João César das Neves, um economista de escola, publicou no outro dia um pequeno texto no Diário de Notícias que começa assim:
Nos anos 1960,
Portugal era um país pacato e trabalhador, poupado e prudente, que se
sacrificava generosamente, labutando dia e noite para cumprir os
deveres. Frequentemente emigrava e procurava vida melhor noutras terras.
E os patrões, franceses ou alemães, suíços ou americanos, gostavam
dele, por ser pacato e trabalhador, poupado e prudente. Havia quem
abusasse da sua dedicação, e ele sabia-o. Sentia-se enganado, mas apesar
disso trabalhava com afinco.
Um dia, Portugal recebeu uma boa
notícia da terra. Aqueles que abusavam dele tinham sido afastados. A
opressão acabara e ele podia regressar, para viver rico e feliz na sua
própria casa. E Portugal voltou, porque já não seria preciso ser pacato e
trabalhador, poupado e prudente. Era um país democrático, livre,
independente. A nova geração iria viver como os patrões franceses e
alemães. E Portugal gastou. Criou autarquias e dinamização cultural,
comprou frigoríficos e televisões, fez planeamento económico, exigiu
escolas e hospitais.
Só que a euforia da liberdade política criou
um problema de endividamento. Quatro anos após regressar, Portugal
estava falido, com o FMI à porta, exigindo pagamento. O choque foi
grande. Portugal compreendeu que, afinal, não era como os patrões
europeus. Estava tão desgraçado como os mexicanos, os argentinos, os
gregos e outros países da dívida. O buraco era enorme. Não havia
solução. ( continua, no original)
Só por causa do articulista ter escrito que o Portugal dos 60 era um país pacato e trabalhador, saltaram-lhe às canelas os escuteiros mirins do antifassismo militante, sempre atentos e de patas na terra, como o cão raivoso da canção de outro escuteiro mirim.
Tal como na lenda da historiera em quadradinhos da Disney, os escuteiros mirins pertencem a um país fictício, onde os factos não contam em contexto- só a ideologia. As estatísticas dos escuteiros mirins são marteladas para darem o resultado previsto, naquilo que tendes visto: muitas revoluções embargadas, mas não por vontade própria, porque a luta continua...pois é deles a sua história e o povo saiu à rua.
Estes mirins da fantasia cripto comunista, travestida agora de democracia apressada para um socialismo utópico sem saída alguma visível no senso comum, insistem nas mesmas ideias para os mesmos objectivos e com os mesmos propósitos: abater o que chamam "burguesia". Não esqueceram nada, nada aprenderam e tudo pretendem voltar a repetir e até já ameaçam, num delírio tremens de ideias feitas.
Um desiludido desta fantasia mirim, Fernando Dacosta, in illo tempore jornalista de O Jornal, conta a este propósito, umas histórias dignas de serem lidas, no O Diabo desta semana.
Aos mirins, huguinhos oliveiras, zezinhos lavos e luisinhos coisos, com umas lélés pelo meio, trata o Dacosta assim:
"Acho muita graça ver aí pessoas com grande projecção que viveram e nasceram depois do 25 de Abril a contar como era a vida antes. Eu rio-me!"
De facto, às vezes é de rir, com estas aventuras dos mirins contadas por quem não conhece o que se passou a quem não faz ideia do que foi. E seguem sempre o Manual. Fictício, claro, porque são sobrinhos do Pato Donald que lhes paga as contas e lhes arranja empregos. Até na tv.
28 comentários:
Aqueles que abusavam dele tinham sido afastados
Não compreendo. Pensava que quem abusava eram os patrões franceses, etc. É o que depreendo do texto...
Mas afinal, era a opressão...
É bem feito ao sr. das Neves, quer ser só meio-mirim, mas isso não é tolerável pelos mirins até ao tutano.
