por aí...como o desaparecido cantor Tordo, que nem por ter acabado a austeridade, regressou, mas deve estar a reaparecer.
De resto o que os jornais então contaram serve para mostrar o que se passou:
O Jornal de 21 de Novembro de 1975 espelhava numa opinião o que se passava: um país à beira de um confronto e isso já depois da independência de Angola. O PREC não terminou com tal acontecimento.
Logo a seguir aos acontecimentos surgiram as interpretações. A do PCP de Álvaro Cunhal é curiosa...
...porque consistiu num mero "golpe de rins:
O PS de Mário Soares em vez de pôr um ponto final na aventura da geringonça da época, expulsando o PCP do Governo, nada fez por isso e criticou quem o defendia :
O PSD de Sá Carneiro ficou isolado...
Mas havia outras interpretações, mormente da tal Direita envergonhada e neste caso dirigida por Vitorino Nemésio, outro esquecido do tempo "Se bem me lembro":
E foi assim que o PREC continuou em modo mais suave, tendo como compagnon de route o PS de sempre, agora no poder para distribuir benesses pelos seus apaniguados habituais, constituindo uma classe política que é a que ainda temos, sem tirar nem pôr, com o advento da aventura de Macau.
Em 1976, dali a meia dúzia de meses foi a epifania que ainda hoje o PCP celebra: a aprovação de uma Constituição democrática que nos garantia que caminhávamos ainda para a "sociedade sem classes". Ipsis verbis.
E até os social-democratas davam vivas à coisa muito democrática que nos garantia o "socialismo", "mediante a criação de condições para o exercício democrático do poder pelas classes trabalhadoras".
Em 1978, porém, Marcello Caetano publicou uma edição ( a 4ª, revista e aumentada) da sua obra de estudo sobre as Constituições portuguesas e não tinha dúvidas: quem mandava, ainda nessa altura, era o Conselho da Revolução.
O qual só acabou, extinguindo-se de vez, em...1982. Porque o PS assim o quis...
Expresso, 13.3.1982:
Do outro lado do espectro político este dia é o símbolo do regresso aos "brandos costumes" uma vez que estava concluída a tarefa principal que era a entrega dos territórios ultramarinos.
Esta visão dos acontecimentos pretende provar demais, uma vez que o que aconteceu nesses dias, em Portugal, poderia ter desencadeado uma guerra civil de consequências imprevisíveis, atenta a correlação de forças já existente.
A Direita portuguesa tinha partido para o exílio mental, como ainda agora se pode confirmar e portanto os poucos que ficaram e não perderam a lucidez talvez não fossem suficientes para travar o avanço revolucionário da loucura do PREC. A Igreja não tinha tanques e meia dúzia de comandos não chegariam para várias dúzias de suv´s, em termos numéricos.
Se tais suv´s conseguissem convencer os moderados de que a revolução seria a favor dos pobres e desfavorecidos e contra os ricos de cartola e empresas exploradoras, torna-se muito duvidoso concluir que a meia dúzia suplantasse as grosas inteiras de loucura revolucionária em curso.
O que aconteceu foi por isso fruto da mais pura sensatez e ao mesmo tempo da sorte das ocasiões, como aliás aconteceu no dia 25 de Abril de 74: os moderados afastaram os radicais mas não expulsaram o veneno instilado no país e ainda toleraram a manutenção das raízes do mal, regando-as copiosamente nos anos a seguir. A Direita ausente nunca se recompôs porque já não existia. E foi esse o drama que ainda perdura.
Na altura essa Direita organizava-se informalmente à volta de uma fogueira na Rua e pouco mais que em 1977 vendia pouco mais de trinta mil exemplares na rua. Os seus acólitos debandaram para paragem incerta e muitos terão mesmo virado a casaca, traindo pacatamente os ideais.
Esta Direita envergonha o país que fomos mas não há volta a dar porque nem sequer tem meios para denunciar publicamente a História que depois nos passaram a impingir nos media em geral. Marcello Caetano queixou-se disso no Depoimento, Memórias e Confidências que contou no exílio e por isso é caso arrumado.
Esta Direita nem meios tem, sequer, para reeditar os Discursos de Salazar...em seis volumes. Quem os quiser ler terá de os comprar em alfarrabistas, o que é dizer quase tudo.
Assim, uma relembrança do passado nunca fez mal a ninguém, hoje que ninguém quer lembrar, oficialmente o que se passou, para não haver incómodo público. E assim todos se calam e nenhum jornal lembra a efeméride.
O mais caricatural deste relato sumário dos acontecimentos reside na circunstância de o VI Governo Provisório ter entrado em "greve", em 20 de Novembro de 1975, o que originou que um grupo de intelectuais esquerdistas que integravam o famigerado MUTI decidisse processar o Governo, apelando a uma lei "fassista" e afinal já revogada nessa altura: o cómico, o trágico e ridículo associados. No manifesto de lançamento do tal MUTI apareceram cerca de 400 personalidades. Algumas ainda andam por aí...como o desaparecido cantor Tordo, que nem por ter acabado a austeridade, regressou, mas deve estar a reaparecer.
De resto o que os jornais então contaram serve para mostrar o que se passou:
O Jornal de 21 de Novembro de 1975 espelhava numa opinião o que se passava: um país à beira de um confronto e isso já depois da independência de Angola. O PREC não terminou com tal acontecimento.
Logo a seguir aos acontecimentos surgiram as interpretações. A do PCP de Álvaro Cunhal é curiosa...
...porque consistiu num mero "golpe de rins:
O PS de Mário Soares em vez de pôr um ponto final na aventura da geringonça da época, expulsando o PCP do Governo, nada fez por isso e criticou quem o defendia :
O PSD de Sá Carneiro ficou isolado...
Mas havia outras interpretações, mormente da tal Direita envergonhada e neste caso dirigida por Vitorino Nemésio, outro esquecido do tempo "Se bem me lembro":
E foi assim que o PREC continuou em modo mais suave, tendo como compagnon de route o PS de sempre, agora no poder para distribuir benesses pelos seus apaniguados habituais, constituindo uma classe política que é a que ainda temos, sem tirar nem pôr, com o advento da aventura de Macau.
