quarta-feira, novembro 16, 2016

As bancarrotas órfãs

Em 3.7.2013 alvitrei por aqui que Mário Soares era o pai da primeira bancarrota e o  padrinho da segunda.
Num comentário apócrifo colocado dois anos depois, alguém ( um tal Pedro Silva) escreveu o seguinte:

"Permita-me que lhe diga - Ignorante e mentiroso.
É o que o autor deste texto tendencioso diz.
Efetivamente, Mário Soares pediu o auxilio do FMI em 78 e 83 mas basta consultar o site do FMI e ver as razões de tais auxilios, nomeadamente fatores externos.
Mas já agora, vamos à política.
A primeira ajuda deveu-se grande parte ao choque petrolífero e foi solicitada num governo PS/CDS. Sim, a tal direita estava bem representada nesse pedido.
A segunda ajuda foi pedida 2 meses após Mário Soares ter tomado posse e depois de 3 anos de governos de Sá Carneiro e Balsemão, num governo do Bloco Central com esses "socialistas" chamados Mota Pinto, João Deus Pinheiro, Ferreira Amaral, Carlos Melancia, António Capucho.
Dizer que a culpa é dos Socialistas é tudo muito bonito, mas saber a realidade e assumi-la é de facto mais dificil
."

 Apetece-me retomar o tema porque é recorrente e a Esquerda que temos mistifica permanentemente o assunto, como acima se vê, pelo comentário reproduzido.

Em 1984 a Economia portuguesa pouco ou nada tinha mudado relativamente aos dez anos anteriores. E isso parece-me um facto demonstrável. Os factores externos evidentemente que mudaram, mas a essência do que nós tínhamos como Economia nem se adaptara nem mudara fosse o que fosse. E a responsabilidade de tal imutabilidade pertence a quem?

Em 19 de Dezembro de 1983 Cavaco Silva, então presidente do Conselho Nacional do Plano e director do gabinete de Estudos do Banco de Portugal interveio num colóquio da APE e produziu então o seguinte texto publicado pelo O Jornal de 6.1.1984.


Independemente do que Cavaco Silva veio a fazer nos anos 90, com duas maiorias absolutas e que desperdiçaram oportunidades únicas, com a ideia parola de "pogresso", a verdade é que Cavaco apresentava números e factos para mostrar o que acontecera durante o seu consulado como ministro das Finanças do VI Governo Constitucional.

Um sector público administrativo com défice brutal e que aumentara em 1981 e 1982 e continuara a aumentar em 1983. Um sector público de empresas inviáveis e já tornadas "elefantes brancos", com uma Constituição que ainda tornava "irreversíveis" as nacionalizações e cujo défice era também importante.

Cavaco Silva denuncia no artigo a manipulação de tal défice orçamental durante os anos de 1981 e 1982.

Em 1981 a seguir ao VI Governo em que Cavaco Silva interveio, entrou Pinto Balsemão e o ministro das Finanças era João Morais Leitão, um advogado que em 1974 chegara a encabeçar o movimento do MDE/S que propôs aos governantes do PREC um investimento dos ainda capitalistas portugueses da ordem de 120 milhões de contos...).
Ao Governo Balsemão seguiu-se...outro Governo Balsemão, até 1983,  tendo como ministro das Finanças João Salgueiro, um dos tecnocratas do tempo de Marcello Caetano.

Foram estes dois governos que atiraram o país para a bancarrota ou foi esta segunda desgraça nacional económica fruto do apadrinhamento daquele Mário Soares e PS?

Repare-se: sem revisão da Constituição nada se poderia fazer no sentido de alterar o rumo da Economia como estava desde o PREC de 1974.

Ora nessa altura o PS de Mário Soares pensava assim, como mostrava a Revista do Povo de Junho de 1974:


O PS ainda não tinha metido o "socialismo na gaveta"? Pois não, mas em Junho de 1978 ainda Mário Soares dizia isto publicamente, como reflexo daquele socialismo:




Esta atitude de renúncia ideológica a qualquer modificação da Constituição impediu que em 1979 Sá Carneiro e o governo da AD fizessem valer o que pretendiam e era necessário e só dali a dez anos se verificou, por imposição da integração na CEE:






Foi este bloqueio ideológico que o PS de Mário Soares patrocinou que acabou por conduzir o país à bancarrota de 1983.
O que os governos de Balsemão fizeram, contra a vontade de Cavaco Silva, foi a vontade a Mário Soares: não mexerem no sistema político e principalmente económico.