Agora chafurda na lama e rói bolotas como os outros. Como os outros, não - que há muitos que mais não têm para emborcar senão lavagem. Ele, ainda poderá deitar a dentuça a uma castanhinha ou outra...
a esquerda festiva tipo 'mr Magoo ou sr pitosga'
envio um verso de Catulo que nunca foi traduzido até muito recentemente, por ser o máximo doa pornografia literária latina, e por ser muito explícito
'pedicabo egos vos et irrumabo'
Quão revelador, que tenham sido precisas dezenas de séculos até que alguém resolvesse traduzi-lo(s - ao resto do poema também)...
Há em português?
Não apenas o verso, mas todo o poema?
Infelizmente, sendo filho da democracia e rojando-me na lama, ninguém achou por bem ensinar-me latim. Nem o porco...
Mujahedin:
o poema 16 de Catulo encontra-se apenas em tradução inglesa que não encontro.
ao procurar referências ao azeite bético exportado para a Roma Imperial no séc II-III AD encontrei a tradução castelhana apenas do primeiro verso:
'os sodomizaré y me la chupareis'
Fazendo minhas as palavras de um cidadão russo entrevistado numa Praça de Moscovo para o programa "Portugueses no Mundo" da RTP-1 e em resposta à famigerada liberdade que o novo regime supostamente lhes trouxe: "... nós agora temos liberdade mas é só para dizer que não temos liberdade...".
É isto sem tirar nem pôr o que as democracias levam aos povos em cujos países, que não as solicitaram, elas são introduzidas a bem ou a mal. Abreviando, para se conseguirem impor e serem aceites de bom grado pelas populações, os regimes democráticos ou melhor as personagens obscuras que dizem representá-los, socorrem-se de falsidades monstruosas e mentiras mil e em virtude destas e escudando-se nelas (e sem que os povos mìnimamente se apercebam) cercearem a liberdade, a verdadeira, em todas as suas vertentes.
O cu e a boca vos foderei eu,
Aurélio minha bicha, Fúrio meu paneleiro,
que pelos meus versinhos me julgam,
por tão delicadinhos serem, pouco virtuoso.
É que casto deve ser o bom poeta,
não têm de o ser os seus versinhos,
que além do mais têm picante e graça,
sendo tão delicadinhos e pouco virtuosos,
e se podem provocar comichões,
não digo aos miúdos, mas a estes peludos
que não conseguem mexer as duras piças.
Vocês, porque "muitos milhares de beijos"
me leram, acham que eu sou pouco macho?
O cu e a boca vos foderei eu!
Não é verdade o que estiveram para aí a dizer sobre Catulo. Não fazem mesmo puta de ideia. Já no séc. XVI foi portuguesa a melhor edição do Veronês. Tão conseguida logrou ser a edição feita por Aquiles Estaço que ainda hoje é referida nas edições críticas. Aliás sobre este carme 16 tece o humanista alentejano longas considerações em mais do que uma ocasião. Ah, e o pobre do Estaço era um reaccionário do caraças, foi eclesiástica e secretário de três papas e e de um cardeal. Por estranho que pareça aos beócios de hoje nenhum português tevo naquele tempo biblioteca maior do que a sua.
na Net
Pedicabo ego vos et irrumabo é o primeiro verso, por vezes usado como o título, de Carmen 16 na coleção de poemas de Caio Valério Catulo (c. 84 a.C. – 54 a.C.). O poema, escrito em métrica hendecassílaba, foi considerado tão explícito que uma tradução completa em inglês só foi publicada no final do século XX.1 O primeiro verso foi chamado de "uma das expressões mais sujas já escritas em latim".2
foi aqui que procurei o uso do azeite como base de perfumes, mas afinal era o poema 6
na net
Un poema en latín que nadie se atrevió a traducir en 20 siglos
por Javier Sanz el 7 noviembre 2011
Cayo Valerio Catulo (siglo I a.C.) fue un poeta latino de la época republicana. Las obras que se conservan de Catulo son 116 poesías, en las que se mezclan poemas líricos, poesías amorosas, otras dirigidas a amigos o enemigos, improvisaciones ingeniosas, anécdotas, sátiras y… un poema que nadie se atrevió a traducir en 20 siglos.
na Net
V.Un poema y tres traducciones: Catulo 16
Tomemos un ejemplo de todo lo dicho, por ver si así se entiende mejor el razonamiento.