Em 1976, dali a meia dúzia de meses foi a epifania que ainda hoje o PCP celebra: a aprovação de uma Constituição democrática que nos garantia que caminhávamos ainda para a "sociedade sem classes". Ipsis verbis.
E até os social-democratas davam vivas à coisa muito democrática que nos garantia o "socialismo", "mediante a criação de condições para o exercício democrático do poder pelas classes trabalhadoras".
Em 1978, porém, Marcello Caetano publicou uma edição ( a 4ª, revista e aumentada) da sua obra de estudo sobre as Constituições portuguesas e não tinha dúvidas: quem mandava, ainda nessa altura, era o Conselho da Revolução.
O qual só acabou, extinguindo-se de vez, em...1982. Porque o PS assim o quis...
Expresso, 13.3.1982:
quinta-feira, novembro 24, 2016
As mulheres não mudaram assim tanto, em 50 anos...
A RTP3 pela voz de Ana Lourenço comemorou a efeméride dos 50 anos do Código Civil, circunscrevendo o tema ao assunto da mulher e a diferença entre o tempo actual e o de então, com ênfase na discriminação das mulheres em relação aos homens.
Para comentar o tema convidou um professor de direito de família e...Cândida de Almeida, agora no STJ e que falou da dificuldade em ser magistrada nesse tempo de discriminação feminina.
Enquanto falava reparei que levantava um pouco o lábio superior do lado direito, ao mesmo tempo que piscava intermitentemente o olho do mesmo lado, fazendo rebrilhar a tonalidade das rosáceas da face, demasiado esticadinhas e polidas para a idade da dita.
Enfim, nada mudou em 50 anos e afinal aparecem a falar em discriminações. A natureza é o que é, sendo que a das mulheres não mudou nada de nada. E a prova vi-a agora mesmo.
A ironia do destino é essa: não há código que altere a essência feminina. Podem exercer as profissões todas, ganhar o mesmo ou mais que o resto continua tudo igual. E ainda bem.
Para comentar o tema convidou um professor de direito de família e...Cândida de Almeida, agora no STJ e que falou da dificuldade em ser magistrada nesse tempo de discriminação feminina.
Enquanto falava reparei que levantava um pouco o lábio superior do lado direito, ao mesmo tempo que piscava intermitentemente o olho do mesmo lado, fazendo rebrilhar a tonalidade das rosáceas da face, demasiado esticadinhas e polidas para a idade da dita.
Enfim, nada mudou em 50 anos e afinal aparecem a falar em discriminações. A natureza é o que é, sendo que a das mulheres não mudou nada de nada. E a prova vi-a agora mesmo.
A ironia do destino é essa: não há código que altere a essência feminina. Podem exercer as profissões todas, ganhar o mesmo ou mais que o resto continua tudo igual. E ainda bem.
Secretos na grelha...
O Ministério Público terá um inquérito pendente e tendente a averiguar o que se passou nos serviços secretos nos últimos anos, sob a intendência de Júlio Pereira, por sinal magistrado do MºPº.
O antigo agente que esta semana foi condenado em primeira instância abriu uma página do livro para dizer que os serviços secretos são um antro de ilegalidades. Rui Pereira, o antigo ministro da pasta e maçon discreto, disse em tempos que se assim fosse seria muito grave...
Como Silva Carvalho será ouvido obrigatoriamente em tal inquérito esperam-se resultados a breve trecho...até porque o MºPº terá em mãos um manual apócrifo que documentará o que aquele diz agora à boca-cheia, depois do magnífico trabalho dum jornalista do Expresso, com cabeça de catatua.
Será essa mais uma coroa de glória do jornalismo-expresso.
O antigo agente que esta semana foi condenado em primeira instância abriu uma página do livro para dizer que os serviços secretos são um antro de ilegalidades. Rui Pereira, o antigo ministro da pasta e maçon discreto, disse em tempos que se assim fosse seria muito grave...
Como Silva Carvalho será ouvido obrigatoriamente em tal inquérito esperam-se resultados a breve trecho...até porque o MºPº terá em mãos um manual apócrifo que documentará o que aquele diz agora à boca-cheia, depois do magnífico trabalho dum jornalista do Expresso, com cabeça de catatua.
Será essa mais uma coroa de glória do jornalismo-expresso.
A memória de Salazar interessa a muito poucos.
O Diário de Notícias destacou hoje na primeira página:
E no interior escreveu isto sobre o espólio de Salazar entregue ao cuidado da autarquia local que fundamenta a acção em julgamento:
Este assunto de Salazar encontra eco em Santa Comba Dão, mas quem lá vai ainda pode ver estes painéis de azulejo no muro do adro de uma igreja:
Confesso que fiquei admirado quando lá vi isto, no início deste ano.
Afinal, no "adro" da casa da Justiça agora há isto, um memorial da "guerra colonial":
Porém, há quase 40 anos, em 10 de Fevereiro de 1978 ainda se podia ver isto:
A memória de Salazar, do que escreveu ( os seus discursos em seis volumes ninguém mais os reeditou e mereciam tal atenção) e do que deixou interessa pouco a muito pouca gente porque os media e a inteligentsia preferem afinar pelo diapasão do discurso socialista e comunista que cilindrou ao longo de décadas todas as referências positivas à obra do maior vulto do século XX português.
Incrível!
No Vimieiro, terra natal de Salazar, mesmo junto à sua casa de morada enquanto jovem e adolescente, existe uma escola-modelo ( que serve de pano de fundo à foto, acima, no DN, do sobrinho-neto de Salazar, Rui Melo) cuja história da respectiva construção merecia ser contada e relembrada.
A história da construção desta escola merecia um livro. Mas não das flunsers ou rosas, claro.
O património arquitectónico que pertenceu a Salazar e foi entregue aos cuidados da Câmara local, esse, encontrava-se assim, nessa altura...
E no interior escreveu isto sobre o espólio de Salazar entregue ao cuidado da autarquia local que fundamenta a acção em julgamento:
Este assunto de Salazar encontra eco em Santa Comba Dão, mas quem lá vai ainda pode ver estes painéis de azulejo no muro do adro de uma igreja:
Confesso que fiquei admirado quando lá vi isto, no início deste ano.
