Isabel do Carmo, a revolucionária que renega as bombas assassinas em
prol das que não matam e só moem, deu uma entrevista ao i do passado dia 17. Nela conta coisas do seu passado revolucionário. Aparentemente foi tudo muito suave e discreto, tendo sido uma luta patriótica contra o fascismo que prendia e torturava e "matou muita gente na guerra". Supõe-se que se refere à guerra do Ultramar...o que só denota a obscenidade da observação, por contraposição ao branqueamento da sua acção, após o 25 de Abril de 1974 ( tendo sido comunista do PCP, apostatou para se dedicar à Revolução, tendo assim contraído a doença infantil habitual) em que como membro fundador do PRP-BR foi responsável directa por acções armadas e mortais. Diz que nunca pôs bombas. Ajudou a pôr...
Foi presa duas vezes, as duas quando os seus filhos tinham oito meses.
A
primeira vez foi depois da morte do Ribeiro dos Santos, assassinado
pela PIDE. Era filho de um colega médico e emitimos um comunicado na
Ordem. Deixei lá ficar o documento com a minha letra, a PIDE encontrou-o
e prendeu-me, ia eu com a minha filha ao colo. Cinco anos depois foi
com o meu filho, já posterior à contra-revolução. Estive presa quatro
anos e foi duríssimo.
Não se arrepende de nada desses tempos de maior activismo político?
Do
que fiz, nada, defendi aquilo em que acreditava. Às vezes pergunto-me
se não fui uma mãe como as outras, é talvez a única mágoa. Penso para
mim que eles não tiveram as coisas que outras crianças têm. Os pais
estão sempre presentes, vão às actividades, fazem férias, vão à piscina.
Quando saí da prisão tinha a minha filha 11 anos, e o meu filho cinco.
Sendo médica, como é que se gere a defesa da luta armada?
Gere-se
bem. Fui uma das pessoas que mais se bateu dentro das brigadas para as
bombas não matarem ninguém. Era uma questão de princípio que não
houvesse mortes. Depois houve mortes de dois colegas nossos que
colocaram mal a bomba. Mas mortes provocadas em terceiros, nunca
aconteceu. Colocávamos as bombas à noite, quando não estava ninguém nos
edifícios do Estado, e avisávamos as pessoas por telefone, para não se
assustarem.
Pôs bombas?
Antes do 25 de
Abril transportei material explosivo, estive integrada na organização
das acções, fiz observação de locais. Participei completamente na
organização, mas nunca instalei. A minha cara já era conhecida, a PIDE
andava em cima de mim. Este regime matou muito na guerra,
oposicionistas, mas sobretudo torturava muito e há muita gente que foi
muito torturada que não é lembrada. Torturava brutalmente para obter
confissões e, às vezes, já depois de terem confissões, continuavam só
para humilhar. Mesmo aquele ano final do marcelismo, que para alguns
aparecia como uma primavera, foi um ano de brutais torturas.
E isso justificava as bombas?
Com
certeza. Não como vingança ou resposta, mas para abalar o regime.
Porque uma coisa é a actividade clandestina: panfletos, jornais e até
greves. Para um regime como o Estado Novo, isso era previsível, tinham
informadores em todo o lado. As bombas, não. Eram uma coisa física:
atinge e é inesperado. Não se sabe onde ir à procura delas. As bombas
dos últimos anos abalaram muito o regime. O Otelo, no livro “Alvorada em
Abril”, reconhece a nossa influência.
Sente-se injustiçada no rótulo de bombista?
A história de eu ser bombista veio sempre da direita ou da extrema-direita. Não me afecta nada.
E no trabalho, nunca ouviu críticas?
Quando
fui condecorada pelo Presidente Jorge Sampaio, o CDS tomou posição
pública. Aí houve uma polémica com o Pires de Lima, que foi reproduzir o
que estava escrito na internet por um site apócrifo – aliás, fácil de
perceber, porque não falava das Brigadas Revolucionárias, mas das
Brigadas da Revolução. Nessa altura fui explicar-me à televisão porque
havia uma calúnia. Falava em morte de pessoas e isso nunca aconteceu.
Francamente, emocionalmente, vivo bem. E, depois de todos os
julgamentos, fiz a minha vida profissional de forma que isso não fosse
objecção. O que exigiu muito esforço.