Para esto, bien puede servirnos un poema de Catulo, pero no uno cualquiera, sino el 16, del
que se ofrecen el texto original y tres traducciones españolas:
Catulo XVI:
Pedicabo ego vos et irrumabo,
Aureli pathice et cinaede Furi,
qui me ex versiculis meis putastis,
quod sunt molliculi, parum pudicum.
Nam castum esse decet pium poetam
ipsum, versiculos nihil necesse est;
Tenho ideia que o Américo da Costa Ramanho compilou uma série de traduções.
Que engraçado. Está digitalizada a tradução do Aquiles Estaço
http://books.google.pt/books?id=YyRQAAAAcAAJ&printsec=frontcover&hl=pt-PT&source=gbs_ge_summary_r&cad=0#v=onepage&q&f=false
E ele refere logo os comentários de Apuleio, S. Jerónimo e Santo Agostinho.
Está inteirinho na página 62.
o que eu aprendi a partir duma gralha e de um poema que ignorava.
triste por verificar que quase ninguém conhece traduções feitas na Ibéria
Ele manda para lá uma boca por causa do "mover lombos em crocótula" do Virgílio e mais outros versos do Marcial
ehehehe
Já eu, que por ignorância não posso tecer comentários sobre a erudição que por aqui vai, oferece-se-me observar que à esquerdalhada com a mania de cuidar que é mui liberal e considera coutada privada estes temas mais alternativos, apareceu-lhes aqui um bom exemplo de como isso não é verdade! Ahaha!
Sofrem as senhoras - com excepção da Zazie, que leva treino do gangue da Zundapp - com o destempero, embora erudito, da indecência do palavreado!
Paciência, até porque hoje em dia vê-se pior no telejornal, com a agravante da falta de erudição eheh!
Tenho que dar conhecimento deste pedaço de Arte a S.Excia. Camarada Dr. Arq. Eng. da Paz Comandante-em-Chefe Zé Kitumba que embora não prime pela erudição e conhecimento dos clássicos, é primus inter pares no que ao deboche toca, venha ele em que feitio vier. A tradução em português calha bem, que ele não é muito amigo do inglês porque diz que lhe não agrada o sotaque...
«cada vez que un agricultor abandonaba el campo y emigraba a la ciudad, se estaba ante un productor de alimentos menos y un consumidor de alimentos más
texto de Galeno (c. 129-199 d.C.), tomado de su obra Sobre los buenos y malos jugos de los alimentos, VI, 749ss., nos muestra cómo en las épocas de hambre se hacía sentir de forma especialmente notoria el predominio de la ciudad sobre el campo
Carta de Aristeas a Filócrates, 108-109: "Todas las grandes ciudades que gozan de una prosperidad que responde a su importancia ven incrementarse su población, mientras que su campo se despuebla, pues todo el mundo desea gozar de la vida
J.J. Rousseau, El contrato social, Barcelona, 1993 [1762], libro III, capítulo XIII (p. 91 de esta edición) nos recuerda que "los muros de las ciudades se construyen con las ruinas de las casas de campo". »
Catulo poema 6
Pues tú no yaces una sola noche
solo; tu cama aulla, sin quedar tácita
nunca, olorosa de algún sirio aceite
y guirnaldas; y quedan tus cojines
gastados, entre el chirriar que sacude
tu lecho, tan trémulo y fatigado.
Não, zazie, as traduções de Catulo não são de ACR mas de Ribeiro Ferreira. Houve um panasca que traduziu e publicou a C. 16. Estaço não traduziu, atenção, editou, fez edições críticas de Catulo, Horácio, Cícero, Suetónio e de alguns Padres da Igreja; era apenas um dos melhores filólogos europeus. Não era qualquer um que editava na casa impressora de Aldo Manuzio! Sobre a decência e indecência é muito interessante a carta a Rusticucci de que há tradução portuguesa recente.