Afinal, no "adro" da casa da Justiça agora há isto, um memorial da "guerra colonial":
Porém, há quase 40 anos, em 10 de Fevereiro de 1978 ainda se podia ver isto:
A memória de Salazar, do que escreveu ( os seus discursos em seis volumes ninguém mais os reeditou e mereciam tal atenção) e do que deixou interessa pouco a muito pouca gente porque os media e a inteligentsia preferem afinar pelo diapasão do discurso socialista e comunista que cilindrou ao longo de décadas todas as referências positivas à obra do maior vulto do século XX português.
Incrível!
No Vimieiro, terra natal de Salazar, mesmo junto à sua casa de morada enquanto jovem e adolescente, existe uma escola-modelo ( que serve de pano de fundo à foto, acima, no DN, do sobrinho-neto de Salazar, Rui Melo) cuja história da respectiva construção merecia ser contada e relembrada.
A história da construção desta escola merecia um livro. Mas não das flunsers ou rosas, claro.
O património arquitectónico que pertenceu a Salazar e foi entregue aos cuidados da Câmara local, esse, encontrava-se assim, nessa altura...
Well, well, well...
Há muito que MEC não brindava os leitores com uma crónica deste calibre, publicada no passado dia 17 no Público:
O Presidente da República foi ao Palácio de Buckingham ver a Rainha. A visita e a conversa foram registadas num vídeo de alta definição que está, por exemplo, no site do PÚBLICO.
Depois de lhe dar um beijinho na mão, o Presidente desatou a falar. Contou à Rainha que se lembrava das duas visitas de Estado que ela tinha feito a Portugal. Na primeira, em 1957, Marcelo observa: “I was a child.” A Rainha, agradecendo a referência à diferença de idade entre eles (ela tem 90 anos, ele faz 68 em Dezembro), conseguiu, sabe-se lá como, interrompê-lo e respondeu, com ironia majestática: “I’m sure you were.”
O Presidente Marcelo continuou: “In Terreiro do Paço, you know, that big square.” A Rainha, mostrando as suas boas maneiras, mas querendo também pô-lo no lugar, disse um longuíssimo “yeeeesss…” (tradução: “Não faço a mais pequena ideia do que está a falar”).
O Presidente intuiu que a Rainha já visitou muitos big squares ao longo da vida e decidiu avivar-lhe a memória: “And the carriage…” E a Rainha, entrando em royal repetition mode, num tom “Nós não acreditamos no que nos está a acontecer”, murmurou: “The carriage…”
Aí o Presidente recorreu ao rigor: “With General Craveiro Lopes…” Aí a Rainha, ouvindo o nome do grande general, deve ter sido inundada por recordações daquele dia maravilhoso à beira-Tejo.
É então que o Presidente revela tudo: “I was there, in the front row!” E a Rainha: “Were you?” Mas o Presidente Marcelo ainda não tinha terminado: “And then, in 85, I was invited for dinner on Britannia…” E a Rainha, ao lembrar-se do iate real que lhe tiraram e já tendo desistido de qualquer manobra de disuassão, limita-se a repetir: “Were you?…”
Fulminante, e sem perder uma batida, o Presidente explica: “Because I was leader of the opposition…”
Infelizmente o vídeo termina aqui, abruptamente. Se calhar a Rainha perdeu a paciência e disse ao Presidente: “Oh, do shut up, for God’s sake!” O mais provável é a Rainha ter continuado a registar a excitação de ouvir estas recordações do Presidente com mais um “Were you?”, enquanto executava a complexa manobra diplomática de andar para trás, passo a passo, até escapar do salão.
Miguel Esteves Cardoso nunca terá o lugar de um Pedro Mexia...
O Presidente da República foi ao Palácio de Buckingham ver a Rainha. A visita e a conversa foram registadas num vídeo de alta definição que está, por exemplo, no site do PÚBLICO.
Depois de lhe dar um beijinho na mão, o Presidente desatou a falar. Contou à Rainha que se lembrava das duas visitas de Estado que ela tinha feito a Portugal. Na primeira, em 1957, Marcelo observa: “I was a child.” A Rainha, agradecendo a referência à diferença de idade entre eles (ela tem 90 anos, ele faz 68 em Dezembro), conseguiu, sabe-se lá como, interrompê-lo e respondeu, com ironia majestática: “I’m sure you were.”
O Presidente Marcelo continuou: “In Terreiro do Paço, you know, that big square.” A Rainha, mostrando as suas boas maneiras, mas querendo também pô-lo no lugar, disse um longuíssimo “yeeeesss…” (tradução: “Não faço a mais pequena ideia do que está a falar”).
O Presidente intuiu que a Rainha já visitou muitos big squares ao longo da vida e decidiu avivar-lhe a memória: “And the carriage…” E a Rainha, entrando em royal repetition mode, num tom “Nós não acreditamos no que nos está a acontecer”, murmurou: “The carriage…”
Aí o Presidente recorreu ao rigor: “With General Craveiro Lopes…” Aí a Rainha, ouvindo o nome do grande general, deve ter sido inundada por recordações daquele dia maravilhoso à beira-Tejo.
É então que o Presidente revela tudo: “I was there, in the front row!” E a Rainha: “Were you?” Mas o Presidente Marcelo ainda não tinha terminado: “And then, in 85, I was invited for dinner on Britannia…” E a Rainha, ao lembrar-se do iate real que lhe tiraram e já tendo desistido de qualquer manobra de disuassão, limita-se a repetir: “Were you?…”
Fulminante, e sem perder uma batida, o Presidente explica: “Because I was leader of the opposition…”
Infelizmente o vídeo termina aqui, abruptamente. Se calhar a Rainha perdeu a paciência e disse ao Presidente: “Oh, do shut up, for God’s sake!” O mais provável é a Rainha ter continuado a registar a excitação de ouvir estas recordações do Presidente com mais um “Were you?”, enquanto executava a complexa manobra diplomática de andar para trás, passo a passo, até escapar do salão.
