O Público de hoje continua a esgaravatar novidades sobre o incêndio trágico que ceifou pelo menos 64 vidas. Já se percebeu que o Público não pretende um esclarecimento cabal do que sucedeu na tarde de Sábado, 17 de Junho de 2017 mas apenas alimentar um casus belli com um passado recente de uma PPP negociada com governos prè-geringonça e porque lhe convém politicamente explorar tal filão.
É mais uma causa de um jornalismo abastardado por preconceitos politico-ideológicos e que é incapaz de olhar a realidade desprovida de tal filtro. É atávico, parece-me.
Não obstante, o caso SIRESP é apenas mais um dos vários negócios aparentemente ruinosos, a vários títulos, para o país e que começou em grande força num governo no qual preponderava nas Finanças uma certa Ferreira Leite, agora sempre mal-disposta contra "o Passos" e que se revela afinal uma grande hipócrita.
Lendo o artigo do Público percebe-se que o acórdão do T.de Contas que cita para a notícia é já do passado de Dezembro de 2006 e nessa altura estava um certo José Sócrates a tratar da sua vidinha, com o aplauso geral da plateia mediática, incluindo o Público.
Talvez por isso o tratante fez o que quis, durante o tempo em que lho deixaram fazer- uma boa meia dúzia de anos, o suficiente para nos conduzir a uma bancarrota.
Um dos juízes que subscreveu o acórdão do Tde Contas foi Carlos Moreno. Em 2012 publicou um livro sobre estes assuntos e deu várias entrevistas. Não me lembro do Público se interessar muito pelo assunto, mas não fui verificar aos arquivos da época.
Porém, outros o fizeram como o i que lhe deu espaço para um artigo em 13 de Junho de 2012 ( já lá vão cinco anos):
A lei orgânica do Tribunal de Contas não lhe permite punir os
responsáveis, porque só considera ilegalidades as infracções
financeiras.
Quando o Tribunal de Contas (TC) descobre que o Estado ou as suas
empresas gastam mal os nossos impostos ou assinam negócios ruinosos para
os contribuintes, a pergunta que todos fazemos há anos é esta: “Nada
acontece aos responsáveis?”
A realidade portuguesa das últimas décadas prova que a resposta é
negativa, ficando impunes os casos de má gestão de dinheiros públicos.
O TC tem dedicado atenção a concursos de obras públicas, nos quais já
ocorreram derrapagens financeiras de 300% ou atrasos na sua conclusão
de mais de oito anos, ou em que não foi estimado o valor actual dos
encargos com a manutenção e a conservação das infra-estruturas e
equipamentos e por isso se transformaram em verdadeiros elefantes
brancos. Todos nos lembramos dos casos dos estádios do Euro 2004, da
Ponte Rainha Santa Isabel, em Coimbra, do Túnel do Terreiro do Paço, em
Lisboa, ou da Casa da Música, no Porto.
O TC arrasou ainda parcerias público--privadas (PPP) por serem
desastrosas para os contribuintes e insustentáveis para as gerações
futuras – e logo nos recordamos dos casos da Lusoponte, das Scut, dos
contentores de Alcântara ou da Metro do Sul do Tejo.
Nestas situações, e em muitos outras, o TC realiza auditorias, faz as
contas e conclui que centenas ou milhares de milhões são mal gastos,
porque os gestores públicos não respeitam os critérios da economia,
eficiência e eficácia.
Mas a lei orgânica do TC não lhe permite punir os responsáveis,
porque só considera ilegalidades as infracções financeiras. E os
portugueses, atónitos, olham para tudo isto como mais uma fatalidade
lusitana.
Só que não há aqui qualquer fado ou fardo que os contribuintes, no limite da exaustão fiscal, devam continuar a suportar.
O que me salta à vista é uma inexplicável falta de coerência e de vontade política do legislador de mudar as coisas.
