quarta-feira, outubro 05, 2016

Portugal, um país colonizado pela Esquerda




Pacheco Pereira escreve na Sábado de hoje um artigo em que defende que a guerra de guerrilha que defrontamos em Angola, Moçambique e Guiné, durante mais de uma dúzia de anos nos sessenta e setenta do século que passou, era uma "guerra colonial". Porquê? Porque sim e porque foi assim que a esquerda  a definiu, desde o início. "Para quem se lhe opôs, desde os desertores, os refractários, os militantes contra a guerra nas escolas e fábricas, os partidos clandestinos que combatiam a ditadura, ninguém a designa a não ser como guerra colonial".  E pronto, está assim explicado.


Como é óbvio não está e a opção pela linguagem usada carece de justificação.
A questão principal tem a ver com um ponto incontornável e que aquela oposição esquerdista se recusou sempre a discutir, por motivos estritamente ideológicos: os territórios ultramarinos que descobrimos sem vivalma, no séc. XVI, na África, eram colónias portuguesas?
Foram assim designadas durante um período histórico em que tal era corrente. Houve até um Acto Colonial que durou o tempo em que a noção de imperialismo e colonialismo não tinham a conotação que posteriormente passaram a ter. Essa Lei constitucional  aprovada em 1930 e que vigorou até à revisão constitucional de 1951 definia claramente que Portugal,  tinha uma "função histórica e essencial de possuir, civilizar e colonizar domínios ultramarinos". Sem complexos, portanto.

A partir de então, a política portuguesa em relação aos territórios ultramarino mudou de orientação ideológica:  "Com a revisão constitucional de 1951, a visão imperalista foi teoricamente abandonada, sendo substituída por uma estratégia que visava a assimilação civilizadora das colónias à metrópole, com o objectivo final de criar uma nova ordem política, que podia ser a integração total, autonomia, federação, confederação, etc. Reflectindo esta nova visão teórica, as colónias passaram a designar-se por "províncias ultramarinas".

Foi esta ideia básica que se manteve durante todo o Estado Novo e ainda no tempo de Marcello Caetano com o Estado Social.

Foi esta ideia básica que sustentou a defesa da integralidade do território ultramarino, perante as potências internacionais, incluindo os EUA de Kennedy, ao tempo do início da guerra de guerrilha feita pelos "movimentos de libertação" que para os portugueses eram apenas "movimentos terroristas".

Assim, a escolha da linguagem corrente, a propósito da guerra de guerrilha que se desenvolveu nos territórios portugueses do Ultramar africano é tributária da submissão ideológica que cada um tomar. Não é um dado de facto que tal guerra fosse "colonial" tout court. Sê-lo-á apenas para quem entender, como o entendia a esquerda comunista de oposição a Salazar/Caetano, que Portugal era um país imperialista e que subjugava ilegitimamente os territórios ultramarinos que eram apenas colónias e nada mais, prontas a serem depenadas nos seus recursos naturais e explorados os seus povos, sem outra razão.

Pacheco Pereira continua fossilizado nesse tempo. Que fique para lá, para sempre.

Quem quiser entender melhor o que era o conceito de "província ultramarina" para os portugueses que não eram comunistas nessa época de Salazar/Caetano ( Pacheco Pereira era...) e que aliás era a esmagadora maioria do povo de Portugal, o melhor será ler estas páginas da revista Observador de 15 de Outubro de 1973.





De 1951 a 1974 Portugal não teve "colónias" mas sim "províncias ultramarinas" e a mudança de designação não foi apenas semântica mas continha em si um conceito explicado e entendido politicamente como relevante e essencial para tal.
Portugal tentou durante o tempo de Salazar/Caetano manter os territórios ultramarinos como se os mesmos fossem parte integrante de uma Nação una e indivisível. Tal conceito evitou a cedência aos americanos que repetidas vezes tentaram negociar a entrega desses territórios a populações autóctones e indígenas, com base em princípios que decorriam do direito internacional dos povos à autodeterminação.

Tal conceito decorreu da relação de forças internacionais no pós-guerra, com a proclamação desse princípio que deu azo aos movimentos de libertação nos respectivos territórios espalhados pelo mundo e que alguns países ocidentais tinham tomado posse militar e administrativa em séculos passados.

Portugal tentou contornar tal dificuldade inventando um conceito que nos tornaria supostamente únicos nesse concerto de Nações.

Os imperialismos que ocuparam espaço no século XX , designadamente o das duas maiores potências, com outras à espreita ( China) não permitiram veleidades aos portugueses e apoiaram os movimentos autóctones que pretendiam a independência desses territórios.
Para nós o momento chegou em 1974 com a tomada de poder efectivo pela esquerda comunista e socialista aliada aos militares "de Abril".

O conceito que até então existia acerca dos territórios ultramarinos e que se encontra explicadinho naquele artigo da Observador, esboroou-se em dois tempos através da modificação da linguagem corrente.

De repente e da noite para o dia os esquerdistas dos jornais começaram a escrever "colonialismo" e "imperialismo" como se tais expressões fossem do uso corrente de todos, o que não era verdade.

Eram apenas expressões próprias dessa esquerda comunista e socialista que foram ingenuamente aceites pelo resto das entidades políticas que passaram a existir em Portugal.

Isso não impede, porém, que a verdade dos factos históricos seja conhecida, reposta e modificada tal linguagem que não corresponde ao que se passou.

A não ser que Portugal tenha sido durante décadas uma colónia da esquerda, o que de facto sucedeu a partir de 1974, mas não antes. E é desse período anterior que estamos a tratar, do oficial e não do clandestino.

Se Pacheco Pereira e quejandos ainda vivem na fantasia desse tempo mítico clandestino que prolongaram até agora, que ao menos tal seja mostrado claramente.

Portugal nem sempre foi uma colónia da Esquerda e se alguns assim o pensam estão enganados.

E não venham para cá com a cantilena de sempre sobre o regime ser fascista. É chão cujas uvas estão podres.

Nesse número da revista dá-se conta da evolução da campanha eleitoral então em curso. Assim:



Quem ler pode verificar que aparece o nome de Mário Soares, Àlvaro Cunhal, a referência explícita à linguagem que agora denuncio e ainda a "pichagem" no mural com a escultura do marechal Carmona e que é do...MRPP. Isto em 1973...

Deixem-se por isso dessas merdas do fassismo que já cheiram mesmo mal.

Questuber! Mais um escândalo!