Miguel Esteves Cardoso nunca terá o lugar de um Pedro Mexia...
quarta-feira, novembro 23, 2016
O espólio de Salazar não interessa ao establishment
Um sobrinho-neto de Salazar exige a devolução de bens do antigo presidente do Conselho que estão em depósito na Câmara de Santa Comba Dão ou o pagamento de 324 mil euros, no âmbito de um julgamento que começa na quinta-feira.
Depois de, em Maio, ter decorrido uma audiência prévia deste processo, o início do julgamento ficou marcado para quinta-feira de manhã, no Tribunal de Viseu.
Rui Salazar de Lucena e Melo, sobrinho-neto da figura maior do Estado Novo, explicou à agência Lusa que em causa estão bens que entregou à Câmara após 2006 e relativamente aos quais nunca chegou a ser feita uma escritura de doação, ao contrário de outros bens, entregues antes de esta data e cuja doação foi efectuada.
Segundo Rui Salazar, "em 2002 e em 2005 foram depositados na Câmara determinados bens que eram da herança do professor Salazar, e não só", relativamente aos quais foi feita uma escritura de doação em maio de 2006.
Entre esses bens estava "material filatélico, numismático, medalhística, objectos vários, revistas, jornais, documentos, mapas e livros", explicou.
A Câmara de Santa Comba Dão recebeu também, por doação, um terço dos bens imóveis da herança da família de Salazar, que era natural da freguesia de Vimieiro, naquele concelho.
Também relativamente a estes bens imóveis "está tudo certo", porque foi feita escritura de doação a 17 de maio de 2006, esclareceu.
Rui Salazar explicou que o processo que agora começa a ser julgado se prende com o que entregou à Câmara, para depósito, após 2006, ou seja, em Novembro e Dezembro de 2007, em Setembro de 2008 e em Janeiro de 2009.
Nestas datas, entregou mais "livros, jornais, revistas, mapas, material filatélico, numismático, medalhística e objectos vários", com a intenção de, posteriormente, ser feita uma escritura de doação, o que nunca chegou a acontecer.
"O presidente de Câmara que estava (João Lourenço) não deu origem a escritura nenhuma. O actual (Leonel Gouveia) chegou, nem sequer me chamou para oficializar esse depósito que estava na Câmara, o que me leva a depreender que não estão minimamente interessados", considerou.
Foi por isso que Rui Salazar decidiu colocar a Câmara de Santa Comba Dão em tribunal. "Se não estão interessados, quero as coisas de volta", frisou.
Caso a Câmara não devolva os bens, pede uma indemnização de 324 mil euros, que considera corresponder apenas "a uma parte" do espólio que entregou.
Em 2006, o então presidente de Câmara João Lourenço considerou as doações "mais um passo" no processo de construção do Museu e Centro de Estudos do Estado Novo.
O actual presidente, Leonel Gouveia, disse recentemente que a criação de um centro interpretativo do Estado Novo é "fundamental" como alavanca para todo o projecto de desenvolvimento turístico que têm para o concelho.
Depois de, em Maio, ter decorrido uma audiência prévia deste processo, o início do julgamento ficou marcado para quinta-feira de manhã, no Tribunal de Viseu.
Rui Salazar de Lucena e Melo, sobrinho-neto da figura maior do Estado Novo, explicou à agência Lusa que em causa estão bens que entregou à Câmara após 2006 e relativamente aos quais nunca chegou a ser feita uma escritura de doação, ao contrário de outros bens, entregues antes de esta data e cuja doação foi efectuada.
Segundo Rui Salazar, "em 2002 e em 2005 foram depositados na Câmara determinados bens que eram da herança do professor Salazar, e não só", relativamente aos quais foi feita uma escritura de doação em maio de 2006.
Entre esses bens estava "material filatélico, numismático, medalhística, objectos vários, revistas, jornais, documentos, mapas e livros", explicou.
A Câmara de Santa Comba Dão recebeu também, por doação, um terço dos bens imóveis da herança da família de Salazar, que era natural da freguesia de Vimieiro, naquele concelho.
Também relativamente a estes bens imóveis "está tudo certo", porque foi feita escritura de doação a 17 de maio de 2006, esclareceu.
Rui Salazar explicou que o processo que agora começa a ser julgado se prende com o que entregou à Câmara, para depósito, após 2006, ou seja, em Novembro e Dezembro de 2007, em Setembro de 2008 e em Janeiro de 2009.
Nestas datas, entregou mais "livros, jornais, revistas, mapas, material filatélico, numismático, medalhística e objectos vários", com a intenção de, posteriormente, ser feita uma escritura de doação, o que nunca chegou a acontecer.
"O presidente de Câmara que estava (João Lourenço) não deu origem a escritura nenhuma. O actual (Leonel Gouveia) chegou, nem sequer me chamou para oficializar esse depósito que estava na Câmara, o que me leva a depreender que não estão minimamente interessados", considerou.
Foi por isso que Rui Salazar decidiu colocar a Câmara de Santa Comba Dão em tribunal. "Se não estão interessados, quero as coisas de volta", frisou.
Caso a Câmara não devolva os bens, pede uma indemnização de 324 mil euros, que considera corresponder apenas "a uma parte" do espólio que entregou.
Em 2006, o então presidente de Câmara João Lourenço considerou as doações "mais um passo" no processo de construção do Museu e Centro de Estudos do Estado Novo.
O actual presidente, Leonel Gouveia, disse recentemente que a criação de um centro interpretativo do Estado Novo é "fundamental" como alavanca para todo o projecto de desenvolvimento turístico que têm para o concelho.
Media nacionais: bancarrota
Jornal i de hoje:
Os media nacionais estão atolados em dívidas. Não conseguem fazer jornais, revistas, televisões ou rádios que sejam rentáveis e estão em "falência técnica", como dantes se dizia.
A razão para o descalabro vão buscá-la sempre aos outros e nunca à própria incapacidade em perceber por que razão certa o público não lhes compra o produto e os anunciantes não lhes encomendam espaço publicitário.
Uma desculpa recorrente é que lá fora é igual, como se lá fora fosse mesmo igual a qualidade de informação e os problemas acumulados por cá.
