segunda-feira, dezembro 19, 2016

Conversas de treta


O dr. Sembergonha e um Jornalista de curso rápido e muitos anos de experiência  encontraram-se algures depois de lerem o artigo de Pacheco Pereira no Público de Sábado passado, acima transcrito.

O dr. Sembergonha, um topa a tudo do regime, com diversos cargos públicos no currículo e actualmente movido a carro de função, foi logo interpelado pelo amigo Jornalista interessado na opinião para apresentar em página impressa:

Jornalista- Então Sembergonha,  já leu o que escreve o Pacheco sobre a corrupção?  Diz que  em Portugal é  fruto do sistema ambiente. É ecológica, está em todo o lado… 

Dr. Sembergonha- ó meu amigo, V. ainda dá importância ao que escreve o Pacheco? Eu conheço a peça do tempo em que tecia elogios ao Cavaco em plena Assembleia, no início dos anos noventa, no tempo da maioria absoluta do PSD, em que começaram a cair-nos por cá os fundos da CEE. Lembro-me também do tempo em que foi para a prateleira dourada  “ Europa” e até da OCDE e sei muito bem de onde o gajo vem e que formação tem. Essencialmente de tretas avulsas e sem experiência prática a não ser sentar-se em cadeiras de deputados ou a mando de poderes políticos, escolhido por isso por  eles e com a subserviência adequada a quem manda.
 Por isso, pergunto: o meu amigo saberá por acaso dizer-me qual a fonte de conhecimento desse tipo sobre a corrupção?  

O Jornalista espantado a olhar para o amigo Sembergonha, um expert na arte de cultivar amizades interessadas em trocar conhecimentos aplicados, continuou:
Mas…ele acha que a corrupção está nas “más práticas da administração, numa cultura de favores, em escolhas por confiança política ou amiguismo, nas cunhas e no patrocinato, na partilha da informação  apenas entre os “pares” , nos círculos informais do poder político…”.  E até diz mais:  “Já se sabe que circula entre os negócios, a política, certas profissões com acesso muito próximo ao poder político: grandes advogados, auditores e consultores, gestores ligados à comunicação”. Os “ que bebem do fino” segundo ele diz … então não acha que ele tem razão no que escreve? 

Sembergonha: ó meu caro amigo, claro que o Pacheco tem razão. O que lhe falta é moral para a arvorar em virtude. E quer saber o meu amigo porquê?
O Pacheco é um produto do mesmo meio que denuncia como sendo esse alfobre da corrupção.   Este Pacheco que assim escreve em estilo salcede é o mesmo que acabou uma licenciatura em filosofia, em 1978,  para ensinar nos liceus, o que durou pouco tempo, porque passou logo para a política activa onde conheceu os meandros mais escabrosos da ascensão ao poder. Até 2011 foi deputado pelo PSD, partido que agora execra, particularmente o seu líder actual. Desse partido viveu e prosperou na Europa dos deputados europeus que lhe deram a massa para ter o que tem, incluindo a vidinha à sombra da bananeira da komentadoria. Escreve umas coisas em modo de laracha política que replica em programa de tv já com barbas de politicamente correcto e tudo por causa da imagem que projectou mediaticamente.
Ó amigo Jornalista, diga-me cá uma coisa: V. já alguma vez leu o que fosse de concreto, sobre algum caso concreto, aferido a pessoa concreta, da autoria do Pacheco sobre essa tal corrupção, nos últimos vinte e cinco anos em que ele pessoalmente esteve imerso nesse mundo obscuro da traficância política, com passagem clandestina para os negócios e necessariamente conhecimento desses meandros?  
Mais: já alguma vez reparou em qualquer actividade cívica ou política do dito, no tempo em que tal exercia como profissão principal remunerada, com vista a combater o bicho que agora apresenta no seu ambiente natural, com conhecimento de causa?
O amigo viu ou ouviu algum comentário em directo, do Pacheco ao Coelho que foi governante e passou para a empresa que  lhe sustentou um ordenado milionário, suficiente para o transformar em queijeiro nas horas vagas?

Jornalista: Pois…não me lembro, de facto, mas agora até escreve sobre a etiologia do fenómeno com recurso a concursos públicos.  Tudo coisas que toda a gente intui e não é novidade nenhuma, mas ainda assim interessantes porque referidas a casos concretos, em abstracto: “Olha para o teu projecto, devias falar com o A do gabinete do secretário de Estado. Vou dar-te o número privado”. E mais: “ Para essa privatização tens de falar com B. Se não falares com B. nada feito”. E ainda mais: “ Sim, eu concorro, mas não posso perder, e tu podes dar outra coisa ao meu concorrente”. 

Dr. Sembergonha: amigo Jornalista, V. acaba de dizer tudo: casos concretos em abstracto. Ahahaha: é a melhor forma de prosperar no meio, mantendo a virtude altiva de quem se sente superior...

ADITAMENTO:

Entretanto, na TVI, depois das 21:00, passou uma reportagem sobre o arquivo da Marmeleira de Pacheco Pereira. Cinco casas dedicadas a coisas velhas, livros, jornais e parafernália política de diversa origem.
A meio da reportagem uma visita ao Porto e a recordação da "resistência antifascista" devidamente acolitada pelo maçãozinho de Lisboa, Medina de apelido e também- hélas!- de Rui Moreira que destacou a mensagem de manter a "memória"...
Este mesmo Rui Moreira, filho de outro Moreira que os guardiães da memória meteram na cadeia durante meses, em 1975, simplesmente por causa de aquele ser administrador de uma empresa - Molaflex- que os camaradas que agora rememoreiam queriam então dominar.

É isto e o tal Pacheco todo contente a rememoriar a "luta antifassista".

40 anos depois ainda andamos nisto...



Questuber! Mais um escândalo!