Os media nacionais estão atolados em dívidas. Não conseguem fazer jornais, revistas, televisões ou rádios que sejam rentáveis e estão em "falência técnica", como dantes se dizia.
A razão para o descalabro vão buscá-la sempre aos outros e nunca à própria incapacidade em perceber por que razão certa o público não lhes compra o produto e os anunciantes não lhes encomendam espaço publicitário.
Uma desculpa recorrente é que lá fora é igual, como se lá fora fosse mesmo igual a qualidade de informação e os problemas acumulados por cá.
Hoje mesmo apareceu nos quiosques este jornal semanário, francês, desdobrável em quatro, Le Un que já vai no número 131 e é dirigido por Éric Fottorino, um antigo director do Monde, de 2007 a 2011.
É um jornal exemplar e que por cá não existe nada parecido. Nele são elencados problemas da imprensa e media franceses.
Porém, ler alguns jornais e revistas franceses de informação e comparar com o que por cá temos até dá vontade de rir, um riso amarelo, diga-se.
Para mim os problemas do jornalismo português aliam a falta de qualidade jornalística, em geral, à mediocridade informativa em particular e será esse o principal problema do jornalismo português. Porém, há pelo menos um jornal nacional que tem qualidade informativa regular e adequada: o Jornal de Notícias, do Porto. Essa qualidade mostra-se nas notícias de âmbito regional, mas escapa de todo ao leque de comentadores escolhidos pelo senhor Camões que o dirige e é amigo de José Sócrates que foi quem o colocou no lugar, por interposta pessoa, segundo consta.
Ainda assim é o melhor jornal português da actualidade. Curiosamente não é dos coleccionados pelo guardador de papel impresso que assina JPP provavelmente porque não lhe interessa o verdadeiro jornalismo, mas sim os ensaístas de jornal que pululam nos outros como lêndeas em maré de praga piolhosa.
O fenómeno pode resumir-se nisto que já vem do tempo anterior a 1974, como mostra o Diário de Lisboa, 17 de Janeiro de 1974:
As pessoas não se consideravam bem informadas sobre o que se passava cá dentro, nessa altura em que governava Marcello Caetano. Obviamente que o objectivo do jornal dirigido pelo comunista Ruella Ramos era denunciar subrepticiamente a Censura e tal era verdadeiro em parte.
Actualmente, não existindo Censura com Direcção Geral há a Censura da direcção dos jornais e da mentalidade do jornalista que sabe a quem obedecer e não escreve o que deve mas o que se lhe impõe para salvar o lugar...e não sei bem qual será pior, se antes ou agora.
Portanto a falência do jornalismo nacional é mais que económica porque deriva essencialmente da falência do espírito profissional que deveria existir e parece arredado da maioria das redacções.
O caso mais dramático e paradigmático é o do Diário de Notícias...e da Global Media em geral, tal como José Manuel Fernandes contava em Setembro transacto, a propósito do livro de José António Saraiva:
Um bom exemplo daquilo a que me refiro é o que se passa no grupo Global Media, um dos maiores do país e proprietário do Diário de Notícias, Jornal de Notícias e TSF. A “indignação” de alguns dos jornalistas-colunistas desse grupo com o livro de Saraiva foi imensa. O que dá para ficar espantado, por causa dos telhados de vidros daquela casa. Por isso desculpem-se ser desmancha prazeres, mas num fim-de-semana marcada pelo protagonismo político de José Sócrates não é possível continuar a ignorar a passadeira vermelha de que continua a beneficiar naquele grupo de comunicação. Mas vamos a factos.
Primeiro facto. Sabemos hoje, graças à Operação Marquês, que José Sócrates teve um papel determinante na transferência de propriedade daquele grupo em 2014, poucos meses antes da prisão do ex-primeiro-ministro. A sua preocupação era controlar as direcções dos dois jornais, tendo, através do seu amigo e advogado Proença de Carvalho, defendido a nomeação de Afonso Camões para esses lugares. Esse jornalista, amigo de Sócrates, chegou mesmo a definir-se como um “general prussiano” que “não se amotina”, podendo ser um “joker” em qualquer posição de direcção. O actual director do Jornal de Notícias é, de resto, um amigo de longa data de José Sócrates, que o colocou em lugares tão importantes como a direcção da Lusa e que contou com a sua colaboração noutras “operações” (aí, refira-se, o livro de Saraiva revela alguns episódios curiosos sobre a acção de Camões que eu desconhecia).