Hoje mesmo apareceu nos quiosques este jornal semanário, francês, desdobrável em quatro, Le Un que já vai no número 131 e é dirigido por Éric Fottorino, um antigo director do Monde, de 2007 a 2011.
É um jornal exemplar e que por cá não existe nada parecido. Nele são elencados problemas da imprensa e media franceses.
Porém, ler alguns jornais e revistas franceses de informação e comparar com o que por cá temos até dá vontade de rir, um riso amarelo, diga-se.
Para mim os problemas do jornalismo português aliam a falta de qualidade jornalística, em geral, à mediocridade informativa em particular e será esse o principal problema do jornalismo português. Porém, há pelo menos um jornal nacional que tem qualidade informativa regular e adequada: o Jornal de Notícias, do Porto. Essa qualidade mostra-se nas notícias de âmbito regional, mas escapa de todo ao leque de comentadores escolhidos pelo senhor Camões que o dirige e é amigo de José Sócrates que foi quem o colocou no lugar, por interposta pessoa, segundo consta.
Ainda assim é o melhor jornal português da actualidade. Curiosamente não é dos coleccionados pelo guardador de papel impresso que assina JPP provavelmente porque não lhe interessa o verdadeiro jornalismo, mas sim os ensaístas de jornal que pululam nos outros como lêndeas em maré de praga piolhosa.
O fenómeno pode resumir-se nisto que já vem do tempo anterior a 1974, como mostra o Diário de Lisboa, 17 de Janeiro de 1974:
As pessoas não se consideravam bem informadas sobre o que se passava cá dentro, nessa altura em que governava Marcello Caetano. Obviamente que o objectivo do jornal dirigido pelo comunista Ruella Ramos era denunciar subrepticiamente a Censura e tal era verdadeiro em parte.
Actualmente, não existindo Censura com Direcção Geral há a Censura da direcção dos jornais e da mentalidade do jornalista que sabe a quem obedecer e não escreve o que deve mas o que se lhe impõe para salvar o lugar...e não sei bem qual será pior, se antes ou agora.
Portanto a falência do jornalismo nacional é mais que económica porque deriva essencialmente da falência do espírito profissional que deveria existir e parece arredado da maioria das redacções.
O caso mais dramático e paradigmático é o do Diário de Notícias...e da Global Media em geral, tal como José Manuel Fernandes contava em Setembro transacto, a propósito do livro de José António Saraiva:
Um bom exemplo daquilo a que me refiro é o que se passa no grupo Global Media, um dos maiores do país e proprietário do Diário de Notícias, Jornal de Notícias e TSF. A “indignação” de alguns dos jornalistas-colunistas desse grupo com o livro de Saraiva foi imensa. O que dá para ficar espantado, por causa dos telhados de vidros daquela casa. Por isso desculpem-se ser desmancha prazeres, mas num fim-de-semana marcada pelo protagonismo político de José Sócrates não é possível continuar a ignorar a passadeira vermelha de que continua a beneficiar naquele grupo de comunicação. Mas vamos a factos.
Primeiro facto. Sabemos hoje, graças à Operação Marquês, que José Sócrates teve um papel determinante na transferência de propriedade daquele grupo em 2014, poucos meses antes da prisão do ex-primeiro-ministro. A sua preocupação era controlar as direcções dos dois jornais, tendo, através do seu amigo e advogado Proença de Carvalho, defendido a nomeação de Afonso Camões para esses lugares. Esse jornalista, amigo de Sócrates, chegou mesmo a definir-se como um “general prussiano” que “não se amotina”, podendo ser um “joker” em qualquer posição de direcção. O actual director do Jornal de Notícias é, de resto, um amigo de longa data de José Sócrates, que o colocou em lugares tão importantes como a direcção da Lusa e que contou com a sua colaboração noutras “operações” (aí, refira-se, o livro de Saraiva revela alguns episódios curiosos sobre a acção de Camões que eu desconhecia).
Mas sabemos mais. Sabemos que Proença de Carvalho é hoje o homem forte da administração do grupo e que os órgãos de informação da Global Media têm sido utilizados, com pouco ou nenhum escrutínio, por José Sócrates para difundir as suas mensagens. Correndo o risco de me falhar alguma intervenção, fiz um pequeno levantamento – pequeno mas significativo:
No que diz respeito ainda ao grupo Global Media refira-se ainda que os órgãos de informação que o integram recusaram publicar a publicidade do Correio da Manhã em que se criticava uma decisão judicial que, durante alguns meses, impediu aquele jornal de publicar informação relevante sobre a Operação Marquês.
Estes dados indicam que aquele grupo de comunicação tem servido ao ex-primeiro-ministro como plataforma para defender as suas posições, com privilégios de acesso únicos, quase absoluta ausência de escrutínio, tudo isto quando se sabe que ele interferiu, em 2014, na escolha das direcções editoriais e que tem o seu amigo e advogado como presidente do Conselho de Administração.
Contudo parece haver uma espécie de “conspiração do silêncio” que não questiona esta situação, isto enquanto fervem as indignações por causa de um livro que, na verdade, só põe por escrito aquilo que todos sabem sobre a vida privada de algumas figuras públicas. O povo pode gostar muito de mexericos (enquanto diz mal deles), mas certo, certo, é que falar de mexericos é muito útil para não se falar de coisas realmente importantes. E para mascarar a hipocrisia reinante.
Na imagem, o director do jornal é ouvido pela redacção e pelo dono virtual do jornal , Proença de Carvalho.
Dificilmente se encontrará melhor legenda para o que se passa actualmente no jornalismo nacional.
Talvez com a imagem deste o panorama seja ainda mais completo...
Fazer jornalismo não é como vender fruta nem como fazer política partidária ou de interesse particular deste ou daquele grupo. E é esse o problema desta gente que agora anda à rasca.
Os media nacionais estão atolados em dívidas. Não conseguem fazer jornais, revistas, televisões ou rádios que sejam rentáveis e estão em "falência técnica", como dantes se dizia.