As empresas públicas continuaram a dar prejuízos crónicos e em 1985 eram "elefantes brancos"...


Os problemas do país arrastavam-se desde o PREC e Mário Soares não ajudou a resolvê-los mais cedo, no que à Constituição dizia respeito e isso na altura era o primordial e indispensável.

A questão foi sempre esta, como se enunciava em 1984:


Quem impediu de facto a mudança na Economia, de 1975 a 1989? Mário Soares...

Tal como dizia Pedro Ferraz da Costa ao Semanário em 1.3.1986:


Portanto, não foram apenas as crises internacionais que geraram as nossas duas primeiras bancarrotas; foram antes as políticas económicas de base que impediam de facto o aproveitamento dos períodos de recuperação económica mundial que também existiram. E tal se deve a quem?

Nenhum outro país da Europa teve este problema para resolver, fruto da loucura do PS e do PCP e extrema-esquerda:



 

Logo aquele comentário do tal Pedro Silva serve para quê?  Mistificar.

19 comentários:

zazie disse...

Maravilha. Tudo com factos em arquivo.

Dudu disse...

Segundo o Observador de 2 nov http://observador.pt/2016/11/02/divida-publica-atinge-novo-recorde-em-setembro-esta-nos-2444-mil-milhoes/ a dívida pública continua a aumentar e estava nos 244,4 MM.

muja disse...

Enfim, uma tristeza e uma trapalhice pegada.

Canalha a brincar às democracias e às assembleias. Que fosse o bochechas o responsável, o resto também não valia um tostão furado, a verdade é essa.

E já nessa altura se não podia ler jornais. Suponho que se impressionasse o pagode com o palavreado de "plataformas", "envolvimentos" e outras que tais.

Mas alguém alguma vez contou que alguma coisa melhorasse com isto que já aparecia nos jornais? Pelo que vejo, e venho vendo, era já claro que não se ia sair da cêpa torta...

Adiantou muito a "possibilidade de remoção", como diz o outro idiota...

Enfim, foi o que os ventos sopraram para cá...

Bic Laranja disse...

Soares e Balsemão foram os primeiros ministros mais incapazes depois do grande acidente nacional. Desconto o Vasco Gonçalves e o Sócrates que são dementes. Mas arguir que primeira bancarrota desde 28 de Maio de 1926 foi culpa do preço do petróleo é poético. Como poesia foi alijar o petróleo de Cabinda por amanhãs que cantam.

Sempre são cá uns lirus estes entreguistas!



Floribundus disse...

Estado Sentido
O que se passa em Portugal? Com esta história das eleições de Trump quase que me esquecia onde tenho assente o meu arraial. Pois. Não devo ser o único. António Costa também anda equivocado. São só boas notícias. É o tal crescimento do PIB que dá logo vontade de comemorar. É a tal intensificação das exportações. É o passeio dos alegres a Moncloa com direito a beberete com Rajoy. É o doutoramento honório casa de António Guterres nesse país de nem bons ventos nem bons casamentos. E, como cereja em cima do bolo, o beijo de aprovação do Orçamento de Estado de Juncker e companhia! Ah, como é bom fingir que está tudo bem e que os ventos de mudança dos EUA e da Europa não têm nada a ver, que não são suficientemente fortes para albalroar o casco de uma geringonça. Quem tem Centeno e Galamba não precisa de ver esses canais de televisão vendidos aos neo-liberais. Esses Bloombergs ou CNBC. Os juros dos government bonds dos EUA? Isso? Isso é lá com eles, pá. Aqui é porreiro pá. Trumponomics? Nunca ouvi falar. E nós temos a nossa escola. Temos o Constâncio. Temos o BCE, não precisamos de mais nada. E o Donald Trump até nem sabe onde fica Portugal. É na América Latina, não é?

conclusão
'estamos adidas e mal pagos'

Buíça disse...

Exemplar. Parabéns

luis barreiro disse...

E podia falar também do Conselho da Revolução, que impedia Portugal de se desenvolver e que só foi extinto por Sá Carneiro (graças á maioria absoluta) perto dos anos 80.

Unabomber disse...