Mas sabemos mais. Sabemos que Proença de Carvalho é hoje o homem forte da administração do grupo e que os órgãos de informação da Global Media têm sido utilizados, com pouco ou nenhum escrutínio, por José Sócrates para difundir as suas mensagens. Correndo o risco de me falhar alguma intervenção, fiz um pequeno levantamento – pequeno mas significativo:
- 27 de Novembro de 2014: Primeira mensagem de Sócrates depois da prisão, divulgada pela TSF (e pelo Público);
- 4 de Dezembro de 2014: Carta publicada no Diário de Notícias;
- 5 de Março de 2015: Carta escrita a partir do estabelecimento prisional de Évora e entregue ao Diário de Notícias, Jornal de Notícias e TSF, com críticas a Passos Coelho;
- 4 de Abril de 2015: Texto de opinião publicado no Jornal de Notícias;
- 8 de Junho de 2015: Declaração exclusive ao Jornal de Notícias sobre a recusa de pulseira electrónica;
- 12 de Junho de 2015: Declarações enviadas por escrito à TSF e ao Diário de Notícias;
- 30 de Junho de 2015: Entrevista conjunta ao Diário de Notícias e à TSF;
- 19 de Agosto de 2015: Carta enviada ao Jornal de Notícias (e à SIC);
- 19 de Junho de 2016: Texto de opinião publicado ao mesmo tempo no Jornal de Notícias e na TSF;
- 26 de Junho de 2016: Texto de opinião na TSF (não se encontram no site da TSF textos de opinião de mais nenhum político);
- 10 de Setembro de 2016: Texto de opinião no Diário de Notícias.
- 16 de Setembro de 2016: Entrevista à TSF sobre o juiz Carlos Alexandre.
No que diz respeito ainda ao grupo Global Media refira-se ainda que os órgãos de informação que o integram recusaram publicar a publicidade do Correio da Manhã em que se criticava uma decisão judicial que, durante alguns meses, impediu aquele jornal de publicar informação relevante sobre a Operação Marquês.
Estes dados indicam que aquele grupo de comunicação tem servido ao ex-primeiro-ministro como plataforma para defender as suas posições, com privilégios de acesso únicos, quase absoluta ausência de escrutínio, tudo isto quando se sabe que ele interferiu, em 2014, na escolha das direcções editoriais e que tem o seu amigo e advogado como presidente do Conselho de Administração.
Contudo parece haver uma espécie de “conspiração do silêncio” que não questiona esta situação, isto enquanto fervem as indignações por causa de um livro que, na verdade, só põe por escrito aquilo que todos sabem sobre a vida privada de algumas figuras públicas. O povo pode gostar muito de mexericos (enquanto diz mal deles), mas certo, certo, é que falar de mexericos é muito útil para não se falar de coisas realmente importantes. E para mascarar a hipocrisia reinante.
Na imagem, o director do jornal é ouvido pela redacção e pelo dono virtual do jornal , Proença de Carvalho.
Dificilmente se encontrará melhor legenda para o que se passa actualmente no jornalismo nacional.
Talvez com a imagem deste o panorama seja ainda mais completo...
Fazer jornalismo não é como vender fruta nem como fazer política partidária ou de interesse particular deste ou daquele grupo. E é esse o problema desta gente que agora anda à rasca.
11 comentários:
Eu não me considero bem informado sobre o que se passa em Portugal.
Na verdade, se não fossem os blogues bem poderia dizer que não estava informado, de todo.
E penso que estou mais - e melhor - informado que a generalidade das pessoas com quem tenho contacto.
A esmagadora maioria das pessoas não está bem informada e poderia estar, porque agora, aparentemente tudo seria possível dizer.
Tal como a austeridade acabou a censura também acabou...
Os jornalistas-fretistas,salvadores do planeta só andam a dar tiros nos seus próprios pés...nas não de forma "patriótica" que alguns sem vergonha alegam...