A razão para o descalabro vão buscá-la sempre aos outros e nunca à própria incapacidade em perceber por que razão certa o público não lhes compra o produto e os anunciantes não lhes encomendam espaço publicitário.
Uma desculpa recorrente é que lá fora é igual, como se lá fora fosse mesmo igual a qualidade de informação e os problemas acumulados por cá.
Hoje mesmo apareceu nos quiosques este jornal semanário, francês, desdobrável em quatro, Le Un que já vai no número 131 e é dirigido por Éric Fottorino, um antigo director do Monde, de 2007 a 2011.
É um jornal exemplar e que por cá não existe nada parecido. Nele são elencados problemas da imprensa e media franceses.
Porém, ler alguns jornais e revistas franceses de informação e comparar com o que por cá temos até dá vontade de rir, um riso amarelo, diga-se.
Para mim os problemas do jornalismo português aliam a falta de qualidade jornalística, em geral, à mediocridade informativa em particular e será esse o principal problema do jornalismo português. Porém, há pelo menos um jornal nacional que tem qualidade informativa regular e adequada: o Jornal de Notícias, do Porto. Essa qualidade mostra-se nas notícias de âmbito regional, mas escapa de todo ao leque de comentadores escolhidos pelo senhor Camões que o dirige e é amigo de José Sócrates que foi quem o colocou no lugar, por interposta pessoa, segundo consta.
Ainda assim é o melhor jornal português da actualidade. Curiosamente não é dos coleccionados pelo guardador de papel impresso que assina JPP provavelmente porque não lhe interessa o verdadeiro jornalismo, mas sim os ensaístas de jornal que pululam nos outros como lêndeas em maré de praga piolhosa.
O fenómeno pode resumir-se nisto que já vem do tempo anterior a 1974, como mostra o Diário de Lisboa, 17 de Janeiro de 1974:
As pessoas não se consideravam bem informadas sobre o que se passava cá dentro, nessa altura em que governava Marcello Caetano. Obviamente que o objectivo do jornal dirigido pelo comunista Ruella Ramos era denunciar subrepticiamente a Censura e tal era verdadeiro em parte.
Actualmente, não existindo Censura com Direcção Geral há a Censura da direcção dos jornais e da mentalidade do jornalista que sabe a quem obedecer e não escreve o que deve mas o que se lhe impõe para salvar o lugar...e não sei bem qual será pior, se antes ou agora.
Portanto a falência do jornalismo nacional é mais que económica porque deriva essencialmente da falência do espírito profissional que deveria existir e parece arredado da maioria das redacções.
O caso mais dramático e paradigmático é o do Diário de Notícias...e da Global Media em geral, tal como José Manuel Fernandes contava em Setembro transacto, a propósito do livro de José António Saraiva:
Um bom exemplo daquilo a que me refiro é o que se passa no grupo Global Media, um dos maiores do país e proprietário do Diário de Notícias, Jornal de Notícias e TSF. A “indignação” de alguns dos jornalistas-colunistas desse grupo com o livro de Saraiva foi imensa. O que dá para ficar espantado, por causa dos telhados de vidros daquela casa. Por isso desculpem-se ser desmancha prazeres, mas num fim-de-semana marcada pelo protagonismo político de José Sócrates não é possível continuar a ignorar a passadeira vermelha de que continua a beneficiar naquele grupo de comunicação. Mas vamos a factos.
Primeiro facto. Sabemos hoje, graças à Operação Marquês, que José Sócrates teve um papel determinante na transferência de propriedade daquele grupo em 2014, poucos meses antes da prisão do ex-primeiro-ministro. A sua preocupação era controlar as direcções dos dois jornais, tendo, através do seu amigo e advogado Proença de Carvalho, defendido a nomeação de Afonso Camões para esses lugares. Esse jornalista, amigo de Sócrates, chegou mesmo a definir-se como um “general prussiano” que “não se amotina”, podendo ser um “joker” em qualquer posição de direcção. O actual director do Jornal de Notícias é, de resto, um amigo de longa data de José Sócrates, que o colocou em lugares tão importantes como a direcção da Lusa e que contou com a sua colaboração noutras “operações” (aí, refira-se, o livro de Saraiva revela alguns episódios curiosos sobre a acção de Camões que eu desconhecia).
Mas sabemos mais. Sabemos que Proença de Carvalho é hoje o homem forte da administração do grupo e que os órgãos de informação da Global Media têm sido utilizados, com pouco ou nenhum escrutínio, por José Sócrates para difundir as suas mensagens. Correndo o risco de me falhar alguma intervenção, fiz um pequeno levantamento – pequeno mas significativo:
- 27 de Novembro de 2014: Primeira mensagem de Sócrates depois da prisão, divulgada pela TSF (e pelo Público);
- 4 de Dezembro de 2014: Carta publicada no Diário de Notícias;
- 5 de Março de 2015: Carta escrita a partir do estabelecimento prisional de Évora e entregue ao Diário de Notícias, Jornal de Notícias e TSF, com críticas a Passos Coelho;
- 4 de Abril de 2015: Texto de opinião publicado no Jornal de Notícias;
- 8 de Junho de 2015: Declaração exclusive ao Jornal de Notícias sobre a recusa de pulseira electrónica;
- 12 de Junho de 2015: Declarações enviadas por escrito à TSF e ao Diário de Notícias;
- 30 de Junho de 2015: Entrevista conjunta ao Diário de Notícias e à TSF;
- 19 de Agosto de 2015: Carta enviada ao Jornal de Notícias (e à SIC);
- 19 de Junho de 2016: Texto de opinião publicado ao mesmo tempo no Jornal de Notícias e na TSF;
- 26 de Junho de 2016: Texto de opinião na TSF (não se encontram no site da TSF textos de opinião de mais nenhum político);
- 10 de Setembro de 2016: Texto de opinião no Diário de Notícias.
- 16 de Setembro de 2016: Entrevista à TSF sobre o juiz Carlos Alexandre.
No que diz respeito ainda ao grupo Global Media refira-se ainda que os órgãos de informação que o integram recusaram publicar a publicidade do Correio da Manhã em que se criticava uma decisão judicial que, durante alguns meses, impediu aquele jornal de publicar informação relevante sobre a Operação Marquês.