De acordo com a lei orgânica do TC, o dispêndio de dinheiros públicos
sem respeito pelos critérios da economia, da eficiência e da eficácia
pode e deve ter a primazia de ser auditado e criticado por aquele
tribunal.
Inexplicavelmente, aquela lei não elenca as importâncias mal gastas
pelos gestores públicos como infracção financeira, punível pelo TC, com
multa ou reintegração nos cofres públicos.
Isto apesar de já ter sido modificada cinco vezes pelo parlamento, a
última das quais em 2012, não obstante o legislador impor, desde 1990 e
até em leis de valor reforçado (Lei nº 52/2011, de 13 de Outubro), que
nenhuma despesa pública pode ser autorizada ou paga sem que satisfaça o
princípio da economia, eficiência e eficácia.
Os senhores deputados devem criar uma lei que permita punir
exemplarmente os gestores públicos, incluindo os decisores políticos,
que autorizem ou paguem despesas que não tenham “em vista a obtenção do
máximo rendimento com o mínimo de dispêndio, tendo em conta a utilidade e
prioridade da despesa e o acréscimo de produtividade daí decorrente”
(Decreto-Lei nº 155/92, de 28 de Julho, artigo 22º nº 3).
Como a escassez dos dinheiros públicos exige. Como a credibilidade
técnica e a sustentabilidade da gestão financeira pública impõem.
A culpa não pode voltar a morrer solteira em Portugal.
Carlos Moreno- Juiz Conselheiro jubilado do Tribunal de Contas.
E também foi o mesmo jornal i que lhe deu espaço para entrevista alargada em que dizia por exemplo isto:
"Em todas as PPP
que auditei há uma manifesta incompetência do sector público, e eu falo
só de incompetência e desleixo, na negociação de contratos que são
muito pormenorizados."
Passados cinco anos vem agora o Público chorar estas lágrimas de crocodilo sobre o leite derramado.
Carlos Moreno escrevia no tal artigo: " A culpa não pode voltar a morrer solteira em Portugal".
António Costa foi ministro do inenarrável Sócrates quando estas coisas aconteceram e ministro responsável directo, pelo assunto. Encarregou um tal Lacerda seu amigo ( que naturalmente é suspeito por isso mesmo) de lidar com os assuntos de Estado à lagardère, assumindo a arrogância de quem se declara sempre impoluto e acima de qualquer suspeita.
A coisa deu para o torto e já morreram pessoas, eventualmente por causa dessas trapalhadas que custaram milhões ao país que ele e outros governaram e continuam a governar.
Com a maior desfaçatez anda agora a fazer de conta que tudo isto tem pouco a ver com ele. É mais coisa da natureza, das "circunstâncias anómalas" e toda uma caterva de desculpas para conservar a virgindade politicamente himenial.
A complacência da opinião pública recolhida em sondagens dá-lhe o alento que precisa para continuar a enganar toda a gente.
A culpa vai mesmo morrer solteira, depois destes anos todos?
Quem andou sempre em cima destas jogadas foi este jornalista, tal como conta na Sábado desta semana:
Pergunta ociosa: porque é que este andou e os demais não andaram? Não tiveram fôlego, terá sido isso...
Entretanto vão aparecendo mais coisas mas o sempre-em-pé da bonacheirice não se descompõe nem o descompõem. Não querem perder as virtualidades da Geringonça e engolem todos os sapos que aparecerem.
Quando António Costa era ministro da Administração
Interna, em 2005 — e suspendeu a adjudicação do Sistema Integrado das
Redes de Emergência e Segurança de Portugal (SIRESP) ao consórcio
liderado pela Motorola –, manteve contactos com responsáveis de
operadoras de telecomunicações sobre a possibilidade de relançar o
concurso com novos critérios. Ao longo de meses, o Ministério da
Administração Interna, onde Fernando Rocha Andrade era secretário de
Estado e a atual ministra Constança Urbano de Sousa era assessora, teve contactos com responsáveis da Optimus (hoje NOS), do grupo Sonae. Mas decidiu não reabrir um novo concurso para colocar em competição as diferentes tecnologias e os respetivos preços. Nessa época, Diogo Lacerda Machado — o amigo de António Costa — era advogado da Motorola,
mas este explicou ao Observador que teve um papel muito secundário no
processo e nunca se relacionou diretamente com o ministério no que dizia
respeito ao dossier.