Eu também não considero que disponha de boa informação, nem sobre temas nacionais nem internacionais.
O problema é o mesmo um pouco por todo o lado, devido a razões que já foram aqui debatidas.
É preciso saber onde ir procurar informação mais próxima da realidade. Não só mais fidedigna, como mais exaustiva, no sentido de cobrir de facto o que ocorre.
Ninguém por cá relata o que se está a passar em França com a polícia e os bairros do costume. Esses assuntos não têm cobertura. Se não forem relatados, não existem.
Na Alemanha, idem. É preciso ir procurar em blogues a simples referência à ocorrência dos factos. Depois, consoante o blogue, assim a análise. Porém, o problema é que nem chegamos à possibilidade de analisar/interpretar se não soubermos que as coisas se passam.
É simplesmente inacreditável!
Vejo na Internet sites de noticias, vários blogues e vou filtrando a informação.
TV não vejo aos anos. Youtube, documentários, etc.
Hoje em dia é preciso pesquisar e tal para se chegar a uma meia verdade.
Jornal...o que estiver no café, que costuma ser o JN ou o CM.
A censura agora é auto. Quem tiver responsabilidades mínimas em alguma coisa, tem medo do que possa ser apanhado a dizer, se não for a favor dos amanhãs que cantam. Pode até estar em causa o próprio emprego.
Ao contrário do que se possa pensar, nunca foi tão necessário algum tipo de curadoria noticiosa, que pelo menos filtre o mau, o falso, o encomendado, etc… Mas, os jornais e jornalistas, em vez disso, são o mau, o falso e o encomendado. Não são gente em que eu confie para me informar. -- JRF
a dívida pública aumenta milhões em cada segundo que passa
os juros sobem
deviam vender em saldo
as autarquias
os ministérios
a geringonça
os palácios
entregar o rectângulo aos credores
o pm anda desaparecido
os ministros não aparecem
o PR anda cada vez mais enigmático
por vezes com ar surrealista
Dito isto e alargando um pouco mais genericamente à televisão, muita gente se interroga porque é tão má — e neste caso, não é só cá, muito pelo contrário. Países que considero civilizados têm uma tv tenebrosa e nós importamos tudo.
Eu julgo que nos canais para dar lucro, só se pode chegar a uma conclusão: A programação é um nojo porque é isso que a generalidade quer, a generalidade da população é um nojo. Se assim não fosse, as TVs daria qualidade, porque seria isso que as pessoas veriam e seria isso que dava lucro. Mas não, futebol, notícias da treta, reality shows, concursos e novelas.
Agora não tenho tv, mas tive o suficiente para assistir à mais completa degradação e abandalhamento dos canais científicos. Odisseis, Discovery, National Geographic, History… um lixo, entre teorias da conspiração, extraterrestres e insectos que nos comem por dentro. O que aconteceu aos jornais não deve ter sido muito diferente. -- JRF
Sim é um nojo a TV, por isso que a minha TV é o youtube. Só tenho mesmo pacote de Internet e os 4 canais - NUNCA ligo a TV. No café e tal está sempre ligada e mete nojo.
Acompanho canais de pessoas no youtube, mil vezes melhores que os da TV (de comentário, informação, jogos, computadores, etc). O mesmo se diga de séries e afins...
Sim, esses canais só dão porcaria - tipo o history ( lol ), mas dá para ver no youtube documentários. Escolhe-se o que se quer e pronto.
E lá como cá: Estava agora a ler o Guardian e aprendo que o "Far-right terrorist Thomas Mair jailed for life for Jo Cox murder". Far-right? Um completo desarranjado mental? Pode-se argumentar que a "far-right" só tem desarranjados, mas estou em crer que se um lunático tivesse assassinado um tory, seria um simples caso psiquiátrico nunca far-left (aliás há far-left na Europa?). É esta a informação que temos. E dito isto, este assassinato foi repugnante, sendo de direita ou de esquerda. Neste canalhita é bem empregue a prisão perpétua. -- JRF
PR agradece ao pm um ano de estabilidade
diria paz de cenitério
o mrpp da cgd negociou a sua reestruturação quando ainda era administrador do bpi
os políticos e parceiros vão perder tempo a discutir o que está decidido
parece um filme MACABRO
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