Estes dados indicam que aquele grupo de comunicação tem servido ao ex-primeiro-ministro como plataforma para defender as suas posições, com privilégios de acesso únicos, quase absoluta ausência de escrutínio, tudo isto quando se sabe que ele interferiu, em 2014, na escolha das direcções editoriais e que tem o seu amigo e advogado como presidente do Conselho de Administração.
Contudo parece haver uma espécie de “conspiração do silêncio” que não questiona esta situação, isto enquanto fervem as indignações por causa de um livro que, na verdade, só põe por escrito aquilo que todos sabem sobre a vida privada de algumas figuras públicas. O povo pode gostar muito de mexericos (enquanto diz mal deles), mas certo, certo, é que falar de mexericos é muito útil para não se falar de coisas realmente importantes. E para mascarar a hipocrisia reinante.
Na imagem, o director do jornal é ouvido pela redacção e pelo dono virtual do jornal , Proença de Carvalho.
Dificilmente se encontrará melhor legenda para o que se passa actualmente no jornalismo nacional.
Talvez com a imagem deste o panorama seja ainda mais completo...
Fazer jornalismo não é como vender fruta nem como fazer política partidária ou de interesse particular deste ou daquele grupo. E é esse o problema desta gente que agora anda à rasca.
domingo, novembro 20, 2016
As origens remotas da Geringonça
Em 1968 o jornal Diário Popular, dirigido por Francisco Balsemão, decidiu contratar jornalistas jovens. Duas dúzias concorreram, entre os quais três mulheres. Uma delas era Maria Antónia Palla, mãe do actual primeiro ministro. É ela quem conta a história, aqui , e como ganhou um prémio por relatar casos avulsos de mulheres de alcoólicos.
Nesse ano, Salazar adoeceu e Marcello Caetano sucedeu-lhe, em Setembro. Antes tinha acontecido em França o Maio de 1968, cujos ecos por cá conduziram a novel jornalista a fazer uma reportagem em Paris, um ano depois.
Os apontamentos de tal reportagem foram publicados em parte no Diário de Lisboa e depois num livrinho de 132 páginas, consistindo basicamente em pequenas entrevistas a diversos protagonistas dos acontecimentos, com citações avulsas de outros.
Tal livrinho foi proibido pela Censura da época ( "apreendido pela Pide" é o termo usual para definir a acção censória) eventualmente por causa do título de capa que pedia isso mesmo. Quem o lesse, agora como dantes, ficaria com uma pálida ideia do que foi o tal movimento mas ao mesmo tempo muito bem informado sobre os mitos que povoavam aquela cabecinha pensadora de jornalista.
Tais mitos começam no livrinho com uma entrevista ao cineasta Godard que inclui até uma pergunta sintomática: "acha que o socialismo será possível em França?" logo seguida de " "quando você ataca a burguesia pensa poder fazer filmes sem o seu concurso?" que denotam a matriz ideológica da autora e definem o mote esquerdista da revolução permanente.
No fim da pequena entrevista citam-se os filmes em exibição em Paris nesse tempo de 1969. Três filmes! "A terra em transe" do brasileiro Glauber Rocha; "A quelques jours près" de Yves Ciampi e "Z" de Costa Gravas. Este último lembro-me de o ver em Portugal, logo a seguir ao 25 de Abril de 74. Versava a ditadura grega da época. O fascismo grego...em modo policial e trepidante de acção.
No intervalo dessa primeira entrevista a autora fora ver uma exposição sobre a Bauhaus, no museu de arte moderna ( Beaubourg). Acaba por citar os estudos correntes na Universidade livre de Vincennes, sobre Rosa Luxemburgo, a comunista alemã que fazia as delícias da nossa esquerda de compagnons de route de então.
A seguir Jacques Brel, o cantor belga que desfia ideias sobre os temas das suas canções mais as de Leo Ferré e George Brassens que "valem como testemunhos de uma contestação cujo processo remonta anos atrás". É preciso não esquecer que por cá foi nessa época que começaram os "baladeiros" com Manuel Freire e outros que já foram citados por aqui e apareciam todos na revistinha Mundo da Canção, comunista, lançada em Dezembro de 1969.
Depois de Brel um apontamento sobre a pílula...e como a autora confessou já ter abortado o tema só não apareceu porque seria demasiado chocante. Mas a realidade estava lá...
Siné, o caricaturista, mais Françoise Giroud, da revista L´Express, que conversa sobre Cohn Bendit "um rapaz muito inteligente" que acabou expulso de França por ser alemão. Sauvageot, o outro jovem líder do movimento também acabou por falar à repórter intrépida com citações prévias de Herbert Marcuse para dizer que não falava à imprensa e a seguir o nosso António José Saraiva que estava em Paris, justamente.
Este teve direito a citações de Rosa Luxemburgo e Makhanovitsi: "camarada! Reflecte sobre com quem estás e contra quem combates. Nunca sejas escravo. Sê um homem"...
O trabalho intelectual de investigação de AJS era "feito em casa e na Biblioteca Nacional" e a entrevista passou-se quase toda nas esplanadas dos cafés do Quartier Latin, "a caminho do Luxemburgo" ou seja dos jardins do dito. Saraiva tinha acabado de publicar um livro sobre a Inquisição em Portugal que vendera já mais de dez mil exemplares e era um intelectual popular que tinha aparecido na capa da revista Vida Mundial.
Sobre Maio de 68 Saraiva sabia pouco - "olhe, o movimento de Maio é um acontecimento que ainda hoje desafia as explicações", mas a jornalista tinha lá ido, um ano depois precisamente para entender o que Saraiva que tinha lá estado o ano todo ainda não entendia.
Tal como agora, com esta história do Trump.
Quem não conhecer isto e o contexto em que foi gerado terá sempre alguma dificuldade em entender toda a natureza da Geringonça que nos governa bem como o modo como apareceu.