A Optimus não se comparava à Motorola que tinha o amigo Lacerda lá a fazer uma perninha. Pro bono, com certeza.
O amigo Lacerda, esse, é que está em todas a participar economicamente nestes negócios. É uma espécie de Relvas mais discreto e nem por isso menos eficaz. Impoluto e acima de qualquer suspeita. Sério, portanto. Um amigo que prezo costuma dizer que há os "sérios" e depois por aí acima, os "sérios, sérios, mesmo"...a que categoria pertencerá este Lacerda? Rir, costuma rir, tal como o amigo Costa. Espero bem é que não seja de nós todos...
No que se refere a António Costa, e à sua renegociação do contrato,
sempre que se menciona o SIRESP vem à baila — de forma recorrente — o
nome de Diogo Lacerda Machado. Trata-se do “amigo” que
foi secretário de Estado da Justiça e se tornou consultor especial do
gabinete do primeiro-ministro para assuntos como os lesados do BES ou a
reversão da privatização da TAP. Agora, entrou para a administração da
transportadora aérea.
Quando o actual primeiro-ministro renegociou o contrato do SIRESP,
aquele que António Costa já disse ser o seu “melhor amigo” era advogado
da Motorola. Mas Lacerda Machado diz ao Observador que nunca participou nas negociações e que teve apenas um papel muito secundário no processo enquanto advogado da J.A. Pinto Ribeiro e Associados.
“Não
desejando fazer declarações circunstanciadas, creio, porém, poder
dizer-lhe sem quebra dos deveres deontológicos de reserva próprios dos
advogados que não participei, nem tinha de participar, na negociação entre o consórcio e depois a sociedade SIRESP e o Estado
no Governo de coligação PSD/CDS, como não participei na renegociação
com o Governo seguinte, do PS”, afirma o advogado ao Observador através
de uma declaração escrita.
Lacerda Machado sublinha que “nunca”
foi esse o “âmbito” da sua intervenção profissional. De acordo com a sua
explicação, servia apenas como “apoio técnico local dos advogados estrangeiros
que acompanhavam e representavam a empresa estrangeira que participou
no processo”. Ou seja, prestava apoio aos advogados ingleses da Motorola e à sociedade de advogados Vieira de Almeida — especializada em PPP — que trabalhava para o consórcio liderado pela Motorola.
“O
consórcio e depois a empresa SIRESP, bem como os accionistas, foram bem
assistidos e apoiados por outros ilustres colegas nessa negociação e
renegociação em que não tive, nem tinha que ter, qualquer papel”,
argumenta Lacerda Machado. “Acrescento que, esgotado esse processo
inicial, nunca mais tive sequer qualquer relacionamento profissional com
o assunto”.
Como se pode ver " o amigo Lacerda" ( é assim que o PS encara assuntos de Estado) não fumou. Só inalou...
22 comentários:
como dizia Camilo no Eusébio
o rectângulo
do antónio das mortes
'deu em droga'
artecultura 2010
Verás que tudo é mentira
verás que nada é amor,
que ao mundo nada importa,
Gira..Gira..
Mesmo que a vida te quebre
Mesmo que te "morda" a dor
não esperes nunca uma ajuda
uma mão, um favor.»
os tachos têm donos
o picapau ainda não se fez ouvir
um espanto
tanto espantalho
Circunstância anómala foi o 25A, que permitiu sustentar este inestimável bando de gatunos.
Parece que a Otimus apresentara uma prosposta 8 vezes mais baixa que a da Motorola, BES, banco falido e Cia. Mail'o amigo machadinho.