Em que sentido?
Foi tudo a pulso. Não tanto pela política, mas porque, para uma pessoa ganhar espaço, precisa de se afirmar pelo mérito.
Para quem não sabe, Isabel do Carmo, juntamente com o seu companheiro de luta de então, Carlos Antunes, faziam a parelha simbiótica com as utopias comunistas da época. Eram os baader-meinhoff de cá, mas não se dão por achados porque de nada se arrependem e nada esqueceram. Mas a memória é selectiva e só perdura no que lhes interessa. Por isso mesmo importa lembrar o que não querem e o jornalismo de trazer por casa, tipo para quem é bacalhau basta, aprecia e serve.
A Wikipedia resume assim o percurso de Isabel do Carmo e do partido que fundou, o PRP-BR e da sua particular ideia de justiça revolucionária ( julgamento e execução sumária e morte dos "traidores", num exemplo subido de humanismo actualizado por esta pacata endocrinologista ):
"Entre 1975 e 1979 o PRP desenvolveu actividade clandestina através
das suas Brigadas Revolucionárias, que estiveram envolvidas em
actividades de "recuperação de fundos" (através de assaltos a bancos e
repartições da fazenda pública) e colocação de engenhos explosivos.
Estas actividades deram origem ao chamado "Caso PRP", que terminou com a
condenação de vários dos envolvidos, incluindo dos dirigentes Carlos
Antunes, Pedro Goulart e Isabel do Carmo. Também reivindicada pelas BR
do PRP foi a execução, em Novembro de 1979, de José Plácido,
ex-militante da Marinha Grande, por delação e alegada corrupção
(apropriação pessoal de fundos do partido, oriundos dos assaltos).
Um importante grupo de militantes do PRP e das BR acabou por fundar, já nos anos 80, as FP-25."
O chamado "caso PRP" colocou vários problemas jurídicos relativamente à repartição de responsabilidades criminais, directas e indirectas, dos seus militantes e dirigentes. O ministro da Justiça de então, Meneres Pimentel ( 1982) confrontado com a greve de fome dos presos do caso PRP-BR, não sabia como resolver o problema e apareceram logo os demais beneméritos a propor a salvífica amnistia.
Como agora se lê, Isabel do Carmo foi uma santa de uma ladeira íngreme de luta contra o fassismo. Uma heroína que lutou contra os algozes do povo português e por isso aplaudiu os atentados bombistas, ajudando a prepará-los, aplaudiu os assaltos de recuperação de fundos aos capitalistas exploradores e aproveitou o seu resultado, aplaudiu os assassínios dos vários inimigos do povo abatidos a tiro, alguns de forma cobarde. Na altura dirigia o PRP-BR e que se saiba nunca se demarcou pessoalmente dos homicídios cometidos. Vem agora verter as lágrimas de crocodilo sobre o leite derramado, atirando a responsabilidade pelas " calúnias" para a "direita e extrema-direita" .
Para além disso, Isabel do Carmo teve sempre o beneplácito de uma certa esquerda moderada entranhada no O Jornal e depois na Visão. Várias foram as reportagens que a mostraram a ela e aos filhinhos sem que idêntica imagem fosse dada dos filhos daqueles que morreram às mãos dos terroristas do PRP-BR e depois das FP-25, uma excrescência da mesma hidra.
Em 15 de Agosto de 1975, a Flama ( imagens tiradas daqui) mostrava numa entrevista do que era feito o espírito de Isabel do Carmo, a actual santinha da ladeira do comunismo renegado.
E explica o aparecimento do nosso grupo baader, perdão, revolucionário das causas perdidas, o PRP-BR:
Por isso vale a pena lembrar o que dela e dos demais, incluindo o outro benemérito Carlos Antunes, disse um que os conheceu demasiado bem: Altino Alves Dias de Oliveira que no Expresso de 20 de Dezembro de 1980 ( estava Isabel do Carmo presa, juntamente com outros elementos do PRP-BR, enquanto cá fora os outros revolucionários do grupo estavam prestes a formar as FP-25 que nos anos seguintes espalharam o terror em Portugal) .
O artigo prossegue por mais páginas...mas estas chegam para lembrar a Isabel do Carmo que há quem tenha memória dos factos e nem todos os jornalistas são mentecaptos.