Isto apareceu em 1968-69 e não foi certamente obra de Salazar. Ou antes, surgiu durante o salazarismo dos últimos anos por uma razão muito prosaica: a Censura e a Pide que esta gente invoca sempre como sinais do obscurantismo vivido, nunca os impediu de lerem o que bem quiseram, optarem pelo que bem entenderam e militarem como sempre o fizeram pelo "socialismo" e comunismo.
Faziam-no no meio intelectual português, com destaque na imprensa e que desde os anos 40, como afirmou um deles- Eduardo Lourenço- tinha um predomínio de esquerda.
O que aconteceu logo a seguir a 25 de Abril de 1974 foi apenas uma pequena revolução que germinava há décadas na clandestinidade que lhes era permitida e acalentada.
Os efeitos perversos dessa pequena revolução sentimo-los todos nós, portugueses, nos anos vindouros.
As nacionalizações de 1975 foram preparadas por eles e a mutação ideológica que publicamente assumiu contornos até na linguagem corrente é obra deles.
É esta a minha explicação para os nossos males presentes e passados.
Nesse ano, Salazar adoeceu e Marcello Caetano sucedeu-lhe, em Setembro. Antes tinha acontecido em França o Maio de 1968, cujos ecos por cá conduziram a novel jornalista a fazer uma reportagem em Paris, um ano depois.
Os apontamentos de tal reportagem foram publicados em parte no Diário de Lisboa e depois num livrinho de 132 páginas, consistindo basicamente em pequenas entrevistas a diversos protagonistas dos acontecimentos, com citações avulsas de outros.
Tal livrinho foi proibido pela Censura da época ( "apreendido pela Pide" é o termo usual para definir a acção censória) eventualmente por causa do título de capa que pedia isso mesmo. Quem o lesse, agora como dantes, ficaria com uma pálida ideia do que foi o tal movimento mas ao mesmo tempo muito bem informado sobre os mitos que povoavam aquela cabecinha pensadora de jornalista.
Tais mitos começam no livrinho com uma entrevista ao cineasta Godard que inclui até uma pergunta sintomática: "acha que o socialismo será possível em França?" logo seguida de " "quando você ataca a burguesia pensa poder fazer filmes sem o seu concurso?" que denotam a matriz ideológica da autora e definem o mote esquerdista da revolução permanente.
No fim da pequena entrevista citam-se os filmes em exibição em Paris nesse tempo de 1969. Três filmes! "A terra em transe" do brasileiro Glauber Rocha; "A quelques jours près" de Yves Ciampi e "Z" de Costa Gravas. Este último lembro-me de o ver em Portugal, logo a seguir ao 25 de Abril de 74. Versava a ditadura grega da época. O fascismo grego...em modo policial e trepidante de acção.
No intervalo dessa primeira entrevista a autora fora ver uma exposição sobre a Bauhaus, no museu de arte moderna ( Beaubourg). Acaba por citar os estudos correntes na Universidade livre de Vincennes, sobre Rosa Luxemburgo, a comunista alemã que fazia as delícias da nossa esquerda de compagnons de route de então.
A seguir Jacques Brel, o cantor belga que desfia ideias sobre os temas das suas canções mais as de Leo Ferré e George Brassens que "valem como testemunhos de uma contestação cujo processo remonta anos atrás". É preciso não esquecer que por cá foi nessa época que começaram os "baladeiros" com Manuel Freire e outros que já foram citados por aqui e apareciam todos na revistinha Mundo da Canção, comunista, lançada em Dezembro de 1969.
Depois de Brel um apontamento sobre a pílula...e como a autora confessou já ter abortado o tema só não apareceu porque seria demasiado chocante. Mas a realidade estava lá...
Siné, o caricaturista, mais Françoise Giroud, da revista L´Express, que conversa sobre Cohn Bendit "um rapaz muito inteligente" que acabou expulso de França por ser alemão. Sauvageot, o outro jovem líder do movimento também acabou por falar à repórter intrépida com citações prévias de Herbert Marcuse para dizer que não falava à imprensa e a seguir o nosso António José Saraiva que estava em Paris, justamente.
Este teve direito a citações de Rosa Luxemburgo e Makhanovitsi: "camarada! Reflecte sobre com quem estás e contra quem combates. Nunca sejas escravo. Sê um homem"...
O trabalho intelectual de investigação de AJS era "feito em casa e na Biblioteca Nacional" e a entrevista passou-se quase toda nas esplanadas dos cafés do Quartier Latin, "a caminho do Luxemburgo" ou seja dos jardins do dito. Saraiva tinha acabado de publicar um livro sobre a Inquisição em Portugal que vendera já mais de dez mil exemplares e era um intelectual popular que tinha aparecido na capa da revista Vida Mundial.
Sobre Maio de 68 Saraiva sabia pouco - "olhe, o movimento de Maio é um acontecimento que ainda hoje desafia as explicações", mas a jornalista tinha lá ido, um ano depois precisamente para entender o que Saraiva que tinha lá estado o ano todo ainda não entendia.
Tal como agora, com esta história do Trump.
Quem não conhecer isto e o contexto em que foi gerado terá sempre alguma dificuldade em entender toda a natureza da Geringonça que nos governa bem como o modo como apareceu.
Isto apareceu em 1968-69 e não foi certamente obra de Salazar. Ou antes, surgiu durante o salazarismo dos últimos anos por uma razão muito prosaica: a Censura e a Pide que esta gente invoca sempre como sinais do obscurantismo vivido, nunca os impediu de lerem o que bem quiseram, optarem pelo que bem entenderam e militarem como sempre o fizeram pelo "socialismo" e comunismo.
Faziam-no no meio intelectual português, com destaque na imprensa e que desde os anos 40, como afirmou um deles- Eduardo Lourenço- tinha um predomínio de esquerda.
O que aconteceu logo a seguir a 25 de Abril de 1974 foi apenas uma pequena revolução que germinava há décadas na clandestinidade que lhes era permitida e acalentada.
Os efeitos perversos dessa pequena revolução sentimo-los todos nós, portugueses, nos anos vindouros.
As nacionalizações de 1975 foram preparadas por eles e a mutação ideológica que publicamente assumiu contornos até na linguagem corrente é obra deles.
É esta a minha explicação para os nossos males presentes e passados.
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