Ora a Otimus era do Belmiro, como o Público. Cá se vão começar a pagar...
O tio Belmiro não dava luvas a ninguém. O Lacerda se calhar não teria frio mas havia outros que tiritavam...
O Ricciardi deve estar quase a aparecer
'são dage' da UC
74% dos nativos aplaudem antónio das mortes
e o seu governo
o resultado está à vista
A Motorola é fabricante de equipamentos para redes TETRA, para não falar do know-how em telecomunicações.
A Optimus não tem qualquer credibilidade para este negócio. Seria um mero instalador.
A Siemens tambem era candidata no concurso inicial. Seria tambem um fornecedor credivel.
E para além disso tudo o "amigo Lacerda" estava por dentro do assunto. A fome, a vontade de comer, o útil e o agradável tudo juntinho.
O pior é agora: 64 mortes, sem explicação, ainda. E não estão preocupados. A maioria dos votantes acredita nos amigos Costa&Lacerda, Lda.
OFF Topic
Jose um editorial interessante:
http://www.socialmatter.net/2017/06/29/how-communists-overthrew-salazars-regime-in-portugal/
Nunca percebi como uma empresa como a Ericsson não entrou no concurso. O Lóreiro foi o chefe em Portugal dos suecos.
O Belmiro no que diz respeito a telecomunicações compra e vende telemóveis...
O escrito não me parece trazer nada de novo. Diz que em 1959 Krutschev esteve em Angola...não me parece.
Lusa,RTP e "Emissora Nacional" proibidos de operar na Guiné. Uma terra que já foi nossa.Um se faz.
As vezes fico puto...
[3] Shubin, Vladimir. The Hot ‘Cold War’: The USSR in Southern Africa. Pluto Press, 2008. p9
Agora percebo...(bateram no teu querido) hehehe
...included Salazar’s future successor, Marcelo Caetano, who told him he was brilliant and it was a shame he was a communist... (O Cunhal... a tese-doutural)
O dr. passos coelho/Portas não só retiram o feriado do dia da Restauração, como não estiveram presentes nas cerimónias.
A escardalhada ainda hoje festeja e discute:
http://ladroesdebicicletas.blogspot.pt/2017/06/hoje-e-amanha-nos-100-anos-da-revolucao.html?m=1
"O tio Belmiro não dava luvas a ninguém."
Desconheço se a sua afirmação tem fundamento, mas noto que, de facto, no tempo do governo "Charles Smith", só em 2006-2007 excluíram o "merceeiro do norte" de dois negócios que, no conjunto, representavam perto de 8 mil milhões de euros.
E os acordos consumados com a concorrência deram no que se sabe.
"...só em 2006-2007 excluíram o "merceeiro do norte" de dois negócios que, no conjunto, representavam perto de 8 mil milhões de euros." (Terry Malloy)
E o Eng. Belmiro d'Azevedo não os processou? Se não o fez e parece que não, devia tê-lo feito. Os políticos-trafulhas e glutões por dinheiro, produto de corrupções monstras, deviam ter ido bater com os costados na prisão. Estamos perante crimes económicos às centenas, praticados quase diàriamente pelos governantes e seus apaniguados e os autores ficam sempre impunes. VERGONHA.
O Ricciardi ainda não veio defender os seus?
Está a demorar....
Vejam o "sexta às 9". Vale a pena.
Estou a ver e a registar.
Fixem um nome: Augusto Arnaut. Até me incomodou ouvir essa besta.
Maria, um dos negócios foi este, o do SIRESP.
O outro foi o da OPA à PT, chumbada por veto do governo através da participação da CGD, de modo a evitar o chumbo directo através da golden share (de duvidosa legalidade já na altura face ao direito europeu).
"Estavam todos feitos".
Excelente e esclarecedor Editorial de E. Dâmaso. Gosto bastante do que ele escreve. Neste caso específico, chamando os bois pelos nomes. Assim é que se fala. Ou melhor, escreve.
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