domingo, maio 05, 2019

A semiótica do antifassismo de Rosas

Fernando Rosas volta a ser alvo de atenção do Público, com uma entrevista a propósito do lançamento do seu último livro já aqui referenciado: Salazar e os fascismos.
O Público presta-se sempre a estes fretes ideológicos porque o seu director actual, Manuel Carvalho, comunga dos mesmos propósitos.
Há jornalistas que não deixam de ser o que sempre foram: militantes de causas políticas. Poderiam ter integrado partidos ou movimentos mas preferem fazer militância na profissão, abastardando-a e denegando a sua essência. São por isso mesmo jornaleiros dessa tarefa que para eles nunca está acabada. Manuel Carvalho é desse lote, infelizmente.




O estudo de 300 páginas apresenta-se ambicioso: provar que o regime de Salazar foi efectivamente fascista, semelhante e da mesma família dos fascismos europeus da época em que apareceram.

F.Rosas resume: "O salazarismo é um fascismo à portuguesa. É uma modalidade específica, o fascismo lusitano".

Poderia chamar-lhe fassismo, como eu chamo, e talvez estivesse mais certo. Porque fascista, na acepção que o termo tomou em modo semiótico, significante, não é.

Mas quem sou eu para desmentir esta sumidade florida com rosas no nome? O gajo é catedrático jubilado de História e Ciências Humanas e manda no relato oficial da história de Portugal, contemporânea.

O que eu escrevo aqui para essa sumidade é zero e é isso que me encanta. Só preciso de lhe colocar questões que se afiguram retóricas e apenas lidas por mim que me interesso por entender estas coisas.

Então Salazar foi um fascista, como os demais? A negação da afirmação está implícita na justificação que Rosas fornece a neófitos: um "fascismo à portuguesa". Ora não há fascismos à portuguesa porque fascista foi o regime italiano. O regime nazi não foi um fascismo. O franquismo também não. O que sobra disto, então? Uma palavra gira, usada no modo de linguagem operativa e funcional e que se presta a propaganda ideológica a quem os comunistas dão alto valor significante.

Uma necessidade teórica derivada de uma posição ideológica inventada pelo...comunismo soviético. A explicação desta falsidade, desta manipulação teórica e deste sofisma ou paralogismo reside logo numa citação que Rosas faz a pag. 31: " se não quiserem falar de capitalismo nada terão a dizer sobre fascismo"- Max Horkheimer, 1938.

Apesar disso, Rosas abalança-se a definir o fascismo em "sete teses" que expõe no livrito.


A primeira, sobre as condições económicas e sociais do tempo em que apareceram esses tais fascismos, aplicada a Portugal, cita António Ferro como teorizador da propaganda que carece de ligação do líder às massas, à "multidão", para "colmatar a supressão do Parlamento e das liberdades".

Ora bem. Salazar não enquadra nesta análise porque era avesso a tais manifestações de histeria pessoal e colectiva. Por outro lado, a análise pode igualmente aplicar-se ao...comunismo ou a qualquer populismo de ocasião.

A segunda é que o fascismo é produto do capitalismo, deinde aquela citação inicial. Aplicada a Portugal o que dá isto? Nada porque nem Rosas se atreve a citar um único exemplo de tal "tese"... enfim.

Terceira tese: o fascismo precisou sempre de apoio da "direita conservadora". Por si mesmo não teria chegado lá...ao poder.
O que dá isto aplicado a Portugal?  Nada. Os argumentos que Rosas usa neste caso são risíveis para dizer o menos. Cita Rolão Preto e a adesão das "elites e das classes dominantes" mas não pode ajuntar o "culto da violência" porque simplesmente tal não existiu em Portugal.
O que existiu foi a extrema violência ideológica do republicanismo jacobino que arruinou o país em pouco tempo. Foi isso que trouxe Salazar...mas Rosas não diz tal coisa,

Quarta tese: o aparecimento do fascismo obedeceu a uma "época histórica". Foi? E o comunismo? E em Portugal, no início dos anos trinta também foi assim? Salazar apareceu por cissiparidade histórica com Mussolino ou Hitler? Quem é capaz de sustentar tal tese arrevezada? Rosas.  E gasta uma página para sustentar tal tese que carece evidentemente de petição de princípio. Relativamente a Portugal nem uma linha...