O que eu disse é que o ACR tinha compilado uma série de traduções.
Ele era excepcional.
Obrigada por todas as informações.
Sim, tem uma antologia de latim renascentista, mas dos clássicos latinos 'só' traduziu Cícero. Claro que era excepcional, sei-o muito bem porque fui discípulo dele durante décadas. Já estou a falar demais...
eheheh pois está
";O)
Não gosto da forma paternalista e em forma de "purificação pelo sofrimento" do César das Neves. Não direi, necessariamente, que é uma visão fascista mas desagrada-me.
O problema deste texto é dizer que as pessoas passaram a comprar "frigoríficos e televisões" como se, pelo menos, o primeiro fosse um luxo a que o pacato e trabalhador não devesse aceder.
É como o outro idiota que acha que ser historiador é uma parvoíce.
São as cigarras e são os piegas.
Actualmente existe uma tradução dos Carmina de Catulo na Editora Cotovia mas não posso avaliar a sua competência.
Na Antologia Poesia de 26 Séculos (1º volume),Jorge de Sena traduziu(não o 1º verso):
"Pedicabo ego vos et irrumabo",
Aurélio sem dentes,Fúrio sem fundo,
Que de mim dizeis,porque são meus versos
Tão livres assim,que sou depravado.
Casto consigo deve ser o poeta,
Mas nada obriga a que a poesia o seja.
Licença e desvergonha são o sal
Com que versos se fazem.Assim excitem,
Senão crianças, ao menos os pilosos
Que enferrujados já não movem lombos.
E vós,porque de muitos mil de beijos
lestes,que não sou macho andais dizendo?
"Pedicabo ego vos et irrumabo".
Não esquecer a obra do compositor Carl Orff sobre os "Catuli Carmina",especialmente sob a direcção do maestro Eugen Jochum--Deutsch Gramophone.Foi este o único maestro "aprovado" por Carl Orff para a regência de outros carmina--os Carmina Burana.
De Marco Valério MARCIAL(os célebres Epigramas),outro desbocado, existe tradução portuguesa na já citada Antologia e na editora Edições 70.
Por falar em Deutsche, na passada quinta-feira conseguir arranjar finalmente o disco que servia de indicativo ao Em Órbita de Jorge Gil, nos anos setenta, no programa que passava cerca das 19 horas, no rádio.
Julgava que o tinha arranjado há uns anos quando ouvi a versão da Deutsche Messe, de Schubert sob a direcção orquestral de Karl Foster e coro da catedral de Berlim, numa gravação de 1959 ou 1961 ( o disco não tem a referência).
Tanto estava convencido que não me importei em procurar mais e julgava ter achado esse graal.
Puro engano. Na passada quinta-feira, na discoteca Louie-Louie em Lisboa ( nas escadinhas que vão dar ao metro-Chiado) encontrei um disco de 1973 perdido no meio da dúzia de lp´s de música clássica que lá tem.
O disco é o que reune a Deutsche Messe de Schubert, acompanhado da Missa em Mi Menor de Bruckner e é da Telefunken alemã, mas neste caso fabricado pela Valentim de Carvalho.
A obra intitula-se Cânticos para a celebração do Santo Sacrifício da Missa e os textos estão traduzidos para um português irrepreensível.
Logo que li o título em português e ouvi a peça musical, fiquei sem qualquer dúvida. Aleluia!
Ah!É a versão do Bergedorf Kammerchor, dirigida por Hellmut Wormsbächer.
A tradução do texto original, na contracapa, suponho ser da autoria de Widfried Kirsh.
Já ouvi esta versão novamente, vezes sem conta. Fantástico como a memória musical perdura durante décadas sem qualquer alteração.
Muito obrigado,José,por essa demanda bem sucedida.A segunda fase do Em Órbita foi decisiva para me libertar do "império" Karajan/Bernstein,os únicos maestros que conhecia em meados dos anos setenta.Mas nunca me tinha debruçado sobre os intépretes dessa Deutsche Messe...Vou anotar.
José J.
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