Peço que os especialistas no estudo dos culpados das bancas-rotas Portuguesas e dos défices públicos respondam a esta perguntinha:
- Porque é que o Japão, com uma divida publica superior a 200% do PIB e défices públicos muito elevados, ainda não foi à banca-rota? - e, a sua divida é considerada de baixo risco?

josé disse...

Porque o Japão tem o yen, acho e uma Economia que pouco terá a ver com a nossa.

Unknown disse...

A divida e detida por nacionais e o pais gera poupanças que financiam o defecit.

Unabomber disse...

Para os especialistas no estudo dos culpados das "bancas-rotas" e dos défices orçamentais excessivos deixo aqui uma perguntinha simples:
- Porque é que o Japão, cuja divida publica ultrapassa a 200% do PIB(superior à da Grécia) e desde há muito os seus défices orçamentais são bastante elevados, ainda não foi à "banca-rota"? - sendo até considerado um pais sem risco de incumprimento (falência).

Unknown disse...

O Japão tem uma dívida pública de 200% mas não tem défice (e dívida) externo(a).Isto significa que a população e bancos nacionais colocam as suas poupanças no Estado.

No entanto, apesar de não existir risco de incumprimento, há mais de 20 anos que o crescimento económico é ridículo, e nem os deficits grandes fazem crescer a economia, como muitos (esquerda...) dizem que devia acontecer.

josé disse...

O grande economista Constâncio que costuma bufar e suar estopinhas quando vai ao Parlamento dizia há uns anos, quando entramos na moeda única, que os nossos problemas económico-monetários tinham acabado.

A UE proviria a todas as dificuldades pelo que não havia problema algum em gastar e gastar ainda mais.

E o PS gastou e gastou, seguindo a opinião deste idiota.

rui oliveira disse...

Quando o Soares morrer, os tristes da liberdade de expressão (leiam liberdade de estupidez que a internet veio dar a toda a gente), vão insultar o homem, inclusive com frases feitas tanta vezes repetidas que muitos pensam ser verdade sobre assuntos que muitos não viveram.


No entanto a maior parte dos saudosistas, que por sinal, são muitos, nas ninguém lhes conhece a cara. Mais uma vez, a internet deu a liberdade de estupidez a essa gente. Quando esses forem para a terra, ninguém vai vos dar um single fuck.

No entanto, e muito provavelmente, esses, estarão numa faixa etária já avançada (a não ser anormais que não sabem do que falam ou simplesmente são meros repetidores).

A liberdade de estupidez está expressa hoje em dia na "social media" , sendo que os blogs, são um dos veiculos mais utilizados para a dispersao desta liberdade, pois para dar a cara por essa liberdade é complicado, e eu entendo.

O megafone dessa liberdade, quando deixa de ser ouvido, normalmente é porque aconteceu o que vai acontecer em breve ao Mario Soares. Ao inves do que iremos ler nesse acontecimento, quando esses megafones deixarem de ser ouvidos e ninguem querer saber - eu vou-me sentar a beber um whisky à sua memoria

josé disse...

Pode beber à memória de quem quiser.

Porém, quando escrever lembre-se também que a memória de uns pode não ser idêntica à de outros.

E para dilucidar só os factos crus e nus poderão ajudar.

Os factos aparecem claros quando se lê o que na época ficou escrito.

E por isso quanto ao Soares há muito escrito que fala por si..

josé disse...

Para se saber o que Soares fez é preciso ir a 1973 e até antes disso.

Depois basta acompanhar cronologicamente o percurso que felizmente está todo documentado.

Até aqui, neste blog.

Quem quiser continuar a acreditar em balelas tem sempre à sua disposição os media do costume.

josé disse...

Também se pode colocar a questão ao contrário e perguntar o que seria necessário para que Portugal não sofresse duas iminentes bancarrotas em menos de dez anos, logo a seguir ao golpe de 25 de Abril de 1974.

E nesse caso ler o programa do PS e o que Mário Soares fez para as evitar...

josé disse...

A afirmação que deixo e me parece indiscutível é esta:

com Marcello Caetano nunca teria acontecido a baancarrota de 1976.

E se o sistema económico não fosse radicalmente mudado em 1975 nunca teria acontecido a de 1983-84.

josé disse...

Nessas duas ocasiões, o PS de Mário Soares esteve sempre presente a deitar achas para a fogueira dessas bancarrotas. Ideológica e executivamente.

E isso parece-me indesmentível.

O Público activista e relapso