Quinta tese: "é necessário estudar o fascismo como fenómeno dinâmico, complexo e mutante". É? Julguei que estava estudado e que a tese fosse outra coisa. Dizer que há distinção entre fascismo-movimento e fascismo-regime deixa-nos na mesma, sem explicação alguma . Definir depois o fascismo como um regime que  de "hegemonia doutrinária de uma ideologia nacionalista, organicista, corporativa, autoritária, antidemocrática e anticomunista, elaborada pelas direitas conservadoras antiliberais", diz tanto do fascismo como das direitas anti-liberais que evidentemente não serão fascismo. E dirá o mesmo de um salazarismo que também o não será. Fica tudo por definir e as restantes teses não ajudam nada...

Sexta tese: o totalitarismo ou o "totalitarismo tendencial" ( ahahaha", isto é mesmo de rir...) "é uma dimensão ideológica essencial dos regimes fascistas". De facto, esta tese arruína por completo a tese geral. Salazar nunca foi totalitário. E dito assim com autoridade de quem a não tem, vale isso mesmo: Salazar nunca foi totalitário. Repito: Salazar nunca foi totalitário. Quem o afirma é burro. Totalitários foram os regimes comunistas, por exemplo.  Para sustentar a tese, Rosas cita Águedo de Oliveira, num escrito de 1936.
Esqueceu-se foi de citar Salazar e os seus discursos que aparentemente não leu, apesar de os incluir na extensa bibliografia. Mas vou eu colocar aqui para se ler. É já a seguir.

Depois indica a última tese,  ainda mais patética que as demais: o colonialismo moderno. Diz Rosas que não é possível explicar o fascismo sem o colonialismo, a violência ilimitada usada pelos colonizadores contra os povos colonizados.

Os ingleses foram sempre uns fascistas do camandro, pá! E dos maiores porque tinham o maior império de sempre, da modernidade e que abrangia o nascer e o pôr do sol. Era sempre dia, para tais fascistas.

Enfim. É com estas sete teses que Rosas pretende explicar o fascismo de Salazar. Até me rio, eu um ignorante destas coisas. Choca-me ver um propalado catedrático a escrever tantas baboseiras.

Para explicar o que foi o Salazarismo, Rosas só precisava de citar...Salazar. Nada mais. E nem sequer muitas páginas. Mas nem uma cita. Nem sequer uma frase...

De facto, esta dezena delas chegava. E com letra que se lê muito bem, tirada do livro de 1955, "Discursos, notas, relatórios, teses, artigos e entrevistas- 1909-1955" , publicado pela Editorial Vanguarda.




Já agora e para quem nunca viu, esta é a escrita, autógrafa, de Salazar, publicada no mesmo volume.


É simplesmente patético ler um catedrático desta espécie a escrever sobre o fascismo de Salazar sem o citar uma única vez...Que estúpido é, este Rosas.

Pode mesmo perguntar-se, como se faz nos comentários deste blog, qual a razão de  um silêncio geral sobre este Rosas, no sentido de qualquer crítica ou mesmo apreciação crítica do livro em causa.

Julgo que tal ausência decorre de uma acentuada diminuição de espírito crítico universitário que se traduz em estranho unanimismo sobre o assunto. Por um lado a endogamia universitária, existente num Portugal pequeno e medíocre e por outro a dificuldade em conseguir empregos categoria suficiente para assegurar uma vidinha decente. Portanto, tudo reflexos de uma miséria que ultrapassa a meramente intelectual, mas dela se alimenta.

Vejamos. Na última edição da revista História aparece uma entrevista extensa a um professor catedrático de História, Luís Reis Torgal, jubilado e que conhece toda a gente do meio.

Mais: é responsável pela arguição da prova de agregação de Fernando Rosas, na Universidade. E amigo do dito, que aliás "estima muito".
Que distância, objectividade ou isenção se poderia esperar de uma pessoa com este sistema de contactos? Nenhuma.



Quem poderia rebater os disparates de Fernando Rosas não terá interesse em fazê-lo. Quem o faz nãoi tem qualquer aceitação académica ou outra e a respectiva autoridade é nula.

Daí o reino destes Rosas...

Sem comentários:

Megaprocessos...quem os quer?