domingo, junho 21, 2009

O manifesto que sabe a pouco


Ontem, o Público ( além de outros) publicava um manifesto subscrito por 28 personalidades da nossa inteligentsia na Economia, cuja essência é a de considerarem duvidoso que os grandes projectos anunciados de obras públicas sejam urgentes para o país. Por isso, sugerem um "grande debate" sobre o assunto.

Hoje, no mesmo Público, Vasco Pulido Valente entende que o apelo é um aviso que deve ser tomado em conta e a sério.
O BE pela voz de Louçã apontou o dedo às responsabilidades políticas de alguns dos subscritores, de bloco central, como autores directos de algumas medidas que nos conduziram aqui. E denuncia a ausência de críticas " à máfia financeira".

Que dizer destes economistas? Pouco.

Em primeiro lugar, tal como Louçã aponta, são eles a inteligentsia de bloco central, incluindo alguns iconoclastas conhecidos ( Medina Carreira e Henrique Neto) e onde se recrutam os ministros de finanças ou de economia. E de economia percebem eles, como poucos.
E que percebem, de fundamental e que ainda não tivessem oportunidade de aplicar o que supostamente sabem? Pouco.

Que vale este "aviso" ou sugestão?

O mesmo que tem valido a sua prática política e técnica ao longo dos anos. Pouco.

Porquê? Por uma razão simples que me parece evidente:

Os economistas desacreditaram-se completamente com a recente crise mundial., como gurus infalíveis das soluções milagrosas.
Mesmo Paul Krugman, o mais recente Nobel do sector, tem sido contraditório nas medidas que publicamente defende para remendar a economia. Ora usa a "língua de caines" para defender uma forte intervenção pública para reanimar a Economia; ora afasta tal linguarejar para realçar virtudes insuspeitas do liberalismo que nos conduziu a um beco do modelo de gestão por flexibilidade em todos os sectores, incluindo a regulação do sector financeiro.

Portanto, continuamos na mesma: que fazer? Devemos acreditar nestas luminárias ou seguir um módico de senso comum que nos ensina que não devemos gastar o que não temos nem vislumbramos ter?
Mais: que faria um destes economistas, acaso fosse nomeado novamente ministro das finanças como alguns já o foram? Saberia o que fazer, exactamente?
Não. Não saberia, porque a Economia, como se demonstrou amplamente, não é ciência exacta e depende de inúmeros factores que os mesmos, ou seja quem for, não dominam.
Os economistas a mandar, querem fazer-nos acreditar que sabem e dominam a situação ( raramente se enganam e nunca têm dúvidas, como é sabido). Mas não sabem e esse segredo escondem-no como quem esconde a insegurança adolescente.

Portanto, para seguir o senso comum, será preciso um economista que nos mostre os caminhos ou dê sugestões avalizadas?

Para quê, se os economistas perderam a credibilidade, perante os sucessivos falhanços em previsões anteriores?

Em artigos recentes nas revistas americanas de grande circulação ( Fortune e Business Week) a ideia que transmitem é mesmo essa, com um acrescento: mesmo assim, não podemos prescindir deles, dos economistas.
Pois então, se não podemos, coloquemo-los no lugar de onde nunca deveriam ter saído: das teorias e modelos de experimentação sem resultados certos. Da academia. E do sítio da tecnocracia.
E denunciemos a sua tendência para explicar o mundo que não compreendem. Como aliás, ninguém compreende plenamente.